Você está na página 1de 6

O “Memorando de Entendimento”

assinado entre a Plataforma Sindical dos Professores e o ME


a 17 de Abril de 2008

Análise, ponto por ponto, efectuada por Carmelinda Pereira e


Joaquim Pagarete – membros da Comissão de Defesa da
Escola Pública (CDEP)

Texto do Memorando A nossa apreciação

1. No respeitante à avaliação dos 1. O trabalho de organização dos


docentes, os procedimentos a adoptar no procedimentos da avaliação – de acordo
ano lectivo 2007/2008 serão os com as alínea a) e c) – vai continuar a ser
feito como está determinado no Dec.
seguintes:
regulamentar 2/2008, de 10 de Janeiro,
a) Prosseguimento e desenvolvimento do sobre a Avaliação do Desempenho
trabalho considerado necessário pelas Docente, para que a avaliação nestes
escolas; moldes seja aplicada a partir de Setembro
b) Aplicação de um procedimento de 2008.
simplificado nas situações em que seja
necessária a atribuição de uma b) Esta alínea corresponde a um recuo
classificação por estar em causa a temporário do ME, que sempre disse que os
renovação ou a celebração de um novo professores contratados teriam que ser
contrato, ou ainda a progressão na avaliados, mesmo que de forma
carreira durante o presente ano escolar; “simplificada”, mas deixando o conteúdo
dessa forma a cada Conselho Executivo, o que
c) Relativamente aos docentes integrados
se estava a traduzir no caos nas escolas, com
na carreira não considerados na alínea cada Executivo a fazer como entendia,
anterior, e que serão classificados incluindo a aplicação completa dos
apenas em 2008/2009, deverá proceder- parâmetros contidos na Lei.
se à recolha de todos os elementos Este recuo – que deverá traduzir-se numa
constantes dos registos administrativos avaliação uniforme para todos os docentes a
da escola; avaliar até ao final deste ano lectivo, segundo
d) Os elementos obrigatórios do a alínea d) – é o resultado da mobilização dos
procedimento simplificado referido na professores, expressando a rejeição completa
alínea b) são os seguintes: ficha de do novo sistema de avaliação do ME.
autoavaliação e parâmetros relativos a Foram as “grelhas” impostas pelo ME,
baseadas em parâmetros arbitrários e injustos
nível de assiduidade e cumprimento do
– como, por exemplo, as notas e a assiduidade
serviço distribuído; participação em dos alunos –, bem como os seus
acções de formação contínua, quando procedimentos e quotas, impossíveis de
obrigatória e desde que existisse oferta aplicar ou inexequíveis, no dizer de muitos
financiada nos termos legais. professores que as estudaram exaustivamente,
e) Para efeitos de classificação, quando que conduziram à explosão generalizada dos
esta tenha lugar em 2007/2008, apenas professores, culminando na manifestação
devem ser considerados os elementos nacional de 8 de Março.
previstos na alínea anterior.
Houve um adiamento, mas o que os
professores querem é a revogação definitiva
deste decreto.
2. No primeiro ciclo de aplicação do
regime de avaliação de desempenho do
pessoal docente, que será concluído no
final do ano de 2009, abrangendo todos
os docentes, serão reforçadas as
garantias dos avaliados, nos seguintes
termos:
a) Serão instituídas normas que
garantam que a produção dos efeitos
negativos da atribuição das
classificações de Regular ou Insuficiente
estará condicionada ao resultado de uma
avaliação a realizar no ano seguinte, não
se concretizando, caso a classificação
nessa avaliação seja, no mínimo, de 2. O ME renuncia ao despedimento
Bom. Por essa razão, os imediato dos contratados, o que constitui
constrangimentos decorrentes da um elemento positivo, embora impondo
atribuição de uma classificação de como condição que haja horário e que o
Insuficiente à celebração de novo director da Escola queira lá esses
contrato, no final deste ano lectivo, não contratados – ficando estes sujeitos a um
produzirão efeitos, excepto quando se recrutamento arbitrário e subjectivo.
trate de renovação. No caso da
atribuição de classificação de Regular: Mas, nós recordamos que a importância
i) aplicar-se-ão, para efeitos de do trabalho docente, exigindo uma
renovação, as regras que vigoraram em liberdade pedagógica responsável, não se
2006/2007, designadamente que se coaduna com o facto de um professor
mantenha a existência de horário lectivo saber – à partida – que essa prática está
completo e exista concordância expressa dependente da apreciação de um director
da escola. que pode dizer, no final do ano, se o quer
ii) será considerado o tempo para os ou não escola.
efeitos previstos no artigo 7.º do Decreto- A importância das funções docentes
Lei n.º 15/2007, de 19 de Janeiro. exige que todos os professores possam
b) Os efeitos dessa segunda ser vinculados.
classificação, nesses casos, prevalecem
sobre os que decorreriam da primeira,
substituindo-a, ficando garantida a
recuperação do tempo de serviço coberto
pela anterior avaliação;
c) Mantêm-se os efeitos imediatos da
avaliação quando permitam a progressão
em ritmo normal ou quaisquer outros
previstos no Decreto-Lei n.º 15/2007, de
19 de Janeiro.
3. É mais do que justo que todo este
3. Aplicação, aos professores contratados contrato parcial seja considerado e
por menos de quatro meses, a seu pedido, contabilizado para efeitos de tempo de
do disposto n.º 2 do artigo 28.º, do Decreto serviço do docente, quando este ficar
Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro, integrado na carreira, com um vínculo ao
e, consequentemente, contabilização do
tempo de serviço para efeitos de
Estado, a partir de um concurso nacional,
integração e progressão na carreira como o reivindicam todos os docentes.
docente. Trata-se de garantir o funcionamento
de uma escola democrática e nacional –
a Escola da República.

4.
A) Em princípio, pode considerar-se positivo
a existência de uma Comissão Paritária
para observar a aplicação do Decreto da
avaliação docente. Mas, neste caso, esta
observação pressupõe a existência de
regras claras e justas na aplicação do
mesmo.
Não é este o caso, pois são os docentes – que
4. Com o objectivo de garantir o têm estado a estudar a sua aplicação, de forma
acompanhamento, pelas associações responsável, por ordem superior e a partir de
sindicais representativas do pessoal cada escola – que afirmam ser a mesma
docente, do regime de avaliação de inexequível, permitindo a parcialidade e a
desempenho dos Professores, proceder- injustiça.
se-á até ao final de Abril à constituição de
B) Há quem interprete esta cláusula do
uma comissão paritária com a
Memorando como sendo o reconhecimento
administração educativa, que terá acesso
pelo ME de que se trata da experimentação
a todos os documentos de reflexão e
do modelo, já que – no final do ano lectivo
avaliação do modelo que venham a ser
de 2008-2009 – a Comissão Paritária
produzidos pelas escolas e pelo Conselho
poderá negociar “eventuais alterações”,
Científico da Avaliação de Professores.
além de que os docentes que tiverem
Compete a esta comissão paritária, tendo negativa nesta avaliação poderão sujeitar-
em sua posse a documentação referida e se a outra, no ano lectivo seguinte, e será a
outra que considere adequada, preparar a nota desse ano que será reconhecida.
negociação das alterações a introduzir ao C) A própria filosofia deste decreto ligada
modelo de avaliação. com a autonomia do Director (de acordo
Estabelecer-se-ão as regras que permitam com a nova gestão escolar) permitirá as
a participação ou audição de peritos maiores parcialidades, gerando um clima
indicados pelas associações relacional nas escolas muito pesado, como
representativas do pessoal docente em os docentes já estão a sentir.
reuniões do Conselho Científico da Como poderá a Comissão Paritária monitorizar
Avaliação de Professores, a sua esta aplicação sem a existência de docentes que
solicitação ou a convite da sua presidente. a representem no terreno?
A existirem esses docentes – tendo já todos
tanto trabalho – como irão assumir mais esta
tarefa?
Em qualquer caso, as organizações sindicais
integrando-se na Comissão Paritária,
deverão salvaguardar a sua independência,
recusando-se a assumir qualquer tarefa de
ajuda a aplicar o modelo de gestão rejeitado
pelos docentes.

D) Caso contrário, será o ME a dizer que o


seu modelo foi aplicado com a ajuda dos
sindicatos.
5. A exigência, afirmada por todos os
5. Durante meses Junho e Julho de 2009
professores nas reuniões do dia D e na
terá lugar um processo negocial com as
manifestação dos 100 mil é a da retirada do
organizações sindicais, com vista à
introdução de eventuais modificações ou próprio decreto, baseado em quotas (que, à
alterações, que tomará em consideração a partida, definem que só 1/3 dos professores pode
avaliação do modelo, os elementos aceder ao topo da carreira) e em parâmetros cujas
obtidos até então no processo de variáveis um docente não pode controlar (como é o
acompanhamento, avaliação e caso do abando e do insucesso escolares,
monitorização de primeiro ciclo de resultantes da falta de aplicação e de disciplina dos
aplicação, bem como as propostas alunos) e, ainda, os docentes serem avaliados por
sindicais. outros de uma área ou formação diferentes e, por
vezes, mesmo de qualificação inferior.

6. Os professores titulares – nomeados para


proceder à avaliação dos colegas – acumulam com
o exercício das funções lectivas. O de que todos se
queixam é que o tempo que deviam utilizar para
preparar aquilo que é a sua verdadeira função –
6. Negociação, no âmbito do normativo
ensinar e ajudar os seus alunos a construir o seu
sobre organização do ano lectivo
próprio conhecimento e avaliar a sua progressão –
2008/2009, de critérios para a definição de
é completamente absorvido pelas tarefas de
um crédito de horas destinado à
avaliação que não escolheram e para as quais são
concretização da avaliação de
nomeados.
desempenho dos professores, das
Como se quantifica, dentro das 35 horas semanais,
condições de horário e remunerações dos
o tempo para as seguintes tarefas: dar aulas,
membros das direcções executivas e dos
preparar as aulas, formação, avaliação e reuniões?
coordenadores dos departamentos
Sobre a abertura de concurso para o recrutamento
curriculares e ainda da abertura dos
de professores titulares, é necessário notar que a
concursos para o recrutamento de
exigência mais profundamente assumida, por
professores titulares.
todos os professores com os seus sindicatos –
desde que o novo ECD foi anunciado como
projecto, e mesmo depois de imposto pelo ME –
foi a de “uma só categoria”, como existe nos
Açores e na Madeira.
7. O trabalho individual destina-se à preparação
das aulas, dos planos de trabalho, dos projectos de
turma e dos projectos individuais dos alunos, tendo
em conta a necessidade de organizar propostas
diferenciadas – de acordo com os diferentes níveis
de aprendizagem existentes numa turma, quando
não mesmo crianças com necessidades educativas
especiais – bem como o relatório de avaliação de
7. Definição, já para aplicação no próximo todo este trabalho.
ano lectivo, de um número de horas da Normalmente, só o tempo gasto nas aulas em
componente não lectiva que não são directo e na sua preparação ultrapassa largamente
registadas no horário de trabalho dos as 35 horas oficialmente reconhecida como horário
professores, compreendendo o tempo
de trabalho de um funcionário público.
para trabalho individual e o tempo para
Por esta razão os professores sempre têm afirmado
reuniões. Essa definição deverá ter em
que o aumento do horário na componente de
conta o número de alunos, turmas e níveis
estabelecimento escolar – quer para as aulas de
atribuídos, não podendo ser inferior a 8
substituição (no caso dos 2º e 3º ciclos e no
horas para os docentes da educação pré-
secundário), quer nas de acompanhamento ao
escolar e 1.º ciclo do ensino básico e para
estudo e de supervisão (no 1º ciclo) – se tornam
os outros ciclos do ensino básico e
numa sobrecarga de várias horas extraordinárias.
ensino secundário, 10 horas para os
Essas horas extra impedem a realização de um
docentes com menos de 100 alunos e 11
trabalho docente responsável e de qualidade, do
horas para os docentes com 100 ou mais
qual os professores não podem abdicar, ao mesmo
alunos.
tempo que os coloca numa situação de angústia, tal
como de exaustão física e psíquica, para além dos
prejuízos que daí resultam para a sua vida familiar.
Os professores defendem o fim das aulas de
substituição, do acompanhamento ao estudo e
da supervisão, para poderem cumprir o seu
trabalho docente de forma racional.
8. Considera-se positiva esta integração da
formação contínua na componente do horário não
lectivo de estabelecimento.
Pela expressão “sendo deduzido à mesma durante
o ano escolar a que respeita”, deve entender-se
que as horas de formação que um docente tenha
realizado, fora do horário normal da escola – por
razões que lhe sejam impostas (como, por
exemplo, formações realizadas ao sábado) – que as
8. Em cumprimento do disposto na alínea mesmas são descontadas no respectivo horário de
d) do n.º 3 do artigo 82.º do Estatuto da estabelecimento?
Carreira Docente, com as alterações A natureza do trabalho de um professor ou
introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 15/2007, educador exige que este não pare de estudar,
de 19 de Janeiro, o tempo para a formação participando em acções de formação variadas, cujo
contínua obrigatória ou devidamente calendário pode coincidir com o horário de
autorizada em áreas científico-didácticas trabalho lectivo. É o caso de congressos
com ligação à matéria curricular científicos, seminários ou círculos de estudos
leccionada ou relacionada com promovidos por instituições ligadas às áreas do
necessidades definidas pela escola, docente em causa.
incluir-se-á na componente não lectiva de Os professores e educadores nunca deixaram de
estabelecimento do horário de trabalho exigir o direito a dispor de tempos próprios
dos docentes, sendo deduzido à mesma para esta formação, como estava definido no
durante o ano escolar a que respeita. ECD (antes de ser revisto), e de acordo com a
Lei de Bases do Sistema Educativo, no seu
artigo 35º-4.
O repor deste direito – intimamente ligado à
profissão docente – torna-se uma exigência
premente, em contradição com o actual ECD,
que obriga a formação contínua a ser feita em
horário pós-laboral, salvo formações de
reconhecido interesse para toda a comunidade
escolar e superiormente autorizadas.
9. Na sequência da criação de mais um
escalão no topo da carreira técnica superior 9. É positiva a manutenção da paridade da
da Administração Pública, e com o objectivo carreira docente com a carreira de técnico
de manter a paridade da carreira docente
com aquela, é criado um escalão no topo da
superior da Função Pública.
carreira dos professores e educadores, cujo Mas os professores não deixam de exigir
índice remuneratório corresponderá ao que, à partida, todos estejam em
escalão mais elevado da carreira técnica condições de aceder a esse topo,
superior. Nesse sentido, o Ministério da
Educação compromete-se, a realizar até 31 mediante progressão decorrente de uma
de Dezembro de 2008, as negociações que avaliação justa e formativa.
respeitarão à criação desse escalão, Caso contrário – se for mantida a
dependendo a progressão a esse escalão do carreira dividida em duas categorias e
tempo de serviço prestado e da avaliação de
desempenho. No que respeita à componente uma avaliação assente em quotas –
"tempo de serviço", esse escalão não apenas 1/3 dos professores, no máximo,
implicará o aumento da actual duração da teria direito a aceder a este escalão.
carreira.
10. Os professores defenderam – a uma só voz
– a gestão democrática das suas escolas, como
10. O prazo para aplicação do primeiro condição para o exercício de um trabalho
procedimento decorrente do novo regime
baseado em equipas multidisciplinares,
de autonomia, gestão e administração das
escolas pode estender-se até 30 de capazes de trabalhar num quadro de partilha e
Setembro de 2008. de cooperação, para responder aos desafios
que se colocam hoje a todas as escolas.
A avaliação externa feita à gestão democrática
das escolas tem sido positiva, na esmagadora
maioria das escolas.
Os professores exigem a revogação deste
decreto-lei.

Você também pode gostar