Você está na página 1de 2

PEDRO CALAPEZ - Descontinuidades

“Contempla-se um quadro e é como se estivéssemos olhos nos


olhos com alguém”
Arikha, “Peinture et regard”

O corte de uma superfície implica a obtenção de dois lados, que


partem dos bordos resultantes. O encaixe perfeito é agora mediado
por um espaço, um intervalo. O que uma superfície contém não
continua na superfície adjacente mas o arrastar do olhar tenta,
apesar do salto que irá sofrer, combinar essa descontinuidade pela
associação dum pensamento, duma forma, duma cor. Por vezes
esse segundo bordo é deformado no processo. O não encaixe torna
mais complexo o funcionamento do olhar pois a “distância” do que
se encontra dum lado e do outro é agora maior. Outros acidentes
ajudam a tornar produtivos o registo do que se não continua.
Tenta-se compreender o fluir da pintura.
Mas por vezes a superfície não chega a ser cortada, encontra-se
apenas deformada, ondulada. A descontinuidade surge nessa
variação de profundidades ou na sinuosidade de um contorno que
suavemente ou abruptamente impõe um novo registo ao olhar.

As minhas recentes pinturas dialogam estes aspectos. Intentam


questionar o olhar para além do conteúdo das imagens.
Os títulos referem objectos, dispositivos de ostentação ou
ornamentação, sistemas descritivos, topografias.
O pintado evoca fluidez ou interrupção, conjunção ou sobreposição,
opacidade e transparência, manualidade e mecanismo. Os suportes
sugerem separação ou união, planura ou profundidade.

O olhar saberá o que fazer.

Lisboa, Fevereiro 2010


www.calapez.com
en castellano:

PEDRO CALAPEZ - Discontinuidades

“Se contempla un cuadro e es cómo si estuviéramos ojo a ojo con alguien”


Arikha, “Peinture et regard”

El corte de una superficie implica la obtención de dos lados, que parten de los
bordes resultantes. El encaje perfecto es ahora mediado por un espacio, un
intervalo. Lo que una superficie contiene no sigue en la superficie adyacente
pero el arrastrar de la mirada intenta, a pesar del salto que irá sufrir, combinar
esa discontinuidad por la asociación de un pensamiento, de una forma, de un
color. A veces ese segundo borde es deformado en el proceso. El no encaje
hace más complejo el funcionamiento de la mirada pues la “distancia” del que
se encuentra de un lado o a otro es ahora mayor. Otros accidentes ayudan a
hacer productivo el registro del que no se continúa.
Se intenta comprender el fluir de la pintura.
Pero a veces la superficie no llega a ser cortada, se encuentra apenas
deformada, ondulada. La discontinuidad surge en esa variación de
profundidades o en la sinuosidad de un contorno que suavemente o
abruptamente impone un nuevo registro a la mirada.

Mis recientes pinturas dialogan estos aspectos. Intentan cuestionar la mirada


más allá del contenido de las imágenes.
Los títulos refieren objetos, dispositivos de ostentación u ornamentación,
sistemas descriptivos, topografías.
Lo pintado evoca fluidez o interrupción, conjunción o superposición, opacidad
y transparencia, manualidad y mecanismo. Los soportes sugieren separación
o unión, llanura o profundidad.

La mirada sabrá que hacer.

Lisboa, Febrero 2010


www.calapez.com

Traducción:
Sofía Hauser

Você também pode gostar