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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
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PROCESSO TC N° 01754/08 FI. 1/5

Administração Direta Estadual. Secretaria de Estado da


Articulação Governamental. Prestação de Contas
Anuais, relativa ao exercício de 2007, de
responsabilidade do Ex-secretário Inaldo Rocha Leitão.
Julga-se regular. Emitem-se recomendações.

ACÓRDÃO APL TC 250/2009


1. RELATÓRIO
o presente processo trata da prestação de contas anuais da Secretaria de Estado da Articulação
Governamental - SEAG, relativa ao exercício financeiro de 2007, de responsabilidade do Ex-secretário Inaldo
Rocha Leitão.
A Equipe de Instrução desta Corte, após a análise da documentação encaminhada e realização de
inspeção in loco, emitiu o relatório inicial de fls. 440/458, com as principais observações a seguir resumidas:
1. a prestação de contas foi encaminhada ao Tribunal dentro do prazo legal;
2. a Lei nO6722/99 transformou o Escritório de Representação do Governo do Estado em Brasília na
Secretaria Extraordinária de Articulação Governamental - SEAG, atribuindo-lhe a função de
promover a articulação e a representação do Governo do Estado da Paraíba em Brasília. Com o
advento da Lei nO8186/2007, que redefiniu a Estrutura Básica do Poder Executivo do Estado da
Paraíba, o órgão recebeu a denominação de Secretaria de Estado da Articulação Governamental,
competindo-lhe (1) gerenciar a articulação política, social e econômica do Estado da Paraíba no
âmbito nacional, estadual e regíonal; e (2) representar os Secretários de Estado e demais
dirigentes públicos no âmbito federal;
3. a Lei nO8171/07, que dispõe sobre o orçamento anual para 2007, fixou a despesa para a SEAG em
R$ 747.627,00, equivalentes a 0,01% da despesa fixada para o Estado, que somou R$
4.757.136.704,00;
4. no decorrer do exercício, foram abertos créditos adicionais, no valor de R$ 109.522,50, bem como
anuladas dotações na mesma importância;
5. a despesa realizada atingiu R$ 554.426,75, equivalente a 0,01% da despesa empenhada no
Estado, que somou R$ 4.536.885,161,67, e a 74,16% do valor orçado, destacando-se as ações de
manutenção de serviços administrativos e os encargos com água, energia e telefone, que
corresponderam, respectivamente, a 68,78% e 19,04% dos dispêndios;
6. no tocante à despesa por categoria econômica, verifica-se que 97,19% se referem à despesa
corrente e 2,81% correspondem a despesa de capital;
7. a unidade gestora não apresentou restos a pagar inscritos no exercício;
8. não há registro de despesas por meio de adiantamento;
9. o controle de estoque de material é feito através de planilhas eletrônicas;
10. não há registro de denúncia abrangendo o exercício em exame;
11. a título de recomendações, destacou:
11.1. a necessária adequação do uso da Central de Compras gerenciada pela Secretaria de
Estado da Administração;

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PROCESSO TC N° 01754/08 FI. 2/5

11.2. implantação do PROPACTO - Sistema Integrado de Controle de Estoque, programa


desenvolvido e disponibilizado pela CODATA - Companhia de Processamento de Dados da
Paraíba, com vistas à melhoria do controle de estoques da Secretaria; e
11.3. utilização efetiva de imóvel situado no Distrito Federal (antiga agência do PARAIBAN), de
propriedade do Estado da Paraíba, à disposição da Secretaria de Estado da Articulação
Governamental- SEAG;
12. por fim, destacou as seguintes irregularidades:
12.1. relatório de atividades sem o nível de detalhamento exigido pela Resolução Normativa RN
TC 08/2004;
12.2. execução de ações não previstas no Programa de Trabalho (doações de passagens para
cidadãos paraibanos carentes retornarem do Distrito Federal);
12.3. pagamento realizado a empresa em situação fiscal irregular;
12.4. inexistência de procedimento licitatório;
12.5. fracionamento de despesa licitável;
12.6. provimento de cargos em comissão para atividade técnico-administrativa, descumprindo os
preceitos do art. 37, inciso V, da Constituição Federal' (Agente Condutor de Veículos I e 11,
Assistente Administrativo I e 11 e Agente Operacional 11).
Diante das irregularidades anotadas no item "12", o gestor, regularmente notificado, apresentou os
documentos de fls. 466/844, após solicitar e obter dilatação de prazo.
A Auditoria, ao analisar os argumentos, entendeu satisfatoriamente justificadas as inconsistências
anotadas, exceto quanto à execução de ações não previstas no Programa de Trabalho e ao provimento de
cargos em comissão para atividade técnico-administrativa, conforme comentários a seguir resumidos:
a) EXECUÇÃO DE AÇÕES NÃO PREVISTAS NO PROGRAMA DE TRABALHO
Defesa - alegou que "de acordo com o Programa de Trabalho apresentado, o que de fato ocorreu
foi a intermediação junto a empresas terrestres, visando o fornecimento gratuito de passagens para
alguns paraibanos que se encontravam no Distrito Federal em situação financeira precária, para
retomo ao Estado, sendo certo que, apesar do evento constar no Programa de Trabalho, não gera
ônus nem danos ao erário".
Auditoria - após contato com servidores do Gabinete Civil, ficou constatado que os órgãos do
Estado se utilizam da Lei n° 7020/01 como supedâneo das doações.
b) PROVIMENTO DE CARGOS EM COMISSÃO PARA ATIVIDADE TÉCNICO-ADMINISTRATIVA
Defesa - citando os termos do art. 86 da Constituição do Estado e do art. 37 da Constituição
Federal, alegou não lhe competir regulamentar a estrutura organizacional da SEAG.
Auditoria - ratificou o descumprimento de disposições da Constituição Federal no provimento de
cargos em comissão para desempenho de atividades técnico-administrativas, a exemplo do cargo
de Motorista.

1 AIt. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos

princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nO19,
de 199BI
(...)
V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por
servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos prevístos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e
assessoramento; (Redação dada pela Emenda Constítucional n° 19. de 199BI

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PROCESSO TC N° 01754/08 FI. 315

Provocado a se manifestar, o Ministério Público junto ao TCEIPB emitiu o Parecer n° 513/09,


entendendo, em resumo:
1. QUANTO À SUGESTÃO DA AUDITORIA DE UTILIZAÇÃO EFETIVA DE IMÓVEL À DISPOSiÇÃO
DASEAG
Foi constatada a existência de prédio público desocupado em Brasília pertencente ao Estado da
Paraíba e inventariado à SEAG.
Há contrato de locação celebrado entre o Estado da Paraíba, na condição de locatário, e a
Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco - CODEVASF, na condição de locador,
subscrito por Cássio Rodrigues da Cunha Lima, Governador do Estado à época, descabendo,
portanto, a análise neste processo de prestação de contas, acerca da legalidade e economicidade
da locação, posto que não é da responsabilidade direta do Sr. Inaldo Rocha Leitão. Contudo,
concluiu pela necessária instauração de processo específico para exame da
regularidade/legalidade/moralidade/economicidade ou não da locação realizada em detrimento da
propriedade de imóvel pelo Estado da Paraíba em Brasília.
2. EXECUÇÃO DE AÇÕES DE APOIO A CIDADÃOS PARAIBANOS NÃO PREVISTAS NO
PROGRAMA DE TRABALHO
O relatório de gestão menciona à fi. 20 o "apoio dado a diversos cidadãos paraibanos e suas
famílias, proporcionando-lhes passagens de retorno ao Estado, sem ônus aos cofres do Erário
Paraibano".
Frisou que, de acordo com a Lei nO8186/2007, art. 3°, inciso XXI, cabe à SEAG "(a) gerenciar a
articulação política, social e econômica do Estado da Paraíba no âmbito nacional, estadual e
regional; e (b) representar os Secretários de Estado e demais dirigentes públicos no âmbito
federal". Assim, mencionando o princípio da estrita legalidade, afirmou que a ação foge às
atribuições do órgão. No entanto, admitiu não haver, nos autos, elementos suficientes para que se
concluísse por eventual desvio de finalidade, mas asseverou que indícios existem, conforme se
pode depreender dos termos da defesa, que alegou:
"De acordo com o Programa de Trabalho apresentado, o que
de fato ocorreu foi a intermediação junto a empresas
terrestres, visando o fornecimento gratuito de passagens para
alguns paraibanos que se encontravam no Distrito Federal em
situação financeira precária, para retorno ao Estado, sendo
certo que, apesar do evento constar no Programa de Trabalho,
não gera ônus nem danos ao Erário."
Questionou a razão de uma empresa de transporte fornecer gratuitamente passagens ante o
simples pedido de um Secretário de um Estado pobre da Federação, sugerindo, por essa razão, a
remessa de cópia dos autos ao Ministério Público Comum para que verifique o possível
cometimento de crime de corrupção passlva-.
3. PROVIMENTO DE CARGOS EM COMISSÃO PARA ATIVIDADES TÉCNICO-ADMINISTRATIVAS
Mencionou que os documentos de fls. 367/370 comprovam a existência de dez pessoas exercendo
os cargos de Agente Condutor de Veículos I e 11, Agente Administrativo I e II e Agente Operacional
11.

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2 CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-Ia, mas em razão dela,
vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO TC N° 01754/08 FI. 4/5

Citou que o gestor apresentou defesa alegando não ser de sua competência alterar a estrutura
organizacional da SEAG, citando o art. 86 da Constituição do Estados, bem como informando que
os cargos anotados pela Auditoria não são de direção, chefia e assessoramento.
O documento de fl. 10 exibe a existência de cargos de direção, de provimento em comissão, e a
documentação de fls. 367/370 demonstra o provimento de cargos também em comissão, porém
sem a mesma natureza dos expostos na fl. 10.
Contudo, salientou que o titular da pasta não detém a atribuição consfiíucional' de deflagração de
processo legislativo para fins de criação e extinção de cargos públicos, cabendo-lhe, no caso,
apenas encaminhar comunicação ao Governador sobre "a necessidade de se cumprir a
Constituição Federal no tocante à existência de cargos de provimento em comissão para funções
outras que não de assessoramento, chefia e direção".
4. POR FIM, PUGNOU PELA:
4.1. REGULARIDADE COM RESSALVA da prestação de contas em apreço;
4.2. RECOMENDAÇÃO ao atual Secretário de Estado da Articulação Governamental para que não
atue diretamente além das atribuições legais conferidas pela Lei Estadual nO 8186/2007,
limitando-se a contribuir com apoio logístico à Secretaria competente, quando necessário; e
para que encaminhe ao Governador do Estado da Paraíba Memorando informando-lhe acerca
da necessidade de cumprir a Constituição Federal com a extinção de cargos de provimento em
comissão para funções outras que não de assessoramento, chefia e direção ou
transformando-lhes em cargos de provimento efetivo;
4.3. REPRESENTAÇÃO ao Ministério Público Comum ante indícios de cometimento de tráfico de
influência e improbidade administrativa; e
4.4. FORMAÇÃO DE PROCESSO ESPECíFICO, juntando cópias xerográficas dos documentos
pertinentes, para analisar os indícios de antieconomicidade/imoralidade de ato do então
Governador do Estado, Sr. Cássio Rodrigues Cunha Lima, em locar imóvel em Brasília,
quando o Estado da Paraíba é proprietário de um prédio naquela mesma cidade.
2. VOTO DO RELATOR
O Relator acompanha o Parecer ministerial, exceto quanto à instauração de processo específico para
apuração dos indícios de antieconomicidade/imoralidade na locação de imóvel em Brasília em detrimento da
ocupação de prédio de propriedade do Estado da Paraíba, em razão da informação da Auditoria sobre o estado

3 CONSTITUiÇÃO DO ESTADO
Art. 86. Compete privativamente ao Governador do Estado:
1- nomear e exonerar os Secretários de Estado;
(...)
VI- dispor sobre a organização e o funcionamento da administração estadual, na forma da lei;
(...)
X - criar e extinguir os cargos públicos estaduais, na forma da lei;
4 CONSTITUiÇÃO DO ESTADO DA PARAíBA
Art. 63. (...)
(...)
§ 1° São de iniciativa privativa do Governador do Estado as leis que:
(...)
1/- disponham sobre:
a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração.
(...)
Art. 86. Compete privativamente ao Governador do Estado:
(.. .)
11/- iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição;
(.. .)
X - criar e extinguir os cargo públicos estaduais, na forma da lei.

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PROCESSO TC N° 01754/08 FI. 5/5

de deterioração em que este último se encontra. O Relator entende cabível, como sugeriu a Auditoria,
recomendar ao atual titular da pasta que, em articulação com o atual Governador, adote as medidas necessárias
à ocupação do imóvel.
Assim, o Relator vota pela REGULARIDADE da prestação de contas e emissão de
RECOMENDAÇÕES ao atual titular da pasta para que (1) observe as atribuições legais conferidas à Secretaria
pela Lei Estadual nO8186/2007; (2) encaminhe ao Governador do Estado comunicação informando-lhe acerca
da necessidade de cumprir a Constituição Federal com a extinção de cargos de provimento em comissão para
funções outras que não de assessoramento, chefia e direção ou transformando-lhes em cargos de provimento
efetivo; e (3) em articulação com o Governador, adote as medidas necessárias à ocupação do imóvel situado em
Brasília, de propriedade do Governo do Estado.
3. DECISÃO DO TRIBUNAL PLENO
Vistos, relatados e discutidos os autos do Processo TC nO 01754/08, ACORDAM os Membros do
Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, nesta sessão de julgamento, por unanimidade, acompanhando o voto
do Relator, em:
I. JULGAR REGULAR a prestação de contas anuais da Secretaria de Estado da Articulação
Governamental - SEAG, relativa ao exercício financeiro de 2007, de responsabilidade do Ex-
secretário Inaldo Rocha Leitão; e
11. RECOMENDAR ao atual titular da pasta que (a) observe as atribuições legais conferidas à Secretaria
pela Lei Estadual nO8186/2007; (b) encaminhe ao Governador do Estado comunicação informando-
lhe acerca da necessidade de cumprir a Constituição Federal com a extinção de cargos de
provimento em comissão para funções outras que não de assessoramento, chefia e direção ou
transformando-lhes em cargos de provimento efetivo; e (c) em articulação com o Governador, adote
as medidas necessárias à ocupação do imóvel situado em Brasília, de propriedade do Governo do
Estado.

Publique-se e cumpra-se.
Sala das Sessões do TCE-PB - Plen" Ministro João Agripino.
João Pessoa, 08 de ril e 2009.

<)
. an o Diniz Filho ""\
ete ~/\,.
•. c __ ' \-l '-~
Isabela Bàr os arinho Falcão
Procuradora Geral do
Min' tério Público junto ao TCEIPB em excercício

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