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COMPLEXIDADE, CAOS, SISTEMAS AUTO-ECO-

ORGANIZADORES: REVISÃO DOS CONSTRUTOS QUE ESTÃO


ORIENTANDO A BUSCA PELA COMPREENSÃO DE FENÔMENOS
EM LINGUÍSTICA APLICADA

Ludmila Belotti Andreu FUNO


UNESP campus de São José do Rio Preto

ABSTRACT

This paper aims to review the constructs of complexity theory which have been
guiding some searches for the understanding of language learning phenomena. Its
organization follows the purpose of clarifying some concepts of complexity theory
and, finally, making some forward considerations for possible studies related to
teletandem.

Palavras-chave: complexidade, sistemas auto-eco-organizadores, Linguística


Aplicada.

Complexidade

O conceito de complexidade, aplicado à realidade, traduz-se como


uma nova maneira de inteligir nossas experiências na busca pelo
conhecimento, uma maneira integradora ou indisciplinar (MOITA LOPES,
2006) e capaz de reconhecer o acaso enquanto “fenda na determinação e na
predição” (MORIN, 2007, p. 52). De modo resumido, pode-se dizer que a
complexidade, enquanto tentativa de inteligir os processos relacionados aos
conhecimentos (de construção, desconstrução e reconstrução), configura-se
como uma teoria do conhecimento.

Assim como o caos, a complexidade é um conceito de difícil


apreensão. Para explorá-lo é preciso recorrer a autores como Edgar Morin
(2007), que estrategicamente propõe três princípios para que pensemos a
complexidade: o dialógico, o recursivo organizacional e o princípio
hologramático.

Segundo o autor, o princípio dialógico refere-se à capacidade de se


manter “a dualidade no seio da unidade” (MORIN, 2007, p.74). Como nas
relações em que o autor comenta entre ordem e desordem, segundo as quais
mesmo sendo uma inimiga da outra, ambas devem interagir e coexistir para
que possam existir individualmente.

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A recursão organizacional descreve fenômenos não-lineares, ou seja,
dotados de recursividade organizacional, nos quais “produtos e efeitos são ao
mesmo tempo causas e produtores do que produz” (MORIN, 2007, p. 74).

O terceiro princípio, o hologramático, retoma os dois princípios


anteriores (o dialógico e o recursivo organizacional) ao evidenciar a
dualidade integradora e a não-linearidade nas relações que se estabelecem
entre as representações de “todo” e de “parte”. Segundo o autor, “a idéia de
holograma vai além do reducionismo que só vê as partes e do holismo que só
vê o todo”, (MORIN, 2007, p. 74) enxerga como todo e parte se relacionam.
O princípio hologramático refere-se à fractalidade presente em fenômenos
complexos.

Pedro Demo (2008) por sua vez, ao abordar o tema da


complexidade, busca defini-la elencando aquilo que ele reconhece como
suas características. Segundo Demo, são características da complexidade: a
dinamicidade, a não-linearidade, a reconstrução, a dialética evolutiva, a
irreversibilidade, a intensidade e a ambigüidade/ambivalência.

Ao tratar da dinamicidade, Demo afirma que a complexidade tem em


sua identidade a marca do “vir a ser” (DEMO, 2008, p. 13). Segundo o autor,
a complexidade configura-se como “campo de forças contrárias”, onde a
estabilidade é sempre provisória.

A não-linearidade, conforme o autor, reporta a um modo de ser que


engloba “relativa autonomia” e “profunda dependência” das relações que se
estabelecem entre o todo e suas partes, não podendo ser reduzida a um
emaranhado de coisas múltiplas e complicadas. A não-linearidade implica
em mudanças além das ditas mudanças lineares, que respeitam a relação
direta causa/ efeito, adjetivadas como “previsíveis”, “tranqüilas” e “calmas”
pelo autor, ou seja, a não-linearidade implica em mudanças “criativas,
surpreendentes e arriscadas” (DEMO, 2008, p. 17).

A quarta característica da complexidade elencada por Demo é a do


processo dialético evolutivo, segundo o qual aos fenômenos complexos
atribui-se alguma capacidade de aprendizado. Longe de encerrar a polêmica
que o tema suscita, o autor conclui estrategicamente que a aprendizagem
consciente (ou os “níveis reflexos”) no ser humano “representam apenas
estágios mais avançados de um fenômeno que seria comum a própria
natureza”. Em outras palavras, a aprendizagem em fenômenos complexos é
vista como emergência de instâncias de “criatividade autêntica” e gradação
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de consciência em seus processos reconstrutivos não-lineares (DEMO, 2008,
p. 24).

Irreversibilidade: como todo fenômeno complexo é vir a ser, é


incompleto, tem vínculo fundante com sua temporalidade e a renovação lhe
é intrínseca, o que quer dizer que tem “sua condição própria distintiva”
(DEMO, 2008, p. 25), sua individualidade, não podendo ser duplicado,
reproduzido, nem passível de reversão para a investigação e reconstrução de
seu vir a ser.

A Intensidade é uma característica ligada aos conceitos de


dependência sensível e não linearidade, e requer uma maior valoração dos
aspectos qualitativos em face dos aspectos quantitativos dos fenômenos.
Segundo Demo, “a intensidade busca captar dimensões de maior
profundidade, como seria, por exemplo, a problemática da participação, para
além da simples filiação no associativismo” (DEMO, 2008, p.27).

Ambigüidade e ambivalência são características intrinsecamente


ligadas que estão presentes no seio dos sistemas complexos. Constituem em
si uma única característica, representada por ambigüidade/ambivalência.
Nessa percepção ambigüidade perde a concepção de obscuridade e sua
conotação negativa.

Segundo o autor a ambigüidade refere-se à estrutura dos sistemas


complexos, “no sentido da composição também desencontrada de seus
componentes, típica das unidades de contrários” (DEMO, 2008, p. 28). Ao
passo que o signo ambivalência representa a processualidade dos fenômenos
que emergem em sistemas complexos, vinculando os modos de “vir a ser”
desses sistemas (DEMO, 2008, p. 30).

Tanto os princípios de Morin, quanto as características de Demo


configuram-se como tentativa de inteligir a complexidade enquanto
fenômeno e característica fenomenológica. São esforços de tornar
reconhecível, palpável, fases de algo muito dinâmico através da constatação
do que seriam estados estacionários (ou steady state, MORIN, 2007, p.21)
ou instâncias em que temporariamente conseguimos discernir uma
manifestação de ordem.

A complexidade é um conceito intimamente ligado a representação


das características caóticas nos sistemas complexos. E é sobre o caos que
tratarei a seguir.
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Caos

O Caos é um termo herdado do grego, e para entender o conceito a


que hoje se referem muitos estudos em Linguística Aplicada, torna-se
necessário remontarmo-nos a sua origem mítica helena. Para tanto, citarei
um trecho extraído de O livro de ouro da mitologia,de Bulfinch (1999):

Antes de serem criados o mar, a terra e o céu, todas as


coisas apresentavam um aspecto a que se dava o nome de
Caos_ uma uniforme e confusa massa, mero peso morto,
no qual, contudo, jaziam latentes as sementes das coisas.
A terra, o mar e o ar estavam todos misturados; assim, a
terra não era sólida, o mar não era líquido e o ar não era
transparente (BULFINCH, 1999, p. 19).

Assim, de acordo com Bulfinch, o Caos, enquanto uma entidade


mitológica antecessora do universo tal qual o conhecemos, é caracterizado
pelas palavras “uma uniforme e confusa massa” que trazia em si “latentes as
sementes das coisas”.

Essa visão que une amorfia e potencial criador corrobora com o


excerto apresentado por Oliveira sobre Caos, segundo o qual, “o termo
sugere criação, gênese, concepção. O caos, precedendo o mundo material
ordenado, surge assim como condição para a criação e existência desse
mundo. O caos é o pré-requisito da ordem” (OLIVEIRA, 2009, p. 14).

O substantivo caos, extraído do universo mítico, passa a ser usado


por diversas áreas do saber como nome atribuído a manifestações
engendradas em certos sistemas (sistemas adaptativos complexos) que
evocam a percepção de um ‘conduzir-se’ nesses sistemas. Tal ‘conduzir-se’,
por analogia ao mito, foi denominado comportamento caótico e os sistemas
em que tais comportamentos emergem foram nomeados de sistemas
caóticos.

Fleischer, em seu artigo intitulado Caos/ Complexidade na interação


humana, problematiza a noção de Caos, suscitando a discrepância entre a
aparência e a essência do comportamento dito caótico em sistemas
adaptativos complexos. Segundo ele, “um sistema caótico tem um
comportamento que parece aleatório, mas na verdade é determinístico”
(FLEISCHER , 2009, p. 74).

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Como uma das premissas de sua argumentação o referido autor
recorre a Lorenz, no trecho a seguir, que explica melhor a característica
determinística do comportamento caótico:

(...) comportamento que é determinístico, ou quase, se ele


ocorre num sistema tangível que possui uma pequena
quantidade de aleatoriedade, mas não parece
determinístico. Isso significa que o estado presente
determina completamente, ou quase completamente o
[estado] futuro, mas não parece fazer isso (LORENZ,
1993, p.8 apud FLEISCHER, 2009, p.73).

Dessa forma, Fleischer assinala que embora a maneira como a


dinâmica das interações no sistema adaptativo complexo seja aparentemente
aleatória, há uma espécie de emaranhado entre manifestações desse
‘conduzir-se’ e a brecha que o desencadeou, isso definiria o comportamento
dos sistemas como determinístico.

Além de problematizar a aparente aleatoriedade do comportamento


dito caótico de sistemas adaptativos complexos, esse autor elenca algumas
das características relevantes desses sistemas, tais como dependência
sensível, não-linearidade, complexidade, fractalidade e presença de atratores.

Dependência sensível, segundo o autor, diz respeito à relação que se


estabelece entre dois estados que a princípio são muito próximos (quase
idênticos), mas que na sequência da dinâmica do sistema tornam-se dois
estados “claramente distintos” (FLEISCHER, 2009, p.74). Ou seja, essas
claras diferenças futuras dos estados inicialmente semelhantes são
decorrentes (por dependência sensível) da mínima diferença que um dia
houve entre eles.

A não-linearidade nega a relação linear entre causa e efeito e o


princípio de superposição que reduz a complexidade dos sistemas ao buscar
determinar certo comportamento de um dado sistema considerando
separadamente, um a um, a interferência de seus elementos constituintes na
dinâmica que suscitou tal comportamento, o que se caracteriza por ser um
procedimento analítico e redutor, prático para operações em outros
contextos, mas não suficiente para a compreensão de fenômenos ditos
caóticos.

Para explicar a não linearidade, o autor dá o seguinte exemplo:


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Para exemplificar um sistema não-linear, consideremos
algum fator, tal qual a concentração de edifícios de
concreto em uma determinada sociedade, que possa levar
a um aumento médio de 1°C na temperatura ambiente.
Mesmo se a variável causadora do aumento na
temperatura ambiente fosse multiplicada por mil _ se, por
exemplo, o número de edifícios aumentasse de cinco para
cinco mil_ a temperatura ambiente nunca chegaria a
1000°C, ou mesmo 100°C (FLEISCHER, 2009, p. 74).

A complexidade, que será mais bem abordada posteriormente,


refere-se, segundo Fleischer, ao grande número de variáveis e subsistemas
englobados por um sistema (2009, p. 75). O autor defende a idéia de que a
aparência aleatória do comportamento caótico dos sistemas deve-se a
complexidade desses sistemas.

A fractalidade, por sua vez, é entendida pelo autor como “a


dimensionalidade fracionária de certos sistemas”, sendo a auto-similaridades
(“o todo é composto por partes similares ao todo”) uma de suas propriedades
mais populares (FLEISCHER, 2009, p. 75).

Pedro Demo também faz comentários muito relevantes para a


compreensão da fractalidade, extrapolando a percepção das auto-
similaridades com arte, verdadeira maestria:

Todavia essa noção [auto-similaridades] não é suficiente, por que


não se trata de propriedade reversível. As partes essenciais não são
substituíveis, nem permutáveis: não dá para substituir o cérebro, nem colocar
o fígado em seu lugar. Trata-se, por isso, de todo composto de entidades
autônomas, e nesse contexto vale a idéia hologramática: em cada parte está o
sentido do todo, mas não o todo propriamente dito, por que, se assim fosse,
não poderíamos dizer que o todo é maior do que a soma das partes. Na
verdade essa expressão é incorreta: nenhum todo complexo é soma. É
sobretudo trama, rizoma, teia (DEMO, 2008, p. 22).

A Linguística Aplicada toma o conceito de atrator, sobretudo atrator


estranho, com adequações ao seu fazer científico, das reflexões divulgadas a
partir do trabalho de Lorenz, o que pode ser comprovado pela enorme gama
de referências feitas a esse autor nos textos de LA que se propõem a abordar
o tema dos atratores.

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De modo geral, pode-se dizer que um atrator configura-se como um
ponto de equilíbrio, uma “zona geométrica”, que remete a estabilidade de um
sistema dito dinâmico. Os atratores estranhos, por sua vez, seriam aqueles
que, entre outras especificidades, são dotados de fractalidade e
imprevisibilidade devido a sua dependência sensível das condições iniciais
que desencadearam as atividades do sistema dinâmico complexo.

Os atratores presentes em sistemas caóticos em LA, ou seja,


atratores estranhos, podem ser entendidos como comportamentos recorrentes
próximos de uma determinada variante ou, nas palavras de Fleischer:

Em qualquer sistema, os estados que ocorrem repetidamente ou que


são aproximados com freqüência e de forma cada vez mais próxima
constituem um conjunto de atratores. Tais atratores são meramente estados
que ocorrem com grande freqüência, enquanto outros estados, embora
plenamente possíveis, simplesmente não ocorrem (FLEISCHER, 2009, p.
75).

Ainda segundo o autor, a identificação de um conjunto de atratores


de um sistema é possível, embora não seja possível determinar isoladamente
cada uma das interações inerentes ao sistema. Ou seja, “embora não se possa
prever o comportamento exato de uma interação isolada do sistema, pode-se
prever o comportamento das interações tomadas como um todo ao longo de
um período de tempo” (FLEISCHER, 2009, p. 78).

A teoria do caos lida, então, com sistemas determinísticos,


sensivelmente dependentes de suas condições iniciais, e embora se acredite
nessa dependência sensível, esses sistemas caóticos assumem dinâmicas não-
lineares em que os efeitos instituídos pela sua dinâmica não são linearmente
proporcionais a suas causas.

A previsão do comportamento de cada elemento constituinte do


sistema caótico em interação é impossível, entretanto a percepção dos
atratores indica que a totalidade do sistema segue tendências que podem ser
notadas e, assim, tal percepção possibilita certo grau de previsibilidade do
desempenho das interações nesse sistema como um todo a partir da
constatação desses padrões, essa é a ambição da busca por um caos
ordenado.

O que são sistemas?

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Falamos de complexidade e de caos como características de sistemas
complexos adaptativos, ou auto-eco-organizadores. Mas o que vem a ser um
sistema, como ele surge, e como fazer analogias entre os sistemas, suas
dinâmicas e os fenômenos que nos intrigam nos estudos em Linguística
Aplicada? A estas perguntas procurarei tecer tentativas de resposta nas
seções seguintes.

Segundo Morin (2007, p.19) sistemas podem ser definidos como


“associações combinatórias de elementos diferentes”, logo um sistema
caracteriza-se por processos associativos capazes de engendrar relações de
agrupamentos entre elementos distintos de um determinado contexto (ou
ecossistema).

Podemos dizer que um sistema comporta um conjunto de elementos


e a dinamicidade das relações que se estabelecem entre tais elementos e, no
caso de sistemas abertos, entre o sistema e seu meio, ou seja, um sistema não
se restringe a um quadro estáticoi.

Em outras palavras, sistemas são também fenômenos


dinâmicos e por dinamicidade, tomo como enfoque a
definição proposta por Pedro Demo em que dinâmica
associa-se a idéia de criatividade: “é preciso observar que
dinâmica indica processo que, a par de componentes
formalizáveis e controláveis, detém outros estritamente
incontroláveis e não formalizáveis. Dinâmica controlável
não é dinâmica propriamente, pois se restringe a rotas
previsíveis” (DEMO, 2008, p. 15).

Em artigo intitulado Modelo Fractal de Aquisição de Línguas, Paiva


ao discorrer sobre a complexidade dos fenômenos ligados ao ensino e
aprendizagem de línguas, afirma que

De acordo com a nova forma de olhar os fenômenos, os


sistemas são complexos, não-lineares, dinâmicos,
caóticos, imprevisíveis, sensíveis às condições iniciais,
abertos, sujeitos a atratores, e adaptativos, pois se
caracterizam pela capacidade de auto-organização
(PAIVA, 2005, p.24).

Assim, a autora tenta definir sistema elencando elementos


constatados na literatura como componentes que podem estar presentes em
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sua natureza (complexidade, não-linearidade, caos, imprevisibilidade e
sensibilidade a condições iniciais, abertura, adaptabilidade e auto-
organização) e justifica que tal percepção institui-se a partir do
reconhecimento de “uma nova forma de olhar fenômenos”, o que talvez
possa ser um novo paradigma.

Como surge um sistema?

O que faz com que elementos constituintes de um determinado


ambiente, elementos aparentemente dispersos, sob uma forma que julgamos
desordenada num todo amorfo, desencadeiem um dinâmica de
desestruturação (dessa aparente dispersão e amorfia) e de reestruturação a
ponto de possibilitar que tipos de ordenação sejam engendrados a partir da
emergência da desordem?

O que quero dizer com essa pergunta é que: a. sistemas


provavelmente não brotam do nada; e, b. se os sistemas surgem de algo,
deve haver um modo através do qual isso ocorra.

Aparentemente, acabamos de nos deparar com o mistério da Fênix


de Ovídio.

Essa ave mítica, depois de viver por séculos e séculos sob a mesma
composição, faz um ninho no alto de uma árvore. Curiosamente, o ninho da
Fênix lhe serve de pira sobre a qual a ave ao expirar, renasce consumida
pelas chamas que gera, retornando, assim, ao estágio inicial da Roda da
Fortuna, para dar um novo começo a uma nova existência, sob uma nova
composição, gerada graças à natureza de sua composição anterior e por isso
ligada a ela.

Mas seu desempenho futuro, o passado seria capaz de controlar? O


que é essa morte/renascimento da Fênix? O que gera a desordem e a
reorganização, a renovação?O que era uma Fênix, antes de ser uma Fênix?

O que leva elementos distintos a se interconectarem de modo a


formarem um todo organizado? O que desencadeia esse processo?

Saindo da mitologia para a física de Brian Greene (2005),


tomaremos ciência de reflexões que talvez possam elucidar o tópico que
estamos tratando ou suscitar questões mais relevantes do que as que
assumimos por enquanto.
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Greene expõe uma reflexão curiosa acerca do Big-Bang, nome dado
ao fenômeno que teria desencadeado o processo originador, entre outras
coisas, do nosso sistema solar.

Segundo o autor acredita-se na hipótese de que a composição inicial


do universo era a de “um gás quente e praticamente uniforme” e que a
gravidade nesse contexto de gênese teria influenciado na composição de
aglomerados grandes e densos (GREENE, 2005, p.204).

Assim, Greene afirma que uma das hipóteses sobre o a gênese do


universo seria, em suas palavras, a de que o Big-Bang teria dado início ao
cosmos “em um estado de baixa entropiaii, e esse estado parece ser a fonte da
ordem que vemos hoje” (GREENE, 2005, p.204), ou seja, a fonte dos
sistemas (e seus diferentes tipos organização) que conhecemos.

O Big-Bang, então, se configuraria como “a fonte última da ordem,


da baixa entropia” e essa forma ordenada inicial é que se desdobraria
gradualmente, desde o disparo desse gatilho gerador do universo, “em
direção ao aumento da desordem” (GREENE, 2005, p.204-205), ou seja,
caminhando a favor da maior entropia.

Para o universo (e nele o sistema solar), a gravidade presente no


contexto que deu origem a tudo o que vemos e conhecemos foi muito
relevante e teria sido o fator responsável por desencadear um processo de
junção de moléculas (de hidrogênio, hélio, deutério e lítio, segundo o autor).

Esse processo de junção talvez tenha feito com que tais substâncias
evoluíssem de uma formação regular, uniformemente distribuída num todo
caótico para a configuração de aglomerados, para a fragmentação, “assim
como a tensão superficial da água sobre uma superfície impermeável a leva a
fragmentar-se em gotas” (GREENE, 2005, p. 205).

Essa é uma reflexão muito sedutora, e talvez o mais interessante nela


seja o tipo de raciocínio que ela traz em si, o tipo de percepção
fenomenológica que ela abraça. Após termos dialogado com a mitologia e
com as contribuições da segunda lei da termodinâmica para as hipóteses de
cosmo gênese, voltemos à pergunta que não cala: Como surgem os sistemas?

Não sabemos ao certo, mas podemos deduzir que sistemas surgem


de interações, da junção de elementos que anteriormente eram distintos.

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Talvez exista uma predisposição para a ocorrência de certas associações sob
a forma de sistema.

Talvez essa predisposição possa ser acionada sob certos aspectos, a


partir da presença de um componente externo aos integrantes do sistema,
mas presente no contexto, no ecossistema.

Talvez a presença de um fator de interferência (como a gravidade no


exemplo dado por Greene) faça a primeira interação com esses elementos e,
esse fator talvez sirva de mola motriz para existência de uma necessidade
capaz de fazer com que processos adormecidos no âmbito da tendência, ou
do potencial, sejam engendrados efetivando os sistemas.

Sistemas, provavelmente, surgem do desdobramento de estados de


baixa entropia para estados de alta entropia, e talvez exista alternância entre
esses estados numa dinâmica em que de modo geral a entropia global do
ecossistema evolua para um aumento gradual, um aumento de desordem.

Talvez possamos generalizar os pressupostos das hipóteses


comentadas por Greene de modo a afirmarmos que, sim, “a conta total da
entropia [no universo] continua a crescer, embora certos componentes [ou
sistemas] tornem-se ainda mais ordenados” (2005, p. 206) e concluirmos que
essa é uma tendência constatada até o presente momento para que ocorra a
formação de sistemas. Contudo essas são apenas especulações formuladas
por analogia a preceitos míticos e físicos, com uma nada modesta pretensão
epistemológica.

Sistemas Abertos

Edgar Morin afirma que “sistemas abertos estariam na origem de


uma noção termodinâmica”. Ao fazer tal observação o autor se refere à
segunda lei da termodinâmicaiii, que segundo ele, embora a principal
característica fosse a de abranger sistemas fechados, serviu também para que
se tecessem considerações a cerca de “certos números de sistemas físicos”,
como os sistemas vivos “cuja existência e estrutura dependem de uma
alimentação externa” (MORIN, 2007, p. 20-21).

Segundo esse raciocínio, um elo entre a termodinâmica e as ciências


da vida teria sido estabelecido nesse momento, bem como uma percepção da
realidade física que transporia uma percepção estanque de oposição entre as
noções de equilíbrio/desequilíbrio (MORIN, 2007, p. 20-21).
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Morin explica que “um sistema fechado como uma pedra, uma mesa,
está em estado de equilíbrio, ou seja, as trocas de matéria ou energia com o
exterior são nulas” (MORIN, 2007, p.21), ao passo que um sistema aberto
efetivaria trocas de energia ou de matéria com seu meio.

As trocas efetivadas pelo sistema dito aberto são decorrentes de um


estado de desequilíbrio no fluxo de energiaiv que alimentaria tais sistemas.
Esse desequilíbrio é vital para a manutenção estrutural do sistema, em outras
palavras, seria condição necessária para que o sistema aberto se mantivesse
em estado de aparente equilíbrio, evitando o definhamento. A este equilíbrio
das estruturas que nos permite identificar um dado sistema como tal dá-se o
nome de estado estacionário, ou steady statev (MORIN, 2007, p.21).

Cabe recordarmos aqui que o equilíbrio do sistema aberto, a


manutenção desse estado estacionário, necessário para que as estruturas do
conjunto permaneçam as mesmas, ocorre mediante um processo continuo de
permanente renovação dos constituintes desse sistema. Ou, nas palavras do
próprio autor:

Este estado assegurado, constante e, no entanto, frágil


_steady state (...) _ tem alguma coisa de paradoxal: as
estruturas permanecem as mesmas, ainda que os
constituintes sejam mutantes; assim acontece não apenas
com o turbilhão, ou a chama da vela, mas com nossos
organismos, onde nossas moléculas e nossas células
renovam-se sem cessar, enquanto o conjunto permanece
aparentemente estacionário. Por um lado, o sistema deve-
se fechar ao mundo exterior a fim de manter suas
estruturas e seu meio interior que, não fosse isso, se
desintegraria. Mas é sua abertura que permite esse
fechamentovi (MORIN, 2007, p.21).

No trecho transcrito, foi posto destaque para “é sua abertura que


permite esse fechamento”. A justificativa para que se destacasse tal
informação é que ela sintetiza o paradoxo percebido por Morin, ou seja,
expressa que a abertura de um sistema é essencial para que ele se mantenha
como tal, para que mantenha as estruturas, as redes sob as quais seus
elementos constituintes interagem e se instituem enquanto sistema, ou seja, a
abertura possibilita a manutenção (ou fechamento) do sistema, caso contrário
o sistema entraria em falência por não ter suas necessidades atendidas.

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Edgar Morin argumenta ainda que do reconhecimento dos sistemas
abertos decorreriam duas conseqüências fatais: a. a percepção de que as leis
de organização da vida seriam leis de desequilíbrio; e, b. a percepção de que
a compreensão de um sistema não se restringe ao estudo do sistema em si,
mas da relação desse sistema com seu meio, relação esta que, segundo o
autor, é “constitutiva do sistema” (MORIN, 2007, p. 22).

Auto-organização

Pode-se dizer que auto-organização é um conceito desenvolvido para


designar certos fenômenos, o que não é muito esclarecedor, mas expressa
premissas que devem ser relevadas, como: a. a de que a auto-organização
(enquanto fenômeno) ocorre em um meio e um meio é algo composto de
elementos (discretos ou associados); b. a de que a auto-organização acontece
a partir dos elementos de um meio, ou seja, um fenômeno acontece em
algum lugar, a partir de alguma coisa.

Embora a auto-organização aconteça a partir dos elementos


constituintes de um sistema, torna-se difícil perceber a influência
discriminada da presença de tais elementos na maneira como a auto-
organização emerge e isso se deve, pelo menos em parte, a criatividade
inerente ao processo auto-organizador.

A auto-organização se deve a características intrínsecas do próprio


processo que nomeia. É como se relêssemos Grandes Sertões: Veredas e nos
deparássemos com a frase: “Digo: o real não está na saída nem na chegada:
ele se dispõe pra gente é no meio da travessia” (ROSA, 2006, p.64).

Michel Debrun propõe a seguinte definição preliminar de auto-


organização:

Há auto-organização cada vez que o advento ou a


reestruturação de uma forma, ao longo de um processo,
se deve principalmente ao próprio processo_ a
características nele intrínsecas_ e só em grau menor a
suas condições de partida, ao intercâmbio com o
ambiente ou à presença eventual de uma instância
supervisoravii (DEBRUN, 1996, p. 4).

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Segundo o autor, tal definição traz em si cinco conseqüências ou
conclusões imediatas, são elas: a. o grau de auto-organização será maior na
medida em que a abertura, ou distância entre a complexidade da forma final
e a complexidade da interação entre os elementos constituintes do sistema
for maior; b. auto-organização é “em algum grau” uma criação; c. “mesmo
que a auto-organização seja uma criação, ela permanece um processo”, d.
outros princípios, que não a auto-organização, podem interagir durante o
processo auto-organizacional, tanto “ao lado” da auto-organização quanto
em “concorrência com ela”; e. a auto-organização não é mera decorrência de
seu começo, “mas o processo de auto-organização apenas herda esse
começo, que ele vai levar em conta de modo muito variável” (DEBRUN,
1996, p. 6 – 7).

Destas cinco “conseqüências”, a última chama muito a atenção, pois


traz em si a idéia de “auto” a que Debrun se refere ao explanar sobre o
processo de auto-organização. O autor afirma que o processo é “auto”
justamente por ser “ele mesmo”, “de si sobre si”, e reconhece que, em
consideração ao ponto de partida essa autonomia é relativa, ou seja, o
processo de auto-organização “depende basicamente de si mesmo” (1996,
p.7 – 8).

O grau de autonomia quanto ao ponto de partida dos processos de


auto-organização compreende em si algo muito curioso, um paradoxo, pois
depende de tais pontos de partida para se firmar.

Ou seja, se as condições iniciais para o desenrolar de um processo


auto-organizado comportarem muitas escolhas, ou grande número de
soluções possíveis para suprir a carência engendrada pela brecha que
motivou esse processo, há mais possibilidades do processo ser autônomo,
dinâmico e criativo do que se as condições iniciais forem rígidas ou
proporcionarem apenas uma possibilidade de solução.

O desencadeador da auto-organização

Havíamos discorrido sobre o que é auto-organização, um conceito


desenvolvido para designar certos fenômenos, ora, se tal é verdade, além de
acontecer em um ambiente, a partir de elementos discretos, deve existir um
gatilho, ou mola motriz, capaz de desencadear o processo auto-
organizacional. Qual seria esse gatilho, ou, nas palavras de Michel Debrun,
“o motor dessa estrutura-auto”?

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O próprio autor dá a resposta:

O motor principal da auto-organização reside na própria


interação ente elementos realmente distintos (e soltos),
como sugerimos a cima, ou entre partes semi-distintas, no
seio de um organismo, como acrescentamos agora. Neste
segundo caso, a expressão partes semi-distintas significa
que o organismo não é um ente holístico, em que tudo
funciona com tudo _ mas que, todavia, existe uma
interioridade ou acavalamento entre as partes, expresso
no fato de que cada parte sabe das outras, da sua
possibilidade de substituí-las, ou não, para preencher tal
ou qual papel (DEBRUN, 1996, p.9).viii

Assim, vemos que, novamente, a interação aparece como conceito


chave, configurando-se desta vez, como o motor desencadeador da auto-
organização, ou seja, a auto-organização requer interação. Mas ainda
podemos nos fazer mais uma pergunta: Como?

Para responder à pergunta como?, Debrun propõe os conceitos de


auto-organização primária e auto-organização secundária, tais conceitos
tratam do tipo de interação que reponta no seio de um sistema ou organismo.

A auto-organização primária se dá quando a interação dentro de um


sistema ou organismo assemelha-se a um “processo sem sujeito”
(ALTHUSSER, apud DEBRUN, 1996, p. 10), em que não há a imposição de
um ator (ou de um grupo) sobre os rumos do processo, e que não parte de
diretrizes estabelecidas a priori. A partir dessa interação, ocorre a
sedimentação de algo, de uma forma. Segundo o autor, “a causalidade
eminente do processo é a causalidade da interação” (DEBUN, 1996, p. 10).

A auto-organização secundária, por sua vez, ocorre quando a


interação se dá a partir de uma realidade instituída previamente pelo próprio
organismo a partir de um processo de auto-organização primária, ou seja, ela
pressupõe um nível de complexidade maior. Segundo o autor:

... há auto-organização secundária quando esse organismo


consegue passar, a partir de suas próprias operações,
exercidas sobre ele próprio, de determinado nível de
complexidade_ corporal, existencial, intelectual_ para um
nível superior. A auto-organização é aqui secundária à
15
medida que ela não parte de simples elementos, mas de
um ser ou sistema já instituído (DEBRUN, 1996, p. 10-
11).

Deve-se frisar neste momento que esse ser já instituído que participa
do processo de auto-organização secundária não exerce um papel de
dominação perante os outros elementos interagentes do sistema. Caso
houvesse a dominação desse construto perante as unidades interagentes do
sistema, o processo não seria de auto-organização, mas de hetero-
organização.ix

A partir das reflexões sobre como a interação engendra a auto-


organização em um sistema ou organismo, e da definição dos processos de
auto-organização primária e auto-organização secundária que tentam
responder a essa pergunta, Debrun (1996, p.13) traça o que ele chama de
“nova definição de auto-organização”, capaz de considerar a existência não
analítica dos elementos constituintes do sistema e a existência dos processos
integrativos desses elementos.

Nesta nova definição o autor salienta que a auto-organização ocorre


entre elementos realmente distintos (em oposição a analiticamente distintos),
mediante a ausência de um “supervisor” e dá-se por processos de
“complexificação” da forma existente que levam à constituição de uma
“reestruturação” (DEBRUN, 1996, p.13).

Auto-organização e criatividade

Se auto-organização é um fenômeno reestruturador que se


desencadeia no seio de um sistema, ou organismo, seu processo comportaria
instâncias de criatividade? Ou seria apenas um processo que desencadeasse
uma sequência ou operação (re) combinatória previsível?

Michel Debrun desenvolve a noção de criatividade na auto-


organização, em particular na auto-organização primária, elencando seis
condições capazes de otimizar o desenvolvimento desta criatividade.

Em primeiro lugar, o autor afirma que não deve haver influência


prolongada das “condições das condições de partida” sobre o desenrolar do
processo auto-organizador, isso quer dizer que os fatos que levaram a
reunião dos elementos distintos em um organismo ou sistema não devem
prolongar sua influência sobre o presente do sistemax.
16
Em segundo lugar, ele explica que a natureza dos elementos
constituintes do sistema pode interferir na criatividade do mesmo, pois a
predominância dos elementos realmente distintos acentua o potencial de
novidade do processo de auto-organização. Segundo o autor, “elementos
realmente distintos têm em si uma liberdade de associação maior do que
elementos afins têm entre si” (Debrun, 1996, p.14).

Em terceiro lugar, Debrun afirma que o maior número de elementos


distintos também pode aumentar o potencial criativo do sistema,
“aumentando o número dos elementos distintos, aumentam os graus de
liberdade” (1996, p. 15).xi

Em quarto lugar, diz que certa dose de heterogeneidade dos


elementos interagentes do sistema, contanto que não ocorra a sublimação de
um elemento perante os demais, também favorece o potencial criativo da
auto-organização. Segundo o autor, “o essencial, apenas, é que nenhum deles
possa esmagar os outros” e que harmonias possam emergir durante o
processo, “no ponto de encontro e interação dos elementos”, e a composição
dessa harmonia, segundo o autor, é criativa, pois “trata-se da invenção de um
ajuste organizacional” (1996, p. 15).

Em quinto lugar, defende que a heterogeneidade entre os elementos


constituintes do sistema não pode ser tanta que inviabilize a interação ou que
impeça processos de interação/colaboração. Os elementos constituintes
devem ter autonomia relativa entre si. Segundo Debrun, “uma criação
interna é possível e, desta vez, ela vai se consubstanciar numa
interação/colaboração, e não numa interação/competição: cada pólo vai
estimular o outro a ser mais ele mesmo, à medida que cada um precisa do
outro para sobreviver” (1996, p. 15).

Finalmente, a sexta condição capaz de aumentar o potencial de


criatividade do processo de auto-organização configura-se como um retorno
à própria interação dos elementos constituintes do sistema, como uma
valoração dos mecanismos que emergem desse processo e destes
mecanismos aqueles que em um momento específico, ou “uma
temporalidade específica”, intervêm nesse processo. Ou seja, a composição
ou contestação de atratores engendrando-se na dinâmica auto-organizadora.

Dessa forma, Debrun justifica e explica a noção anteriormente citada


por ele de que a auto-organização é um fenômeno e ao mesmo tempo um
processo dinâmico, autônomo e criativo.
17
Edgar Morin e os sistemas auto-eco-organizadores

Edgar Morin extrapola a definição de auto-organização, não negando


seus preceitos, mas valorizando a relação dos sistemas abertos autônomos,
seus processos organizacionais, com relação ao meio, ao ecossistema.

Segundo Morin, em Introdução ao pensamento complexo (MORIN,


2007), o conceito de sistema aberto teria possibilitado uma nova opção para
a teoria da evolução, “uma porta a mais”, e essa opção apenas pôde ser
instituída a partir da compreensão capital de que sistemas abertos interagem
com o meio, ou ecossistema.

A partir desta percepção, desenvolve-se a noção de sistema auto-


eco-organizador, esse sistema se distingue do meio pela abertura das
relações que com o meio estabelece, pois através desta abertura é que ele
consegue manter sua autonomia e sua sobrevivência.

Enquanto os sistemas fechados não têm qualquer individualidade,


nenhuma troca com o exterior, e mantêm relações muito pobres com o meio
ambiente, o sistema auto-eco-organizador tem sua própria individualidade
ligada a relações com o meio ambiente muito ricas, portanto dependentes.
Mais autônomo, ele está menos isolado. Ele necessita de alimentos, de
matéria/ energia, mas também de informação/ de ordem (Schrödinger). O
meio ambiente está, de repente, no interior dele e, como veremos, joga um
papel co-organizador (MORIN, 2007, p. 32).

Desta forma, percebemos que o sistema aberto não pode mais ser
explorado como se houvesse uma cisão entre ele e o meio com o qual
interage, ele se auto-organiza, mas não é auto-suficiente nem fechado.
Embora seja autônomo, “ele só pode ser totalmente lógico ao abarcar em si o
ambiente externo” (MORIN, 2007, p.33).

É necessário que fique claro que a noção de sistemas auto-eco-


organizadores não se opõe de modo estanque e antagônico à noção dos
processos auto-organizadores em organismos ou sistemas. Muito pelo
contrário, minha crença é a de que tais noções podem se complementar num
continuo seqüencial na medida em que elencam aspectos que podem ser
considerados pertinentes para a compreensão da complexidade inerente aos
sistemas abertos.

18
O que quero dizer com isso é que, talvez, um processo auto-
organizador em um sistema possa emergir de algo que antes ocorrera graças
a uma dinâmica auto-eco-organizadora, ou que, em contrapartida, uma
dinâmica auto-eco-organizadora só possa ter ocorrido em uma determinada
temporalidade graças a um processo antecedente, auto-organizador que
emergiu em um sistema. Penso ainda que tais processos possam ocorrer
concomitantemente. O importante é que um processo não exerça dominação
sobre o outro, de modo determinístico, a ponto de controlar os percursos
possíveis e o resultado alcançado.

Retomemos o exemplo extraído da obra de Greene (GRENNE,


2005), citado no início deste trabalho. Segundo o autor, a formação do
sistema solar se deu mediante uma dinâmica em que átomos e moléculas
evoluíram de uma configuração uniforme e de baixa entropia para uma
configuração que envolveria a formação de aglomerados.

Tais aglomerados deram início aos sistemas. Entre tais sistemas,


alguns contêm em si um grande nível de organização, mas a conta geral da
relação entre sistemas e o universo seria a de um aumento gradual da
entropia, como se caminhássemos para a desordem.

O que isso tem haver com auto-eco-organização e auto-organização


dentro dos sistemas?

Vou responder a esta pergunta com outra: se não houvesse a gravidade, a


formação dos sistemas teria sido possível, ou teria acontecido? Haveria a
aglomeração dos átomos e moléculas citados em composições maiores e
densas? O universo seria tal qual é hoje?

Não conheço a resposta para esta pergunta, Greene demonstra que há


várias especulações sobre o assunto, mas não há a resposta (empírica,
incontestável, legítima).

Mas sendo a auto-eco-organização um conceito que exprime a


complexidade das relações entre um sistema aberto e seu meio, e que expõe
que sem considerar tais relações não teremos como entender a dinâmica
dentro de um sistema, parece que sim, houve um momento em que os
sistemas estiveram atrelados a uma situação inicial e sim a manutenção do
fechamento dos sistemas nas estruturas que permitem identificá-los como
tais depende de sua abertura e interação com o meio.

19
Há uma coerência em se acreditar que a formação dos sistemas no
cosmo, desencadeada pelo Big-Bang, transformou o próprio cosmo em um
contexto que deixou de abarcar moléculas e átomos soltos em massa regular
e uniformemente distribuída para um contexto que comporta galáxias,
buracos negros, estrelas, sistemas solares, planetas, seres humanos, etc.

Em outras palavras, parece coerente que a formação dos sistemas


modificou a formação do contexto e a formação do contexto interferiu em
algum momento na formação dos sistemas, proporcionando-lhe, pelo menos,
os elementos que lhe são constituintes.

Sistemas auto-eco-organizadores e a dinâmica das relações em


teletandem: uma exemplificação de como a percepção complexa pode
visualizar as interações em contexto teletandem de aprendizagem de línguas

De acordo com o projeto temático Teletandem Brasil: línguas


estrangeiras para todos, o teletandem pode ser definido como um contexto
de ensino e de aprendizagem de línguas estrangeiras a distância, que envolve
participantes interagentes (convencionalmente chamados de pares
interagentes) de diferentes países, com diferentes línguas maternas,
trabalhando, de forma autônoma e colaborativa, para aprenderem um a
língua um do outro.

Há muitas especificidades desse contexto de aprendizagem online e,


entre elas, destaca-se a questão da autonomia, como princípio de interação.

A autonomia no referido contexto é definida como “liberdade de


escolha” quanto aos conteúdos e objetivos da interação, aprendizagem “auto-
dirigida” (TELLES, 2006, p. 20). A relação autônoma e recíproca assumida
pelos interagentes seria essencial para o sucesso da interação.

Segundo Telles, sob uma ótica sócio-construtivista, se


considerarmos que o conhecimento só existe na atuação do aprendiz em um
processo de negociação de significados, a autonomia viria mesmo a ser o
núcleo do processo de aprendizagem, especialmente em contexto de
teletandem, no qual a autonomia configura-se como princípio/ premissa para
a efetivação do sucesso na interação (TELLES, 2006, p. 20).

Outra característica importante, que se soma a característica da


autonomia, é a questão da reciprocidade, segundo o qual “os procedimentos

20
do Teletandem são decididos em comum acordo por ambos os participantes”
(TELLES, 2006, p. 11).

A relação entre autonomia e reciprocidade está longe de ser simples.


É uma relação complexa, como já se era esperado de se ler neste artigo.

Além dos dois pares interagentes e das diretrizes para a interação


previstas pelo projeto, há a presença de outro elemento nessa dinâmica: o
mediador.

Telles, fazendo referência aos preceitos vygotskianos de construção


do conhecimento, afirma que é na interação social entre pessoas com
diferentes habilidades e conhecimentos que está o “segredo da aprendizagem
eficiente”, através da qual aquele que possui as habilidades mais
desenvolvidas e maiores conhecimentos pode oferecer “andaimes” para
colaborar com o progresso da aprendizagem do outro, e isso tudo dentro de
um campo complexo do processo de construção do conhecimento, a zona de
desenvolvimento proximal (TELLES, 2006, p. 14). Nessa dinâmica, tanto o
par mais proficiente quanto o que se coloca na condição de aprendente
ganham, até mesmo por que uma das características da interação em tandem
é a alternância de papéis entre os pares interagentes.

Um dos papéis que o mediador pode desempenhar é alertar os pares


interagentes para a necessidade de se desenvolver estratégias em que o
interagente mais habilidoso e dotado de maiores conhecimentos consiga,
colaborativamente, ajudar seu par interativo através dos andaimes, suportes
que ajudem a promover o aprendizado.

A presença de um mediador para otimizar o aprendizado de línguas


em contexto teletandem de aprendizagem de idiomas é ainda mais
complexificador.

A figura do mediador é um elemento que, embora faça parte do


ecossistema ao qual nos referimos, é externo à dinâmica dos pares e tem o
poder de inserir elementos nessa dinâmica, alterando o fluxo das interações
entre os pares aprendentes, o que pode ter repercussões não-lineares,
sensivelmente dependentes das condições em que tais interferências foram
feitas.

Diga-se de passagem, que a interferência do mediador no processo


interativo entre os pares aprendentes só é possível se no sistema instituído
21
pelo par aprendente houver uma abertura para isso, uma brecha. Várias
poderiam ser as características dessa brecha.

Uma brecha, muito mais do que uma falha no sistema formado pela
interação desse par que evocamos de modo ilustrativo não significa
necessariamente uma falha no fluxo de informação que alimenta a dinâmica
no sistema. Essa brecha é uma abertura que permite a manutenção do
sistema como tal, ou seja, seu fechamento, sua validade.

Estamos agora assumindo que a relação entre os pares interagentes


constitui um sistema auto-eco-organizado, um sistema complexo, e que a
relação entre os pare interagentes e seu mediador constui outro sistema de
mesma natureza, sendo que a relação entre esses dois sistemas distintos
(interagente a e interagente b; interagente a e mediador, por exemplo) nas
condições e ambiente em que tais relações ocorrem constituem seu
ecossistema.

Outras questões poderiam ser abordadas, tais como: Quais as forças


que motivaram a formação desse sistema? O que possibilita a manutenção
desse sistema? Quais as brechas que otimizam ou que prejudicam esse
sistema? O que se constata pela recorrência da interferência do mediador
nesse sistema através da observação de seus estados estacionários, ela
proporciona auto-organizações positivas para a manutenção do sistema ou
não? Como?

Quais outros fatores que, na microgênese do sistema, desencadeiam


auto-organização? Que impacto as auto-organizações no seio dos sistemas
têm sobre o eco-sistema intitulado teletandem? E por esta via poderíamos
prosseguir ininterruptamente por muito e muito tempo... Mas todo artigo tem
que terminar em algum momento, pelo menos nos limites do papel.

Este é um exemplo da possível leitura que a teoria da complexidade


possibilita, pouco explorado, mas ilustrativo de seu potencial.

Outra característica que acredito potencialmente importante para a


compreensão dos sistemas que se constituem nas relações de contexto
teletandem de aprendizagem de línguas diz respeito à microgênese.
Microgênese e complexidade aparentemente têm muitas intertextualidades
que mereceriam maior enfoque. A seguir explanarei brevemente sobre
microgênese e suscitai uma ilustração do que, em hipótese, a relação

22
microgênese/ complexidade poderia suscitar nos estudos em Linguística
Aplicada.

Microgênese

Mitchell e Myles (1998, p. 147), ao retomarem Vygotsky, explanam


que em uma perspectiva sócio-cultural o aprendizado é visto como algo que
acontece primeiro em âmbito social, depois individual. Isso quer dizer que o
desenvolvimento da aprendizagem seria entendido como um fenômeno
primeiro inter-mental e, depois, intra-mental.

Um das conseqüências em se assumir essa perspectiva é a de


considerar a aprendizagem como um fenômeno que não precisaria acontecer
apenas em um determinado período das nossas vidas (antecedido pelo
período crítico, por exemplo), pois continuaríamos a aprender coisas novas
ao longo de nossas existências através de interações sociais, e a partir das
interações em que alguém aprende alguma coisa com outrem é que o
desenvolvimento microgenético seria engendrado. Segundo as autoras:

Novos conceitos continuam a ser adquiridos através dos meios


interacionais/ sociais, um processo que pode às vezes ser visivelmente
constatado no curso da fala entre um especialista e um aprendiz. Esse
processo de aprendizagem local e contextualizado chama-se microgênese e é
central para a perspectiva sociocultural de aprendizagem de segunda língua
(Mitchell, R; Myles, F. 1998, p. 148) xii.

A microgênese diria respeito a um processo, a um fenômeno único,


referente à aprendizagem de um indivíduo, em contexto determinado, local,
em interação com outra pessoa que assume o papel de especialista, ou entre
integrantes de um grupo que, ao interagirem, compartilham seus
conhecimentos, alternando entre eles os papéis de especialista e aprendiz, em
uma dinâmica complexa a partir da qual conseguem construir uma estratégia
ou solução para um dado problema.

Mas, segundo as autoras, não basta que se solucione um problema


para que se constate a ocorrência de um desenvolvimento microgenético, é
preciso que se constate também a diminuição da necessidade de regulação
pelo outro ou pelo objeto na zona de desenvolvimento proximal do aprendiz
(Mitchell, R; Myles, F. 1998, p. 160).

23
O desenvolvimento microgenético supõe comunicação e esta, por
sua vez, supõe linguagem, que na teoria sócio-cultural assume o papel de
ferramenta principal dos processos de mediação, pois através da linguagem
podemos direcionar nossas atenções para aspectos significantes do meio,
formular um plano, articular passos a serem tomados na resolução de um
problema (Michel, R.; Myles, F. 1998, p.144).

Segundo as autoras, ainda retomando os preceitos de Vygotsky,


formas superiores de atividade mental humana são sempre mediadas por
meios simbólicos. A mediação, seja ela física ou simbólica, é entendida
como a introdução de um dispositivo auxiliarxiii para uma atividade que, em
então, estabeleça uma ligação entre os seres humanos e o mundo de objetos,
ou entre seres humanos e o mundo do comportamento mental (Michel, R.;
Myles, F. 1998, p.144-145).

Gutiérrez (2007, p. 1) também aborda o tema da microgênese em um


artigo científico. Segundo a autora, o conceito de microgênese pode se
referir tanto a ferramentas metodológicas utilizadas na investigação de
instâncias de aprendizagem observadas em curtos períodos de tempo, quanto
às instâncias de “co-construção da linguagem e do aprendizado do idioma”
(2007, p.2).

No referido artigo, Gutiérrez ressalta o desenvolvimento da análise


genética (genetic analysis) como uma das maiores contribuições de
Vygotsky para o estudo de questões referentes ao funcionamento da mente,
enquanto um sistema dotado das funções naturais ou biológicas e das
funções culturais mais elevadasxiv, sendo estas últimas o foco de seus
interesses.

A análise genética compreenderia, por sua vez, quatro domínios: o


domínio filogenético (philogenetic domain), que se refere a como a mente
humana evoluiu de outras formas de vida (ou conforme Mitchell e Myles,
1998, p. 147-148, o aprendizado experiencializado pelo Homem através de
gerações); o domínio sociocultural (sociocultural domain) que diz respeito á
mediaçãoxv e as ferramentas mediacionais adotadas e consideradas
importantes em uma determinada sociedade; o domínio ontogenético
(ontogenetic domain) diz respeito à apropriação das ferramentas
mediacionais pelo Homem e a integração de tais ferramentas nas atividades
cognitivas ao longo do processo de desenvolvimento de um indivíduo, ou
seja, o aprendizado experiencializado pelo indivíduo criança através do
percurso de seu desenvolvimento; o domínio microgenético (microgenetic

24
domain) que, segundo a autora, tem seu foco na superação, no vôo,
correspondendo, então, a “uma instância do aprendizado que ocorre durante
a atividade inter-psicológica” durante um determinado intervalo de tempo
(Gutiérrez, 2007, p.2).

A autora assinala ainda equivalência entre microgênese e


aprendizagem em seu texto, afirmando que o estudo da microgênese
enquanto fenômeno permite que se conheça mais sobre o processo de
construção de conhecimento através de instâncias perceptíveis no dialogo
colaborativo em que aprendizes engajam-se em uma comunicação
direcionada por meta de aprendizagem.

Frawley (2000, 94) ao abordar a importância das reflexões sobre


método na obra vygotskyana, também aborda a microgênese, tecendo o
seguinte comentário:

A observação e a experimentação devem representar um


microcosmo do desenvolvimento. A análise deve se
concentrar no surgimento in situ do pensamento superior
através das relações do indivíduo e grupo; o objetivo da
experimentação em si é promover o desenvolvimento _
não apenas registrá-lo_ fazendo com eu o pensamento
superior surja para o exame controlado. O método de
experimentação é a microgênese... (FRAWLEY, 2000,
p.94).

O que proponho com a revisão acerca da microgênese é que ela


enquanto fenômeno e método dialoga com a teoria da complexidade e tem
muito a oferecer-nos na busca pela elucidação de certos aspectos referentes a
aprendizagem de línguas em tandem, mais especificamente, com relação ao
sistema que é engendrado a partir do dia em que o pareamento dos
interagentes ocorre.

Não proponho que a microgênese seja explorada como um modelo


que descreva ou tente inteligir a dinâmica do aprendizado de línguas
estrangeiras na totalidade de suas ocorrências, isso seria contraditório com
tudo o que expus e com os questionamentos que suscitei neste trabalho.

Atento apenas para a riqueza potencial deste construto conceitual


que tem muito a oferecer para as buscas que a Linguística Aplicada tem feito
sobre a aprendizagem em tandem e, de forma intuitiva, acredito que a
25
microgênese ao ser olhada sob a ótica da complexidade poderá revelar muito
sobre o aprendizado autônomo e recíproco nesse contexto interativo,
colaborativo e online de aprendizado de línguas.

Referências

DEBRUN, M. A idéia de auto-organização. Debrun M, Gonzales MEQ,


Pessoa O Jr, organizadores. Auto-organizarão: estudos interdisciplinares
em filosofia, ciências naturais, humanas e artes. São Paulo (Campinas):
UNICAMP Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência; 1996, p
3 – 23.

DEMO, P. Complexidade e aprendizagem: a dinâmica não linear do


conhecimento. São Paulo: Atlas, 2008.

FLEISCHER, Eric. Caos/Complexidade na interação humana. In: PAIVA e


NASCIMENTO (org.) Sistemas adaptativos complexos: linguagem e
aprendizagem. Belo Horizonte: Faculdade de Letras UFMG, 2009.

FRAWLEY, W. Vygotsky e a ciência cognitiva: linguagem e interação


das mentes social e computacional. São Paulo: Artmed, 2000.

GREENE, B. O tecido do cosmo: o espaço, o tempo e a textura da


realidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

GUTIÉRREZ, A. G. Microgenesis, Method and Object: A Study of


Collaborative Activity in a Spanish as a Foreign Language Classroom. In:
Applied Linguistics Advance Access. Oxford University Press: October 24,
2007.

MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina,


2007.

OLIVEIRA, R. A. Complexidade: conceitos, origens, afiliações e evoluções.


In: PAIVA e NASCIMENTO (org.) Sistemas adaptativos complexos:
linguagem e aprendizagem. Belo Horizonte: Faculdade de Letras UFMG,
2009.

PAIVA e NASCIMENTO (org.) Sistemas adaptativos complexos:


linguagem e aprendizagem. Belo Horizonte: Faculdade de Letras UFMG,
2009.
26
PAIVA, V. L. M. O. Modelo Fractal de Aquisição de línguas. In: V. A.
Ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras: reflexão e pática. São
Carlos: Claraluz, 2005.

TELLES, J. A. Teletandem Brasil: línguas estrangeiras para todos.


Disponível em: <http://www.teletandembrasil.org/home.asp>.

27
i
Segundo Edgar Morin “...um sistema fechado como uma pedra, uma mesa, está em
estado de equilíbrio, ou seja, as trocas de matéria ou energia com o exterior são
nulas” (MORIN, 2007, p.21). Neste momento é a esta definição que vamos nos ater,
ignorando as questões de manutenção do equilíbrio interno desses sistemas.
ii
Entropia: “medida da desordem em um sistema físico” (GREENE, 185); Baixa
entropia: o sistema é altamente ordenado, havendo poucos rearranjos em sua
composição; Alta entropia: “significa que muitos rearranjos dos componentes que
integram o sistema passam despercebidos, o sistema é altamente desordenado”
(Idem).
iii
Segundo Greene, a segunda lei da termodinâmica diz respeito “a tendência dos
sistemas físicos a evoluir em direção a estados de mais alta entropia” (GREENE,
2005, p. 187).
iv
Segundo a Wikipédia, a integração entre os componentes de um sistema e entre o
sistema e seu meio da-se “por fluxo de informações, fluxo de matéria, fluxo de
sangue, fluxo de energia, enfim, por fluxos ocorre comunicação entre os órgãos
componentes de um sistema”. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistemas. Acesso
em: 17 de Outubro de 2009.
v
Estado estacionário refere-se a momentos de maior estabilidade no sistema.
vi
Grifos meus.
vii
Sobre a “presença eventual de uma instância supervisora”, discutiremos a seguir,
de modo a problematizar essa idéia.
viii
Grifos do autor.
ix
O máximo que poderia ocorrer para que não houvesse uma hetero-organização,
então, é uma hegemonia acordada de modo dialógico de uma “face-sujeito”
(identidade assumida pelo novo “ser já instituído”) no seio do sistema.
x
O que aparentemente não se choca com a dependência sensível dos sistemas
caóticos, apenas problematiza a questão, ou seja, até que ponto essa dependência
deve ser tão forte a ponto de que consigamos reconhecer seus vínculos com os
processos que estão vindo a ser?
xi
Quanto a este posicionamento, tenho algumas ressalvas. Acredito que um certo
grau de heterogeneidade seja favorável para a auto-organização, contudo há de ter
também instâncias em comum. A redundância pode ser um fator relevante para a
dinâmica auto-organizadora assim como o esquecimento é relevante para a
construção do conhecimento, como uma força plástica e modeladora. (Falo isso
relembrando as discussões sobre Nietzche, mais especificamente, sobre a
Genealogia da Moral, da época da graduação, sem muito aprofundamento). Mas
cuidado, o próprio autor relativiza esta postura, como será explicado na sequência do
texto.
xii
Tradução minha.
xiii
As autoras afirmam que assim como ferramentas comuns são capazes de
otimizar a organização e a interferência no mundo físico, Vygotsky racionalizou que
ferramentas simbólicas também empoderam as pessoas na organização e no controle
de processos mentais como: atenção voluntária, raciocínio lógico-matemático,
planejamento e avaliação, memória voluntária, e aprendizagem voluntária, por
exemplo. Segundo as autoras, uma definição plausível de ferramentas simbólicas
seria: “são os meios através dos quais as pessoas se tornam capazes de organizar e
manter controle sobre elas mesmas e suas atividades tanto mentais quanto (até
mesmo) físicas” (Mitchell, R; Myles, F. 1998, p. 145).
xiv
“Vygotsky conceived the mind as a system consisting of both natural/biological
functions and, importantly, cultural—higher—mental functions, such as voluntary
attention, problem-solving capacity, planning, learning, and intentional memory”
(GUTIERREZ, 2007, p.2) .
xv
Mediação, seja ela física ou simbólica, é entendida como a introdução de um
dispositivo auxiliar para uma atividade que, então, estabeleça uma ligação entre os
seres humanos e o mundo de objetos, ou [entre seres humanos e] o mundo do
comportamento mental (MITCHELL; MYLES, 1998, 145).

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