É a capacidade (aptidão genérica) de titularizar direitos e
contrair deveres na ordem jurídica. Quem tem personalidade jurídica é sujeito de direito, podendo ser pessoa física (natural) ou jurídica.
A pessoa física é o ente dotado de estrutura biopsicológica.
Não é o ente criado de forma natural, pois hoje há criação de forma artificial, fora da forma biológica. Pergunta-se: quando a pessoa física adquire personalidade jurídica? O art. 2º do CC/02 que a pessoa física adquire personalidade jurídica a partir do nascimento com vida. É quando principia o funcionamento do aparelho cardiorrespiratório que se dá o início da vida. É dizer, quando o ar penetra nos pulmões. Há inclusive um exame, a dosimetria hidrostática de Galeno.
E o nascituro? Pergunta-se: quem é o nascituro? É aquele que
já foi concebido mas ainda não é nascido (adiciona-se: com vida intrauterina). Mas ele teria personalidade jurídica? Ler o artigo 2º. Mas ao lado disso há doutrina, que, ao tratar o tema, traz três teorias (vem sendo perguntado em prova): a) a teoria natalista (ou negativista); b) a teoria concepcionista; e c) a teoria condicionalista (ou teoria da personalidade condicional). Segundo a teoria natalista, a aquisição da personalidade jurídica só se dá a partir do nascimento com vida. Daí porque chamada de negativista, pois ela nega personalidade jurídica ao nascituro. Segundo a teoria concepcionista, a aquisição da personalidade jurídica se dá desde a concepção. Desde a junção do óvulo com o espermatozóide, há personalidade jurídica. A teoria condicionalista diz que o nascituro, desde a concepção, já titulariza direitos extra-patrimoniais. Todavia, os direitos patrimoniais ficam sob condição suspensiva.
Mas qual seria a teoria adotada pelo nosso direito? Para isso, puxa-se o subtópico: HIPÓTESES DE TUTELA
Quais os direitos garantidos ao nascituro?
1) O direito à vida (aborto é crime);
2) O nascituro pode receber doação pura, ou seja, aquela em
que não há contraprestação (modo ou encargo) – art. 542, CC/02;
3) Pode ser herdeiro nomeado em testamento (art. 1798, CC);
4) Pode ter curador nomeado para a defesa dos seus interesses (art. 877 e SS do CPC); 5) O STF já decidiu, na reclamação constitucional 2040, que o nascituro tem o direito de saber quem é o seu pai (caso da cantora Glória Trevis);
6) Lei 11804/2008 (alimentos gravídicos – ta na moda! -
Fantástico): o nascituro tem direito a alimentos (envolvendo-se o pré-natal, exames médicos, assistência psicológica etc.). O problema é que o deferimento de alimentos se dá por meio de indícios (mera suposição);
7) O nascituro, já decidiu o STJ (RESP 9315566/RS), tem
direito a danos morais;
Mas qual é a teoria aplicável para pessoa física genericamente (se a
prova perguntar)? Teoria natalista (é o que tem que marcar). Mas se perguntar qual a teoria aplicável ao nacituro: teoria condicionalista. Isso porque há uma série de possibilidades nas quais o ordenamento confere direitos ao nascituro.
E o natimorto? É aquele que nasceu morto. E tem direitos de
personalidade? Tem personalidade jurídica? A resposta está nesta pergunta: o natimorto não foi nascituro? Sim, lógico. Logo, obviamente, detém aqueles direitos elencados acima, no período em que foi nascituro (Enunciado 1º do Conselho da Justiça Federal (CJS) – boa fonte de estudo: www.cjf.com.br ou www.direitoemfamilia.com.br). Diz o enunciado: o natimorto tem direitos da personalidade: especialmente nome, imagem e sepultura são direitos do natimorto. E o embrião? Depois que o STF julgou a ADIN 3510, em maio de 2008, a qual declarou a constitucionalidade do artigo 5º da lei 11106/2005, possibilitando a utilização de embriões para pesquisa e terapia genética, é possível afirmar que embriões não têm personalidade jurídica, já que são objetos de pesquisa. Lembre que são embriões inviáveis ou congelados há 3 anos ou mais, sendo necessário sempre o consentimento dos genitores.
CAPACIDADE
É a medida jurídica da personalidade. Divide-se em capacidade de
direito (ou de gozo) e capacidade de fato (ou de exercício – ou de ação) . Capacidade de direito ou de gozo (art. 1º do CC): é uma capacidade genérica que é adquirida juntamente com a personalidade. Todo ser humano tem capacidade de direito ou gozo desde o nascimento. É inerente a toda pessoa. Todavia, apesar disso, nem todos podem exercer pessoalmente os atos da vida civil. Nem todos possuem a capacidade de fato ou exercício. Nem todos podem praticar pessoalmente os atos da vida civil. Quem não tem capacidade de fato ou exercício é chamado de incapaz. A incapacidade pode ser absoluta ou relativa. É uma mitigação à capacidade de fato ou exercício. Observe-se: a soma da capacidade de direito ou de gozo com a capacidade de fato ou exercício resulta no que se chama de capacidade plena ou geral. Observe-se²: ocorre que existem situações nas quais mesmo aquele que possuem capacidade jurídica geral ou plena, para agir, necessita de uma autorização, que a doutrina denomina de legitimação. Exemplos (bem batidos): a) a outorga uxória – 1647 CC (autorização específica de que necessita o cônjuge para vender um bem do casal). Observe que a conseqüência para aquele que vende sem autorização é a anulabilidade com prazo de 2 anos para ser argüida, contados do término da sociedade conjugal (1649, CC/02); b) venda de ascendente para descendente – art. 496 do CC: É possível a venda desde que haja a autorização dos demais descendentes e do cônjuge, desde que não seja casamento em regime de separação obrigatória. Do mesmo modo, sem autorização, é anulável o negócio no prazo de 2 anos (art. 496 cc 179).
TEORIA DAS INCAPACIDADES
Como visto, a incapacidade é a mitigação da capacidade de fato
ou exercício. As incapacidades, no direito nacional, têm gradação, dividindo-se em incapacidade absoluta e relativa.
INCAPACIDADE ABSOLUTA (ART. 3º CC/02)
Após a leitura do rol de hipótese, vêm as questões:
a) Pessoa interditada que pratica um ato da vida civil em intervalo
de lucidez: o ato é válido? INVÁLIDO, pois o nosso CC não adota a teoria dos intervalos de lucidez. Portanto, se o individuo foi declarado incapaz, todos os seus atos serão tidos como inválidos. b) Surdo mundo incapaz de manifestar a sua vontade (o antigo código tratava dele – absolutamente incapaz, o atual não): o novo código encaixa no inciso III do artigo, tratando-o como absolutamente incapaz. Não pela surdo-mudez, mas pela incapacidade de exprimir a sua vontade. Se for educado na língua dos sinais, integra-se aos capazes.
c) A senilidade não leva à incapacidade. O passar dos anos só leva
à incapacidade se for acompanhado de patologias. O CC, no art. 1641, afirma que o casamento o maior de sessenta anos submete-se ao regime de separação obrigatória. É uma norma de constitucionalidade duvidosa, mas que cai bastante na prova da CESP.
Os absolutamente incapazes são representados.
[lembrar: tutor é para menor, curador é para maior – à exceção do nascituro, que tem curador (especial)]
INCAPACIDADE RELATIVA (ART. 4º CC/02)
Algumas questões:
a) “Ébrio habitual [...] discernimento reduzido”, pois se for
discernimento aniquilado é incapacidade absoluta e não relativa.
b) O pródigo precisa de curador para casar, por conta do regime
de bens. Se você se casar e não manifestar a vontade, a comunhão é parcial, havendo, pois, comunicação dos bens. Lembrando que o pródigo só precisa de curador para questões patrimoniais (art. 1782 do CC).
c) E o índio, é o que? O CC no art. 4º diz que a capacidade do índio
é regulada por lei especial. A lei é a 6001/73, o Estatuto do Índio. A sua capacidade ou incapacidade depende. Se é um índio de Porto Seguro, que trabalha, tem celular, participada da vida em comunidade ‘normal’, é capaz. Se for um silvícola (sem hábito urbano, selvagem) é absolutamente incapaz. Cuidado, pois está no art. 4º, referente aos relativamente incapazes, a despeito de ser absolutamente incapaz, como diz o Estatuto. Curiosidade de Proc. Civil (está na moda): quem julga o índio? Depende. Se a ação disser respeito à divisão de terras ou elementos da cultura indígena, quem julga é a Justiça Federal. Nos outros casos, quem julga é a Justiça Estadual. Tudo isso conforme o informativo 519 do SFT, art. 109, XI da Constituição Federal e Súmula 140 do STJ.
Observações finais sobre a teoria das incapacidades:
a) Pergunta do TRE/SP 2006: quem responde civilmente pelos atos
do incapaz? Em regra, responde os responsáveis, segundo o art. 932 do CC/02. É uma das hipóteses de responsabilidade civil por ato de terceiro. O CC retirou os efeitos da Súmula 341 do STF, pois todas as hipóteses deste artigo 392 trazem responsabilidade objetiva (933 do CC). E a súmula dizia que o empregador era presumidamente culpado pelos atos do empregado. Mas hoje não se fala mais em culpa, pois a responsabilidade é objetiva. Cavalieri diz que o rol do 932 é taxativo, pois são hipóteses de responsabilidade por ato de terceiro. Mas pode-se ajuizar uma ação em regresso? Exp.: Guilherme, um dos donos do Podivm paga a Luciano por conta de uma ação de João, empregado do Podivm. Guilherme (Podivm) pode acionar João em regresso? Pode, salvo se aquele que cometeu o ato (João) fosse filho do empregador (Podivm). A ação em regresso na responsabilidade civil indireta por ato de terceiro é sempre possível, portanto, salvo se o terceiro for descendente (absoluto ou relativamente incapaz, por óbvio) do responsável. Lembrar que na ação de regresso há necessidade de prova de culpa, pois se baseia em responsabilidade subjetiva.
b) Existe hipótese de o incapaz responder diretamente pelo seu
ato? Art. 928 do CC (questão do TER/PB 2007), que impõe a responsabilidade direta do incapaz de forma subsidiária, condicional e equitativa. Subsidiária porque só responde diretamente o incapaz se o responsável não tiver obrigação de fazê-lo ou não dispuser de meios suficientes. Ademais, condicional e equitativa, pois a obrigação não pode atrapalhar a subsistência do incapaz e daqueles que dele dependem e há de ser equânime.
c) A maioridade gera automaticamente a extinção da pensão
alimentícia? Não, conforme a súmula 358 do STJ. Pergunta-se: e como há extinção? Diz a súmula que é necessário o contraditório em ação autônoma ou nos mesmos autos em que foram deferidos os alimentos.
COMO SE DÁ O FINAL DA INCAPACIDADE?
O final da capacidade ou se dá com o término do seu fato gerador (no caso da minoridade, com a maioridade), ou através da emancipação. A emancipação é a antecipação da capacidade plena e pode se dar de três formas: Pode ser voluntária, judicial ou legal (todas no art. 5º, PU, CC/02). A voluntária é a concedida por ambos os pais ou responsáveis, ou um deles, na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente da homologação do juiz, ao menor que tenha ao menos dezesseis anos completos. Obs.: falta de um dos pais é a impossibilidade física (exemplos: morte, coma, destituição do poder familiar, alguma coisa grave). Se houver conflito entre os pais, quem resolve é o juiz (art. 1631 do CC). A emancipação judicial é a concedida pelo tutor ao pupilo (ou tutelado). Pupilo este que tenha ao menos dezesseis anos completos. Precisa de decisão judicial. Por que os pais podem emancipar voluntariamente o menor e o tutor precisa de autorização? Porque o instituto da tutela cairia no vazio. A legal decorre da prática de atos que a lei entende incompatíveis com a condição de incapaz (art. 5º, PU, II). Cuidado: não é aprovação em concurso, nem posse em cargo e, sim, exercício do cargo.
OBS.: Maria casou, emancipou e separou: continua emancipado, pois
a emancipação é irretratável e irrevogável. TER/MG 2005: Maria casa, passa a exercer cargo público e depois cola grau. Quando ela se emancipou? No primeiro ato (casamento).
EXTINÇÃO DA PESSOA FÍSICA
A extinção da pessoa física se dá com a morte. Esta pode ser
real ou ficta (presumida). Esta ainda pode ser com procedimento de ausência ou sem procedimento de ausência. O critério atual para a morte real é a parada das ondas cerebrais (há um cadáver). Na morte presumida não há cadáver, logo alguém tem que atestar a morte (o juiz). A morte presumida com procedimento de ausência está disciplinada entre os artigos 22 e 39 do CC e se relaciona ao desaparecimento sem causa clara. Este procedimento de ausência tem três fases: a) curadoria de bens, b) sucessão provisória e c) sucessão definitiva:
a) O procedimento se inicia com a notícia dada ao magistrado
(por qualquer pessoa, inclusive o MP, por ser questão de ordem pública). O juiz nomeia um curador, que é quem vai administrar o patrimônio do ausente. E quem vai ser o curador? Diz a lei no artigo 25 (ordem preferencial): cônjuge não separado há mais de 10 anos, os pais, ou os descendentes (preferindo-se os mais próximos aos mais remotos). Sem descendentes, nomeia-se um curador dativo (que é alguém em que o juiz confie). A curadoria de bens dura, em regra, um ano, conforme o art. 26 do CC. Pode ser de 3 anos, diz o CC, se o ausente tiver deixado procurador. Passado o prazo de um ano (ou 3, naquele caso), é feito o requerimento para que esta curadoria de bens se converta em sucessão provisória. Tal requerimento é feito por um dos legitimados no art. 27 (cônjuge, herdeiros ou credores do ausente). A decisão que converte a curadoria de bens em sucessão provisória só tem efeitos 180 dias depois de publicada. Sem requerimento, o juiz pode converter de ofício, já que questão de ordem pública (só em tese, pois muito improvável).
b) Na sucessão provisória há a transmissão provisória, a título
precário, do patrimônio. Se precário, não se pode vender, salvo com autorização do juiz. Para se receber este patrimônio, exige o CC que você preste uma caução (art. 30). Herdeiros necessários (ascendente, descendente e cônjuge) podem ser dispensados da caução. A sucessão provisória dura 10 anos, mas este prazo pode ser menor, se o ausente for maior de 80 anos, quando o prazo cai para 5 anos.
c) na sucessão definitiva ocorre a transmissão definitiva do
patrimônio, com levantamento da caução eventualmente depositada.
O que acontece se o ausente retorna? Depende da fase. Se
voltar na primeira fase é tranqüilo, pois não aconteceu nada além da nomeação do curador. Então ele reassume o patrimônio. Se voltar na segunda fase, na sucessão provisória, tem direito de reaver o patrimônio no estado em que deixou. Se houver depreciação além da usual, ele vai poder levantar a caução (esta é a razão de ser da caução). Se houver benfeitorias necessárias, ele terá que indenizar. Se, entretanto, voltar na terceira fase, reassume o patrimônio no estado em que se encontra. Não vai ter direito a levantar a caução. Se houver alienação (venda do bem), ele terá direito ao que se sub- rogou (substituiu). Se ele voltar 10 anos após a sucessão definitiva, não tem direito a nada (o direito não socorre a quem dorme).
A morte presumida com decretação de ausência leva à
dissolução do casamento (art. 1571). Mas quando dissolve? A lei não diz. A doutrina tem aplicado, por analogia, o prazo de 2 anos do divórcio direto. Prova da OAB: se o ausente retornar o casamento “represtina”? Não, mas altera-se o estado civil, de viúvo a divorciado.
SEM DECLARAÇÃO DE AUSENCIA (ART. 7º)
1ª hipótese: se for extremamente provável a morte de quem
estava em perigo de vida (Air France); 2ª hipótese: se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até 2 anos após o término da guerra. Faz-se um processo de justificação do óbito e o juiz declara a hora da morte (presumida).
COMORIÊNCIA (ART. 8ª)
É a presunção relativa segundo a qual se dois ou mais
indivíduos falecerem na mesma ocasião, houve morte simultânea. No Air France, por exemplo, não se sabe quem morreu primeiro, portanto são todos comorientes.
DIREITOS DA PERSONALIDADE
Os direitos da personalidade são o conteúdo, preenchem a
pessoa. Dizem respeito a uma tutela mínima de direitos da pessoa. É preciso se ter em mente a relação entre direitos da personalidade, direitos e garantias fundamentais e a dignidade da pessoa humana. Os direitos e garantias fundamentais (art. 5º) têm como reflexo infraconstitucional os direitos da personalidade (arts. 11 a 21 do CC/02). Ambos visam exatamente a tutela mínima para o desenvolvimento da personalidade. Aqueles do art. 5º da CF não são números cláusulos, mas abertos, conforme o §3º. Os direitos da personalidade são também exemplificativos. E a dignidade da pessoa humana é justamente cláusula geral de tutelas dos direitos da personalidade.
CARACTERÍSTICAS (ART. 11, CC):
Os direitos da personalidade são intransmissíveis,
irrenunciáveis, não podendo seu exercício sofrer limitação voluntária. A doutrina aumenta o rol de características: dizendo que ainda são indisponíveis, absolutos, extrapatrimoniais, inatos, imprescritíveis e vitalícios. Indisponíveis pois não são passíveis de transmissão ou renúncia. [Ocorre que há, atualmente, disposição voluntária desses direitos, a exemplo da imagem. E o enunciado 4, CJF, afirma que é possível, desde que seja restrita e temporária.] Absolutos no sentido de que têm oponibilidade erga omnes.