Você está na página 1de 2

À volta do rio Almansor

De vez em quando o rio Almansor é objecto de uma iniciativa no sentido de


sensibilizar a população de Montemor para o estado em que este se encontra, que
como todos sabemos não é famoso. Desta vez a iniciativa coube ao PSD, que actuou
em conjunto com as Escolas, embora noutras alturas as outras forças políticas já se
tenham pronunciado sobre a necessidade de fazer algo por este curso de água.

Uma vez que num passado não muito distante o rio teve para com as gentes da cidade
uma forte relação, parece existir alguma nostalgia em relação a esses tempos e
principalmente a essa ligação. Por isso, quando hoje olhamos para o rio, é necessário
levar em consideração as razões que no passado estiveram na base dessa afinidade
entre a população e o Almansor. Se pensarmos um pouco, a sociedade que existiu em
Montemor nos anos 40, 50 e 60 do século XX e que se ligou ao rio não é mesma de
hoje. No passado, o Almansor não era apenas um curso de água, era também um sítio
onde as mães lavavam roupas e onde as crianças brincavam, o que foi um factor de
fortalecimento das relações de amizade. As margens do rio foram locais de trabalho e
locais de convívio que só por essa razão movimentavam muitas pessoas. Também ali
se moeu muito cereal que deu origem aos pães que alimentaram a população.

Nos dias de hoje, para além da questão da nostalgia existe a questão ambiental que
está cada vez mais na ordem do dia. Mas em relação ao rio Almansor, e de acordo
com as informações disponíveis, não existem estudos que possam concluir se o curso
de água pode ser considerado como poluído ou em estado de degradação. Como é
lógico o estado da água não é cristalino, como não é na maioria dos rios do nosso país,

1
mas não é por aí que poderemos considerar que o Almansor se encontra poluído.
Embora existam situações concretas e pontuais de poluição, como foi o caso noticiado
pela Folha em Fevereiro último, as conclusões nunca dão em nada e depois de
algumas chuvas o problema acaba por desaparecer e a tonalidade da água regressa ao
normal. Face ao caudal de água variar substancialmente nas épocas de Verão e de
Inverno, a poluição a que o rio Almansor está sujeito varia consoante o volume de
água e a época do ano. No Verão, a água é tão pouca que nem se consegue poluir.

Mas a questão central nesta matéria tem a ver com o que se quer para o rio e em que
locais. Face ao rio perfazer uma circunvalação à cidade, qualquer intervenção teria de
ter um local específico para ser feita, uma vez que é impossível intervir na totalidade
das margens. Ora este tipo de intervenção, que teria de ser efectuada à custa do
orçamento camarário, tem um custo significativo e um retorno mais do que duvidoso
pelo que a relação custo / benefício terá sempre de ser equacionada.

Do ponto de vista político, os


projectos e as intervenções sobre
esta matéria são sempre correctos.
Mas do ponto de vista da
população, será que as pessoas
estão minimamente interessadas
em ter um rio Almansor
diferente? Será que as questões
relacionadas com o rio Almansor
ainda dizem alguma coisa a
pessoas com menos de 30 anos de
idade? Alguém deixaria hoje os
filhos brincar no rio? Alguém tem
hoje intenção de passear junto do
rio quando temos uma ecopista
disponível e nova em folha?

Por isso, este tipo de iniciativas


que periodicamente vamos
assistindo sobre o rio Almansor
até podem ser interessantes, mas
não têm qualquer tipo de eficácia.
Considerando a situação que o
país e o concelho vivem nos dias
de hoje, investimentos para
melhorar as margens do rio
Almansor não deverão ter
qualquer tipo de hipóteses de sair da fase de projectos, uma vez que a sua prioridade
será sempre muito reduzida.

A.M. Santos Nabo


Junho 2010

Você também pode gostar