Você está na página 1de 3

Minha Produção

SILVA, Patrícia Mara Rodrigues

Professor: Adriano Gomide

Seminário Pratica Interdisciplinar de Atelier

Meu trabalho é fundamentalmente figurativo e transita pelo universo feminino. Esse


interesse vem de 23 anos de experiência como mulher junto à observação do comportamento das
mulheres que me cercaram e das manifestações dos contraditórios ideais que se impõe sobre este
objeto.

O meu primeiro projeto artístico foi uma serie de pinturas, desenhos e gravuras feitos a
partir de 2005, que gerou uma exposição, em 2008, que nomeei de [Re]tratos, a brusca poesia da
mulher. Nesta exposição intitulei cada quadro com uma poesia, sendo a maioria delas feitas por
autoras mulheres e contemporâneas a mim, quais sejam, Patrícia H. e Nina Antunes. Empreguei
também textos de Cecília Meireles e Vinicius de Moraes. Cada texto descrevia uma pintura,
embora as pinturas não tenham sido feitas a partir dos textos e nem os textos para as pinturas.
Foram apenas unidos e ordenados, baseados nas minhas expectativas.

A maioria das imagens foram feitas a partir de fotografias, algumas encontradas em revistas
outras em sites da internet e outras fotografadas por mim. Quando pinto a partir de uma fotografia,
por alguns momentos, aquela imagem se torna quase abstrata aos meus olhos, manchas de tinta
que viram dedos, boca e olhos que interpretamos como diferentes expressões corporais. Essa é
minha maior satisfação ao pintar, o processo e os pequenos resultados.

Um segundo trabalho, que participou da Exposição de Formandos de pintura da Escola


Guignard, UEMG, em 2008, intitulado “Ciclo Rouge” é formado por um conjunto de pinturas feitas
com esmalte de unha e três frascos de esmaltes preenchidos com sangue. A idéia de pintar com
esmalte de unha surgiu simplesmente da vontade de atingir uma cor na pintura que eu conhecia
como um esmalte, sendo assim apropriei-me do próprio esmalte e o resultado foi surpreendente.
Durante a realização do trabalho, fiz uso dos instrumentos de manicure, como a acetona, o pau de
laranjeira com algodão e o próprio pincel do esmalte na maior parte do tempo. As pinturas, também
figurativas, foram feitas a partir de fotografias de propagandas de produto de beleza ou domésticos.
Os três frascos de esmalte receberam em seu rotulo a substituição do nome por datas de um ciclo
menstrual (26 de agosto, 24 de setembro e 26 de outubro) e em seu interior foi inserido sangue
oriundo da respectiva data.
O ultimo ano da faculdade, 2008, foi o período que concentrou a minha produção. Participei
da bolsa de iniciação Cientifica financiada pela Fapemig com um projeto próprio, intitulado A
interatividade e as novas tecnologias nas artes visuais, sendo o mesmo, orientado pela professora
Luzia Gontijo Rodrigues.

O projeto de pesquisa proposto surgiu de um interesse pessoal interdisciplinar estabelecido


entre a arte e outros campos de conhecimento, devido ao meu interesse em questões filosóficas e
cientificas que se cruzam com a arte. A pesquisa tem por objetivo principal, contribuir para uma
reflexão sobre os novos meios e processos artísticos interdisciplinares utilizados na pós-
modernidade, investigando movimentos artísticos contemporâneos que, trabalhando na fronteira
entre arte, ciência e tecnologia, rompem com a concepção de arte contemplativa, reivindicando a
participação do “observador” na concepção da obra.

No entanto, o que se pode observar, é que as novas mídias surgiram provocando um


grande abalo nas estruturas da arte, ampliando suas dimensões. Entretanto, devemos tomar
cuidado para não transformá-la em uma limitação. A tecnologia deve ser usada na arte como uma
nova opção mediadora. Os artistas tecnológicos devem se certificar de que não estão apenas
explorando possibilidades tecnológicas ao invés de usar esse meio como um instrumento para a
execução da idéia e do pensamento artístico-filosófico. Onde está o limite entre a arte tecnológica e
a ciência? O que deve ser considerado para que a arte, neste meio, não perca seu caráter poético?

No decorrer desta pesquisa foi elaborado paralelamente um projeto de conclusão de curso


de graduação “Dois olhos um mundo” para a disciplina fotografia. A partir deste projeto, executei
uma instalação em que um vídeo é visualizado por meio de um estereoscópio, um instrumento em
que é mostrada uma imagem ligeiramente diferente para cada olho; estas serão percebidas como
únicas, pela fusão binocular. Quando vemos um objeto tridimensional qualquer, são produzidas
duas imagens diferentes, uma em cada retina. Estas duas imagens são enviadas para o cérebro,
aonde acontece uma fusão que nos permite percebê-las como uma só.

A instalação acontece em um ambiente escuro, onde se encontra uma penteadeira e um


espelho. Atrás deste espelho se encontra o vídeo estereoscópico que pode ser visto através de
dois furos no mesmo. Neste vídeo, uma mulher se encontra como se estivesse de frente para o
espelho se maquiando compulsivamente. O ângulo da filmagem é frontal, isto é, a atriz se encontra
de frente para a câmera, dando a idéia de que o vídeo é o reflexo do próprio observador no
espelho.

Meu trabalho não é definido pela técnica, não sou pintora, escultora ou fotografa. O meio
utilizado depende do que a obra exige para ser concretizada. Cheguei a essa conclusão ao
observar meus trabalhos executados nos últimos anos e me certificar de que existe uma forte
ligação entre eles pela temática, mas não pelo meio. Pode-se dizer que eu estou em fase de
exploração, que ainda preciso encontrar o melhor meio para expressar minha idéia, mas não acho
que isso seja o mais importante. A pintura e o vídeo são para mim, de igual importância e força.
Mesmo sendo uma técnica mais antiga e tradicional, a pintura possui elementos que o vídeo não
consegue transmitir, e vice versa.

www.patriciamara.wordpress.com / patriciamarars@gmail.com

Você também pode gostar