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A longa marcha da UDP ao PS

Um beirão dos quatro costados, que não renega a sua região de origem. Amigo do seu amigo, que
mantém laços de convivência com pessoas de todas as filiações partidárias, de todas as convicções
religiosas e de todos os emblemas clubísticos. É assim que vários políticos, de quadrantes diferentes,
definem Jorge Paulo Sacadura Almeida Coelho, nascido na aldeia Contenças-Gare, Mangualde, em 1954.

Órfão de pai aos seis anos, foi criado pela mãe e pelo avô, que era um dos principais dirigentes da União
Nacional na Beira Interior. O jovem Jorge nunca deixou de cultivar os laços familiares, mas fez questão
de se situar no quadrante oposto do avô. Militou na extrema-esquerda quando ainda estudava
engenharia em Coimbra - militância reforçada já em Lisboa, durante a revolução, quando gritava slogans
maoístas, como filiado dos Comités Comunistas Revolucionários Marxistas-Leninistas. Mas onde mais se
demorou, nesses anos da juventude, foi na UDP.

A febre revolucionária não durou muito. Já casado e com uma filha, Coelho trabalhou como funcionário
do Secretariado de Apoio ao Processo Eleitoral e decidiu retomar os estudos - já não em engenharia mas
em Organização e Gestão de Empresas. Concluiu o curso em 1982. No ano seguinte, filiou-se no PS. Era
o princípio de uma longa marcha: mal sonhava, nesses tempos, que viria a ser uma das figuras mais
idolatradas pelas bases socialistas.

Teve a primeira experiência executiva em Macau, a convite de Murteira Nabo, seu primo, que exercia
funções governativas com Carlos Melancia. Foi aí, enquanto secretário-adjunto para a Administração,
que fez uso do dom da palavra que todos lhe reconhecem para pôr fim, de megafone em punho, a uma
revolta policial que ameaçava pôr Macau em estado de sítio. Ficou-lhe daí a alcunha de "bombeiro".
Quem o viu nessa noite de chuva torrencial logo vaticinou que era um político para chegar longe...

E assim foi. Quando o PS ganhou as legislativas de 1995, com António Guterres ao leme, Coelho
ascendeu a ministro de Estado e da Administração Interna. Era a figura mais influente do Governo, logo
após o primeiro-ministro. Em 1999 assumiu a pasta do Equipamento Social. Mas demitiu-se do cargo, em
Março de 2001, na noite da tragédia de Entre-os-Rios. "Assumiu uma atitude de grande dignidade
moral", elogiaram até adversários políticos. Esta saída antecipou em nove meses a queda do Governo e a
mudança de ciclo político. Coelho é assim: vê mais longe do que muitos outros. |- P. C.

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O herói das bases do PS troca


política por negócios

PEDRO CORREIA

Jorge Coelho. Ainda há poucas semanas, acedeu ao convite de Sócrates para fazer uma enérgica
intervenção no comício do Porto destinado a assinalar o terceiro aniversário da entrada em funções do
Governo. Mas o ex-ministro de Guterres decide trocar a política pelos negócios. Motivo: "Eu não sou rico"
"Ele sempre fez questão de separar as águas. É muito sensível aos ecos da opinião pública." A
declaração, feita ao DN por um dirigente socialista que há duas décadas acompanha o percurso de
Jorge Coelho, visa explicar a decisão do ex-ministro da Administração Interna de se afastar do
programa Quadratura do Círculo, da SIC Notícias, onde era um dos comentadores residentes. Coelho,
que se tem afastado progressivamente da política, deixa agora também aquele palco mediático, onde
tinha assento desde 2005, para se dedicar por inteiro à vida empresarial: contratado recentemente
pela Mota-Engil, tem vindo a elaborar o plano estratégico da construtora.

A SIC pode ter motivos para lamentar esta baixa. Mas ainda mais afectado com esta despedida de
Coelho da política activa ficará certamente José Sócrates. Coelho é de há muito uma das figuras mais
influentes no PS e um dos raros dirigentes que consegue mobilizar as bases. António Guterres
considerava-o um "imprescindível". Durante o consulado socialista, aliás, Coelho chegou a ser o número
dois do partido - era ele quem definia, simultaneamente, a estratégia e a táctica. Com Sócrates as
coisas não funcionam assim: o ex-ministro das Obras Públicas não integra o círculo de íntimos do
primeiro-ministro. Mas Sócrates fazia questão de o escutar em diversas circunstâncias. Mais: como diz
ao DN um membro da direcção socialista, Coelho vinha funcionando, nestes tempos de maioria
absoluta do PS, como "verdadeiro baró- metro da sociedade" no Largo do Rato. Formalmente, mantém
o lugar de membro da Comissão Política Nacional socialista. Mas a sua influência é muito maior do que
qualquer cargo formal tornando-o uma verdadeira "eminência parda" do partido.

Foi precisamente uma advertência sua, na Quadratura do Círculo, contra a política que estava a ser
adoptada por Correia de Campos na área da saúde, que serviu de prenúncio à queda do ministro.
Também as suas sucessivas chamadas de atenção para a necessidade de "saber passar melhor a
mensagem" aos cidadãos, sobretudo aos que votaram PS nas legislativas de 2004, foram escutadas
com atenção no núcleo dirigente socialista, tal como as suas contínuas referências à necessidade de
não marginalizar Manuel Alegre nas fileiras do partido.

"Coelho é um senador. As palavras dele, sempre muito bem pesadas e muito bem pensadas, nunca
deixam de ter eco, dentro e fora do PS", reconhece um deputado socialista. Enquanto outro revela que
nos últimos tempos havia membros do Governo que receavam "um simples reparo seu" no programa
da SIC Notícias. Não fosse acontecer o mesmo que sucedeu a Correia de Campos...

Depois de muitos anos em que funcionou como o "bombeiro do PS", apto a apagar todos os fogos, um
sério problema de saúde - entretanto debelado - fez alterar as prioridades na vida de Jorge Coelho.
Passou a dedicar muito menos tempo à política e muito mais tempo às tarefas partidárias. Aprendeu a

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fazer pausas, retomou os hábitos de leitura, descobriu o prazer de dar aulas (de marketing político) e
aprendeu que existe mais vida para além da política.

Há poucas semanas, abriu uma excepção à nova regra ao aceitar o repto do primeiro-ministro para
discursar, com a energia habitual, no comício do Porto destinado a assinalar o terceiro aniversário do
actual Governo. Abriu o parêntesis, mas fechou-o logo a seguir. O rumo empresarial deve-se
essencialmente ao facto de "não ser rico e precisar de ganhar a vida", como o próprio Coelho não se
tem cansado de dizer aos seus amigos mais próximos. |

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