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Rosenfeld vai pela mesma toada, mas busca elaborar uma “pensata” sobre o
“corpo e o espírito do capitalismo”. Segundo ele, o corpo vai muito bem. “Os
grupos econômicos ganharam muito dinheiro nesses oito anos”. O problema é
o espírito, “os bens intangíveis”, revela o filósofo. A base material é garantida
pelo governo, segundo Rosenfeld. “As metas de inflação, a autonomia
operacional do Banco Central e o superávit fiscal” mostrariam um rumo seguro.
Mas o espírito está sendo minado, alerta. Esse ectoplasma é “a liberdade de
expressão” que estaria ameaçada. E enumera os problemas, numa tediosa
repetição: “O PNDH, o MST, a questão dos quilombolas” etc. etc. etc.
Mas o humorista da tarde foi o Dr. Roberto Romano. Este revelou ao mundo
uma nova teoria, que vai pegar. É sobre a militância. Atenção: “O partido de
militantes causa a corrosão do caráter”. Guardem essa! Depois de A corrosão
do caráter, de Richard Sennet, que fala dos vínculos trabalhistas e sociais
tênues e sua influência no comportamento humano, um livro sério, o Dr.
Romano vem com sua versão pândega. E explica: “No partido de militância não
tem mais jornalista, médico e nem nada. Tem o militante que se reporta ao
chefe”. Isso, para as muitas luzes do Dr. Romano, corrói o caráter. Olha lá,
Brasil! A partir de agora, só se falará em outra coisa!
Agradecimento
Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista, é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de “A Venezuela que se
inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).
A conferência de comunicação
particular da direita
“O Plano Nacional de Direitos Humanos [PNDH] é totalitário”, “o stalinismo
predomina no PT”, “temos de ir para a ofensiva”, “vamos acabar com essa
história de ouvir o outro lado na imprensa”, “governo cínico, cínico, cínico!”,
“democracia não é só eleição”. Frases assim, proclamadas com ênfase quase
raivosa, deram o tom no Fórum Democracia e Liberdade de Expressão,
realizado na última segunda-feira, em São Paulo.
Pois o Instituto Millenium fez seu convescote para cerca de 180 participantes.
Eram empresários, jornalistas e interessados, que desembolsaram R$ 500
cada um, por um dia de atividades. Na mira dos palestrantes, os governos de
centro esquerda da América Latina, os movimentos sociais, o governo Lula e o
PNDH. As intervenções mais moderadas foram as de Roberto Civita (Abril) e
Otávio Frias Filho (Folha), que buscaram, de certa forma, situar seus interesses
na cena política. Externaram o que se espera de proprietários de monopólios.
E essa foi a parte séria. A mais engraçada pode ser lida adiante.
Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista, é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de “A Venezuela que se
inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).
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A manifestação dos militantes não podia ser ouvida dentro da sala onde
aconteceram as palestras, mas chamou atenção de jornalistas que cobriam o
evento, de trabalhadores das redondezas e de alguns hóspedes do hotel. Mais
de 20 manifestantes vestidos de palhaço – uns usando narizes de plástico,
outros com meias na cabeça, pompons e calças balonés – participavam do
protesto, alimentado por um megafone que repetia: “Respeitável público! Os
palhaços estão aqui fora, mas o circo está lá dentro!??"
“Ameaça latino-americana”
Civita disse que o fórum acontece em um momento oportuno, pois, para ele, há
“ameaças ao processo democrático, tanto no Brasil quanto nos países
vizinhos”. Nos primeiros minutos de sua fala, ele anunciou seus inimigos: as
“Leis de Mídia” da Argentina (que proíbem a concentração de emissoras de
rádio e TV por uma mesma empresa), propostas pelo governo de Cristina
Kirchner, e as medidas de regulamentação e fiscalização da mídia na
Venezuela. Para ele, as ações representam uma ameaça para a democracia
brasileira – subentendida no discurso, estava a ideia de um “efeito dominó”,
como se não houvesse mais democracia na Venezuela e na Argentina, mas
ainda sim no Brasil.
Após mencionar os tópicos, Civita defendeu que a imprensa não pode ser
regida por leis. “Quanto menos legislação, melhor, quando o tema é expressar-
se”, alegou.
Exemplo argentino
O jornalista Adrián Ventura, do jornal argentino Clarín, iniciou sua fala em tom
de pânico, pedindo cuidado aos brasileiros para que não aconteça aqui o
mesmo que aconteceu em seu país: a regulamentação do setor.
DEBATE ABERTO
Gilberto Maringoni
Acabou o carnaval, mas a festa continua. Vem aí, gente, o Fórum Democracia
e liberdade de expressão, promovido pelo Instituto Millenium . O acontecimento
será no dia 1º de março, no Hotel Golden Tulip, na capital paulista. A inscrição
é uma pechincha: R$ 500 por cabeça.
A lista de palestrantes é de primeira. Lá estarão o dr. Roberto Civita (Abril), o
ministro Hélio Costa (Globo), Marcel Granier (dono da RCTV, famosa por
tramar e propagar o golpe de 2002 na Venezuela), Demétrio Magnoli
(venerando Libelu de direita, que está decidindo se o melhor é ser contra a
política de cotas ou contra a política de quotas), Denis Rosenfield (entidade do
folclore gaúcho que ainda não tomou conhecimento do fim da Guerra Fria),
Arnaldo Jabor (o espirituoso), Carlos Alberto Di Franco (dirigente da
organização democrática Opus Dei), Marcelo Madureira (humorista neocon),
Reinaldo Azevedo (claro!), Roberto Romano (ético ao quadrado) e os
modernos deputados Fernando Gabeira e Miro Teixeira.
Intelectuais de programa
O Instituto Millenium veio para ficar. Foi fundado em 2005, no Rio de Janeiro.
Não se sabe se tem algo a ver com o conceituado Café Millenium,
estabelecimento classe A, onde gente de primeira ia buscar diversões,
digamos, adultas até julho de 2007, no bairro do Ipiranga, em São Paulo. O
Café Millenium não escondia seu negócio. O slogan era “Sua noite de primeiro
mundo”. Com belíssimas garotas a excitar a imaginação e a ação de senhores
de fino trato, vendia o que anunciava. Deve-se à fúria moralizante do prefeito
Gilberto Kassab – um “Jânio sem alcool”, na genial definição de Xico Sá – o
fechamento desta e de outras instituições semelhantes, nos tempos em que as
enchentes não eram preocupação de um alcaide movido a reeleição.
O tal do fórum
O máximo do prazer será a atração deste início de março, o Fórum Democracia
e liberdade de expressão. Entre os apoiadores do evento, sempre segundo o
site do Millenium, estão a Associação Brasileira de Empresas de Rádio e
Televisão (Abert) e a Associação Nacional dos Jornais (ANJ), entidades que
envolvem a Globo, o SBT, a Record, a Folha de S. Paulo, o Estado de S.
Paulo, a RBS e outras empresas que decidiram boicotar a I Conferência
Nacional de Comunicação, numa demonstração de forte apreço pela
democracia. Figura lá, além do Instituto Liberal, um sensacional Movimento
Endireita Brasil (MEB), cujo nome diz tudo.
Todos dia 1º. de março ao Millenium, gente. A sua noite – ou dia - de primeiro
mundo!
Em tempo: Não se sabe ainda se os antigos proprietários do Café Millenium entrarão na
Justiça contra os mantenedores do Instituto Millenium. A ação se daria não apenas por plágio,
mas por comprometer o bom nome do Café em uma possível volta ao mercado.