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E DA FAMfLlA
NAS PSICOSES INFANTIS
Salvador A. H. Celia
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Para Anthony, as crianyas vulneráveis vivem em ambientes igual-
mente vulneráveis. É difícil avaliarmos se foi a falta de condiyoes emocio-
nais ambiental que deixoua crianya piorar, ou se foram as deficiencias cons-
titucionais dela que mais agravaram o quadro. Esses dois fatores se con-
jugam, formando urna ou mais estruturas relacionais que sao rigorosamente
interdependentes. Frequentemente, como é o caso da crianya psicótica, essa
estrutura está alterada, acarretando com isto distúrbios do comportamento
na crianya e nos familiares. Essas estruturas poderao sofrer influencias e até
serem modificadas pela conduta determinada por um novo elemento dentro
do campo de ayao, o terapeuta. Na prática, visamos o reforyo da crianya,
buscando melhorar sua personalidade, usando técnicas que atinjam a
crianya e seus familiares.
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A compreensáo da linguagem e da conduta, muitas vezes "metafó-
rica", usada pelo paciente e compreendida pelo terapeuta, pode ser que
seja a ponte ou a rela9ao inicial que unirá a crian9a a e1e, encurtando a <lis-
tancia e o isolamento afetivo a que a crian9a está submetida.
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Há necessidade do "cuidador" ser muito bem escolhido, podendo
ser um professor, um psicólogo, um pedagogo, um estudante em forma-
¡;ao e até mesmo uma babá especial, desde que se encontre em sua perso-
nalidade qualidades especiais para desenvolver essa importante tarefa ~
rnister salientar a importancia da fun¡;ao desempenhada pelo cuidador e as
possibilidades iatrogenicas que poderao ser desenvolvidas caso nao sejam
satisfeitas as fle~essidades básicas para um bom atendimento.
Foi entao marcada urna entrevista para Júlio que compareceu mos-
trando-se negativista e revoltado, pedindo constantemente para ir embora.
Ao sair, disse que nao mais voltaria e "ralhou" com os pais, pelo acontecido.
Foi visto que o encaminhamento por parte dos pais, para a entrevista, fora
mal feito, pois o menino foi apanhado de surpresa e mal informado. Tais
fatos trouxeram o aumento da desconfIan¡;a por parte do menino em rela-
¡;aOao seu futuro tratamento.
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do claro seu interesse pelo tratamento. Foi vista a necessidade de se usar
firmeza, fato esse que foi confundido com violencia, pois Júlio veio contra-
riado a consulta. Ao chegar, criou urna crise de agita~ao, amea~ando deses-
peradamente fugir do consu1tório, como já o fizera em outras situ~Oes em
locais diferentes. Foi necessário conte-lo, para que pelo menos pudesse en·
trar em seu automóvel com seguran~a, afim de que se evitasse maiores aci·
dentes.
Em face a recusa e a impossibilidade prática de Júlio ser atendido
em regime ambulatorial, o terapeuta passou a fazer visitas a sua casa, as
quais foram precedidas com amea~as de recusa de contato, fugas de casa,
etc ... Atualmente, já está ocorrendo a aceita~ao das visitas, sendo esta
demonstrada pela euforia de Júlio e seus irmaos com a chegada do terapeu-
ta. Enquanto seus pais conversam sobre as dificuldades do momento e re-
visam situa~oes de manejo ocorridas no presente e no passado, Júlio faz
uso constante de um telefone interno, através do qual procura rnanter
seus contatos com o terapeuta. Apresenta-se agora, segundo os familiares,
mais disposto, já comendo em companhia da famt1ia e principalmente as
escondidas, melhorando seus contatos sociais, trazendo em sua casa ou
mesmo voltando a visitar antigos companheiros. Todos esses contatos
assinalam a abertura das possibilidades de Júlio vir a conseguir se tratar,
ocorrendo no momento, um verdadeiro período de provas e testes, no sen-
tido de que conhe~a e sinta os verdadeiros interesses do terapeuta e de
seus pais.
Há, como se ve, em cada situa~ao, a necessidade de se criar estra-
tégias que possam favorecer as abordagens terapéuticas que devem estar
baseadas nos conhecimentos psicodinamicos, mas cuja fonna de agir é es-
tritamente individual.
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Certas crianyas, com déficits constitucionais, sao fatores "stres-
santes" permanentes a seus pais que sao submetidos a verdadeiros desafios
de suas capacidades adaptativas. Quando nao compreendidas e atendidas
em suas necessidades, elaS podem ter seu quadro emocional agravado,
chegando mesmo a um estado psicótico. Nossa intenyao é de colocar os
pais como "agentes terapéuticos", pois desde logo sabemos, pelas experien-
cias vivenciadas, quao complexa é a situayao de manejo, tanto para os pais,
como para a equipe técnica, na abordagem da crianya psicótica. Além dis-
to, em sua grande maioria, as crianyas vivem e por isto passam a maior par-
te do tempo em suas casas com os seus familiares.
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dade do problema da crianya e da intensidade da estrutu~ funcional re-
sultante da interayao entre ela e os país. Igualmente, o nivel de sensibili-
dade deve ser avaliado, para ser transmitido o diagnóstico e o plano de a-
tendimento.
BffiLIOGRAFIA
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5 - CELIA, S: Conduta Médica frente a crian9a atípica - Relatório para o
IV Congresso Latino-Americano de Psiquiatria Infantil, 1977 - Belo
Horizonte
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