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Nessa obra de Cecília Meireles, há 85 romances, além de outros poemas, como os que
retratam os cenários. Em sua composição, é utilizada principalmente a medida velha, ou
seja, a redondilha menor, verso de cinco sílabas poéticas (pentassílabo) e,
predominantemente, a redondilha maior, verso de sete sílabas (heptassílabo), como
ocorre na “Fala Inicial”:
No entanto, deve-se observar que, por ser uma autora moderna, Cecília não se prende
totalmente a esse modelo. Vale-se, também, de versos mais curtos, de quatro sílabas,
como em “Fala aos Inconfidentes Mortos”:
Treva da noite,
lanosa capa
nos ombros curvos
dos altos montes
aglomerados...
(...)
Já se preparam as festas
para os famosos noivados
que entre Portugal e Espanha
breve serão celebrados.
Ai, quantas cartas e acordos
redigidos e assinados!
(...)
CONTEXTO HISTÓRICO
Romanceiro da Inconfidência caracteriza- se como uma obra lírica, de reflexão, mas
com um contexto épico, narrativo, firmemente calcado na história. Em 1789, inspirados
pelas idéias iluministas européias e pela independência dos Estados Unidos, alguns
homens tentam organizar um movimento para libertar a colônia brasileira de sua
metrópole portuguesa.
Uma pesada carga tributária sobre o ouro extraído das Minas Gerais deixava os que
viviam dessa renda cada vez mais descontentes. Assim, donos de minas, profissionais
liberais – entre os quais alguns poetas árcades – e outros começaram a conspirar contra
Portugal. Contudo, o movimento é delatado e os envolvidos, presos. Alguns são
condenados ao exílio, e o único a ser executado, na forca, é Tiradentes, em 21 de abril
de 1792.
Como se trata de um fato histórico, e dos mais importantes, a autora tem o cuidado de
não se limitar a relatá-lo em versos, mas procura recriá-lo por meio da imaginação.
A gênese da obra ocorreu, de acordo com depoimento da escritora, quando foi pela
primeira vez à cidade de Ouro Preto (ex-Vila Rica), local onde se organizou o
movimento de Tiradentes e seus companheiros.
Cecília afirmou: “Todo o presente emudeceu, como platéia humilde, e os antigos atores
tomaram suas posições no palco. Vim com o modesto propósito jornalístico de
descrever as comemorações de uma Semana Santa; porém os homens de outrora
misturaram-se às figuras eternas dos andores; (...) na procissão dos vivos caminhava
uma procissão de fantasmas (...). Era, na verdade, a última Semana Santa dos
inconfidentes: a do ano de 1789”.
ROMANCES
Tematicamente, pode-se localizar a ambientação da narrativa nos primeiros 19
romances. A descoberta do ouro, o início de uma nova configuração social com a
chegada dos mineradores e toda a estrutura formada para atendê-los, os costumes, os
“causos”, como o da donzela morta por uma punhalada desferida pelo próprio pai
(Romance IV), ou os cantos dos negros nas catas (VII), o folclore, a história do
contratador João Fernandes e de sua amante Chica da Silva e o alerta sobre a traição do
Conde de Valadares (XIII a XIX). A ênfase recai na cobiça do ouro, que torna as
pessoas inescrupulosas.
Vila Rica é o “país das Arcádias”, numa alusão direta ao neoclassicismo brasileiro, com
seus principais poetas e suas pastoras: Glauceste Satúrnio e Nise, Dirceu e Marília. No
belo Romance XXI, as primeiras idéias de liberdade começam a circular.
(...)
Ai, que o traiçoeiro invejoso
junta às ambições a astúcia.
Vede a pena como enrola
arabescos de volúpia,
entre as palavras sinistras
desta carta de denúncia!
(...)
Segue-se uma devassa completa, prisões, confisco de bens, falsos testemunhos, a morte
de Cláudio Manuel da Costa, o Glauceste Satúrnio, sob condições misteriosas (XLIX), a
execução de Tiradentes, antecipada na fala do carcereiro (LII) e explicitada nos
romances LVI a LXIII:
(...)
Já lhe vão tirando a vida.
Já tem
Fruto de longa pesquisa histórica, Romanceiro da Inconfidência é, para muitos, a
principal obra de Cecília Meireles. Nesse livro, por meio de uma hábil síntese entre o
dramático, o épico e o lírico, há um retrato da sociedade de Minas Gerais do século
XVIII, principalmente dos personagens envolvidos na Inconfidência Mineira, abortada
pela traição de Joaquim Silvério dos Reis, o que culminou na execução de Tiradentes.
GÊNERO ROMANCEIRO
O gênero romanceiro é uma coleção de poesias ou canções de caráter popular. De
tradição ibérica, surgiu na Idade Média e é, em geral, uma narrativa com um tema
central. Cada parte tem o nome de romance – que não deve ser confundido com a
denominação do atual gênero em prosa.
Nessa obra de Cecília Meireles, há 85 romances, além de outros poemas, como os que
retratam os cenários. Em sua composição, é utilizada principalmente a medida velha, ou
seja, a redondilha menor, verso de cinco sílabas poéticas (pentassílabo) e,
predominantemente, a redondilha maior, verso de sete sílabas (heptassílabo), como
ocorre na “Fala Inicial”:
No entanto, deve-se observar que, por ser uma autora moderna, Cecília não se prende
totalmente a esse modelo. Vale-se, também, de versos mais curtos, de quatro sílabas,
como em “Fala aos Inconfidentes Mortos”:
Treva da noite,
lanosa capa
nos ombros curvos
dos altos montes
aglomerados...
(...)
GÊNERO ROMANCEIRO
O gênero romanceiro é uma coleção de poesias ou canções de caráter popular. De
tradição ibérica, surgiu na Idade Média e é, em geral, uma narrativa com um tema
central. Cada parte tem o nome de romance – que não deve ser confundido com a
denominação do atual gênero em prosa.
Nessa obra de Cecília Meireles, há 85 romances, além de outros poemas, como os que
retratam os cenários. Em sua composição, é utilizada principalmente a medida velha, ou
seja, a redondilha menor, verso de cinco sílabas poéticas (pentassílabo) e,
predominantemente, a redondilha maior, verso de sete sílabas (heptassílabo), como
ocorre na “Fala Inicial”:
No entanto, deve-se observar que, por ser uma autora moderna, Cecília não se prende
totalmente a esse modelo. Vale-se, também, de versos mais curtos, de quatro sílabas,
como em “Fala aos Inconfidentes Mortos”:
Treva da noite,
lanosa capa
nos ombros curvos
dos altos montes
aglomerados...
(...)
Já
Não há guarda-chuva
contra o poema
subindo de regiões onde tudo é surpresa
como uma flor mesmo num canteiro.
Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre.
Não há guarda-chuva
contra o tédio:
o tédio das quatro paredes, das quatro
estações, dos quatro pontos cardeais.
Não há guarda-chuva
contra o mundo
cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e tinta.
Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa, correnteza
carregando os dias, os cabelos.
Eu nunca suspeitara
Tanta roupa preta;
Tão pouco essas palavras —
Funcionárias, sem amor.
E os arquivos, Carlos,
As caixas de papéis:
Túmulos para todos
Os tamanhos de meu corpo.
Guiné Bissau
Nostalgia
Cinzento nicotina
serpenteia o meu quarto
argola o tempo que não passa
Tu não apareces
nada acontece….
O som sobe em 33 rotações
a voz sofrida de Ottis Reding
sustenta o calor de um canto soul
Emerges de uma nota de piano
por momentos bailas
na circunferência de uma bola de fumo
que se esquiva pela persiana
Fica o som dilatado do sax
a dar passagem a Ottis
a sentenciar “time is over”
Nada acontece…
Nicotino o espaço que se fecha
sobre mim sem ti