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do ser. ento quando, pela via da linguagem, nos deparamos com o inominvel da
experincia, porque no prevista por nada em comum, porque , para dizer de alguma
maneira, origem absoluta.
H uma cegueira, no a fundamental a impossibilidade do verdadeiro mas a
que viso inquestionada, envolvida nos discursos, conservada por um poder implcito,
a linguagem natural, abstrata, ainda que comum. Mas na fico, outra linguagem, talvez
antidiscursiva porque corta o curso deixa passar uma fora desconhecida que vem
do concreto, que emerge sob a condio de suspendermos alguns contratos. A fico d
lugar a algo que no tem lugar a partir dela minhas percepes, minhas vivncias, uma
vez que sou convidado a sentir de maneira indita, so necessariamente reelaboradas.
Recordo que a narrativa, para Juan Jos Saer, no apenas uma maneira de pendurar as
aes umas s outras, mas perseguir, para corporific-lo, algo presente e, todavia,
exterior. Expor-se a essa aglomerao do presente cantar o material, visar ao real sem
signo e faz-lo significar, torn-lo historicamente verossmil, mas deformando um
pouco a iconografia.
H livros que jogam com a prpria histria, tomados pelo desejo de circular
entre os homens, no mundo demasiado humano, e h os que deixam escapar por uma
fenda estreita o esboo de um rosto disforme, temvel s vezes, mas que atrai como um
precipcio. Os livros minados de epifanias so sem dvida os melhores. Um livro que
contasse somente uma histria, com intenes de ser documental ou algo parecido; um
livro sem as intromisses do nada, sem os fragmentos que trazem em si o absoluto, o
infinito, me seria imensamente tedioso. O descontnuo , talvez, o mais importante. A
fico est aberta a experimentar esses vazios condutores de xtases, atravs dos quais
sou lanado, a cada vez, para fora da Verdade e do Sentido.