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GERAIS
❚ REMÉDIOS
PACIENTES QUE SE TRATAM COM MEDICAMENTOS DE USO CONTÍNUO EM MINAS SOFREM COM ATRASOS NO FORNECIMENTO E COM A FALTA DE
PRODUTOS. AÇOES JUDICIAIS ASSEGURAM OFERTA DE ALGUMAS SUBSTÂNCIAS, MAS GOVERNO ESTADUAL ACABA GASTANDO MUITO MAIS NAS COMPRAS
Doentes dependem da Justiça
LUCIANA MELO
A falta de medicamentos de
uso contínuo para doentes crô-
nicos sacrifica a saúde dos pa-
cientes e onera os cofres públi-
cos estaduais. O atraso no for-
necimento tem gerado uma su-
cessão de ações judiciais, sendo
essa a única forma de garantir
a compra de remédios. A pro-
motora de Justiça de Defesa de
Saúde, Jocely Ramos, responsá-
vel por maioria das ações, cul-
pa a Secretaria de Estado de
Saúde (SES) por desorganiza-
ção e levanta suspeita de algum
tipo de fraude no esquema de
aquisição de medicamentos.
Somente neste ano já foram
seis ações ajuizadas contra o
Estado para assegurar a assis-
tência farmacêutica dos trata-
mentos de alto custo. Atual-
mente, estão em falta os medi-
camentos para pacientes re-
nais e diabetes insiputus, o que
coloca em risco a vida de mui-
tas pessoas. A última decisão
judicial em relação aos medi-
camentos foi uma liminar, con-
cedida na última segunda-fei-
ra, ordenando a SES a fornece-
dor imunossupressores para
transplantados renais. Esse re-
médio é fundamental para evi-
tar a rejeição de órgãos no ca-
so de transplante.
A Secretaria de Estado da
Saúde informou, por nota ofi-
cial, que a dificuldade de entre-
ga “se deve a um conjunto de
fatores alheios à governabilida-
de”, como falta de matéria pri-
ma, férias coletivas em janeiro
nos laboratórios, adaptação do
Sistema Integrado de Adminis-
tração de Materiais e Serviços
de Minas Gerais, entre outros
problemas. Conforme o subse-
cretario de Inovação e Logísti-
ca, Marcelo Teixeira, até o mo-
mento a SES não encontrou ne-
nhum indício de irregularidade
nas compras. “Estamos im-
plantando um sistema de com-
❚ ENGARRAFAMENTO
Acidente pára 381
O tombamento de uma car-
reta-tanque fechou por mais de
dez horas a pista da BR-381
(rodovia Fernão Dias) sentido
BH/São Paulo. O acidente acon-
teceu por volta das 13h30 de
ontem, no km 511, em Igarapé,
Região Metropolitana de Belo
Horizonte. No final da noite,
uma faixa foi desimpedida. Ain-
da no começo da madrugada de
hoje, policiais rodoviários e
bombeiros se empenhavam pa-
ra liberar todo o trecho.
De acordo com a Polícia Ro-
doviária Federal, o motorista
da carreta placa CVN 3855, de
São Paulo, Claudenir Perandre,
perdeu o controle do veículo
que, ao tombar, ficou atravessa-
do no asfalto. No tanque havia
grande quantidade de solvente
que não derramou. Porém,
diante do risco de explosão, te-
ve início uma delicada operação
de resgate.
Por volta das 23h30, após o
bombeamento de todo o produ-
ESTADO DE MINAS - QUINTA-FEIRA, 18 DE MARÇO DE 2004
pras mais ágil, econômico e
transparante. A Secretaria ino-
vou fazendo consultas públicas
sobre a compra de itens que
são adquiridos para a lista de
medicamentos. Vamos traba-
lhar para fazer um estoque que
poderá durar dois meses ”.
Segundo a promotora de
Justiça de Defesa de Saúde, Jo-
cely Ramos, o problema maior
se deve à falta de planejamento
da SES. A falta de organização,
além de prejudicar os pacientes,
inviabiliza o sistema de saúde e
ainda levanta indícios e irregu-
laridades. Na avaliação da pro-
motora, alguém pode estar sen-
do beneficiado pela dificuldade
de fornecimento de medicamen-
tos de alto custo, visto que quan-
do os remédios são comprados,
para cumprir um ordem judi-
cial, o Estado é obrigado a pa-
gar o preço disponível no mer-
cado, muito mais alto.
PARCEIRO
“Sabemos que não é o secre-
tário de Estado de Saúde, Marcus
Pestana, que está se beneficiando
desse esquema, mas precisamos
investigar o que acontece. Para
atender uma ordem judicial, re-
centemente, um remédio que era
vendido normalmente a R$ 180
foi comprado por R$ 222. O caso
merece investigação e o Estado
poderá contar com o Ministério
Público como parceiro. No entan-
to, nossa primeira preocupação é
garantir o fornecimento dos me-
dicamentos para os pacientes”,
define Jocely Ramos.
Segundo a promotora, vá-
rios acordos foram feitos com a
Secretaria de Estado da Saúde
no ano passado para evitar as
ações judiciais, mas a situação
não foi resolvida. Conforme a
promotora, o fornecimento de
remédios feitos pelo Estado de
Alagoas serve de exemplo para
Minas, que está em atraso em
relação à política nacional de
medicamentos.
to químico para outro recipien-
te, guindastes conseguiram des-
virar o tanque. Uma fila de veí-
culos, com aproximadamente
cinco quilômetros, se formou na
serra de Igarapé, irritando cen-
tenas de motoristas que não ti-
veram como pegar o desvio pe-
la BR-262 e MG-050.
PROTESTO
Em Bela Vista de Minas, a
124 quilômetros da capital, na
região Central, ontem à tarde,
cerca de 400 moradores do
bairro Lages fecharam a BR-
381 por quase seis horas, nos
dois sentidos. Eles fizeram pro-
testo devido ao atropelamento
seguido de morte do universitá-
rio Felício Crispim Reis, no do-
mingo. Os manifestantes exi-
giam a construção de passare-
las e instalação de radares no
trecho da estrada que corta a
cidade. Eles queimaram pneus,
empilharam galhos de árvores,
pedras e terra nas pistas.
DESESPERO
Antônio Avelar Lopes, de 55 anos, que adquiriu hepatite C em sessões de hemodiálise, espera há dias pelo Eprex, que combate a anemia
Liminares garantem direito à vida
A Promotoria de Defesa da
Saúde aguarda o deferimento
da liminar para a compra obri-
gatória de medicamentos de al-
to custo para pacientes de insu-
ficiência renal crônica. A ação
civil pública foi ajuizada no dia
5 deste mês, na 2ª Vara da Fa-
zenda Pública. Pacientes sofrem
pela falta dos medicamentos,
que têm como princípio ativo
carbonato de cálcio, acetato de
cálcio, hidróxido de alumínio e
cloridrato de sevelamer. A espe-
rança é que o Poder Judiciário
❚ ABUSO
PROMOTORIA DE SÃO ROMÃO, NORTE DE MINAS, APURA DENÚNCIA
FEITA POR 15 EMPREGADOS DE CARVOARIA CONTRA UM FAZENDEIRO
MP investiga trabalho escravo
A Promotoria Pública de São
Romão, às margens do rio São
Francisco, Norte de Minas, ins-
taurou inquérito ontem à tarde
para apurar denúncia de traba-
lho escravo ao qual teriam sido
submetidos 15 trabalhadores,
numa fazenda no município de
Santa Fé de Minas, na mesma
região. Entre eles, estão quatro
menores, entre 16 e 17 anos. O
caso chegou ao conhecimento
do Ministério Público depois de
ser registrado em ocorrência
pela Polícia Militar.
De acordo com a denúncia, os
lavradores prestaram serviços
durante 45 dias, a maior parte do
tempo numa carvoaria, em pés-
simas condições – moravam em
barracos de lona e palha – ,e saí-
ram da propriedade sem receber
pagamento, expulsos pelo dono
da fazenda, Joaquim Cândido Al-
ves Moreira, conhecido como
“Joaquim Gameleira”.
Após deixar a fazenda, an-
teontem, eles foram obrigados a
andar cerca de 30 quilômetros.
Um deles, Deusdeth Soares dos
Reis, de 22, pegou carona com
um motoqueiro e foi a São Ro-
mão, onde avisou a Polícia Mili-
tar. O sargento Rogério Santos
Silva, comandante do pelotão lo-
cal da PM, conseguiu um ônibus
da prefeitura e levou o grupo até
a cidade, após mais 30 quilôme-
tros de viagem.
Ontem à noite, eles aguarda-
vam a chegada de um ônibus, a
ser enviado pelo Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Japon-
var, na mesma região, para le-
vá-los às suas casas. O fazendei-
ro Joaquim Cândido ainda não
foi ouvido para apresentar sua
versão. Os 15 trabalhadores fo-
ram contratados pelo fazendei-
ro em Japonvar, em 6 de feve-
lhes garanta o direito à vida,
pois muitos podem não supor-
tar a demora.
O aposentado Antônio Ave-
lar Lopes, de 55 anos, está sem
o remédio Eprex há 20 dias. Ele
tem insuficiência renal crônica
e adquiriu hepatite C nas ses-
sões de hemodiálise. Os remé-
dios para combater o vírus da
hepatite são muito agressivos,
portanto ele precisa do Eprex
para combater a anemia que o
tratamento provoca.
Cansado de fazer reivindica-
PROMESSAS
Iludidas, pessoas humildes se submetem a condições precárias de trabalho
reiro. Segundo Deusdeth Soa-
res, a promessa seria de que ca-
da um receberia R$ 2,50 por
metro de lenha cortada. No dia
em que viajaram para Santa Fé
de Minas, Joaquim Cândido fez
“um adiantamento” de R$ 50
para cada contratado.
Ficou combinado que o acer-
to final seria feito em 30 dias.
“Mas o prazo venceu e ele não
pagou nada. Somente prometeu
aumentar para R$ 2,80 o preço
do metro de lenha”, disse Deus-
deth. Segundo ele, o fazendeiro
levou mantimentos para o grupo
e ficou combinado que a despesa
seria descontada no dia do paga-
mento. Ontem, os trabalhadores
foram ouvidos pela promotora
Luciana Kelly Santos Pereira,
que, além de instaurar inquérito,
comunicou o caso à Subdelegacia
do Trabalho de Montes Claros.
ções pelo tratamento adequado,
Antônio afirma que precisa reu-
nir forças para procurar a Justi-
ça. “Eu já estou me sentindo
muito fraco, pois sem o remédio
minha anemia aumenta muito.
Já procurei a Secretaria e não ti-
ve retorno. No próprio local de
entrega dos remédios, as aten-
dentes nos recomendam procu-
rar a Justiça, pois várias pessoas
estão voltando para casa sem os
remédios. É uma falta de respei-
to. Mal posso andar na rua e co-
meço a passar mal devido a mi-
BRUNO ROCHA
O QUE
DIZ A LEI
Conforme o artigo 149
do Código Penal, a
prática do crime pela
redução à condição
análoga de escravo pode
resultar em pena de dois
a oito anos de prisão.
Podem ser enquadrados
aqueles que submeterem
pessoas “a trabalhos
forçados, a jornadas
exaustivas ou ainda à
condição degradante
de trabalho,
restringindo, por
qualquer meio, a
locomoção em razão
de dívidas contraídas
com o empregador
JAIR AMARAL
nha fraqueza”, lamenta.
Para compensar a falta de
medicamentos, Antônio Avelar
precisa diminuir o uso do remé-
dio que trata a hepatite C, uma
situação que debilita ainda mais
sua sáude. Refém da ação da
SES, ele espera que sua situação
seja resolvida. “Fui a uma far-
mácia para tentar comprar e
eles disseram que só vendem es-
se remédio para hospitais. Não
tenho mais o que fazer e não es-
tou tendo mais condições para
brigar pela minha saúde”, diz.
❚ NO ESCURO
Aposentada
continua sem
energia em BH
A falta de energia elétrica
para as sessões de inalação sa-
crifica cada vez mais a aposen-
tada Luiza Maria Alemar, de 87
anos, moradora de uma casa,
com vários familiares, no bair-
ro Coração Eucarístico, No-
roeste de BH. O imóvel teve a
luz cortada pela Cemig há cer-
ca de 20 dias, em razão de fal-
ta de pagamento de contas em
atraso, segundo a empresa.
Além do problema de saú-
de, Vó Didi, como é conhecida,
lamenta, o tempo todo, o prejuí-
zo de perder as comidas que
precisam da geladeira e ficar
sem a sua recreação preferida,
as novelas do final da tarde. No
entanto, mesmo diante da de-
núncia sobre a falta de respeito
ao idoso, feita pelo ESTADO DE
MINAS, no caso da aposentada,
a Cemig afirma que só poderá
voltar a fornecer energia para a
casa de Vó Didi, mediante paga-
mento de uma conta atrasada,
de R$ 1.768,59. A companhia
informou que o débito pode ser
parcelado em até 12 vezes.
Os familiares de Luíza Ma-
ria Alemar receberam vários
telefonemas ontem em solida-
riedade ao caso da idosa. A as-
sessoria de imprensa da Cemig
informou, porém, que a em-
presa constatou que os mora-
dores fraudaram o relógio de
medição de energia em setem-
bro. Por isso, as contas não es-
tavam sendo emitidas e a em-
presa teve de retirar o relógio
de medição. A Cemig informou
ainda que o endereço é de um
estabelecimento comercial. O
neto de Vó Didi, André Alemar,
desmente e afirma que a conta
está no nome de seu avô, já fa-
lecido, e que a família não tem
condições de pagar a conta.