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TEORIA GERAL SOBRE OS TÍTULOS DE

CRÉDITO
RICARDO CANGUÇU BARROSO DE QUEIROZ
Acadêmico de Direito

“Título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito , literal


e autônomo , nele mencionado” .

O conceito formulado por Cesar Vivante é , sem dúvida , o mais completo , afinal
como disse Fran Martins “encerra , em poucas palavras , algumas das principais
características desses instrumentos (títulos de crédito)” . Tal é a razão pela qual , segundo
Fábio Ulhoa , “é aceita pela unanimidade da doutrina comercialista” .
Os elementos fundamentais para se configurar o crédito decorrem da noção de
confiança e tempo. A confiança é necessária , pois o crédito se assegura numa promessa de
pagamento , e como tal deve haver entre o credor e o devedor uma relação de confiança . A
temporalidade é fundamental , visto que subentende-se que o sentido do crédito é ,
justamente , o pagamento futuro combinado , pois se fosse à vista , perderia a idéia de
utilização para devolução posterior.
Para Fábio Ulhoa três são as características que distinguem os títulos de crédito
dos demais documentos representativos de direitos e obrigações : primeiramente o fato dele
referir-se unicamente a relações creditícias , posteriormente por sua facilidade na cobrança do
crédito em juízo ( não há necessidade de ação monitória ) e , finalmente , pela fácil circulação
e negociação do direito nele contido .
Concordamos com a opinião do douto autor , porém acrescentaríamos uma
característica , que dá aos títulos de crédito o caracter de seguridade e confiabilidade , que o
torna capaz de atender aos interesses da coletividade : o rigor formal , rigor este , que deve ter
o documento para que seja considerado um título de crédito . Afinal , caso ficasse a critério de
cada indivíduo o preenchimento do texto de tais escritos teríamos , segundo Fran Martins ,
“milhares de válvulas abertas à exploração de terceiros e à utilização da má-fé”
Assim resumiríamos suas características com três palavras-chaves : o
Formalismo , a Excutividade e a Negociabilidade
Quando comparamos , especificamente , um contrato privado com um título de
crédito , temos que o contrato, como instituto consagrado pelo Direito Civil, detêm como
pressupostos , alguns princípios norteadores para que haja a eficácia jurídica , entre os quais :
a autonomia da vontade - em que as partes ao proporem um contrato devem fazer por
deliberação - , a capacidade das partes para contratar e objeto lícito . Na prática, o contrato,
devido a característica subjetiva das partes , não se transfere por mera circulação , ou seja , o
contrato não gera efeitos se ocorrer circulação, pois este ato jurídico, fica adstrito as partes
contratantes . Aí está a primeira diferença entre este e o títulos de crédito , haja visto , o
último não necessitar , exclusivamente , de vontade das partes devido seu caracter peculiar de
negociabilidade , até porque , o título é uma criação comercial , e como tal deve possuir
caráter mercantil .
Outra diferença está , quando analisamos a prática processual , afinal os contratos
, de modo geral , necessitam de um processo ordinário ( ação monitória ) , em que o juiz
conhece dos fatos e julga a “res in iudicium deducta”, resultando num título executivo ,
enquanto que nos títulos suprimi-se tal fase, pois já possuem no seu corpo o atributo de
executividade , o que facilita a perspectiva de reaver o crédito , além de permitir que terceiros
que tenham adquirido o título demande em caso de resistência de forma mais eficaz.
Segundo Fran Martins “o art. 17 da Lei Uniforme de Genebra sobre as Letras de
Câmbio e Notas Promissórias consagra a regra da Inoponibilidade de Exceções , de
maneira que o obrigado em uma letra não pode recusar o pagamento ao portador alegando
suas relações pessoais como sacador ou outros obrigados anteriores do título” . Fábio Ulhoa
diz que “o executado em virtude de um título de crédito não pode alegar , em seus embargos ,
matéria de defesa estranha à sua relação direta com o exequente , salvo provando má-fé
dele” .
Aqui devemos fazer uma ressalva , pois enquanto Fábio Ulhoa diz que “o simples
conhecimento , pelo terceiro , da existência do fato oponível já é suficiente para caracterizar
a má-fé” , Fran Martins considera a mesma ser “caracterizada pelo fato de haver o terceiro
agido conscientemente em prejuízo do devedor , sendo , desse modo , insuficiente o simples
conhecimento para demostrar a má-fé” .
Um dos princípios importantes que orientam os títulos de crédito é o Princípio
da Literalidade , segundo o qual , o que não está contido no título , expressamente , não terá
eficácia. Sendo assim , no caso de um aval ser outorgado por um instrumento privado , este
não terá nenhuma eficácia , pois não gera vínculo jurídico com o título de crédito , já que
como foi dito , seria necessário que o seu conteúdo estivesse contido no próprio título .
Outro importante princípio é o Princípio da Cartularidade , que nos dizeres de
Fábio Ulhoa “é a garantia de que o sujeito que postula a satisfação do direito é mesmo o seu
titular , sendo , desse modo , o postulado que evita o enriquecimento indevido de quem ,
tenha sido credor de um título de crédito , o negociou com terceiros ( descontou num banco ,
por exemplo )”. Como consequência temos que , não há possibilidade de executar-se uma
divida contida num título de crédito acompanhado , somente , de uma xerox autenticada ,
afinal ,.com a simples apresentação de cópia autenticada poderia o crédito , por exemplo , ter
sido transferido a outra pessoa .
Daí o porquê de sempre que o advogado possuir o título original , viável e
fundamental , é que , após a protocolização da ação e a ciência do advogado da parte “ex
adversa” , através da citação , que aquele pegue o processo já registrado e leve a um cartório
de registros mais próximo e autentique todas as páginas , bem como o recibo do cartório e a
cópia do mandado de citação e guarde em sua posse , pois ocorrendo qualquer eventualidade ,
como por exemplo , a ação dos famosos “Advogados Papa-Títulos” , provas documentais
ajudarão na solução do problema .
A teoria mais importante relacionada aos títulos de crédito é a Teoria de
Vivante , que sustenta o duplo sentido da vontade . Através de sua teoria , Vivante buscava
explicar qual o ânimo do devedor quando da entrega do título , de maneira que , para ele ,
existem duas vontades , uma originária , de pessoalidade , com o credor principal , e uma
outra que se concretiza pela liberdade de circulação do crédito . Assim , em relação ao credor
principal existe uma relação contratual , e em relação a terceiros possuidores , um fundamento
na obrigação de firma , pois é através deste ato que expressa a sua vontade de se obrigar.
Outras teorias importantes , que inclusive geram debates , são a Teoria da
Criação e a Teoria da Emissão . A primeira diz que o direito deriva da criação do título
através da assinatura , enquanto a segunda diz que o direito deriva através da emissão
voluntária do título . A legislação brasileira não adotou nenhuma das teorias , procurando ,
apenas , conciliar pontos importantes de ambas . A teoria da criação está presente no art. 1506
do Código Civil ( “A obrigação do emissor subsiste , ainda que o título tenha entrado em
circulação contra a sua vontade” ) , enquanto a da emissão está presente no art. 1509 do
mesmo instituto ( “A pessoa injustamente desapossada de títulos ao portador , só mediante
intervenção judicial poderá impedir que ao ilegítimo detentor se pague a importância do
capital , ou seu interesse” ) .
A classificação mais importante dos títulos de crédito é feita quanto a sua
circulação , da seguinte maneira :
a) Títulos ao Portador, que são aqueles que não expressam o nome da pessoa
beneficiada. Tem como característica a facilidade de circulação, pois se processa com
a simples tradição.
b) Títulos Nominativos, que são os que possuem o nome do beneficiário. Portanto, tem
por característica o endosso em preto
c) Títulos à Ordem, que são emitidos em favor de pessoa determinada, transferindo–se
pelo endosso.
Para Vivante os títulos nominativos “distinguem-se essencialmente dos títulos de
crédito à ordem e do portador porque se transferem com o freio de sua respectiva inscrição
no Registro do devedor , que serve para proteger o titular contra o perigo de perder o crédito
com a perda do título” .
Para Fábio Ulhoa , porém , não há distinção entre títulos à ordem a nominativos ,
pois ele vê na classificação tradicional uma limitação aos títulos de créditos próprios , além de
que não há alternativa para os títulos com cláusula de “não à ordem” .
O estudo dos títulos de crédito é importantíssimo , dado sua praticidade , afinal ,
são largamente utilizados no cotidiano , pois contribuem para a melhor utilização dos capitais
existentes , que , de outra forma , ficariam improdutivos em poder de quem não quer ou não
deseja aplicá-los diretamente .

BIBLIOGRAFIA :

1 – MARTINS , Fran ; Títulos de Crédito – Rio de janeiro : Forense , 2000 .


2 – COELHO , Fábio Ulhoa ; Curso de Direito Comercial – São Paulo : Saraiva , 2000 .

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