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A Biblioteca Escolar.

Desafios e oportunidades no contexto da mudança

1ª Sessão - Comentário da Marisa Dias

Olá Elisabete,
A comunhão de contexto geográfico (DREN) que fundamentou a tua escolha para
realização da 2ª parte desta tarefa, alicerça também a minha.
Apesar de existirem aspectos específicos das distintas realidades observadas, as grelhas
de análise apresentadas revelam aspectos comuns aos diferentes territórios que
acompanhamos.
Procurando evitar repetições sobre o que ambas referimos e concordamos nas análises
efectuadas, centro o meu comentário em aspectos pertinentes que por ti foram referidos
e que despoletaram o meu interesse e vontade de aprofundamento.
O conhecimento do contexto em que se insere a BE e do currículo, por ti referido, é
essencial para uma verdadeira integração da BE na escola, o desenvolvimento do
trabalho colaborativo e o efectivo contributo da BE no sucesso educativo.
A instabilidade das equipas e a forma como são constituídas resulta, a meu ver, de duas
ordens de razões:
1. Falta de compromisso das direcções das escolas com a BE,
desconhecimento/desvalorização do impacto que esta pode ter no
sucesso educativo e visão errada que possuem sobre o papel do
professor bibliotecário na escola;
2. “Espartilho” legal com que se vêm confrontadas as direcções das
escolas na gestão dos recursos humanos: a impossibilidade de redução
da componente lectiva para o desempenho de funções na equipa da BE
conduz em algumas situações, variando de acordo com o quadro da
escola, a esses “retalhos” de horários que referes, a equipas com pouco
ou nenhum perfil para as funções e por vezes à inexistência de equipas
nas escolas com quadros diminutos e com pessoal docente jovem (sem
reduções ao abrigo do estatuto da carreira docente).
Elucidar e negociar, com base em dados concretos sobre o papel da BE e do Professor
bibliotecário, com as direcções das escolas é imperativo, no entanto, poderá não ser a
solução de todos os males, já que não é a única origem do problema.
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Desafios e oportunidades no contexto da mudança

A falta de apetência pelo cargo, a recusa de frequência de formação, as queixas relativas


às funções e horários a cumprir, são também sentidas por mim em algumas escolas.
Felizmente estas situações representam uma minoria no contexto do território que
acompanho, mas o facto de existirem é extremamente preocupante. Estas posições
revelam que não são só os docentes e os directores que desconhecem o papel da BE e do
professor bibliotecário, são os próprios professores bibliotecários que o desconhecem ou
desconheciam quando decidiram candidatar-se/aceitá-lo. Como fazer então da BE o
centro da aprendizagem e do conhecimento da escola? Parece-me que temos um longo
caminho a percorrer em algumas escolas e com alguns professores bibliotecários: falta a
formação, o entendimento e a vontade. Teremos que ser persistentes, exigentes e muito
presentes.
O trabalho colaborativo com a biblioteca municipal, cuja importância bem sublinhas, é
de facto fundamental e deverá ser revisto à luz do novo paradigma educativo e do
modelo de auto-avaliação da RBE. A BE como espaço de trabalho, aprendizagem e
conhecimento implica um trabalho colaborativo intra e extra muros da escola entre
todos os agentes educativos. Numa sociedade em rede, a BE, os serviços e recursos que
disponibiliza têm que ser construídos e disponibilizados em rede. Nos estudos sobre o
impacto da BE no sucesso educativo, o trabalho colaborativo com os docentes e com
outras bibliotecas é apontado como factor potenciador do mesmo, no entanto a fraca
cultura colaborativa das escolas, o desconhecimento do novo paradigma educativo e do
papel que a BE assume no mesmo dificulta substancialmente a sua concretização.
Tenho a percepção, que a abertura às parcerias e ao trabalho colaborativo tem sofrido
uma evolução mais positiva nos parceiros externos à escola, nomeadamente junto das
autarquias (ainda que nem sempre se institucionalize/formalize), do que entre os
docentes. Existe todo um trabalho de informação/formação e mobilização a realizar
junto dos docentes e das direcções das escolas (fundamentais na criação de condições
que facilitem e promovam o trabalho colaborativo) para alterar esta realidade.
Parece-me premente conseguir que as percepções que os professores bibliotecários têm
sobre o seu papel e o da BE na escola coincidam com a noção de uma BE ao serviço da
escola e do sucesso educativo, um espaço de aprendizagem e conhecimento. Só assim
poderemos (os CIBE e os professores bibliotecários) alterar as percepções dos demais
agentes educativos fazendo-as convergir com esta visão.
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Desafios e oportunidades no contexto da mudança

Por último sublinho a pertinência dos aspectos que abordaste na tua análise,
fundamentais e transversais à gestão da mudança pelas BE, sublinhando a importância
do trabalho colaborativo e da avaliação nessa gestão.
Continuação de bom trabalho,
Maritza

1ª Sessão - Comentário da Fernanda Freitas

Olá Elisabete!

Escolhi o teu trabalho porque foi o 1º que vi e gostei, acho-o


bastante conciso, objectivo e pertinente em relação ao que a tarefa
propunha, e que se centrava na definição e num outro entendimento sobre
o conceito de biblioteca escolar, no actual contexto de mudança que a
Escola e bibliotecas escolares se vêem envolvidas. Partindo de uma nova
forma de entender a BE, terão que necessariamente se perspectivar outras
e novas práticas, de modo a adequarem-se a estes novos contextos. E, por
fim, o cerne da questão que nos reúne aqui nesta acção de formação,
entender o valor e o papel da avaliação na gestão da mudança de actuação
da BE.
Vou apenas destacar os aspectos que não referi no meu trabalho
mas com os quais estou plenamente de acordo e que me parecem cruciais
no actual contexto em que as Escolas e Bibliotecas vivem. Realço as
“ameaças” que indicas e que também a mim me causam alguma ansiedade:
- Falta de vontade muitos PB em não aderirem ao cargo a tempo
inteiro, mas sim, com uma turma, não reconhecendo o exercício deste
cargo no seu pleno, denunciando o reconhecimento de ameaças perante o
Estatuto da Carreira Docente actual;
- Preguiça (não há outro nome a aplicar, pelo menos em alguns dos
“meus” PB) em fazerem formação, porque esta se encontra dispersa das
suas áreas de residência!
A Biblioteca Escolar.
Desafios e oportunidades no contexto da mudança

Uma outra questão relevante com a qual estou inteiramente de acordo é o


“Reconhecimento do trabalho colaborativo como chave para a mudança de
práticas educativas e curriculares em que a BE intervém directamente, por
parte dos PB com mais experiência e formação.” E se aliarmos a este factor,
como dizes, a “Presença de PB sem experiência na implementação de
estratégias de trabalho colaborativo, bem como na gestão de conflitos”,
torna-se cada vez maior a dificuldade em estabelecer parcerias, em
trabalhar de forma articulada, de forma a conseguir um desenvolvimento
curricular com sequencialização e com algum sentido.
Um outro aspecto que saliento do teu trabalho é a referência a
“Criar laços concelhios e nas escolas com vista à implementação do trabalho
colaborativo”, como um desafio/Acção a implementar. Concordo contigo e
sobre isto, parece-me que a generalização em todo o país das reuniões
concelhias ou interconcelhias de SABE, onde se reúnem coordenadores de
BE, bibliotecários e elemento da RBE, constituiu um bom exemplo de
Comunidade de Práticas, pois regularmente são discutidas, reflectidas
questões/problemas relacionados com a BE, partilham-se exemplos de
práticas e de procedimentos, assim como documentos e materiais diversos.
Foi unânime a referencia por parte de todos em relação à
dificuldade na efectivação da articulação da BE com os docentes, de modo a
conseguir-se um apoio da BE no desenvolvimento do currículo. Daí que se
depreende que a BE não é vista nem assumida como espaço de
aprendizagens, função que o actual conceito de BE prevê. Aliás, grande
parte da bibliografia de referência aponta para a importância que a BE
pode/deve ter na construção das aprendizagens dos alunos, levando esta
questão à necessidade de práticas de avaliação e de uma exaustiva recolha
de evidências neste sentido e que farão da BE o centro da escola e
valorizada por toda a comunidade educativa.
Como reflexão final e depois ter lido, os trabalhos de todos os
colegas, constatei que, apesar de na generalidade os factores de mudança
terem sido unanimemente referidos, ainda se verificam algumas diferenças,
isto é, são referidos alguns indicadores que à partida não decorrem do
actual contexto de mudança mas de mau funcionamento das BEs. E refiro
este aspecto porque vem dar fundamento à necessidade de algo que regule
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Desafios e oportunidades no contexto da mudança

o funcionamento e o cumprimento das funções de uma BE. Uma vez que a


RBE, enquanto instituição superior deveria assumir o papel de regular e
exigir o cumprimento do papel das BEs (compreende-se, pois como
podemos verificar nos trabalhos de todos os colegas são muitos os factores
externos que influenciam o bom ou menos bom desempenho das BEs),
surge agora o modelo de Auto-avaliação de Bibliotecas Escolares que
apresenta um referencial capaz de “medir” e ao mesmo tempo apontar
caminhos para o seu bom e adequado desempenho.

Boas reflexões para todos.


Fernanda Freitas

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