TGV Ultimamente muito se tem falado, principalmente na opinião pública, sobre o tema da construção da rede de Alta Velocidade em Portugal. É um tema que está a ser amplamente debatido por força do seu custo para um país da nossa dimensão. Antes de começar a expressar a minha opinião sobre o assunto, gostaria de fazer uma pequena resenha histórica do TGV. A primeira linha de TGV construída remonta à década de 60, ligando as cidades Japonesas de Tokyo e Osaka. Na altura foi apresentado como sinal de modernidade e avanço tecnológico pelos nipónicos, apesar de na altura os TGV só circularem a 160Kms/h, aumentando para os 200kms/h passados 6 anos. Depois, as grandes construtoras ferroviárias, nomeadamente a francesa, não querendo ficar atrás nesta corrida construíra a primeira linha europeia, que ligava Paris a Lyon, estávamos na década de 80. Desde então outros países começaram também a construir redes de alta velocidade, nomeadamente os nuestros hermanos – Espanha. Decorridos agora 50 anos desde o primeiro TGV, dispomos de toda a informação e histórico para analisar se este projecto megalómano é efectivamente indispensável para a economia nacional, ou se, pelo contrário, tem a ver com um dos sete pecados capitais – a vaidade – ou o poder dos lobbies da construção e da Industria Metalo-mecânica. Na minha modesta opinião acho que só podem ser as duas últimas, pois não se compreende que pretendamos avançar com a construção da rede do TGV quando nos outros países onde esta rede existe, os projectos enfrentam derrapagens orçamentais ano após ano, e todas as previsões efectuadas não foram atingidas, à excepção do Japão. Na nossa vizinha Espanha as linhas Sevilha – Madrid e Madrid – Barcelona estão a ser suportados pelos Governos Regionais, estando muito longe das previsões efectuadas quer em número de passageiros quer em retorno financeiro. No início da década de 90 começou o projecto de remodelação da chamada linha do Norte (Lisboa – Porto), o que permitiu a utilização de comboios cada vez mais rápidos e que pressupunha que os actuais Alfas Pendulares pudessem efectuar este trajecto em apenas 2 horas. 16 anos depois e com uma derrapagem financeira à Portuguesa – dos +-70 milhões de euros iniciais o investimento público já vai nos 1.600 milhões de euros – a viagem faz-se em 2h55m. E isto acontece porquê? É muito simples; como a REFER – e seus lobbies – pretende justificar o investimento do TGV por comparação ao existente e o tornar apetecível aos seus futuros clientes, começou a atrasar o investimento de modernização da rede dos Pendulares, impedindo que os comboios da CP pudessem – como podem – efectuar o trajecto nas 2 horas inicialmente previstas, o que tornaria a diferença horária entre este serviço e o TGV de apenas 30
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Filipe Faria 26-Fev-2008 NOVAS OPORTUNIDADES RVCC Secundário A MINHA OPINIÃO SOBRE... minutos. Recorde-se que a duração prevista para uma viagem de TGV no trajecto Lisboa-Porto será de 1h30m, portanto é só fazer contas e ver se compensa. Acontece que para ganhar – só – estes 30 minutos tem de ser feita uma nova rede que custará, a preços actuais, 4.700 milhões de euros na linha Porto-Lisboa e 3.000 milhões de euros na linha Lisboa-Madrid – até me está a dar vontade de rir, porque olhando para estes números não consigo imaginar de cabeça quanto é que isto representa em contos. Mas como já estamos habituados às derrapagens financeiras, imagine-se quanto é que esta geração e as vindouras vão ter que pagar por um meio de transporte que a maioria da população não vai utilizar, ou pelo menos regularmente. E será que após terminada a construção de rede TGV não existirá já um TGGV – Transport de Grand Grand Vitesse – obrigando-nos a levar com mais do mesmo, dizendo que afinal este é que é bom e por isso vamos também investir? Por mais que tente, não consigo entender porque razão se vai apostar na rede de TGV quando neste momento o mercado da aviação enfrenta uma concorrência feroz com a proliferação da Companhias Low Cost, que praticam preços muito competitivos, em que agora se pode ir de Lisboa a Madrid em pouco mais de 1 hora e ao preço de +- 25 euros/passageiro, quando a duração do mesmo percurso por TGV vai demorar 2h45m e vai custar 100€/passageiro. Não poderia também a TAP – independentemente de agora ser privada – oferecer tarifas mais vantajosas no percurso Porto-Lisboa ou vice-versa? Penso que as pessoas que decidem são muito elitistas e não dão a conhecer às pessoas que os elegem todos os aspectos dos financiamentos públicos, escondendo-se atrás de chavões populistas sem nenhum conteúdo. Dissessem eles que este investimento apesar de ser demasiado caro e que provavelmente nunca será rentável por si só, mas que este investimento criará mais-valias para o País, nomeadamente com a criação dos milhares de postos de trabalho directos e indirectos, o contributo da rede para o PIB – através da sua facturação – e o ser catalizador de investimentos privados noutras áreas adjacentes ao projecto; talvez se explicassem melhor aos portugueses mais depressa estes concordariam. Eu não sou de forma alguma um «Velho do Restelo» – e para quem não sabe, esta expressão é utilizada para representar pessimismo e conservadorismo; foi uma personagem criada por Camões nos Lusíadas para representar este tipo de pensamento nas pessoas que não concordavam com a expedição à Índia – e entendo que se nunca se fizessem investimentos arriscados ainda hoje estaríamos a andar por caminhos de cabras e a andar a cavalo ou de jumento – jumento e não burro, por respeito ao animal e porque burros somos nós ao permitir uma coisas destas – no entanto questiono o porquê agora? Não poderá ser efectuado daqui a uns anos e não ao mesmo tempo do novo Aeroporto? E a que custo? De uma educação e sistema de saúde deficientes? De baixos salários? Do bolso do contribuinte que paga impostos e mais impostos, e que mesmo assim nunca chega para “matar a ressaca” aos cofres do estado? Deixo estas interrogações para os políticos fazerem a si próprios; se acertam nas respostas ganham um rebuçado. Ah, já quase me esquecia; juntamente com as interrogações deixo-lhes também um conselho: Tenham juízo! RVCC Secundário / A Minha opinião sobre... Página | 2 Filipe Faria 26-Fev-2008