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A política, a riqueza e a política
francisco providência

Paulo , Baldaia, Director , da TSF

Li que na América primeiro se enriquece e depois se


ingressa na política, enquanto por cá se vai para a
política para enriquecer. Gostaria de pagar os direitos
de autor, mas não me recordo a quem ouvi fazer este
diagnóstico com que a maioria poderia concordar.

Adiante. Sempre que ouvi os políticos queixarem-se


de ser mal pagos - a verdade é que os seus
ordenados são bem inferiores ao de um qualquer
gestor de topo -, pensei em como não era justa esta
queixa. Sei bem, porque a experiência como jornalista
não me deixou margem para dúvidas, que um político,
deputado ou ministro, fica sempre a ganhar mais
quando pode fazer valer a experiência adquirida nos
Passos Perdidos.

Dito isto, convém afastarmo-nos dos falsos


moralismos que querem proibir por decreto que um
político possa valorizar-se pela experiência adquirida
enquanto tal. Ferreira do Amaral, na Lusoponte, ou
Jorge Coelho, na Mota Engil, tem de ser encarado
como coisa normal. Faz parte da natureza humana
querer ganhar mais para viver melhor e as empresas
também preferem os que melhor podem servir os seus
interesses.

Se há políticos indignados e comentadores


desconfiados porque há ex-ministros das Obras
Públicas a liderar empresas do sector, o que todos
precisamos de saber é se esses ex-governantes
beneficiaram as empresas que agora lideram. Na
base da suspeição é que não pode ser.

Não terá sido por terem feito brilhantes carreiras na


política partidária que, agora, Pacheco Pereira e
Marcelo Rebelo de Sousa se fazem pagar pelos
brilhantes comentários políticos que nos oferecem? E
as centenas que foram políticos e são agora
advogados de sucesso? E os que acumulam as duas
coisas?

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Como Portugal precisa de ter empresas saudáveis e


rentáveis, o que eu espero é que Ferreira do Amaral e
Jorge Coelho tenham sucesso nos seus empregos.

Isto leva-nos, no entanto, para uma outra questão. O


poder do Estado é cada vez mais fraco, à medida que
cresce o poder das grandes empresas. Já não é
ficção científica uma multinacional poder fazer cair
governos em países fracos, como uma grande
empresa pode ajudar um partido a chegar ao poder,
mesmo em países fortes.

A ideia de democracia é cada vez mais a ideia de um


direito individual, em que cada um procura para si
próprio o direito de ser rico para ser feliz. A
democracia é cada vez menos altruísta e solidária. A
lei muda constantemente garantindo a adaptação aos
poderosos. São os seus interesses que fazem mudar
a lei.

A questão não é política, nem é legal. O que não está


bem, mas também ninguém vai querer mudar, é o
modelo de sociedade em que vivemos. É impossível
contrariar os argumentos da liberdade individual, do
direito a ser recompensado pelo mérito. Mas também
é difícil de aceitar que o mundo esteja cada vez mais
injusto.

Paulo Baldaia escreve no JN, semanalmente, aos


sábados

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