Você está na página 1de 3

Liberdade de imprensa tem sido alvo de ameaças sérias

Gonçalo Venâncio
i, 08 de Janeiro de 2010

http://www.ionline.pt/conteudo/40856--liberdade-imprensa-tem-sido-alvo-ameacas-serias

Em alta nas audiências, a SIC Notícias celebra hoje nove anos. No balanço
do ano, o director do canal deixa críticas ao poder político

"Se 2009 foi um ano de combate, 2010 será o da renovação." É esta a promessa de
António José Teixeira, director da SIC Notícias, em entrevista ao i no dia em que o
canal celebra nove anos. E há razões para festejar em Carnaxide: em 2009, a SIC
Notícias alcançou o seu melhor share desde 2003 e repete a liderança dos canais
temáticos no cabo. António José Teixeira fala dos planos da estação, do fenómeno
Rui Santos e da asfixia democrática.

Em 2009, a RTPN reforçou os conteúdos e apareceu a TVI 24. Ainda assim


a SIC Notícias alcançou um máximo de 4% de share. Que justificação para
estes resultados?
2009 foi o ano em que a SIC Notícias passou a ter, pela primeira vez, dois
concorrentes directos nos canais de informação no cabo. Havendo mais canais e
uma maior fragmentação do consumo televisivo, poderia dizer-se que tudo se
conjugaria para um abaixamento nas nossas audiências. Não foi isso que aconteceu
e por vários motivos. Desde logo porque, do ponto de vista da agenda informativa,
2009 foi muito interessante: três eleições em Portugal, uma crise económica e
financeira, problemas graves na justiça. Isso motivou a procura de informação e,
no caso da SIC Notícias, essa procura privilegiou-nos. Em 2009 não baixamos a
guarda. Foi um ano de combate.

A que se deve este sucesso: à formação de uma marca com valor ou à


qualidade dos conteúdos?
Há vários factores conjugados. Desde logo, procuramos ter uma oferta
diversificada. Também tem que ver com uma equipa muito rodada, habituada a
esta intensidade há muitos anos. Tem que ver com a diversidade de rostos que
trazemos até nós. E tem, por último e mais importante, que ver com o nosso
posicionamento. Não somos um canal do Estado: orgulhamo-nos de ser um canal
privado, independente, distanciado e privilegiamos a diversidade. Isso é uma
grande mais-valia que tentamos preservar a todo o custo.

Portugal é um país sem escala e onde menos pessoas lê jornais.


Paradoxalmente, parece haver cada vez mais consumidores de informação
televisiva...
É um fenómeno da televisão em geral, não apenas do cabo mas também das
generalistas. Em Portugal, as pessoas informam-se predominantemente pela
televisão. Nos tempos de incerteza, de ansiedade, as pessoas tendem a procurar
informação e se as televisões são o principal ponto de procura obviamente que os
canais de informação estão bem posicionados para corresponder a essa
expectativa.

Há, em Portugal, mercado para sustentar três canais de informação?


Para já há sinais interessantes que o mercado revelou em 2009. Acho que há
algumas questões que não são muito claras sobre o modo como os canais se
colocam no mercado. Isto é: não estamos em pé de igualdade e deveríamos estar.
E não estamos porque um dos canais é um canal público. Nada me move contra os
canais públicos, mas há algo que me move contra a ambiguidade do seu
financiamento. A verdade é que me parece haver concorrência desleal porque um
dos muitos canais que o estado detém na televisão tem financiamento público e
privado.

Rui Santos tem mais tempo de antena semanal do que Marcelo Rebelo de
Sousa e António Vitorino juntos. Como é que se explica este fenómeno?
Rui Santos é um grande profissional e tem trazido à SIC audiências muito
interessantes. É um homem que se insere bem na linha editorial de que já falei:
tem pensamento próprio, fala por si, não tem medo do que diz, é independente e
muitas vezes paga um preço elevado pela opinião que veicula. Julgo que os
espectadores gostam de ouvir homens livres a falar.

Enquanto jornalista, como olha para o programa de Pacheco Pereira?


É um programa que, obviamente não agradará a todos, mas que se insere numa
linha de reflexão sobre os media seguida há muitos anos pelo José Pacheco Pereira.
É um programa com opiniões polémicas mas opinião assinada. Não receamos a
palavra livre e espontânea, não receamos a palavra assinada e o pensamento
próprio.

2009 foi o ano da "asfixia democrática". Alguma vez na sua carreira sentiu
pressões?
Sim, muitas vezes.

Como é que se lida com isso...


Tão simples como isto: os jornalistas devem dar-se ao respeito. Obviamente que
trabalhamos numa área de mediação entre vários campos e interesses. Obviamente
que estamos em zonas de choque. Obviamente que lidamos hoje com aparelhos de
comunicação poderosíssimos. Há sempre pressões mas o importante é que o
jornalista saiba viver com elas. Embora reconheça que nos últimos anos a liberdade
de imprensa tem sido alvo de ameaças sérias, também me parece que os
jornalistas não devem ter medo.

Casos como o do "Jornal Nacional" são golpes duros na liberdade de


imprensa?
Não me detenho sobre casos concretos porque não os conheço. Em termos gerais,
fiquei com a sensação de que houve questões mal esclarecidas; que houve
pressões talvez ilegítimas; permeabilidades que não deveriam ter acontecido.
Parece-me que o poder político não esteve à altura da preservação de um ambiente
mais saudável ao nível da liberdade de imprensa.

Você também pode gostar