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O Manuelino:

Sistema Decorativo ou Sistema Arquitectónico?

Universidade Lusíada de Lisboa

Faculdade de Arquitectura e Artes

Licenciatura em Arquitectura
(Mestrado Integrado)

História da Arquitectura Portuguesa Medieval

4º Ano – Turma V – Aluno n.º 1108 72 08

André Roldão S. Tribolet

Lisboa, Terça-Feira, 6 de Janeiro de 2009


– Univ. Lusíada de Lisboa – Faculdade de Arquitectura e Artes – Licenciatura em Arquitectura (Mestrado Integrado) –
– História da Arquitectura Portuguesa Medieval – 4º Ano – Turma V – Aluno n.º 11087208 – André Roldão S. Tribolet –

Enquadramento
Este trabalho escrito no âmbito da disciplina de História da Arquitectura Portuguesa Medieval, proposto pelo docente,
tem como finalidade geral atestar os conhecimentos do discente relativos ao Manuelino, com o objectivo de aprofundar a
compreensão da História da Arquitectura do período Manuelino.
Com este intuito foram consultados alguns livros e sítios na internet, que, em conjunto com a frequência das aulas,
serviram como base para este “apontamento” sobre o Manuelino, a sua arquitectura e decoração, ou seja, pretende-se
demonstrar sucintamente que existe efectivamente um estilo decorativo próprio do Manuelino, mas independente da
decoração há um estilo Arquitectónico.

Temas
De seguida apresenta-se algumas citações que influenciaram a opinião do discente na construção da sua opinião:
• «(…)Bruno Zevi trata o espaço como forma objectiva cujo percurso histórico se resume na lenta e progressiva substituição da matéria pelo
vazio.(…)»
Citação retirada de http://www.arquitetura.ufmg.br/ia/teoria.html
• «Ao falarmos de arquiPotectura tendemos a imaginar fachadas ornamentadas típicas de um estilo, materiais em consonância com as diferentes
épocas e em modelos que nos são fáceis de reconhecer característicos de uma cultura específica. Porem no estudo da arquitectura não é o aspecto
ornamental que se caracteriza como o elemento primordial cabendo este papel à mais elementar matéria moldável o “Espaço”.
Assim vemos que o estudo da arquitectura tem vindo a ser descurado ao longo dos tempos visto que este, ao contrário de outras artes como a
pintura ou escultura que se baseiam na modelação de matérias plásticas sólidas, se torna por vezes ambíguo para o cidadão comum pouco habituado a
definir algo que não seja palpável ignorando normalmente o espaço na sua forma.
(…)De outro modo também a luz e a sua orientação tal como a cor animam o espaço podendo ser em alguns casos um valor de atracção por si
próprias ajudando a dividir ou realçar determinado espaço.(…)»
Citação retirada de http://imagemcognitiva.blogspot.com/2007/11/bruno-zevi-saber-ver-arquitectura.html
“(…)as componentes estilísticas provindas da arte europeia de além-Pirenéus, conjugadas com a enraizada tradição tipológica e espacial
moçárabe (termo que designa a síntese cultural cristã-muçulmana na Península Ibérica medieval), iriam florescer na passagem do século XV para o XVI –
correspondendo ao crescimento económico e social da época – e traduzindo-se numa produção arquitectural original e única no contexto ocidental, pelas
suas características próprias e também pela divulgação universal que soube atingir, nos duzentos anos seguintes.”
FERNANDES, José Manuel – Arquitectura Portuguesa: Uma síntese. Imprensa Nacional – Casa da Moeda. Maio de 2006. Páginas 48.
• “(…)Quando as três naves são praticamente à mesma altura, chamam-lhe igreja-salão; esta é iluminada pela luz vinda das secundárias(…)”
ATANÁZIO, M. C. Mendes – A arte do Manuelino: Mecenas, Influências, Espaço. Pág. 112. Editorial Presença. Lisboa, 1984.

Foram também consultados alguns livros, sugeridos pelo docente no decorrer das aulas, a fim de clarificar algumas
questões que surgiram no decorrer da consulta:
• FERNANDES, José Manuel – Arquitectura Portuguesa: Uma síntese. Imprensa Nacional – Casa da Moeda. Maio de 2006. Páginas 47 – 51.
• ATANÁZIO, M. C. Mendes – A arte do Manuelino: Mecenas, Influências, Espaço. Ed. Presença. Lx., 1984.
• ZEVI, Bruno – Saber ver la arquitectura. Barcelona: Poseidon, 1976.

Para dar resposta à questão principal deste trabalho é necessário dar resposta a uma outra questão: o que define a
Arquitectura?

Apontamentos
A palavra arquitectura tem a sua origem no grego, nas palavras arché, que significa primeiro ou principal, e tékton,
contrução, ou seja, refere-se à essência da construção. A arquitectura tem como objectivo a concepção de todo o espaço
construído pelo Homem, ou seja, modela a matéria para criar um determinado objecto material com um determinado objectivo
pré-determinado. A partir desta sequência de ideias compreendemos que a arquitectura, a essência da construção, modela a
matéria, fazendo uso da técnica, da tecnologia, da ciência para garantir o alcançar do objectivo pré-determinado. Desta forma
a arte na Arquitectura está relacionada com um sentido estético claramente necessário à prática de Arquitectura.

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Lisboa, Terça-Feira, 6 de Janeiro de 2009
– Univ. Lusíada de Lisboa – Faculdade de Arquitectura e Artes – Licenciatura em Arquitectura (Mestrado Integrado) –
– História da Arquitectura Portuguesa Medieval – 4º Ano – Turma V – Aluno n.º 11087208 – André Roldão S. Tribolet –

Abordagem
Tendo em conta que a Arquitectura reúne em si a técnica, em que nos nossos dias o Arquitecto se apoia em diversos
especialistas (eng.os civis, eng.os electrotécnicos, eng.os mecânicos, etc.) e também artistas plásticos (designers, cenoplastas,
sonoplastas, ceramistas, pintores, escultores, etc.), há efectivamente um estilo Manuelino, que este reúne a parte estrutural,
mas também a parte decorativa.
Há diversas teses que exploram a decoração Manuelina, que abordam como os símbolos nacionais (esfera armilar, a cruz
da ordem de Cristo, o escudo nacional), elementos naturalistas (corais, algas, guizeiras, árvores, alcachofras, folhas, romãs, heras, pinhas, caracóis
ou conchas, animais e crianças), elementos fantásticos (ouroboros, sereias, gárgolas), simbolismo cristão (cachos de uva, carneiros ou agnus
dei, querubins), e outros (cordas ou cabos marítimos, redes de pesca, meias esferas, cinturões, colunas torsas, correntes, cestos, bolas de canhão)
decoram a construção, tornando leve ao olhar o que é grande, pesado e robusto, acentuando determinado elemento, ou,
presume-se, insinuando determinada característica. Em muito a decoração é semelhante ao Plateresco espanhol.
Toda a decoração do edifício era responsabilidade do arquitecto, mas não só. O sistema estrutural, a disposição
espacial, o que define nos traços mais gerais a construção, era e é a principal responsabilidade do arquiecto.
O Manuelino não tem como principal objectivo a verticalidade, como no Gótico Setentrional, nem o despojamento e
simplicidade associado à técnica do Gótico Mediterrânico. Os edifícios manuelinos têm uma iluminação difusa, uma
espacialidade própria. Não perdendo as referencias Europeias, com forte influencia Plateresca, tem no entanto outras
influências atribuindo-lhe um carácter próprio e completamente distinto, nomeadamente introduz elementos de influência árabe
(como o estilo espanhol), mas também africana e de toda a Ásia.
Neste período, em que Portugal vingava no mundo ao ser o único país com tecnologia, conhecimento e autorização
para atravessar oceanos em conquista, a par com Espanha, situação reiterada pelo Papa, no tratado de Tordesilhas, a
Arquitectura foi um instrumento de Marketing utilizado pelo Rei a fim de confirmar indubitavelmente Portugal como um império
(sem o ser). Por isso mesmo grande parte das construções da época foram projectadas e construídas em Lisboa e Évora, os
locais de residência de D. Manuel I, não em Coimbra, Leiria ou Santarém, em especial durante o seu reinado. Controvérsia à
parte, terá sido possivelmente por essa razão que no séc. XIX ter-se-á atribuído o nome do Rei ao estilo arquitectónico, não
por qualquer outro factor mais relevante para qualquer construção da época.
Neste período quase todas, se não mesmo todas, as igrejas, mesmo as mendicantes passam a ser abobadadas.
Surgem em Portugal as igrejas-salão (Hallenkirche, em alemão), executadas em Portugal com uma técnica inigualável, em que
a flecha da abóbada, única que atravessa todas as naves, quase não existe. Em muitos casos sem muro separador entre
naves, nem sequer um arco formeiro entre as naves. Na igreja-salão do Manuelino efectivamente todo o espaço fica liberto, os
vãos são abertos a meio das paredes laterais, quando existe muros separadores entre naves ficam abaixo do muro, conferindo
a tal iluminação difusa. Os arcos existentes são abatidos ao máximo da sua possibilidade construtiva, conferindo ao espaço
por eles limitado uma homogeneidade nunca vista.
Todas as construções do estilo Manuelino têm uma estrutura fortificada, com contrafortes robustos, muitas vezes
executados de maneira não tradicional, importando sistemas de construção de outras zonas do globo. Por vezes os elementos
arquitectónicos tradicionais são feitos com de maneira exótica, por exemplo com pináculos em cone (um exotismo oriental),
colunas contorcidas, etc. que dão uma sensação diferente ao ocupante do espaço e alterando a interpretação da construção.
Entende-se então que o Manuelino é formado pelo conjunto decoração e construção, mas que a Arquitectura Manuelina
não necessita de decoração para ser identificada como tal. O Manuelino tem um sistema decorativo, mas também um sistema
arquitectónico.
“Os Jerónimos” (a nave e transepto pertencem ao Manuelino), inicialmente projectados para ser o mausoléu do Rei D.
Manuel, a maior e mais importante obra Arquitectónica do Manuelino não pertencem ao estilo por estarem decorados com os
temas mencionados, mas pela técnica de construção, pela maneira como foi modelado o espaço para alcançar o objectivo.

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Lisboa, Terça-Feira, 6 de Janeiro de 2009
Anexo

Alguns exemplos de Arquitectura do Manuelino

Torre de Belém, Lisboa

Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa

Igreja de S. Sebastião, Alvito

Igreja de S. João Baptista, Moura

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