COMO A UNIÃO DOS MUNICÍPIOS EM CONSÓRCIOS SERÁ MAIS
EFICAZ PARA UM ESTRATÉGICO INCREMENTO DE POLITICAS PUBLICAS
REGIONAIS
Por Denise de Mattos Gaudard (*)
O Estatuto das Cidades1[1] foi criado preconizando a reunião vários
elementos que propiciam instrumentos regulatórios de desenvolvimento urbano. Porém, para a imensa maioria dos municípios, fazer os investimentos básicos exigidos pelo Estatuto (saneamento, eletrificação, planos diretores, expansão das escolas, etc.) tem sido muito difícil em função da extrema desigualdade regional que permeia todo o País. É notória a dura realidade dos municípios de nosso Estado e que inclusive, não difere muito dos outros municípios nordestinos. Muitos já se cansaram de sonhar com uma região mais rica e próspera, em comparação com as experiências e realizações vitoriosas de outros municípios mais desenvolvidos. Vemos os municípios alagoanos ainda em extrema dependência da liberação de recursos financeiros provenientes do estado e ou do governo federal. Os únicos empreendimentos mais significativos dos municípios têm sido feitos mediante verbas repassadas através de convênios com órgãos federais, o que acarreta uma serie de entraves de ordem estrutural e política. O resultado mais direto é a conseqüente distorção das metas iniciais para as quais aquelas verbas recebidas eram destinadas. Outra situação muito comum são as permanentes descontinuidades do pagamento pelos órgãos federais, das parcelas previstas nos respectivos convênios, levando a constantes interrupções e paralisações de, por exemplo, obras já iniciadas, que vão prolongando-se por anos a fio até se concluírem, ou são abandonadas e acabam se deteriorando, tornando-se necessário refazer tudo de novo. Esse círculo vicioso leva à constantes condenações dos gestores municipais pelos Tribunais de Contas e até mesmo pelos próprios órgãos financiadores, ante o descumprimento das obrigações inicialmente conveniadas. Temos ainda os problemas acarretados pela corrupção administrativa, manifestada através de desvios de verbas para fins pessoais e eleitoreiros, em prejuízo da coletividade. Mesmo os melhores administradores municipais, que são mais eficazes e corretos no emprego das respectivas verbas públicas, tem genuínos receios ante as tremendas complexidades administrativas e jurídicas que as licitações envolvem pois estão conscientes da total falta de aparelhamento jurídico, de pessoal qualificado e suficientemente preparado para conduzir os processos licitatórios e ou para enfrentar as exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal. A conseqüência direta é uma sucessão de erros básicos, com grande prejuízo aos interesses da coletividade. Esta deficiência poderia ser facilmente superada através da centralização das logísticas estruturais e administrativas, alinhadas dentro de um consórcio 1[1] Destacamos o nódulo central constituído pelo Estatuto da Cidade, a lei geral dos consórcios públicos no 11.107, de 6 de abril de 2005 e a lei nacional reguladora das parcerias público - privadas ( PPPs) de no 11.079, de 30 de dezembro de 2004. que venha a ser formado por estas cidades. Estas redes institucionais se pontuariam pelo ressurgimento de ações estratégicas conjuntas, polarizando necessidades comuns sem perder as respectivas identidades sócio econômicas e culturais. Alguns elementos devem ser determinantes para a incrementar a estruturação deste projeto: os municípios devem assumi um papel mais inovador como promotores do desenvolvimento econômico local, incentivando a constituição de redes estratégicas de desenvolvimento sócio econômico regional. É importante ressaltar que há modelos fechados para o processo de desenvolvimento local na medida em que se levará em conta as características geográficas, as especificidade de cada referência sócio-cultural territorial, a vida econômica e característica de ação pró-ativa dos atores envolvidos. A implantação de módulos deve se realizar dentro de um processo de planejamento estratégico de desenvolvimento regional, que deve pré-conceber vários focos de propagação e difusão, inaugurando-se num novo ciclo e estilo de promoção do desenvolvimento econômico e ao trabalhar com os respectivos módulos dinâmicos e flexíveis na implementação deste projeto, deve-se considerar a constituição de um ambiente produtivo inovador, onde os gestores deverão mobilizar a população local, que deverá ser instada a aprender a se integrar à iniciativas de forma mais participativa e com a integração dos todos atores sociais através das respectivas redes. O grande desafio estará na integralidade e na continuidade de todas as ações, possibilitando a consolidação de um sistema público territorializado, que será capaz de estimular e desenvolver um ambiente produtivo em uma determinada região e, ao mesmo tempo, estabelecer ligames produtivos com o mercado exterior (restante do Brasil). Ainda dentro desta estratégia, surge em todo país a possibilidade de se implementarem ações conjuntas entre municípios consorciados e entidades privadas, leia-se OSCIPs, Universidades, entidades de ensino e pesquisa, onde através de efetiva colaboração conjunta, poderão adquirir mais força conceitual, estrutural e política e captar de forma mais viável os devidos e imprescindíveis investimentos que possibilitem a superação das suas deficiências e dificuldades, visando a concretização de empreendimentos de mútuo interesse regionais. Cada vez mais os consórcios estão se constituindo num instrumento extremamente importante para que os respectivos entes federados enfrentem problemas que não podem ser solucionados sem uma atuação mais conjunta, na esfera intermunicipal ou interestadual. Já estamos assistindo uma série de experiências positivas com consórcios em nosso País, notadamente no nível intermunicipal. Segundo dados do IBGE,em 2001, 1.969 municípios brasileiros já estão consorciados na área de saúde, 669 fizeram consórcios para uso compartilhado de máquinas e equipamentos e 216, estão unidos em consórcios. As possibilidades são inúmeras, basta se organizar, contratar uma boa consultoria para - por exemplo - implantação do tratamento e destinação final de resíduos sólidos (Aterros Sanitários, Biodigestores e co-geração de energia, além da capitalização de projetos socio-ambientais geradores de emprego e renda além de trazerem novos recursos, tais como, os Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Os bancos oficiais também estão abrindo linhas de empréstimos mais accessíveis para os municípios poderem se modernizar, podemos exemplificar o BNDES que tem aberto linhas de investimentos a fundo perdido. Os prefeitos devem procurar uma gestão mais participativa, em parceria com a sociedade auto-organizada, onde todos poderiam contribuir para um processo decisório gerido dentro da própria cadeia comunitária. Assim, melhorariam a qualidade de vida da população local, propiciariam mais justiça social, mais desenvolvimento sócio-econômico e, conseqüentemente, haveria mais harmonia com o meio ambiente. Se estas iniciativas e práticas se desenvolvessem em todo o interior do Brasil, certamente poderíamos assistir à construção de uma sólida revolução estrutural da qual toda a nação se beneficiará.
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(*) Denise de Mattos Gaudard é consultora de Gestão Empresarial e Ambiental.
Idealizadora do PROJETO BIOREDES que vem viabilizando a implantação de redes de
coleta seletiva usando metodologia e economicamente acessível e que processa e fabrica de biodiesel com base em óleo vegetal usado (OVU). O projeto é voltado para comunidades de baixa renda, cooperativas de catadores urbanos, conveniados com pequenos e médios municipios e com empresas financiadoras parceiras (http://projetobioredes.blogspot.com/).Participa do desenvolvimento de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e gestão de resíduos junto a prefeituras e empresas financiadoras parceiras. Também ministra cursos e escreve artigos sobre MDL e Gestão Participativa em mídias nacionais e internacionais