Após uma reflexão a partir do trabalho da colega Deolinda,
tenho a dizer que, tal como ela, tenho a consciência de que há factores que se podem considerar decisivos para o sucesso da missão da BE/CRE, que é a de prestar um contributo para o sucesso educativo, sendo um recurso fundamental para o ensino e para a aprendizagem (estudos mostram que as Bibliotecas Escolares podem dar o seu contributo, neste âmbito, “podendo estabelecer-se uma relação entre a qualidade do trabalho da e com a Biblioteca Escolar e os resultados escolares dos alunos.”). Destaco os seguintes: . a colaboração entre o professor bibliotecário e os restantes professores na identificação de recursos e no desenvolvimento de actividades conjuntas orientadas para o sucesso do aluno; . a acessibilidade e a qualidade dos serviços prestados; . a adequação da colecção e dos recursos tecnológicos. O Projecto de Rede de Bibliotecas Escolares, iniciado em 1996, tem vindo a consolidar-se ao longo dos anos e, nesta fase, em que a Rede abrange já todo o país, é oportuno o surgimento do novo Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares, cujos objectivos estão bem definidos e se resumem: a conhecer o impacto que as actividades realizadas pela e com a BE vão tendo no processo de ensino-aprendizagem; o grau de eficiência dos serviços prestados e de satisfação dos utilizadores. Tal irá, certamente, contribuir para a afirmação e reconhecimento do papel da BE. Concordo que os domínios e subdomínios (A., A.1., A.2.; B., C., C.1., C2.; D., D.1., D.2., D.3., in Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares) que são
objecto de avaliação são elementos determinantes e com um
impacto positivo no ensino e na aprendizagem. Esperemos, de facto, que todo o processo de autoavaliação venha, com o seu tempo, a mobilizar toda a comunidade escolar, melhorando através da acção colectiva as possibilidades oferecidas pela BE., e que se tenha em conta que a avaliação da Biblioteca deve ser incorporada no processo de autoavaliação da própria escola e que se deve articular com os objectivos do Projecto Educativo da mesma. Contudo, tenho igualmente a noção que a implementação do novo Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares irá trazer constrangimentos, resistências à adesão e/ou participação de toda a escola, tendo em conta experiências vividas. Penso que os principais motivos dessa resistência terão a ver com: a natural resistência ao que é novo; resistência ao que implica mudança de actuações ou ainda mais trabalho (sobretudo no que toca a trabalho burocrático). Papel importante deverá ter, sem dúvida, o Professor Bibliotecário (este, com o grande peso da responsabilidade em cima), o.Director do Agrupamento, bem como restantes órgãos das escolas. Há uns anos atrás, quando comecei a trabalhar na Biblioteca Escolar, rapidamente me envolvi (afectivamente) nas tarefas e dinâmicas que lhe são inerentes, frequentando entusiasticamente acções de formação (nomeadamente, no âmbito dos meus domínios favoritos, “animação cultural” e “promoção da leitura”), criando projectos, obtendo mudanças positivas... Tudo isto me fazia sentir “como peixinho na água”. Pensava ter certo perfil para o desempenho das minhas funções; acreditava estar no sítio certo. Hoje, começo a sentir-me um pouco insegura e, até, angustiada, pelo que toca as minhas reais capacidades perante tudo aquilo que eu sei se espera de mim. Não me revejo bem no perfil que Ross Todd traça como modelo, relativamente ao professor bibliotecário do século XXI, alguém multifacetado, “dono do saber” em vários domínios... um autêntico “Super-PB”, como diz a Deolinda. (Também sempre ouvi dizer que “quem muito burro toca, algum há-de ficar para trás”!) Ainda outro factor me leva a sentir céptica, e até com certo receio de “perder o comboio”, é o que se prende com a minha situação concreta, enquanto bibliotecária como que em “part time” (13 horas semanais). Tenho outras funções, outras vidas, outras (grandes) responsabilidades dentro da escola; há outras áreas de formação que não posso negligenciar, pois, acima de tudo, sou professora de Língua Portuguesa; vêm aí os Novos Programas, a nova Terminologia Linguística; temos provas intermédias, exames nacionais... A Deolinda diz, mesmo, que receia que este perfil de “Super-PB”, preconizado pelos especialistas, afaste muitos bons professores das bibliotecas escolares devido à angústia por não conseguirem corresponder a tantas exigências. Penso de igual modo. Questiono-me muitas vezes sobre o seguinte: por que é que num Agrupamento com menos de 400 alunos o professor bibliotecário tem apenas treze horas na Biblioteca, enquanto que, de outro modo, está a tempo inteiro? Os objectivos, tarefas diárias, domínios a abranger, não são os mesmos? Este caso faz-me lembrar o da contratação de funcionários e auxiliares da acção educativa nas escolas – segundo ordens superiores, o número destes está em proporção ao número de alunos, no entanto, os serviços são os mesmos; ora, é evidente que este número reduzido (nas escolas com menos alunos) não dá resposta a todas as necessidades.
Cristina Delgado
Escola E.B. 2,3 Dr. Bissaya Barreto, de Castanheira de Pêra