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EDLAINE AGUIAR COSTA

TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO:
A mudança no processo ensino/aprendizagem

UNIVERSIDADE DE PINHAIS- FAPI


PÓLO SANTOS
2008
DLAINE AGUIAR COSTA

TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO:
A mudança no processo ensino/aprendizagem

Monografia exigida para a


Conclusão do Curso de Pedagogia pela
Faculdade de Pinhais- FAPI, sob a orientação
da professora especialista Tânia Regina
Alfonso Lopes.

UNIVERSIDADE DE PINHAIS- FAPI


PÓLO SANTOS
2008
Dedicatória

Dedico este trabalho à minha família.


Agradecimento

Agradeço à minha família pelo apoio e


em especial à minha mãe Idarte (In
Memorian) pois, não teria conseguido
concluir o curso se não tivesse certeza
de que ela olha por mim. Gostaria
também de deixar registrado aqui meu
agradecimento à todos os professores
que fizeram parte de minha vida no
decorrer desses dezoito meses. Em
especial amigas Luciana e Maria Julia
que tornaram esses meses mais
prazerosos.
“Não posso ser professor se não
percebo cada vez melhor que, por não
ser neutra, minha prática exige de mim
uma definição. Uma tomada de
posição. Decisão. Ruptura. Exige de
mim que escolha entre isto e aquilo.
Não posso ser professor a favor de
quem quer que seja e a favor de não
importa o quê. não posso ser professor
a favor simplesmente do Homem ou da
Humanidade, frase de uma vaguidade
demasiado contrastante com a
concretude da prática educativa.”
Paulo Freire
Resumo

O presente trabalho visa traçar um panorama da história do


computador na educação, assim abordar as formas de utilização das novas
tecnologias na escola, refletindo acerca do processo de ensino/aprendizagem
tendo como influência as novas tecnologias da informação, visto que a
utilização da informática como instrumento de ensino e aprendizagem vem
ganhando adeptos na área da educação, o que faz necessário que haja
mudanças estruturais e funcionais para que estas passem a ser incorporadas
nas práticas educativas e na construção do conhecimento centrada no aluno.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................ 08

CAPÍTULO I – TECNOLOGIA E ADVENTO DA INFORMÁTICA


EDUCACIONAL........................................................................................................ 12

CAPÍTULO II – COMUNICAÇÃO HUMANA: BREVES CONSIDERAÇÕES .......17

CAPÍTULO III – A TECNOLOGIA E O CONHECIMENTO......................................21

CAPÍTULO IV– A UTILIZAÇÃO DA TECNOLOGIA NA ESCOLA........................29

CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................... 30

REFERÊNCIAS..............................................................................................................33
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INTRODUÇÃO

“O cúmulo da cegueira é atingido quando as


antigas técnicas são declaradas culturais e
impregnadas de valores, enquanto que as
novas são denunciadas como bárbaras e
contrárias à vida. Alguém que condena a
informática não pensaria nunca em criticar a
impressão e menos ainda a escrita. Isto
porque a impressão e a escrita (que são
técnicas!) o constituem em demasia para que
ele pense em apontá-las como estrangeiras.
Não percebe que sua maneira de pensar, de
comunicar-se com seus semelhantes, e
mesmo de acreditar em Deus são
condicionadas por processos matérias.”
Pierre Lévy

O computador tem provocado uma revolução na educação por causa de

sua capacidade de “ensinar”.As possibilidades de implantação de novas

técnicas de ensino são praticamente ilimitadas.

Diante desta perspectiva, surge uma inquietação e insegurança por

parte dos profissionais da área da educação, que num primeiro momento

temem sua substituição por máquinas, visto que equipamentos potencialmente

educativos como o computador, quando colocados em uma situação de ensino-


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aprendizagem sem a devida preparação dos recursos humanos envolvidos e

sem objetivos educacionais definidos para o uso destes equipamentos, correm

o risco de se transformarem em sofisticadas peças de decoração, entre tantas

que a escola atualmente possui.

A utilização da informática como instrumento de ensino e aprendizagem

vem ganhando adeptos na área da educação exigindo-lhe mudanças

estruturais e funcionais para que estas passem a ser incorporadas nas práticas

educativas, na construção do conhecimento centrada no aluno.

Com a preocupação de discutir e compreender o uso da informática

como instrumento de ensino e aprendizagem, este trabalho busca apresentar

um panorama da utilização da tecnologia na educação, assim como refletir

sobre as formas dessa utilização e a interferência desse uso no processo

ensino/aprendizagem.

Com base nos estudos de Vygotsky, Marta Kohl de Oliveira (2000),

conseguiu definir bem o que o autor entende como aprendizagem:

“É o processo pelo qual, o indivíduo adquire informações, habilidades,

atitudes, valores, etc. a partir de seu contato com a realidade, o meio ambiente,

as outras pessoas. É um processo que se diferencia dos fatores inatos (a

capacidade de digestão, por exemplo, que já nasce com o indivíduo) e dos

processos de maturação do organismo, independentes da informação do

ambiente ( a maturação sexual, por exemplo)”. (OLIVEIRA, 2000, p.57)

Ou seja, o processo de aprendizagem envolve uma construção ativa do

processo intelectual do aluno, que a formação de um conceito é um processo

criativo decorrente de uma operação complexa, voltada à solução de um


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problema. Para buscar a solução de problemas, o aluno necessita de várias

estratégias de pensamento e raciocínio que serão estimuladas com o uso do

computador e ressaltadas pelo hipertexto, visto que na sociedade moderna as

relações entre as informações se dão em forma de rede, na qual um texto se

desdobra e adquire a forma de um caleidoscópio na frente de seu leitor.

Para discutir acerca desses assuntos apresenta-se, primeiramente, o

Histórico do computador na Educação, no capítulo 1, para que se possa situar

o momento histórico atual e traçar um paralelo com o que já foi descoberto

anteriormente.

No segundo capítulo são abordadas algumas considerações a respeito

da comunicação humana, mostrando como a mesma foi se transformando,

desde o advento da escrita, até hoje, com os hipertextos.

A mudança da sociedade acarreta não apenas na modificação da

instituição escolar como também em novas formas de aquisição de

conhecimento.

No terceiro capítulo essa mudança é abordada, mostrando como

devemos encarar esse novo aluno e prepará-lo para uma sociedade

impregnada de informação, mas que ainda não aprendeu a transformá-la em

saber.

Para uma utilização eficaz dos novos métodos e ferramentas auxiliares

no processo ensino/aprendizagem, apresentamos no capítulo 4 algumas

formas de aplicação da informática na escola, visto que os profissionais do

ensino devem estar preparados para essa utilização, não apenas fazer uso de
11

novas tecnologias mas, na verdade, continuar com o mesmo tipo linear e

centralizante método de ensino.


12

CAPÍTULO I -

TECNOLOGIA E ADVENTO DA INFORMÁTICA


EDUCACIONAL

...utilizando a informática, o homem


alcança novas possibilidades e estilos de
pensamento inovador jamais postos em
prática. (...) A tecnologia vai
transformando, também, as nossas
mentes porque de alguma maneira temos
acessos aos dados, mudamos nosso
modelo mental da realidade. (...) os
integrados entendem a tecnologia como
neutra, objetiva, positiva em si mesma e
científica. Incorporá-la é sinônimo de
progresso.
Colom Cañellas

Há muitas formas de compreender a tecnologia. Neste artigo a

tecnologia é concebida, de maneira ampla, como qualquer artefato, método ou

técnica criado pelo homem para tornar seu trabalho mais leve, sua locomoção

e sua comunicação mais fáceis, ou simplesmente sua vida mais agradável e

divertida.

A tecnologia, neste sentido, não é algo novo – na verdade, é quase tão

velha quanto o próprio homem, visto como homo creator.


13

Nem todas as tecnologias inventadas pelo homem são relevantes para a

educação. Algumas apenas estendem sua força física, seus músculos. Outras

apenas lhe permitem mover-se pelo espaço mais rapidamente e/ou com menor

esforço. Nenhuma dessas tecnologias é altamente relevante para a educação.

As tecnologias que amplificam os poderes sensoriais do homem, contudo, sem

dúvida o são. O mesmo é verdade das tecnologias que estendem a sua

capacidade de se comunicar com outras pessoas. Mas, acima de tudo, isto é

verdade das tecnologias, disponíveis hoje, que aumentam os seus poderes

intelectuais: sua capacidade de adquirir, organizar, armazenar, analisar,

relacionar, integrar, aplicar e transmitir informação.

As tecnologias que grandemente amplificam os poderes sensoriais do homem

(como o telescópio, o microscópio, e todos os outros instrumentos que

amplificam os órgãos dos sentidos humanos) são relativamente recentes e

foram eles que, em grande medida, tornaram possível a ciência moderna,

experimental.

As tecnologias que estendem a capacidade de comunicação do homem,

contudo, existem há muitos séculos. As mais importantes, antes do século

dezenove, são a fala tipicamente humana (conceitual), a escrita alfabética, e a

imprensa (especialmente o livro impresso). Os dois últimos séculos viram o

aparecimento de várias novas tecnologias de comunicação: o correio moderno,

o telégrafo, o telefone, a fotografia, o cinema, o rádio, a televisão e o vídeo.

As tecnologias que aumentam os poderes intelectuais do homem, e que estão

centradas no computador digital, são mais recentes, tendo sido desenvolvidas

em grande parte depois de 1940. O computador vem gradativamente

absorvendo as tecnologias de comunicação, à medida que estas se digitalizam.


14

Considerando-se que o alfabeto tem se desenvolvido e aperfeiçoado ao

longo de cinco milênios, a invenção do computador pode ser considerada como

um fenômeno bastante novo, datando de 1945 com a construção de Mark I

pela Universidade de Harvard. Do ponto de vista educacional, a presença

tecnológica dos computadores é ainda mais recente, datando da década de

19601.

A tecnologia, primeiramente, foi introduzida nas escolas americanas

como uma aplicação destinada à área administrativa. Mais tarde, Pappert

desenvolveu a linguagem Logo em uma tentativa pedagógica de aprendizagem

de conceitos matemáticos.

Com o desenvolvimento da microinformática, os computadores

adentraram nas escolas, ampliando a sua aplicação não mais circunscrita ao

âmbito administrativo, mas sendo usados para fins pedagógicos, de acordo

com Yves de La Taille: “A década de 80 será marcada pelo crescimento da

informática no campo educacional americano. Em 1984, 70% das escolas

americanas usavam microcomputador para fins educativos.” (LA TAILLE, 1990,

p.9)

O governo brasileiro não ficou alheio aos avanços que ocorriam no

campo tecnológico e estava atento às mudanças exigidas pela tecnologia,

sobretudo àquelas que se faziam necessárias à área econômica. Embora as

posições assumidas pelo governo fossem e, ainda sejam discutíveis,

especialmente a que se refere à reserva de mercado destinada ao

desenvolvimento de uma tecnologia nacional, o fato é que, em 1984, o

1
Os dados a respeito da história da evolução da informática e sobre a mesma na educação foram
pesquisados no site do PROINFO: http://www.proinfo.mec.gov.br/
15

Congresso Nacional sancionou a lei n.º 7.232 que definiria a política brasileira

de informática.

A experiência brasileira de informatização na educação decorreu da

necessidade de formação de uma mão de obra especializada voltada para o

desenvolvimento de uma tecnologia nacional. Esse fato obrigou a uma

redefinição da política educacional na tentativa de se conseguir esses recursos

humanos e deu início a ações dentro do campo educacional, visando introduzir

o computador nas escolas públicas de 1º e 2º graus. O projeto Educom foi a

primeira ação oficial consolidada na tentativa de se desenvolverem pesquisas

na área da tecnologia educacional. Entretanto, as pesquisas com o uso do

computador limitaram-se a algumas universidades, tais como: Universidade

Estadual de Campinas (UNICAMP), Universidade Federal do Rio Grande do

Sul (UFRGS) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Diante dessa nova política educacional, o MEC se estruturou na

tentativa de dar suporte ao Projeto Educom, criando o Centro de Informática

Educativa (Cenifor) que não conseguiu se manter autônomo, sendo transferido

para outros órgãos públicos, prejudicando-se com a falta de previsão

orçamentária para a locação de recursos destinada aos pesquisadores e às

pesquisas.

Em 1996, surgiu o Comitê Assessor de Informática para a Educação de

1º e 2º Graus (Cais/Seps) que esboçou a criação do Centro de Informática na

Educação (Cied), uma realidade que foi sendo paulatinamente implantada de

1988 a 1992, conseguindo a façanha de levar a informática educativa para as

escolas públicas de alguns estados brasileiros.


16

Em 1991, a informática educativa passa a ser regulamentada por lei,

vinculando-se à Política de Informática no Brasil ao Ministério da Educação

(MEC).

Atualmente, a política de inserção de computadores nas escolas

públicas e a capacitação dos professores tem contado com o apoio do MEC

por intermédio do Programa Nacional de Informática em Educação (PROINFO)

que vem desenvolvendo um trabalho expressivo. Pode-se citar, por exemplo, a

capacitação dos professores, iniciada em abril de 1998, que se estruturou em

duas fases: na primeira, os professores foram capacitados junto às

Universidades em curso de especialização nível Lato Sensu para que, na

segunda fase, familiarizados com a tecnologia, passassem a ser fator de

multiplicação do conhecimento capacitando 30.000 professores.

Analisando-se a trajetória da informática no campo educacional

brasileiro podemos perceber duas preocupações por parte do governo: dar

estrutura operacional para escola pública com o aumento do fornecimento dos

computadores e reconhecer a necessidade de capacitação de professores, não

apenas como usuário, mas também levando-o a promover discussões sobre

uma abordagem pedagógica voltada ao uso das novas tecnologias, mostrando

que o computador é uma ferramenta que pode enriquecer a sua prática em

sala de aula. Assim, a qualificação do professor torna-se uma exigência

imperiosa para o avanço do projeto educacional em uma sociedade na era da

informação, aproximando a escola do que está acontecendo na sociedade.


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CAPÍTULO II -

COMUNICAÇÃO HUMANA: BREVES CONSIDERAÇÕES

“Ler um texto qualquer (...) nos leva a


entrar em contato com uma outra
experiência, reconstruí-la e
reconstruirmos-nos. E construir-se
significa, sobretudo, inscrever-se na
experiência, no real. Uma leitura profunda
conduz a uma espécie de imersão no
universo das palavras e, quando o leitor
voltar à tona, se encontra numa terceira
margem. Nela, ele pode rever-se,
ampliando seu conhecimento de si e do
mundo.”
Guaraciaba Micheletti

O homem constrói a sua história transformando o meio em que vive,

criando uma cultura que lhe é apresentada por meio do conhecimento, das

crenças, das artes, dos costumes, dos hábitos e aptidões adquiridos enquanto

membro de uma sociedade. Antigamente, nos tempos remotos da pré-história,

a comunicação humana se dava por meio de gestos, e logo depois também

pela oralidade. Essa oralidade, denominada por Lévy (1993) como primária por

ainda não coexistir com a escrita, não permitia uma transmissão exata do que

era descoberto. De acordo com Ângela Belmiro, ao depender


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“... apenas da memória humana de longo prazo, o


processo mnemônico utilizado pelas sociedades sem
escrita era a criação de mitos, com a dramatização, a
personalização e os artifícios narrativos funcionando
como condições da perenidade das proposições
consideradas essenciais.” (BELMIRO, apud
COSCARELLI, 2003, p. 13)

Portanto, com o advento da escrita, criou-se uma nova situação na

sociedade. O processo comunicativo se revoluciona, visto que já podemos

separar emissor e receptor, distanciar os discursos e acumular o saber, não

mais dependendo apenas da memória humana. Assim como Ângela Belmiro

faz considerações acerca do advento da escrita, Cebrián (1999), em sua obra

A rede, delineia a evolução do conhecimento do homem tendo por base o

aparecimento da escrita, que contribuiu para o armazenamento de informações

que era necessário ao desenvolvimento do homem: herança cultural.

Ao se distanciar autor e leitor, as mensagens podem ser recebidas fora

de seu contexto. Com isso, os textos, que antes eram escritos sem separação

entre as letras, começaram a ganhar sinalização, pontos, separação,

indicações em notas e comentários. Esses mecanismos de ajuda, de acordo

com Lévy, já são considerados como tecnologias: “Contribuindo para dobrar os

textos, estruturá-los, articulá-los para além de sua linearidade, estas

tecnologias auxiliares compõem o que nós poderíamos chamar de aparelho de

leitura artificial.” (Ibidem, p. 15)

A difusão do conhecimento ganha forte aliado com a invenção da

imprensa por Gutemberg, em 1455. Os livros passam a ser disponibilizados a

uma grande parte da população e, já sem os acréscimos feitos pelos copistas,

o leitor recebe essa obra com o seu olhar, em seu contexto e com novas

informações, levando em consideração o seu conhecimento de mundo. Essa


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liberdade do leitor “...no entanto, não é absoluta, é cercada de limitações

derivadas das capacidades, limitações e hábitos que caracterizam as práticas

de leitura em suas diferenças de tempo e de espaço.” (Ibidem, p. 16). E aí está

a importância da tecnologia e do hipertexto. O ciberespaço surge como uma

nova forma de comunicação, na qual a interatividade possibilita diversos

caminhos de sentido e o texto desdobra-se frente ao leitor, perdendo a sua

demarcação em folhas e papéis. O leitor torna-se co-autor da obra, “A relação

entre o emissor e o receptor da mensagem é dissolvida, abrindo-se, assim, o

universo de criação e interpretação dos signos, inviabilizando a determinação

de um sentido prévio.” (Ibidem, p. 17). Assim, temos um novo modelo de

sociedade.

Quanto à educação, a mesma tem que se adaptar a essas formas de

comunicação.

Nesse ponto entra o papel dos educadores e da instituição escolar.

Torna-se primordial que o ensino siga essas novas tendências, direcionando o

aluno por meio das informações disponíveis por todo o meio tecnológico.

Na sociedade da informação todos estamos reaprendendo a conhecer, a

comunicar-nos, a ensinar e a aprender, a integrar o humano e o tecnológico; a

integrar o individual, o grupal e o social.

Uma mudança qualitativa no processo de ensino/aprendizagem

acontece quando conseguimos integrar dentro de uma visão inovadora todas

as tecnologias: as audiovisuais, as textuais, as orais, musicais, lúdicas e

corporais.
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Passa-se muito rapidamente do livro para a televisão e vídeo e destes

para o computador e a Internet, sem aprender e explorar todas as

possibilidades de cada meio.


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CAPÍTULO III -

A TECNOLOGIA E O CONHECIMENTO

“O que os professores fazem a cada dia de


sua vida profissional para enfrentar o
problema de ter que ensinar a um grupo de
estudantes determinados conteúdos, durante
certo tempo, com a finalidade de alcançar
determinadas metas, é conhecimento em
ação, é Tecnologia.”
Juana Maria Sancho

É certo que, com o advento da tecnologia, a maneira de aprender

também mudou. Após percebemos as mudanças que o computador

estabeleceu nas comunicações humanas, precisamos entender como se dá,

atualmente, a aprendizagem, para que a tecnologia possa ser utilizada de

forma a atender os objetivos da educação brasileira.

A tecnologia, desde sempre, afetou o homem. Desde a descoberta das

primeiras ferramentas até o computador, o ser humano mudou seus hábitos e

instituições. Todas essas descobertas eram (e ainda são) consideradas como


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extensões do próprio usuário, numa relação tão próxima que parece impossível

a vida sem esses recursos.

Essa mudança na relação do homem com a máquina muda também a

instituição escola. O ensino, hoje, não se limita a um local físico determinado.

Pode-se aprender à distância, em casa, no trabalho. Em qualquer lugar em que

haja acesso às informações. Dessa forma, não é apenas o homem que

modifica o mundo, mas as novas tecnologias modificam também o modo de se

adquirir conhecimento.

Diante dessa nova perspectiva, o ensino/aprendizagem não pode mais

seguir o modelo comportamentalista baseado na transmissão da informação,

segundo o qual o aluno é mero receptor do conhecimento que lhe é

apresentado pelo professor, impossibilitando o diálogo, a interação e a

interlocução. Esse tipo de pensamento não condiz com a natureza interativa da

tecnologia.

O modelo educacional baseado no construtivismo, sendo que o aluno é

o sujeito da sua própria aprendizagem, possibilita melhor aproximação entre o

ensino e a nova sociedade. Ao colocar em prática esse tipo de relação, o

professor possibilitará ao aluno o diálogo, a troca de informações; preparando-

o, deste modo, para a atual demanda social.

Tão importante quanto compreender como deve se dar o processo

ensino/aprendizagem é mudar os nossos conceitos antigos. Uma ferramenta

tecnológica na sala de aula não garante a interatividade no ensino. É primordial

que saibamos como utilizá-la, conforme afirma Juliane Corrêa:


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“Uma velha tecnologia dos centros urbanos, como o rádio,


pode ser uma inovação em determinados contextos sociais, e
uma nova tecnologia pode ser considerada velha porque não
modifica em nada as relações dos sujeitos envolvidos, como
muitas vezes ocorre com o datashow na sala de aula. O
atributo de velho ou novo não está no produto, no artefato em
si mesmo, ou na cronologia das invenções, mas depende da
significação do humano, do uso que fazemos dele”. (CORRÊA
apud COSCARELLI, 2003, p. 44)

Portanto, a mudança no processo de ensino está na relação entre

professor-aluno e novas tecnologias, e não no uso indiscriminado de

determinadas ferramentas educacionais. Deste modo, devemos ter em mente

que o homem, e somente ele, é o intermediário entre a tecnologia e os usos

que se faz dela. As tecnologias que possibilitam acesso à informação não são,

por si mesmas, pedagógicas. Necessitam de uma proposta que as utilize para

esse fim.

Como em tudo, na informática há também as visões céticas e otimistas.

Os céticos alegam que se as escolas não tem carteiras, giz nem

merenda e o professor ganha uma miséria, como falar em computador?

Acredita-se que se as escolas chegaram a este ponto, não foi por causa de

gastos com equipamentos, sejam eles de informática ou não. O fato é que se

elas não se modernizarem, acentuarão a distância existente entre a “idade” dos

métodos de ensino e a “idade” dos alunos. Ou seja, elas continuarão no século

18, enquanto os alunos vivem no século 21.


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Também argumentam que haveria uma desumanização com o uso da

máquina, com a eliminação do contato entre o aluno e o professor.

Mais uma vez encontra-se um argumento frágil contra o uso da

informática. O aluno de fato somente irá prescindir do contato com o professor

se este se restringir a transmitir informações e conhecimentos, os céticos, por

sinal, estão presos a este modelo instrucionalista e temem, portanto, a perda

do papel tradicional do professor. Não se pretende, tampouco que um aluno

permaneça 10 ou 12 horas diante de um computador. Portanto a

desumanização informática tem a mesma probabilidade de ocorrer como em

qualquer uso exagerado de aparatos tecnológicos, como televisão, música etc.

Já numa visão otimista, o computador fará parte de nossa vida e a

escola deve lidar com essa tecnologia. Muitas escolas introduzem o

computador como disciplina curricular, dissociada de sua utilização em outras

perspectivas e disciplinas.
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CAPÍTULO IV -

A UTILIZAÇÃO DA TECNOLOGIA NA ESCOLA

“A informática é a última, até a data, dessas


grandes invenções que têm ritmado o
desenvolvimento da espécie humana,
reorganizando sua cultura e abrindo-lhe uma
nova temporalidade.”
Pierre Lévy

O professor atua, nesse novo modelo de ensino, como um mediador,

tratando as informações pedagogicamente para que se transformem em

conhecimento e o aluno atue como sujeito que tem criatividade e

expressividade. Para que isso ocorra, precisamos, portanto, analisar de que

modo podemos utilizar as novas tecnologias no processo de aprendizagem.

O professor tem grande leque de opções metodológicas, de

possibilidades de organizar sua comunicação com os alunos, de introduzir um

tema.
26

Cada docente pode encontrar sua forma mais adequada de integrar as

várias tecnologias e procedimentos metodológicos.

A primeira divisão, quanto à natureza dos softwares, diz respeito à

utilização de ferramentas próprias do computador, podendo ser para

aprendizagem de uso da própria ferramenta ou com intenção de ressaltar os

pontos de uma outra matéria. Um exemplo disso é o editor de texto que,

enquanto pode ser utilizado para ensinar redação, por exemplo, pode ser

usado para familiarizar o aluno com essa nova apresentação de textos. Isso

sem falar nos softwares educativos, desenvolvidos especificamente com o

intuito de serem utilizados na escola, como o Logo:

“Esse software foi a primeira linguagem de programação


desenvolvida para crianças. Essa linguagem foi criada por
Seymour Papert (1986). Adapta-se perfeitamente às escolas
que trabalham em ambiente construtivista, sendo, também,
recomendado para trabalho com crianças que possuem
dificuldade de aprendizagem.” (TAJRA, 2004, p. 52)

Além disso, muitas escolas já trabalham com seus próprios softwares e

também com suas páginas na Web, na qual disponibilizam atividades

interativas, criando assim um vínculo com o aluno que ultrapassa o limite físico

e espacial da escola em si, proporcionando uma continuidade no processo de

ensino. Entretanto, devemos sempre recordar que não basta a utilização

desses recursos para que a escola consiga se adaptar às novas exigências da

sociedade. A forma como se utilizam essas ferramentas é mais importante do

que a tecnologia em si.

É importante dedicar um espaço para refletirmos acerca da Internet.

Sendo hoje um dos principais meios de comunicação existentes, a rede é uma

das ferramentas mais utilizadas na prática pedagógica, por seu caráter ágil e
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abrangente. Essa ferramenta criou novos tipos de texto, como os blogs, chats,

e-mail, hipertextos, fotolog. Esses textos são atrativos por serem dinâmicos e,

portanto, grandes aliados na hora de seduzir adolescentes. Se utilizados

conscientemente, podem render trabalhos interessantes na complementação

de ensino ou até mesmo em projetos.

Sem contar que, por meio de correio eletrônico, fóruns ou mensagens

instantâneas, um grupo pode trabalhar coletivamente sem ocupar o mesmo

espaço, vencendo barreiras que antes eram empecilhos para trabalhos em

grupos.

A forma de se trabalhar muda, assim como a leitura se modifica. Ela

deixa de ser linear e passa a contar com as escolhas do leitor.

O professor pode criar uma página pessoal na internet, como espaço

virtual de encontro e divulgação, um lugar de referência para cada matéria e

para cada aluno. Essa página pode ampliar o alcance do trabalho do professor,

de divulgação de suas idéias e propostas, de contato com pessoas fora da

universidade ou escola. Num primeiro momento a página pessoal é importante

como referência virtual, como ponto de encontro permanente entre ele e os

alunos.

O importante é que professor e alunos tenham um espaço, além do

presencial, de encontro e visibilização virtual.

A leitura, portanto, também adquire esse caráter interativo, de escolhas.

O caminho escolhido pode fazer com que um mesmo texto, lido por pessoas

diferentes, não seja igual. Isso pode tanto enriquecer uma leitura, pois lhe dá
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subsídios para um entendimento mais eficaz, como empobrecê-la, se o leitor

não souber seguir seu direcionamento e acabar se perdendo em meio ao

emaranhado de informações fornecidas.

Cabe ao professor, portanto, a tarefa de direcionar seus alunos e

mostrar como podemos selecionar, no mar de informações que é a Internet, as

ondas que devemos confiar.

O professor procura ajudar a contextualização, a ampliar o universo

alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no

conjunto das informações trazidas.

Quanto à natureza da proposta pedagógica, o uso das novas tecnologias

pode ser feito com o intuito de reforçar a ação de determinada matéria,

realizando assim uma ação isolada de cada professor, ou também pode ser um

meio de integração entre as disciplinas, através dos projetos. Desse modo, o

caráter construtivista é mais acentuado, pois garante a interdisciplinaridade,

aproximando o modelo de ensino aos novos modos de leitura e entendimento

do mundo.

Percebemos, assim, que ao utilizar o computador como ferramenta para

projetos educacionais, desde que bem estruturados, o conhecimento se dá de

forma circular, ou seja, abrange todas as disciplinas e temas eventualmente

trabalhados.

Em se tratando do ambiente de informática, a utilização da tecnologia

pode ser de forma a respeitar horários pré-estabelecidos e lugares

determinados, como aulas de informática na grade curricular, como também


29

pode seguir a necessidade do professor de outras matérias, que queiram

utilizar esse auxiliar em suas aulas.

Por fim, quanto ao objetivo da aplicação, a informática pode ser vista

como um meio de complementação para as matérias já utilizadas ou como

instrumento para aprender a utilização do computador em si, tendo em vista

preparar o aluno para as necessidades da sociedade.


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CONCLUSÃO

“Pensar é procurar por si próprio, é criticar


livremente e é demonstrar de forma
autônoma. O pensamento supõe então o jogo
livre das funções intelectuais e não o trabalho
sob pressão e a repetição verbal.”
Jean Piaget

Durante muitos anos, o homem procura no progresso o conforto para

sua vida e a evolução de sua espécie. Ignorar essa busca é ignorar a nossa

história, a nossa raça.

A escola, como era conhecida há anos atrás, já não deve mais existir.

Antigamente, o processo de ensino se baseava na repetição.

Hoje, com tantas informações disponíveis, os educadores lutam para

não serem esquecidos ou considerados como os únicos representantes de um

tipo de pensamento já ultrapassado.


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A solução, portanto, é utilizar esse progresso humano para desenvolver

e melhorar o ensino garantindo, assim, a formação de cidadãos conscientes e

de seres pensantes, prontos para enfrentar a sociedade da mudança e

continuar com a evolução do ser humano.

Para utilizar essas novas tecnologias precisamos, primeiramente,

conhecê-las. Existe ainda um despreparo do professor em face das novas

tecnologias, o que exigiria uma capacitação consciente do professor quanto a

contribuição pedagógica das novas tecnologias na construção do

conhecimento pelo aluno. Sabendo o que há de novo e como podemos usar

tais ferramentas, otimizamos o nosso conhecimento e podemos ser os

mediadores dessa nova geração.

Segundo Humberto Torres Marques Neto, (apud COSCARELLI, 2003, p.

62), “O uso da tecnologia da informação no processo ensino/aprendizagem cria

novas condições de produção de conhecimento”. Ou seja, precisamos nos

adaptar a essas tecnologias para garantir essa nova produção do saber.

Profissionais preparados, que saibam lidar com os tipos de textos, com a

rapidez da rede, com o dinamismo da multimídia, serão capazes de preparar

seu aluno e permitir que ele construa um conhecimento sólido, permanente.

Os discentes, mesmo que não saibam tecnicamente que, atividades

propor com o uso da informática, pode desenvolver o pensamento abstrato e

com isso a consolidação de um conhecimento.

Muito tem sido investido na área de informática tecnológica. Há uma

sensibilização governamental quanto ao potencial educacional da ferramenta

computacional sobretudo na área do ensino a distância.


32

Pesquisas sobre esse assunto devem ser o estímulo e a inquietação

para motivar a mudança da prática educacional e criação de uma nova

proposta sócio-educativa de inclusão tecnológica.

Contudo, não há um consenso por parte daqueles que são os maiores

responsáveis pelo sucesso do aluno: os professores.

Portanto, cabe a nós, professores, estarmos conectados à sociedade,

para não afastarmos o conteúdo programático escolar da vida real do aluno

permitindo, assim, tornarem seres pensantes, criativos e dinâmicos.

Pois educar é colaborar para que professor e alunos nas escolas e

organizações transformem suas vidas em processos permanentes de

aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu

caminho pessoal e profissional do seu projeto de vida, no desenvolvimento das

habilidades de compreensão, emoção e comunicação que lhes permitam

encontrar seus espaços pessoais, sociais e profissionais e tornar-se cidadãos

realizados e produtivos.
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REFERÊNCIAS

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