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3. - Os factos
Com base nos depoimentos recolhidos (no seu conjunto, sem embargo de
algumas referências específicas ao longo do presente relatório) e na sua
avaliação crítica, bem como nas fotografias e registos audiovisuais e, ainda,
coadjuvantemente, nas notícias publicas na comunicação social sobre o
evento, a Comissão de Inquérito aos acontecimentos da lota de Matosinhos
apurou a seguinte factualidade que tem como provada ou fortemente
indiciada:
5. Da ida em conjunto de Narciso Miranda como Prof. Sousa Franco foi por um
responsável da caravana dado prévio conhecimento a Manuel Seabra, presente
na lota (Auto XI, fls. 51); do clima de tensão vivido na lota nos momentos que
antecederam a chegada da caravana foi, também, dado conhecimento a
Narciso Miranda, por telemóvel, durante a deslocação da caravana do Porto
para Matosinhos (XV, 71).
8. Logo nos primeiros momentos da chegada à lota, pouco depois das 8.30 h.
(XXI, 97; XXX, 134), teve lugar um primeiro impacto com o candidato, com
destaque para o comportamento de um dos principais responsáveis da
recepção, o coordenador da secção do PS de Matosinhos, António Parada, o
qual, em atitude de envolvimento impetuoso, de imediato pretendeu afastar
o Professor Sousa Franco de Narciso Miranda, dado que aquele se encontrava
agarrado a este para melhor poder ser conduzido. Desta acção resultou uma
quase queda de Narciso Miranda e um acentuado desequilíbrio do Professor
Sousa Franco, circunstância que contribuiu para o rápido aumento da tensão
geral, para uma tentativa de agressão por parte de um dos presentes, usando
uma haste de bandeira num movimento sustado por outro mas que,
potencialmente, poderia ter atingido qualquer das figuras presentes (II, 12;
XV, 71; XVIII, 84; XXIX, 124 e 125; XXXI, 140; XXXII, 144; LVII, 255 e álbum de
fotografias, nº 3).
11. Após a "turbulência" (assim descrita por muitos dos depoentes) do impacto
inicial, o Professor Sousa Franco, sempre acompanhado e enlaçado por Narciso
Miranda, foi levado a encetar uma deslocação intensa no sentido do interior
de edifício da lota, que alguns qualificam como sendo, numa primeira fase,
efectuada de forma rapidíssima e, até, quase em passo de corrida,
praticamente inviabilizando qualquer possibilidade de cumprimentos às
vendedeiras presentes (já que, em matéria de consumidores, estes eram
quase completamente ausentes). A referida deslocação mostrou-se, ainda
segundo muitos testemunhos (XIV, 62; XXV, 112; XXVI, 113 e segs.; LVII, 258 e
fotgs. 4, 5 e 6), enquadrada por forte cordão se segurança, dificultando, em
particular de trás para a frente, o acesso dos presentes à cabeça da comitiva
e levando mesmo a inevitáveis embates com as bancas e os cestos do peixe
que, nalguns casos, com protesto das vendedeiras, foi derramado pelo chão.
14. Após esta fase da acção, mais serena, o Professor Sousa Franco saiu do
edifício da lota em direcção à respectiva viatura tendo, nesse momento, tido
oportunidade de trocar comentários breves com alguma comunicação social,
exibindo um bom estado de espírito e procurando minimizar o significado e o
impacto do sucedido na sua visita à lota. Mas pode verificar-se ainda, pelas
imagens televisivas exibidas, que, quando o Professor se dirige para a viatura,
as pessoas que o rodeavam vão gritando intensamente a palavra de ordem
"Seabra, Seabra".
16. Nos momentos que se seguiram, foi ainda António Costa quem procurou
reconduzir as coisas a uma aparência de normalidade, tanto nos contactos
com a comunicação social como numa recentração da acção em torno do PS e
não dos rivais de Matosinhos. Mas ainda aí os circundantes, apoiantes de
Manuel Seabra, tiveram como adequado catapultar este em ombros bem
como, de seguida, perante a perplexidade do próprio, António Costa, com
vivas de "Seabra, Seabra" e entrega a Manuel Seabra, para coroação final do
momento, de um ramo de flores (XIV, 65; XVII, 79; XXXII, 145).
De vários testemunhos (XXXIV, 152; XLVII 219; XLI, 268) resulta, aliás, que na
preparação e na realização das acções de campanha eleitoral organizadas no
concelho de Matosinhos se evidenciou uma atitude, pelo menos pontual, de
afastamento de uma das sensibilidades (a afecta a Narciso Miranda) de
participação nessas mesmas acções.
5. Por outro lado, face à evidência do muito que correu mal na visita à lota de
Matosinhos, no contexto de um ambiente partidário de elevada tensão, a
Comissão de Inquérito manifesta a sua perplexidade pelo facto de todos os
consultados, com responsabilidades locais e distritais, terem podido assegurar
que o programa da visita iria decorrer com total normalidade.
Por seu lado, Narciso Miranda, afirmando-se "surpreendido" com o teor das
supra citadas declarações, protestando não querer "perder tempo com essas
intrigas" informou que no mesmo dia à noite (véspera da visita à lota) estaria
num jantar "com cem operacionais" que participam na mobilização no distrito
do Porto, assegurando que "vai haver uma grande mobilização".
3. Com efeito, veio a ter lugar o referido jantar, com cerca de 40 pessoas,
usando aí da palavra Narciso Miranda e o vereador na Câmara de Matosinhos,
Guilherme Pinto. Segundo os depoimentos recolhidos, tratou-se acima de tudo
de apelar à participação das pessoas no programa da visita. Na ocasião,
segundo testemunhos, Narciso Miranda fazia transparecer um estado de
espírito de muita preocupação (XXXVIII, 173; XLVII, 221; XLIX, 239).
Conclusões
Além do mais, tal como resulta dos actos, até hoje Manuel Seabra não
encontrou nada de anormal com relação aos eventos da lota de Matosinhos
que fosse susceptível de justificar qualquer forma de assunção de
responsabilidade, pelos seus actos e pelos actos comprovados e identificados
de colaboradores e apoiantes seus, por parte do Presidente da Comissão
Política Concelhia - o mesmo que, todavia, tinha assegurado que tudo na
programada visita iria decorrer com normalidade e sucesso para a boa
afirmação política da campanha do PS.
Ora, foi na aceitação, se não na potenciação, dos factores desse risco que
incorreu Narciso Miranda, mesmo se, como se reconhece, sem premeditação
da sua parte. Risco que aliás se mostrou agravado pela circunstância de, não
usando óculos, com dificuldades visuais e auditivas, o Professor Sousa Franco
ter ficado mais dependente do voluntarismo de Narciso Miranda como seu guia
preferencial de visita à lota. A sua insistente presença junto do Professor veio
na verdade a revelar-se um dos elementos que mais contribuíram para o
deflagrar da "guerra de facções" na lota de Matosinhos;
Pelo contrário, a Comissão pôde verificar ter sido Narciso Miranda alvo directo
de um clima e mesmo de uma campanha de hostilidade contra si
especialmente alimentada e efectivamente dirigida.
7. Do que decorre, a Comissão de Inquérito tem por certo que nem Narciso
Miranda nem Manuel Seabra têm, hoje, condições para serem candidatos aos
órgãos do Município de Matosinhos, sem que disso resulte sério risco de novas
tensões e confrontos entre as facções inconciliáveis, com grave lesão de
dignidade e do prestígio do Partido Socialista. Isto, sem prejuízo do diverso
grau de responsabilidade apurado em relação a um e a outro, tal como resulta
das presentes conclusões.
PROPOSTAS
A Comissão de Inquérito, por unanimidade dos seus membros, propões à
Comissão Política Nacional as seguintes medidas:
A) No plano procedimental