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No processo histórico da civilização humana observamos que sempre uma

determinada parcela da sociedade era privada, ou melhor, excluída de


participar da sociedade a qual pertenciam.

Diante das transformações ocorridas com a globalização da economia e das


tecnologias da informação e comunicação, a sociedade requer um
novo perfil de cidadão que seja capaz de desenvolver as mais
variadas habilidades para atender a uma necessidade de mercado.

Chesnais (1997, p.46) utiliza-se do termo mundialização do capital para designar um


modo de funcionamento específico do capitalismo predominantemente financeiro e
rentista, situado no quadro ou no prolongamento direto do estágio do imperialismo.

De acordo com o autor, a chamada globalização não tem nada a ver com um
processo de integração mundial que seria um portador de uma repartição menos
desigual das riquezas. Ao contrário, a mundialização, nascida da liberalização
e da desregulamentação, "liberou todas as tendências à polarização e à
desigualdade que haviam sido contidas, com dificuldades, no decorrer da
fase precedente" (CHESNAIS,2001, p.12).

O que significa dizer que a "homogeneização, da qual a mundialização do


capital é portadora no plano de certos objetos de consumo e de modos de
dominação ideológicos por meio das tecnologias e da mídia, permite a
completa heterogeneidade e a desigualdade das economias". O resultado é
"a polarização da riqueza em um pólo social (que é também espacial), e no
outro pólo, a polarização da pobreza e da miséria mais desumana”
(CHESNAIS, 2001, p.13).

Exatamente nesse contexto de exacerbação da desigualdade, da exclusão, da


marginalização social e econômica de imensas parcelas da população mundial,
ao ser apropriado no campo das políticas, “o conceito inclusão, nas suas
diferentes expressões (social, educacional, escolar, entre outras), aparece
acompanhado de uma aura de ‘inovação’ e ‘revolução’, até mesmo como ‘novo
paradigma’ social”. Embora “suas raízes pareçam estar em uma matriz de
pensamento que explica de maneira mecânica as relações sociais, e de ter
sido originado numa compreensão que privilegia a manutenção da organização
social vigente”, atualmente, o termo vem assumindo o significado de “algo que
pode superar a ordem social estabelecida”, sendo “apresentado como solução
para a exclusão social” (GARCIA, 2004, p.24).

A inclusão pressupõe incluir todos aqueles indivíduos que se encontram


excluídos de participação da sociedade, independentemente de sua posição
social, sem qualquer distinção de cor, gênero e classe.

O conceito de inclusão se expande à medida que não somente defende grupos


de pessoas com deficiência, mas também reivindica igualdade de direitos para
todos os cidadãos que, por um motivo qualquer, estejam excluídos de um
ambiente social e dos serviços oferecidos pela sociedade. Caminha, portanto,
no sentido de uma “sociedade para todos” e do reconhecimento de que a
sociedade deve ser plural e aberta às diferenças.

A frase “sociedade para todos” parte do ideário da inclusão social e


educacional, defendido em âmbito nacional e internacional, torna-se um dos
pontos principais de consolidação dos preceitos de uma sociedade justa,
igualitária e aberta à diversidade. Em conformidade com essa perspectiva, as
políticas públicas brasileiras para a Educação Especial formulada e
implementada no período pós-1990, se fundamentam em princípios
integradores firmados nas declarações e recomendações balizadas nas
conferências mundiais de educação.

Os preceitos defendidos na Conferência Mundial de Educação para Todos e na


Declaração de Salamanca orientam-se pela necessidade de mudança da
perspectiva social, no sentido de intervir nas condições de segregação nas
quais têm sido relegadas não só as pessoas com deficiência, mas também os
grupos considerados minoritários. Essa intervenção está ancorada
fundamentalmente em questões de ordem humanitária, prescrevendo-se a
necessidade de formação de valores como o altruísmo, a tolerância, a
solidariedade, bem como a formação de atitudes de não discriminação.
A nova proposta de educação inclusiva proclamou, entre outros princípios, o
direito de todos a educação, independentemente das diferenças individuais,
esta declaração teve como escopo a Conferência Mundial sobre a Educação
para Todos (1990). A educação inclusiva indica que todas as pessoas com
necessidades educacionais especiais sejam matriculadas nas escolas regular,
baseando-se no princípio de educação para todos.

É com base nesse principio que o direito a oportunidades iguais e igualitárias


para todos, se fundamenta em um princípio mais coerente com uma sociedade
aberta às diferenças, que busca o reconhecimento e a valorização do indivíduo
através da aceitação da diversidade humana, uma vez que tal princípio supõe
que: [...] cada pessoa deve ter a oportunidade real de desenvolver suas capacidades
particulares de um modo satisfatório. É o principio a partir do qual cada um se vê
reconhecido do direito de se beneficiar das fontes necessárias para o seu
desenvolvimento (p.59).

Baseados na idéia de uma sociedade plural, que respeita e valoriza as


diferenças e no direito a oportunidades iguais e igualitárias para todos, é que
Educação Inclusiva exige o atendimento de Necessidades Especiais, não
apenas dos portadores de deficiências, mas de todas as crianças.

Como bem retrata o conceito de NEE (Educação das Necessidades


Educacionais Especiais), se estende além daqueles estudantes que podem
estar incluídos nas categorias de deficiência abrange todos os estudantes que
estão fracassando nas escolas por uma ampla variedade de razões que são
conhecidas por impedirem o progresso máximo da criança.

A inclusão educacional busca garantir do acesso aos conteúdos básicos que a


escolarização deve proporcionar a todos os indivíduos – inclusive àqueles com
necessidades educacionais especiais que apresentam:
• altas habilidades, precocidade, superdotação;
• condutas típicas de síndromes/quadros psicológicos, neurológicos ou
psiquiátricos;
• portadores de deficiências que apresentam significativas diferenças físicas,
sensoriais ou intelectuais, decorrentes de fatores genéticos, inatos ou
ambientais, de caráter temporário ou permanente e que, em interação dinâmica
com fatores socioambientais, resultam em necessidades muito diferenciadas
da maioria das pessoas.

A (UNESCO) alerta que “o princípio fundamental das escolas inclusivas


consiste em todos os alunos aprenderem juntos, independentemente das
dificuldades e das diferenças que apresentem. Estas escolas devem
reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos seus alunos, adaptando-
se aos vários ritmos e estilos de aprendizagem, de modo a garantir um bom
nível de aprendizagem para todos”.1994: p.11)

Para que realmente isto aconteça é necessário rompermos com os paradigmas


conservadores que permeiam o ambiente, e termos uma gestão escolar
comprometida com esta nova concepção de educar. Fomentando ações que
possibilitem uma construção coletiva deste saber.

Dentre as ações podemos citar:

 Fomentar atitudes pró-ativas das famílias, alunos, professores e da


comunidade escolar em geral;
 Superar os obstáculos da ignorância, do medo e do preconceito;
 Divulgar os serviços e recursos educacionais existentes;
 Difundir experiências bem sucedidas de educação inclusiva;
 Estimular o trabalho voluntário no apoio à inclusão escolar

Isso implicaria trabalhar com a diversidade, de forma interativa, a escola e seus


setores de forma sensível. Deve estar orientada para o acolhimento, aceitação,
esforço coletivo e equiparação de oportunidades de desenvolvimento. Requer
que as crianças portadoras de necessidades especiais saiam da exclusão e
participem de classes comuns. Para isso, é necessário um diagnóstico
cuidadoso que levante as necessidades específicas de cada criança.
Para tanto é preciso desenvolver uma Cultura Inclusiva: mudando a crença, o
olhar dos educadores, criando uma escola acolhedora; Uma Política Inclusiva:
que permita uma formação continuada desenvolvendo uma colaboração e do
apoio mutuo. E uma
Prática Inclusiva: enfocando o que o aluno sabe ou é capaz de realizar,
compartilhar poder e promover a autonomia na aprendizagem.
Se desejarmos construir um mundo onde a segregação seja superada na
relação entre os povos e nações; se quisermos transformar a sociedade de
modo que a solidariedade, a cooperação, o respeito às diferenças, conduzam a
uma convivência de compreensão, tolerância e acolhimento; devemos também
e sobre tudo na escola, começar a cultivar e a vivenciar a valorização da
diversidade humana em todas as suas formas.

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