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1ª CÂMARA
Presente:
Representante do Ministério Público Especial
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
1ª CÂMARA
RELATÓRIO
Os peritos da antiga Divisão de Auditoria das Contas do Governo do Estado IV – DICOG IV,
com base nos documentos encartados aos autos e em inspeção in loco realizada no período
de 14 a 18 de julho de 2008, emitiram o relatório inicial, fls. 311/315, destacando,
sumariamente, que: a) a vigência do convênio, após o primeiro termo aditivo, foi de 26 de
dezembro de 2005 a 26 de julho de 2006; b) o montante conveniado foi de R$ 285.217,61,
sendo R$ 242.434,97 oriundos do Projeto Cooperar e R$ 42.782,64 relativos à contrapartida
da associação; c) os recursos do Projeto Cooperar tiveram como fontes o empréstimo do
Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento – BIRD, R$ 213.913,21, e o
Tesouro Estadual, R$ 28.521,76; d) as liberações dos valores originários do Projeto Cooperar
somaram R$ 242.434,97; e) em 12 de janeiro de 2006 foi contratada a empresa
MK – CONSTRUÇÕES LTDA. pela quantia de R$ 142.640,61; f) no dia 18 de janeiro de 2006
foi contratada a empresa ETANORTE – INDÚSTRIA E CONSTRUÇÕES LTDA. pela quantia de
R$ 98.941,44, objetivando o fornecimento, instalação e treinamento de pessoal para
operação da estação de tratamento d’água; e g) a importância aplicada atingiu
R$ 242.750,76, sendo R$ 241.582,05 pagos às construtoras e R$ 1.168,71 despendidos com
encargos bancários.
Ao final do seu relatório, os técnicos da unidade de instrução informaram que a obra foi
concluída e não foram observadas divergências entre os quantitativos medidos e os serviços
executados.
É o relatório.
PROPOSTA DE DECISÃO
AUDITOR RENATO SÉRGIO SANTIAGO MELO (Relator): Inicialmente, cabe destacar que a
licitação é o meio formalmente vinculado que proporciona à Administração Pública melhores
vantagens nos contratos e oferece aos administrados a oportunidade de participar dos
negócios públicos. Quando não realizada, representa séria ameaça aos princípios
constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, bem
como da própria probidade administrativa.
Com efeito, deve ser enfatizado que a não realização dos procedimentos licitatórios exigíveis
vai, desde a origem, de encontro ao preconizado na Constituição da República Federativa do
Brasil, especialmente o disciplinado no art. 37, inciso XXI, verbatim:
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I – (...)
Ademais, consoante previsto no art. 10, inciso VIII, da lei que dispõe sobre as sanções
aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato,
cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional – Lei
Nacional n.º 8.429, de 2 de junho de 1992 –, a dispensa indevida do procedimento de
licitação consiste em ato de improbidade administrativa que causa prejuízo ao erário,
verbum pro verbo:
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I – (...)
O mestre Hely Lopes Meirelles, in Direito Administrativo Brasileiro, 28 ed, São Paulo:
Malheiros, 2003, p. 386, define convênios administrativos como ajustes celebrados por
entidades públicas de qualquer espécie, ou entre estas e organizações particulares, para
realização de objetivos de interesse comum dos partícipes. Com efeito, para consecução dos
fins almejados, é necessário atentar para as normas estabelecidas no reverenciado Estatuto
das Licitações e dos Contratos Administrativos, haja vista o disposto no seu art. 116,
ad literam:
Art. 116. Aplicam-se as disposições desta Lei, no que couber, aos convênios,
acordos, ajustes e outros instrumentos congêneres celebrados por órgãos e
entidades da Administração.
In casu, constata-se que a Coordenadora do Projeto Cooperar à época, Dra. Sonia Maria
Germano de Figueiredo, repassou para a ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA DOS
TRABALHADORES RURAIS DE FEIRA NOVA a faculdade de realizar apenas consulta de
preços com 03 (três) firmas especializadas, consoante CLÁUSULA TERCEIRA, INCISO II,
ALÍNEA “B”, do instrumento de Convênio n.º 164/05, fls. 06/11. O procedimento
implementado pela citada autoridade teve como base o disposto no art. 42, § 5º, da Lei
Nacional n.º 8.666/93, vejamos:
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§ 1º (...)
Entretanto, concorde nos ensina o eminente doutrinador Marçal Justen Filho, em sua obra
intitulada Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, 9 ed., São Paulo:
Dialética, 2002, p. 392, a obtenção de recursos internacionais para o financiamento de
projetos de desenvolvimento não exclui a obrigatoriedade da observância dos princípios
fundamentais estabelecidos na Constituição Federal, in verbis:
1. (...)
De fato, o teor constante da cláusula terceira, inciso II, alínea b, por meio
do qual se atribui à Associação a competência para a realização de uma
simples consulta de preços junto a três ou mais firmas especializadas,
mostra-se como sendo uma forma de se burlar o comando normativo
da Lei de Licitações. Ora, não pode o Projeto Cooperar, a pretexto de
transferir uma obrigação constitucionalmente imposta, eximir-se da
realização do procedimento licitatório, sobretudo em razão de valores altos,
como no caso ora analisado, para o qual caberia uma tomada de preços.
(destaque existente no original)
Finalmente, conforme destacado pelos peritos do Tribunal, verifica-se que a obra foi
efetivamente executada, ficando evidente que a irregularidade constatada adveio de erro na
interpretação do disposto no art. 42, § 5º, da Lei de Licitações e Contratos Administrativos.
Portanto, nos termos dos arts. 16, inciso II, e 18 da Lei Complementar Estadual n.º 18/93,
cabe o julgamento regular com ressalvas das contas sub examine, bem como o envio de
determinação ao atual gestor do Projeto Cooperar, Dr. Plácido Rodrigues Montenegro Pires,
verbum pro verbo:
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I – (omissis)
É a proposta.