Você está na página 1de 12

FACULDADE BATISTA BRASILEIRA

ARTIGO:
CONVIVENDO COM A DIVERSIDADE
CULTURAL E RELIGIOSA

Salvador

2009
JAKSON GUEDES
LAYDICKSON MARQUES
PAULO CARDOSO
RAFAEL NUNES E
UZIEL MIRANDA

ARTIGO:
CONVIVENDO COM A DIVERSIDADE CULTURAL E
RELIGIOSA

Artigo apresentado à Coordenação do


PI no Curso de Graduação em Teologia
da Faculdade Batista Brasileira.

Orientadora: Luiza Laborda

Salvador
2009
A INTERAÇÃO CULTURAL E RELIGIOSA DOS SÍMBOLOS NA IURD, NO
CANDOMBLÉ E NA IGREJA CATÓLICA TRADICIONAL.

JAKSON GUEDES ¹
LAYDICKSON MARQUES ¹
PAULO CARDOSO ¹
RAFAEL NUNES E 1
UZIEL MIRANDA ¹

RESUMO

Este trabalho visa apresentar a partir de pesquisa bibliográfica a presença de


símbolos religiosos e sua apropriação e conseqüentemente dando novo significado, na
prática religiosa, na IURD, no CAMDOMBLÉ e na IGREJA CATÓLICA. Busca-se
explicar como o símbolo tem presença significativa, e como estas religiões se
diferenciam e se assemelham em seus rituais apesar do extremismo religioso que as
envolvem.

Palavras chaves: símbolos, prática religiosa, religiões.

SUMMARY

This work aims at to present from bibliographical research the presence of


religious symbols and its new appropriation and consequently being given meant, in
practical the religious one, the IURD, the CAMDOMBLÉ and the CHURCH
CATHOLIC. One search’s to explain as the symbol has significant presence, and as
these religions if they differentiate and if they are similar in its rituals although the
religious extremism that involves them.

Words keys: symbols, practical religious, religions

Introdução
1
Alunos no 5º semestre do curso de Bacharel em Teologia da Faculdade Batista Brasileira em salvador-
Ba.
Há um conflito religioso entre neopentencostais, religiões afro-brasileiras, e até
mesmo no catolicismo, no sentido da absorção e utilização de símbolos e das práticas de
ambos nos seus rituais, com foco especial na simbiose ritualística que hoje ultrapassa os
limites do sincretismo religioso. Pretende-se evidenciar como esta simbiose, realizada
através dos rituais de exorcismo, sessões de descarrego, cânticos evocativos, rezas,
adorações aos santos e aos orixás, venda de artefatos religiosos e utilização de vestuário
têm contribuído para o processo de espetacularização, resignificação e utilização de
símbolos e dos rituais dentro destas religiões.

A Igreja Universal
Fundada em 1977 por Edir Macedo2, a neopentecostal Igreja Universal do Reino
de Deus é a denominação que mais tem crescido nos últimos tempos no Brasil. Para
uma igreja que começou numa ex-funerária no bairro da Abolição no Rio de Janeiro, o
império econômico que possui hoje é espantoso. Dados de 1995 revelam a Igreja
Universal dona de 01 banco, 02 jornais, 01 revista, 30 emissoras de rádio no Brasil e 05
no exterior, 01 rede de TV com 25 repetidoras, Edir Macedo Bezerra, ou Bispo Macedo,
como é conhecido no meio evangélico, carioca de Rio das Flores, fundou em 1977 a
Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). O foco do discurso doutrinário da IURD, a
teologia da prosperidade, é levado ao extremo, condicionando a prosperidade do fiel ao
pagamento dos dízimos, ofertas e aquisição de objetos «encantados», tais como: «pedras
da tumba de Jesus», «a água benta do rio Jordão», «a rosa milagrosa», «sal abençoado
pelo Espírito Santo». Isso faz da IURD uma das que exibem com maior clareza o
caráter contraditório, conflituoso-simbiótico, que reveste a relação com as religiões
afro-brasileiras.
Símbolos, Ritos e Apropriação
Em um momento histórico marcado pelo crescimento da violência, comércio de
drogas e criminalidade, as massas passaram de um processo de desencanto para outro de
reencantamento3, representado pelo conservadorismo carismático católico, pelo
fundamentalismo protestante, ou, mesmo, a opção pelas religiões afro-brasileiras, além
2
Edir Macedo Bezerra, ou Bispo Macedo, como é conhecido no meio evangélico, carioca de
Rio das Flores,
fundou em 1977 a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).
3
“Reencantamento» é uma expressão empregada para designar a busca humana
pelo mundo simbólico,
transcendental, carregado de deuses que possam dotar a vida dos
«desencantados», pessoas cansadas do
racionalismo e do secularismo da vida moderna, de sentido e de dinamismo.
da explosão de novos movimentos sincréticos, alguns pentecostais, dos quais Edir
Macedo é uma de suas expressões mais completa4·.
Nas reuniões de libertação, que acontecem especialmente às sextas-feiras, às
19:00 horas, as pessoas têm suas vidas transformadas por intermédio das
orações, que têm o poder de expulsar os “espíritos opressores”. Ao se
manifestarem, eles confessam as inúmeras maldades praticadas para destruir
a vida sentimental, familiar, físicas e financeiras da vítima. Os encostos são
obrigados, pela autoridade do Nome de Jesus, a se identificarem e, aos
berros, costumam revelar também o intuito de destruir sua vítima
(Folha Universal, 07/05/2003).

A essa altura, o empreendimento religioso já está dotado de um dinamismo, que pode se


antepor às estratégias de organizações e movimentos religiosos organizados. A Igreja
Universal, ao penetrar num campo religioso desde há muito tempo em funcionamento,
precisou travar batalhas para desalojar concorrentes, até porque um de seus objetivos
era assumir um papel que fosse o mais hegemônico possível em sua área de atuação.
Sem dúvida, o seu sucesso está atrelado ao pluralismo e à competitividade da pós-
modernidade. Neste sentido, Wood Jr. afirma que:
Emergem novos modelos de gestão, caracterizados pelo emprego maciço de
linguagem simbólica e pela disseminação das técnicas de impressão. As
organizações contemporâneas, com seus gerentes simbólicos, rituais de
passagem, controle por intermédio da cultura, interação virtual e profusão de
símbolos, podem ser caracterizadas como teatrais... Mais que isso, pela
importância da imagem e pelo tratamento dramático que os eventos e
fenômenos ganham, as organizações contemporâneas podem ser consideradas
cinematográficas (2001:18).5

Muito embora ainda não se possa considerar o modelo de gerenciamento adotado por
Macedo na Igreja Universal como cinematográfico, em outras áreas, a Igreja, ou melhor,
sua atuação religiosa, assume uma posição claramente espetacularizante. Adotando
posição similar à das contrapartes afro-brasileiras que fazem de cada ritual um momento
único em que se misturam espetáculo e crenças religiosas, a Universal aborda a temática
da conversão e da salvação através da utilização do exorcismo enquanto artifício
artístico ou performático. Tecendo considerações acerca desta performatização, Santos
comenta que:
Pretensos adeptos, até então, de seitas espíritas e, principalmente, de seitas
afro-brasileiras, são induzidos pelo pastor a encarnarem em seus corpos o
demônio que lhes vinha atormentando a vida. Perante a audiência, o demônio
manifesta e o pastor irá tratar de dobrá-lo, de submetê-lo à sua autoridade, em

4
Dos 52 movimentos religiosos catalogados pelo ISER, no Censo Institucional
Evangélico (Rubem César
Fernandes, 1992), 50% deles surgiram no Rio de Janeiro, depois de 1960, incluindo-
se aqui a própria Igreja Universal.
5
Wood Jr. T. 2001. Organizações espetaculares. Rio de Janeiro: Ed. Fundação
Getúlio Vargas
nome de Jesus. Em cem por cento dos casos o sucesso é total: o endiabrado
termina de joelhos aos pés do pastor (1996:111).

Os cultos são feitos com gritos frenéticos dos apresentadores e participação ativa
da platéia. Este espetáculo espiritual é dividido em duas partes e chega ao clímax
quando são realizados os exorcismos (1996:41). Narrativas longas e detalhadas,
ilustradas por imagens simuladas dos eventos, com a constante intervenção dos
protagonistas do caso, são extensas e ostensivamente mostradas durante os programas
de cunho religioso apresentados pela Rede Record de televisão. Neste contexto,
exorcismos televisivos e mudanças na vida dos crentes são cuidadosamente
transformados em espetáculo de consumo para a população que aflui rotineiramente
rumo aos templos da Igreja Universal do Reino de Deus. Somem-se a isto os cultos
carregados de expressões de êxtase, curas, profecias, além da freqüente ocorrência de
glossolalia. Muito embora esta última não seja o elemento distintivo do
neopentecostalismo, sabe-se que a habilidade de falar línguas distintas, segundo a Bíblia
(I Coríntios 12), é um dos dons do Espírito Santo. Nas Igrejas Evangélicas é
normalmente associada ao dom da Profecia, de maneira que os ungidos são utilizados
como meio para comunicação entre divindades e humanos. Ressalte-se que esta é uma
estrutura de crenças similar à existente entre os Afro-brasileiros.
Outro aspecto da liturgia iurdiana que merece análise mais detalhada é,
exatamente, o ritual do exorcismo. Este se transformou, desde exercer um papel
secundário, nas abordagens religiosas mais tradicionais, no centro das atenções do
proselitismo religioso dos neopentecostais. Além da Universal, as denominações Igreja
Internacional da Graça de Deus e Deus é Amor são exemplos de igrejas cujas bases se
assentam sobre o ritual do exorcismo. Tendo em vista esta situação, recorda-se
Mariano6:
Se o ritual do exorcismo não é recente nos meios pentecostais, a Universal o
exacerba nos cultos de libertação, concedendo ao Diabo e seus demônios,
identificando as entidades e deuses das religiões afro-brasileiras e espíritas,
destaque e importância sem precedentes (1999:43).

Os rituais de exorcismo são os que exibem com maior clareza o caráter


contraditório, conflituoso-simbiótico, que reveste a relação da Igreja Universal com as
religiões afro-brasileiras. Pois, se por um lado, situa-se a contestação dos valores afro-
brasileiros apresentados como crenças demoníacas, por outro, tem-se a aceitação e
incorporação destes mesmos valores. Neste sentido, Mariza Soares afirma que:

6
Mariano, R. 1999. Neopentecostais: Sociologia do novo pentecostalismo noBrasil.
Rio de Janeiro: Loyola.
Ao invocar os demônios para que se apresentem sob a forma de Caboclos,
Pretos-Velhos etc., os pastores «acatam» todo o panteão afro-brasileiro:
falam com eles, dão credibilidade à sua existência. Seria bastante ineficaz
chegar para uma pessoa que durante anos recebeu um determinado guia
dizendo que tais coisas não existem (1990:87).

Desta forma, o retorno do mundo do irracional percebido por TERRIN, não significa a
“desrazão”, mas, a consciência dos limites da razão e da necessidade de recorrer
igualmente à intuição para explicar a realidade. Aliado a isto, ocorre também uma nova
busca de sentido, que se traduz no “pedido difundido de símbolos e significados para a
existência,” conforme observa MARTELLI. Na sua visão:
... A impossibilidade da modernidade de constituir o horizonte
completo das aspirações humanas e sociais repropõe a transcendência como
horizonte último de sentido, leva os significados e os símbolos da Religião
institucional a serem reconsiderados pela sempre renovada interpretação dos
indivíduos. (1995: pp. 436 e 455).

Candomblé e Catolicismo

Entre as tradições religiosas africanas que exerceram influência nas religiões


afro-brasileiras, os cultos aos Orixás e Voduns foram de capital importância. As
religiões afro-brasileiras constituem um fenômeno relativamente recente na história
religiosa do Brasil. Por exemplo, o primeiro terreiro de Candomblé, que é localizado no
nordeste, mais precisamente na Bahia, é geralmente situado no ano de 1830. Estas
novas religiões apareceram primeiro na periferia urbana brasileira, onde os escravos
tinham maior liberdade de movimento e eram capazes de se organizar em nações. Daí
eles se espalharam por todo o país, e tomaram diversos nomes como Catimbó, Tambor
de Minas, Xangó, Candomblé, Macumba e Batuques. O Candomblé, a mais tradicional
e africana dessas religiões, se originou no Nordeste. Nasceu na Bahia e desde longa data
tem sido sinônimo de tradições religiosas afro-brasileiras em geral. Desde o começo os
pais - de- santos7 buscavam re-africanizar a religião. Isto foi possível em parte, porque a
rota dos navios entre Nigéria e Bahia, conservou viva a conexão com a África. Isso
continuou mesmo depois da abolição da escravidão em 1888. Escravos libertos que
puderam viajar para áreas dos Yorubás foram iniciados no culto dos Orixás e então, ao
retornar ao Brasil, puderam fundar terreiros a revitalizar a prática religiosa. Quando as
religiões afro-brasileiras começaram a aparecer, o conceito de nação ganhou nova força

7
Os termos para líderes masculinos e femininos do Candomblé são pai-de-santo e mãe-de-santo. Os
iniciados são chamados filho/filha-de-santo.
e significado, em parte como um símbolo de transmissão de tradições religiosas locais, e
em parte como uma marca da identidade étnica8.
As religiões afro-brasileiras ainda carregam os efeitos de sua interação com outras
tradições religiosas, especialmente do Catolicismo. Os Voduns e Orixás foram
justapostos com os santos católicos4 e o interior dos terreiros possuía numerosos
elementos católicos, incluindo e estátuas de santos, enquanto os objetos religiosos
africanos eram escondidos. As religiões afro-brasileiras eram proibidas, e os terreiros
eram freqüentemente visitados pela polícia. Por isso seus praticantes deviam sempre
buscar caminhos para fortalecer a aparência católica dos Orixás e dos terreiros. O
sincretismo se tornou assim estratégia de sobrevivência.
No início dos anos 60, apesar do fim da perseguição governamental, a Igreja
Católica liderou uma cruzada contra a Umbanda. Depois do Concílio Vaticano II (1962-
1965), entretanto, a Igreja Católica no Brasil parou a perseguição, e começou a dialogar
com as religiões não-cristãs. No Brasil esta resolução levou muitos padres católicos a se
dar conta que o futuro do Catolicismo no país passa pela habilidade de lidar com as
religiões Afro-brasileiras (Boff 1977). A Igreja Católica no Brasil começou a adotar um
pluralismo litúrgico, incorporando elementos das religiões Afro-brasileiras em certas
missas. Além disso, a Igreja começou a reconhecer oficialmente a Umbanda como
religião. Esta mudança significou que a Umbanda e outras religiões Afro-brasileiras
puderam ganhar melhor posição no campo religioso. Mas a inserção no espaço maior
exigia uma identidade nacional, por assim dizer, uma identidade que refletisse o
conjunto geral da sociedade católica em expansão. O fim da escravidão, a formação da
sociedade nacional, o extravasamento das populações pelas amplitudes geográficas,
com a criação de possibilidades as mais diferentes, tudo isso só fez reforçar a
importância do catolicismo para as populações negras. O próprio catolicismo, como
cultura de inclusão, hegemônica, não fez oposições, que não pudessem ser vencidas, ao
fato de o negro manter uma dupla ligação religiosa. Pois em São Luís, talvez o mais
vivo e denso centro cultural dos sincretismos afro-católicos, não são apenas os devotos
das religiões negras que são também católicos; católicas também são consideradas pelos
seus fiéis as próprias divindades trazidas da África. As religiões afro-brasileiras, em

8
Os terreiros do Candomblé são divididos em nações como Nagô, Ketu etc. Uma pessoa que é iniciada
no terreiro de Candomblé não pode exercer sua função em outros terreiros de outras nações.
www.pucsp.br/rever/rv012001/p_jensen.pdf 2
suas origens, sempre foram devedoras e dependentes do catolicismo, ideológica e
ritualmente.
O Transitar dos Símbolos, Ritos, Crenças e Utensílios
Umbanda9 é uma manifestação religiosa brasileira que mistura elementos do
espiritismo kardecista, cristianismo católico, cultos afro-brasileiros e ameríndios.
Distingue-se em duas linhas básicas: a Umbanda Branca, com rituais bastante
semelhantes às sessões de espiritismo kardecista – em que tambores, possessões
desordenadas e comportamento grosseiro dos espíritos não são permitidos; e a Umbanda
Traçada ou Candomblé de Caboclo cujos rituais são a mais pura mistura brasileira de
crenças ritualísticas – misturam-se orações e rituais católicos a crenças afro-brasileiras,
ameríndias, espiritismo kardecista, Jurema e Toré. Do outro lado, inspirados na
atividade e movimentação típicas dos cultos umbandistas mais tradicionais, os
universais se inspiraram na facilidade de memorização e nas rimas curtas dos pontos de
Macumba para criar sua própria categoria musical: os «corinhos de poder». Como é
possível perceber, a prática litúrgica da Igreja Universal não somente reconhece e aceita
a existência das entidades afro-brasileiras, como também faz delas o mote de sua ação
evangelizadora. Pode-se perceber que, na Igreja Universal, os cânticos apresentam
basicamente a mesma forma rítmica dos pontos de Macumba. Quando se iniciaram estas
reflexões, não se tinha em mente que Universais e Afro-brasileiros pudessem ter tantas
características em comum, como se viu até o momento. No entanto, as ações da
Universal têm como marca a constante apropriação de símbolos e rituais dos outros
grupos, conforme se viu anteriormente. Este processo de apropriação se inicia, a bem da
verdade, com a herança do catolicismo popular, sempre muito rico em objetos e
mandingas para defender ou favorecer os fiéis. Figas, patuás e todos os tipos de
misticismo sempre permearam as crenças do catolicismo popular e terminaram por levar
esta influência às religiões mais populares, como a umbanda.
Daí, para inflamar os novos pentecostais foi um pequeno passo em um processo de
simbiose ritualística ao se apoderar de símbolos e objetos rituais de outras religiões
assim ambas vem se apoderando não somente dos símbolos do catolicismo popular, mas

9
Umbanda é uma manifestação religiosa brasileira que mistura elementos do espiritismo kardecista,
cristianismo católico, cultos afro-brasileiros e ameríndios. Distingue-se em duas linhas básicas: a
Umbanda Branca, com rituais bastante semelhantes às sessões de espiritismo kardecista – em que
tambores, possessões desordenadas e comportamento grosseiro dos espíritos não são permitidos; e a
Umbanda Traçada ou Candomblé de Caboclo cujos rituais são a mis pura mistura brasileira de crenças
ritualísticas – misturam-se orações e rituais católicos a crenças afro-brasileiras, ameríndias, espiritismo
kardecista, Jurema e Toré. Na maioria dos locais
as sessões aparentam ser tumultuadas com possessões ruidosas e comportamento arquetípico dos
espíritos.
também de seus próprios e principais oponentes no mercado religioso. Sob vários
argumentos de que os objetos servem para fortalecer as crenças, há uma forte
apropriação de símbolos oriundos do catolicismo popular, umbanda e religiões místicas.
Dos cânticos aos patuás, passando pelos exorcismos, as religiões se apossam de um
grande número de ritos e símbolos tradicionalmente vinculados às religiões e seitas de
origem ou inspiração africana.

Conclusão
A dimensão simbólica do fenômeno religioso é um tema freqüentado por quase
todos os clássicos das ciências sociais. Todos os fundadores das nossas disciplinas, do
século XIX para cá, incluindo Karl Marx e Augusto Comte, formularam uma teoria do
fenômeno religioso e de suas articulações. Uma pressuposição dominante da maior
parte das teorias clássicas da religião é de que há uma estabilidade no campo simbólico.
Em alguns casos enfatiza-se a estabilidade do campo e, em outros, a estabilidade do
próprio símbolo. Se um movimento religioso possui uma determinada dinâmica, nos
casos em que os campos simbólicos estão em disputa, supõe-se que haja uma
estabilidade, ou uma continuidade em torno da disputa por algum símbolo. E no sentido
inverso, quando é o campo simbólico que é entendido como estável, dentro dele pode
haver disputas entre diferentes símbolos. Assim, a revitalização religiosa observada na
atualidade, pode ser inserida na própria corrente da pós-modernidade, a partir do
momento em que constata-se uma revalorização do ritual, em função sobretudo de uma
maior ênfase no símbolo como sua “unidade central de expressão” e, no surgimento de
novas metáforas, que se coadunam com uma compreensão da realidade em
transformação. Procurou-se assim, partindo da constatação de que o fenômeno religioso
atual apresenta características que o inserem na própria corrente da pós-modernidade,
sobretudo a busca de uma “nova racionalidade”, apresentar um quadro teórico de
fundamentação e contextualização, para que se reconheça a importância do criativo uso
do símbolo religioso no cotidiano.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGER, Peter L. & LUCKMANN, Thomas. A Construção Social da
Realidade:Tratado de sociologia do conhecimento. Petrópolis, Vozes, 1985.

BAUDRILLARD, Jean. À Sombra das maiorias silenciosas: o fim do social e o


surgimento das massas. 4ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

Folha Universal, 07/05/2003).

Macedo, E. 1992. Orixás, caboclos e guias: Anjos ou demônios. Rio de Janeiro:


Universal.

Macedo, E. s/d. Libertação da teologia. Rio de Janeiro: Gráfica Universal.

Macedo, E. 1991. Nos passos de Jesus. Rio de Janeiro: Gráfica Universal.

Magnani, J. G. C. 1991. Umbanda. São Paulo: Ática.

Mariano, R. Neopentecostalismo: os pentecostais estão mudando. Dissertação de


mestrado.FFLCH/USP.

Mariano, R. 1999. Neopentecostais: Sociologia do novo pentecostalismo noBrasil. Rio


de Janeiro:Loyola.

MARTELLI, Stefano. A religião na Sociedade Pós-Moderna: entre secularização e


dessecularização. São Paulo: Paulinas, 1995.

Revista Usp, São Paulo, 50:46-65.Santos, E. A. G. C. 1997. «A Teatralização do


Carisma: Um Ensaio Sobre O Exorcismo Televisivo da Igreja Universal do Reino de
Deus». In Performance,performáticos e sociedade. Brasília: Instituto de Ciências
Sociais-UnB.

TERRIN, Aldo Natale. Nova Era: A religiosidade do pós-moderno. São Paulo: Loyola,
1996.

Wood Jr. T. 2001. Organizações espetaculares. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getúlio
Vargas.

Você também pode gostar