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1. INTRODUÇÃO
O artigo 74, § 2º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), determina ser obrigatória a
manutenção dos registros dos horários de entrada e saída dos trabalhadores para aqueles
empregadores com de dez empregados, facultando para tal fim, a adoção do meio de
registro manual, mecânico ou eletrônico.
Pouco tem sido debatido a questão do meio de prova ao se tratar de registros eletrônicos da
jornada. Comumente as empresas, quando instadas em juízo a comprovar a jornada
trabalhada pelos seus empregados, juntam aos autos os espelhos do ponto eletrônico, ou
seja, os impressos em papel onde constam os dados registrados por meio eletrônico.
O que se pretende debater no presente estudo se refere justamente ao meio hábil de prova
de tais registros eletrônicos cuja manutenção é determinada pela CLT.
A pergunta a que se propõe o presente estudo responder é justamente qual o meio de prova
hábil para trazer ao processo os dados dos registros de entrada e saída dos empregados do
trabalho quando a empresa adota o sistema eletrônico de registro de ponto.
Até então pouco debatido o assunto, a juntada dos impressos em papel dos registros
eletrônicos de jornada tem sido aceito como meio de prova sem maiores dificuldades. No
entanto, também é verdadeira a afirmativa de que cada vez mais, tais documentos são
impugnados no seu conteúdo pelo trabalhador. Freqüente a alegação de fraude e não
representatividade da realidade fática de tais registros, ante a fácil manipulação de seus
dados por softwares de fácil e amplo acesso.
A atividade forense mais do que qualquer outro serviço público precisa ser documentada a
fim de que os atos processuais sejam devidamente registrados, permitindo, assim, que deles
se tenha conhecimento (publicidade), e seja possível, sempre, a consulta do verdadeiro
conteúdo (segurança).
Nos dias de hoje, diante da alta tecnologia eletrônica, para fins de desburocratização e
conseqüente simplificação e agilização do serviço forense, tem-se a imperiosa necessidade
da informatização do serviço judicial.
Cândido Rangel Dinamarco[2] falando sobre esse novo modo de transmissão de petições e
documentos, ao tratar da segurança processual, leciona:
Não obstante doutrinadores, como o acima citado, apregoem que deve ser deixado de lado o
extremo apego ao requisito da segurança, tem-se que sequer tal ilação se faz necessária.
O meio eletrônico se demonstra cada vez mais seguro que o próprio meio papel. Não
podemos esquecer que toda a economia do País, senão do planeta, está virtualmente
documentada nos bancos de dados do sistema financeiro. O manuseio do papel moeda é
algo raro nos negócios jurídicos. Cada vez mais é utilizado o meio virtual, onde a via
eletrônica das operações é a regra no sistema financeiro mundial.
A Lei 11.419 de 19 de dezembro de 2006 autoriza e regula amplamente a utilização dos
meios eletrônicos no âmbito processual introduzindo profundas alterações no Código de
Processo Civil (CPC), criando o processo totalmente eletrônico já denominado de processo
virtual.
Referido estatuto legal, através do seu artigo 2º, inseriu o parágrafo único ao artigo 154 do
CPC, determinando que “Os tribunais, no âmbito da respectiva jurisdição, poderão disciplinar
a prática e a comunicação oficial dos atos processuais por meios eletrônicos, atendidos os
requisitos de autenticidade, integridade, validade jurídica e interoperabilidade da Infra-
Estrutura de Chaves Públicas Brasileira -ICP – Brasil”, autorizando, deste modo, a utilização
do meio eletrônico para a pratica de atos do processo.
3. O DOCUMENTO ELETRÔNICO
Greco Filho[4] esclarece que “documento liga-se a idéia de papel escrito. Contudo, não
apenas os papéis escritos são documentos”. “Documento é todo objeto do qual se extraem
fatos em virtude da existência de símbolos, ou sinais gráficos, mecânicos, eletromagnéticos
etc.”
Em tal sentido, o que caracteriza algo como documento não é seu meio de visualização ou a
forma de concreção no mundo real, ou ainda, a espécie de símbolos ou o meio de
armazenagem utilizado para transmitir o fato ou idéia (símbolos sobre um papel transmitindo
alguma informação é um documento tanto quanto, símbolos entalhados em uma pedra).
Nesse sentido a gravação de áudio ou vídeo em uma fita magnética, um filme fotográfico, ou
ainda, um DVD onde restam armazenadas informações por meio digital, são
indubitavelmente, documentos.
Quanto ao autor o documento pode ser: a) público quando produzido por quem esteja no
exercício de uma função pública que o autorize a formá-lo, como o tabelião; b) privado
quando produzido por um particular ou mesmo por oficial público que não esteja agindo
nessa qualidade; c) autótrofo quando há identidade entre o autor do documento e o autor do
fato documentado, tal como ocorre de ordinário com os escritos particulares; d) heterógrafo
quando o autor do documento é terceiro em relação ao fato documentado, como ocorre
comumente nos documentos públicos.
Os documentos podem ser: a) formais quando possuem eficácia de valer como prova do
fato; b) não formais quando sua forma é livre, donde o fato declarado deve ser provado pelos
meios admissíveis de prova em direito.
Desta feita, o uso do meio eletrônico para a prática dos atos processuais, em especial aquele
objeto do presente estudo - a prova da jornada de trabalho - se encontra em perfeita
consonância com a legislação vigente e os requisitos de segurança jurídica, e, portanto,
aplicável por expressa disposição legal contida no artigo 1º, §1º da Lei 11.419 de 19 de
dezembro de 2006, ao procedimento judicial trabalhista, objeto do presente estudo.
O artigo 1º, § 2º, inciso I da Lei 11.419 de 19 de dezembro de 2006, define como meio
eletrônico qualquer forma de armazenamento ou tráfego de documentos e arquivos digitais,
sendo certo que o meio impresso em papel perde suas característica de “forma de
armazenamento ou tráfego” de arquivos digitais. Deixa tal documento de ser um arquivo
digital, e, portanto, deixa de ser o documento cuja autoria é do empregado e em face dele
pode ser invocado como prova da jornada, revelando, assim, mero impresso de produção
unilateral da própria parte que o invoca, não servindo como meio de prova oponível em face
da parte adversa que não o produziu se esta não lhe admitir o conteúdo.
Vale aqui citar, por perfeitamente aplicável à espécie, os termos dos artigos 383 e 385, § 1º
do CPC, ao se tratar de documento eletrônico:
O impresso dos dados do ponto em meio papel somente possui eficácia probatória quando
não impugnado pela parte adversa. O registro do ponto eletrônico a que se refere o
parágrafo segundo do artigo 74 da CLT é aquele que consta armazenado no próprio software
que o gerou, no seu banco de dados, sendo esse, portanto, que deve vir aos autos do
processo.
O Código Civil, no artigo 212, consagra o preceito de que havendo forma determinada para o
negócio jurídico, esta será o seu meio de prova.
Nos termos da Lei 11.419/2006 que trata da informatização do processo judicial, o termo
assinatura eletrônica se refere a identificação inequívoca do signatário do documento
eletrônico:
Art. 1o [..]
§ 2o Para o disposto nesta Lei, considera-se:
III - assinatura eletrônica as seguintes formas de identificação
inequívoca do signatário:
a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por
Autoridade Certificadora credenciada, na forma de lei específica;
b) mediante cadastro de usuário no Poder Judiciário, conforme
disciplinado pelos órgãos respectivos.
Observa-se, outrossim, que não basta vir ao processo o arquivo digital dos registros do ponto
isoladamente, eis que a garantia de integridade e contra acesso não autorizado há de ser
verificada através da leitura do documento no próprio software que o gerou, de modo a ser
possível verificar se este contempla com meio de segurança, a impossibilidade de
adulteração dos dados sem deixar vestígios. Os requisitos de validade do documento
eletrônico, não se limitam, assim, ao banco de registros, mas ainda, e principalmente, ao
software que o gerou, o que poderá ser apurado em perícia técnica se necessário.
6. CONCLUSÃO
Em síntese, pode-se afirmar que a legislação pátria, no artigo 74 da CLT, torna obrigatório ao
empregador com mais de dez empregados a manutenção de registros dos horários de
entrada e saída dos empregados, facultada a adoção do meio eletrônico para tal controle.
A forma impressa em papel de tais registros de horário somente terão validade se a parte
litigante adversa concordar em juízo com o seu conteúdo.
O documento eletrônico apresentado ao juízo como prova da jornada, deverá ser dotado dos
requisitos de garantia de autenticidade e integridade pelo uso de práticas eletrônicas
disponíveis. Deverá, ainda, o documento eletrônico contar com proteção contra acesso não
autorizado, permitindo a identificação segura dos intervenientes a partir de sinal ou sinais
particulares, pelo uso de assinatura eletrônica identificável, bem como, revestir-se da
qualidade de que não pode ser adulterado sem deixar vestígios localizáveis. Não atendidos
tais requisitos, não estará o empregador produzindo prova válida dos registros de jornada
pelo meio eletrônico adotado.
Nesse sentido opinamos que embora o Juiz não possa exigir do empregador o uso de
assinatura digital no ponto eletrônico, é amplo o amparo legal que possui para exigir da parte
processual, como o faz em toda e qualquer prova dos autos, a autenticidade da prova,
rechaçando o documento falso.
Em eventual prova pericial, mesmo que comprovada a autoria dos registros pelo empregado
e mesmo não sejam identificados rastros de adulteração no banco de dados, tal somente
conduzirá a conclusão da integridade do documento eletrônico, se através do exame do
banco de dados e do próprio software que o gerou, for possível concluir pela impossibilidade
de adulterações sem deixar vestígios – proteção contra acesso não autorizado, atendendo
assim, a tríplice exigência legal.
6. REFERÊNCIAS
BRASIL. Código de Processo Civil. Texto compilado. Lei 5.869 de 11/01/1973. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/codigos/>. Acesso em: 12 jul. 2008.
BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Texto compilado. Del 5.452 de 01/05/1943.
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/codigos/>. Acesso em: 12 jul. 2008.
GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 11. ed. São Paulo: Saraiva,
1996.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 26. ed. São Paulo: Malheiros,
2001.
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. 17. ed. São
Paulo: Saraiva, 1994.
[1] CHAVES, Luciano Athayde (Org.). Direito Processual do Trabalho – Reforma e Efetividade: Informatização
do Processo. São Paulo: LTr, 2007. p. 415-429.
[2] CHAVES, Luciano Athayde (Org.). Direito Processual do Trabalho – Reforma e Efetividade: Informatização
do Processo. São Paulo: LTr, 2007. p. 431.
[3] SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 1994. v.
1, p.386-387.
[4] GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 1996. v. 2, p. 224.
[5] CLEMENTINO, Edilberto Barbosa. Processo Judicial Eletrônico. Curitiba: Juruá. 2007. p. 91-94.
[6] MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 90
[7] SANTOLIM, César V. M. Formação e Eficácia Probatória dos Contratos por Computador. São Paulo:
Saraiva, 1995. p. 3610 SOUZA, Carlos A P. de. Inovação Jurisprudencial no Campo do Direito da Tecnologia da
Informação. Polígrafo do Programa de Capacitação em Poder Judiciário. Inovação Jurisdicional. Rio de Janeiro:
FGV, 2008. p. 08.
[8] SOUZA, Carlos A P. de. Inovação Jurisprudencial no Campo do Direito da Tecnologia da Informação.
Polígrafo do Programa de Capacitação em Poder Judiciário. Inovação Jurisdicional. Rio de Janeiro: FGV, 2008.
p. 08.