Justiça Voltando da minha caminhada matinal e parando no jornaleiro da esqu ina, não pude deixar de notar, num relance, que esse caso do julgamento do pai e da madrasta da menina que, supostamente, foi torturada e jogada da janela do ap artamento onde morava, em São Paulo, cobre a capa dos nossos periódicos. O jorn aleiro, que é meu conhecido há anos, pergunta, pela enésima vez, minha opinião: “Mataram a filha ou não mataram?” Como ele bem sabe que eu não estava presente n o local, desconheço qualquer um dos acusados ou mesmo a vítima e que, portanto, não posso testemunhar esclarecendo nada, creio que esteja confundindo tarólogo c om vidente ou adivinho. Simpaticamente esquivo-me de responder qualquer coisa, d igo que estou com muita pressa para chegar em casa e redigir esta postagem, e ba to em retirada, com um calhamaço de material de leitura debaixo do braço, ouvind o-o repetir a mesma pergunta para pessoas muito mais sábias, portadoras de opini ões definitivas e conclusivas e de informações amealhadas sei lá eu onde. Agora que o esse infeliz e terrível evento chegou a julgamento propriament e dito, somos novamente bombardeados, por todas as emissoras de TV, em todos os programas, a qualquer hora do dia, em edições extra, que fornecem material para conversas e apostas, suposições e certezas radicais. Não houve local onde eu tiv esse estado nos últimos dias em que esse assunto, num determinado momento, não v iesse à toda e inflamasse os ânimos. Muito natural pois duvido que haja alguém q ue fique indiferente à esse tipo de situação. Quando pensamos em Justiça é difícil não associarmos à idéia de crime e cas tigo, erro e punição, causa e efeito, aqui se faz e aqui se paga. E ela é tudo i sso, e muito mais. É, sobretudo, a idéia de equilibrarmos os prós e os contras; de vermos, isentos de tendências, os dois lados de uma mesma questão; de investi garmos o que há por trás das ações cometidas e que as arrazoem. A Justiça, chama da “dos homens”, essa que tem tribunais, acusadores, defensores, juízes e testem unhas, é a física. Existe uma outra, espiritual, que faz parte da nossa alma, qu e regula as nossas atividades psíquicas, que nos equilibra interiormente, e é es sa que, mais frequentemente, o Arcano VIII do tarot, simboliza. Métis engravidou de Zeus, mas o Oráculo predisse que essa criança iria ser mais poderosa do que ele. Para evitar esse confronto, ele Zeus engoliu Métis, f azendo com que a gestação ocorresse dentro dele, mais especificamente em sua cab eça. Chegado o momento do parto e sentindo fortíssimas dores na fronte, ele pede a Hefestos (Vulcano), o ferreiro divino, que lhe abra a fronte com um machado. Isso feito, de dentro da cabeça de Zeus surge adulta, altiva e armada, Palas Ath ena (Minerva). A jovem pede ao pai que lhe permita permanecer virgem (palas) pa ra sempre, pois só assim, longe das paixões, não se corromperia ou deixar-se-ia seduzir e perder a sua lógica, a sua razão. Essa deusa é um símbolo do combate p elo amor à verdade. Athena (Minerva) era irmã do solar Apolo, deus da harmonia em cujo templo, lia-se à entrada: “Conhece-te a ti mesmo”. O que isso significa? Que é necessári o que reconheçamos nossas verdades, saibamos quem somos realmente e coloquemos à s claras as nossas verdadeiras intenções. Devemos nos desmascarar frente a nós m esmos, não tentando encobrir nossos erros e defeitos, ou nossa índole, sob espes sa camada de desculpas e justificativas vãs. Palas Athena fazia-se acompanhar p or uma coruja, ave noturna cuja cabeça gira 360 e os olhos devassam a mais dens a escuridão garantindo que todos os detalhes, não importa o quão escondidos ou r emotos possam estar, serão vistos, coletados e analisados. Um escudo, com a cabe ça da Medusa incrustrada, fazia parte do figurino da deusa. Aí também reside uma mensagem pois, diante da Medusa, todos ficavam petrificados. Isso significa que somente aqueles cujas verdadeiras intensões não são motivadas por paixões, tend ências ou teimosia, não ficarão paralisados de medo e horror. E, como se todo es se aparato não bastasse, Niké, a deusa alada da vitória, era sua companheira con stante, como forma de reafirmar que a verdade sempre triunfa. Quando a carta da Justiça surge numa tiragem de tarot, dependendo do local onde ela ocupa e das demais cartas que a avizinham, além da questão proposta pel o consulente, pode significar que o consulente deve parar, dar um tempo e analis ar friamente a situação antes de prosseguir; situações legais (jurídicas) podem acontecer na vida do consulente; leia e estude detalhadamente documentos, propos tas e compromissos que tiver que assinar, dando seu parecer; tempo de ser honest o, responsável e justo; buscar seu centro físico, emocional e espiritual; prudên cia; procurar trilhar o caminho do meio, afastando-se das extremidades, dos 8 ou 800, dos excessos; é chegada a hora de colher o que foi semeado; justiça divina ; tomada de consciência, agir embasado pela consciência; sabedoria; fidelidade n o amor e nas amizades. Como todas as outras cartas do tarot, se mal dignificada numa leitura, pode estar alertando para o fato de perder uma ação legal nos tribunais; complicaçõe s que surgem devido a arbitragens incorretas; abuso do sistema legal; problemas prolongados nos relacionamentos; ficar aborrecido ao sentir-se avaliado; querer mudar o curso da ação para atrasar o processo de solução dos problemas; falso te stemunho; ser injusto, intolerante ou abusivo; preconceito; fanatismo; amor plat ônico; infidelidade; frigidez; querer ser o dono da verdade e forçá-la, despotic amente, aos demais; indecisão, perfeccionismo e inadequação; excessos; complicaç ões de todos os gêneros; azar; abuso do poder. Estejamos cônscios de que, não importa quem vença a batalha, é ele quem esc reverá a história. Toda luta, toda guerra, toda batalha, inclusive as legais são , ao mesmo tempo, uma vitória e um massacre, dependendo apenas do ponto de vista de quem dela participa. A Justiça pode existir à luz de diferentes pontos de vi sta . O que nos parece injusto num determinado momento e sob uma certa ótica, po de ser assumido como algo bastante justo, com o passar do tempo. O que a carta d a Justiça, no tarot, nos pede é que nos examinemos de forma lógica e bastante ob jetiva, que encontremos, em nós, a verdade e nada mais que a verdade, mesmo que a isso esteja condicionado o fato de termos de reconhecer que erramos e devemos corrigir o que fizemos. Como hoje é sábado, dia regido pelo controlador, porém sábio, Saturno, deve mos assumir as nossas responsabilidades, perdoarmos as nossas fraquezas frente a o nosso próprio tribunal, e nos disciplinarmos em busca de uma maior harmonia, u ma consolidação do nosso equilíbrio mental e espiritual. Que nossas ações e julg amentos sejam sempre feitos com sabedoria e amor, visando a harmonia e a coopera ção favorecidas por Libra, signo desse Arcano. Fica, como tema para uma possível meditação, um pequeno conto sufi: Certo dia, um juiz perguntou ao mestre Nasrudin:- Mestre, no caso de você te r de escolher entre a justiça e o dinheiro, o que você escolheria? - O dinheiro, é claro - respondeu Nasrudin, sem pestanejar. - O quê! - disse o juiz. Pois eu escolheria a justiça sem pensar duas vezes, porque a justiça não é fácil de ser encontrada, enquanto o dinheiro, este não é tão raro assim. Podemos encontrá-lo por aí sem grandes dificuldades. Estou sinc eramente espantado com a sua opção, Nasrudin. Não o julgava capaz de uma ambição , sendo um mestre! - Meritíssimo, cada um deseja aquilo que mais lhe falta! - respondeu tranqüi lamente o mestre Nasrudin. Imagem: TAROT NAMUR, por Prof. Namur Gopalla e Marta Leyrós (Academia de Cultura Arcanum) WWW.ELEMENTOSDOTAROT.COM.BR