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© Universal Type de Herbert Bay: em seus contextos histéricos Mike Mills Com a derrota do império germanico na Guerra Mundial, a legitimidade da cultura do séeulo xx parecia ter falido. Muitos alemiies acreditavam precisar come: gir tido de novo. Designers progressistas, como aqueles pra associados a Bauhaus, pro- ums Se covloe, mo de pensar sobreavisioe a Frode : ‘uma sociedade hierarquica, Sibyl Moholy-Nagy, ‘porta-voz do ponto de vista da Bauhaus, afir- Bayer em 1925 representa uma re- b Jd f h fuodskisimuentins AOCO@FGNI gcométricas simples. Para Bayer, os , uaa {Klmnopar inarmciooenien § TUVWXY2 jauhaus heobsichrigen eine serie uedenér seifen in ueis pe U KorTons. ; ounce ¢ maioria dos tipos era produzida por AAOAAAGA wert sii om Ce rs cn doce remy valine oon hegamnin tc ce Eihersae manner, sti ne ae ce aes emucncn mica cco Stati Ca a ag ce alas mn ein Retr nn ahe m ern iia ay cum ci cultura, descreve como o século xrx foi teste- i ni 2 sins mk ca “objetos projetados.! systema ga nan yn em inst mena er ce sis. Aes spre mai calms ot eaters oe ees nar anni ‘e nos tipos de madeira permitiram o projeto de letras ornamentadas de forma extravagante. Fontes tis como Melons, Marblezed’e SBE EBERT Delighting, usadas nos anos 1880, de- MARBLETZED (i Miata ¢ leds ns ers que waar Chaucer face. ECKMAN as Embora Bayer rejeitasse a pretensiosa ornamentacio do design do século xx, cle nao se satisfazia com o retorno a uma tradigo de oficio “antiquada” fou a uma concepgio “romntica” da ureza, O tipo Universal abarcava listria e a tecnologia; aclotava écnicas de produgao em massa e ;odlos racionalizados do enge nheito. O tipo Universal € parte do projeto maior da Bauhaus de artista a indkistria. Gropius, fundador da Bauhaus, alegava que sor eu capaz de dar vazao a produtos acessiveis e “essenciais Essa fé na tecnologia reflete a influéncia do “americanismo”, um torte movimento que varreu a Europa aps rote 1 Guerra, motivando designers e ar- i quitetos modernistas como Bayer, Gro- f pius ¢ Le Corbusier. O americanismo, tal como representado pelas técnicas cia . de produgio de Henry Forde pelas jaoda da india | tcorias de “gerenciamento ciet de Frederick ‘Taylor, prometiam um novo modo de viver e produzir carac- dau terizado pela “racionalizacio” e pela " auséncia de tradigies “escravizantes”, A imaginagao dos europeus progressistas foi estimulada por livros como Der ¥ Tunnel (1913), que descrevia a construcio de um tiinel sob 0 oceano At conectando 0 Velho eo Novo Mundo por meio das maravilhas da engenharia 1a. Der Tunnel incorpora a crenca modemnista de que 0 progresso era sindnimo de uma cultura cada ver mais homogénea ¢ universal conformada pela eficiéncia do engenheiro, Para muitos europeus, os bu repre exemplo vivo desse futuro. A gramatica visual ¢ tedrica do tipo Universal desenvolveurse nese contexto historico e cultural. Assim como os automdveis fabricades na linha de produgio de Hemry Ford, as letras do Universal foram projetadas de acordo com um plano “racionalizado”. A engenharia de cada caractere baseou-se em uma “armadura” ‘composta de alguns circulos e arces, trés angulos e linhas m tevistcasformaisrefletem a posigio " tedrica de Bayer, que sustentava sera ico de Boyer tecnologia algo “niio adulterado pelo, pa homem e seu simbolismo pervertido", como afirmara Sibyl Moholy-Nagy [p.g]- A base cientifica da mecanizacao lime patia.a tipografia de estilos culturais supérfiuos. Bayer evitou qualquer sugestao Uetigrafica ao constuir as linhas com compasso, régua T e exquado, Nas suas palavras, a liberdade tradicionalmente apreciada pelo designer de tipos era a ‘esponsvel por tantos equivocos” [Bayer, p. 29] fe uma tal unificacao seria Designers contemporiineos como Joseph Albers Paul Renter compart Sheneil *eita por Bayer O “ipo este poucas formas, o que Ihe aufere uma regularidade ¢ simpli- o fee Tutura 9 ingen gecmiéticn, O8 earacteres equadaisovs da Futura. mingen gomeric-Ovamncemeniensicn tous Uy LUG] tipogrifico em favor da rigidez da constr \ influéncia do american Bayer para criar um tipo mais eficiente. o universal foi dese- Asan iicinw abe quanns hyregenccn ie, Ja nao reconhece as letras maitisculas, elas nao sto mais neces- sirias ia tipografia. um alfabeto unicameral seria mais ficil de ser aprendido pe- las crianeas e mais eficiente na escrita. a auséncia de letras em caixa-alta reduziria 0 espaco de armazenagem do impressor, o tempo de composigio € os custos em ‘preocupagio de bayer com a eficiéncia do seu projeto reflete aquelas do novimento do “gerenciamento cientifico”, também conhecido como “taylorismo” frederick taylor, um tedrico gerencial norte-americano conhecido como o “enge he sua relagio com as ferramentas para estabelecer uma ordem universalmente efi- cicnte das operagdes. 0 projeto de taylor, assim como o tipo universal, baseaval ha crenga em uma lei objetiva ¢ universal subjacente a torlo problema Embora outros designers empreendessem o mesmo esforco de racionalizar a tipografia com um alfabeto unicameral, eles freqiientemente chegavam a resulta os contradit6rigs, revekandlo i subjetividade imbricada UNiVErsSCL etismttine * ABCDE ° (O tipo Universal de Jan fIatisoiomebene EGHIJK Tar rat um ico alaneto enol anenooee LM NOP Worienche, coe cpadkoniar a prninca par eniparcneom 5 ~ QRSTU Bifur (1929), de'\. M. Cassandre, contradizem diretamente mo também se reflete na tentativa de o da eficiéncia”, cronometrava os movimentos dos tabalhadores ¢ analisava ' © expetimento de Bayer a0 car alfabetos versais unicame- = WW XYZ rais. O catilogo original de Peignot afirmava que as letras Bradbury Thompson deu seqiiéncia ao ensaio de Bayer com seu Monoalfabeto, (agqo), que usa apenas miniisculas, a de frases © nomes préprios. També tava eriar um alfabeto ‘© mesmo em ambas as ¢ entando seu corpo para indiear 0 inicio fe sta autoria, ofAlphabet 36] (1950) ten- meral pela combinacio d r bolo ¢ cas (ilustrachas' diveita em azul), com quatro letras em caixa-baixa (em vermelho) e quinze em caixa-alta (em preto). tras Cujo) ? > t R 4s Bayer afirmava que a “revolugio tipografica nao era um evento isolado, mas an- dava de maos dadas com uma nova consciéncia social e politica e, conseqitente- mente, com a construcao de novas bases culturais’.' Varios designers modernistas viam a indistvia como uma potencial niveladora das desigualdades herdadas do Teudalismo europe! TasiI6 Moholy-Nagy dizia: “Todos sto iguais perante a mi dquina [...] na teeno- logia ni hi tradicao ou consciéncia de classes" [S. Moholy- Nagy, p.19]. A fé de Bayer na tecnolo base de que acultura é rtificial”, ao passo que a raz €a : ‘igncia sto “puras”. Ele qualificava as letras simples e geométricas como imente libertadoras por ni esconderem detras de estilizagbes ilu ‘na sionistas ou aristocriticas. Pensava-se searoto ne trre aie que 0 tipo Universal era, assim como a maquina, “despido” de embelera- mento e vario de ideologia cultural No entanto, embora Bayer desenvolvesse essa linguagem visual “nua”, ele tam= bém conseguia trabalhar com um método mais estilizado, Em 1933 a Fundigio Berthold encomendou a Bayer o design de uma fonte para uso comercial O resultado, o Bayer Type, é andlogo ao Universal por ser construido com formas geométricas, mias é adornado com serifas e tornado elegante pelo forte contraste tentre suas partes finas e grossas. Esse projeto era abertamente estilizado, en quanto o experimento “racional” ~ 0 tipo Universal - estaria supostamente livre de tal decoragao “superficial”. O con Bayer da let Inicialr aste nessas fa ies revela que a definigao de 1 essencial era também um repiio ao estilo e 2 influéncia da cultura. ente, 0 design “moderno” ‘enconttou poucos clientes dispostos a por suas experiéneias em pratica O sucesso comercial do estilo de design bauhausiano no final dos anos go e 30 marca a neutralizagao ~ mais que a aceitagao — de sua face rs i" Guerra Mundial transformava Nova | , Yorknonovolardomodemimo as fam Tere preocupacoes freqdentemente mais —_ pragmaticas dos norte-americanos Be transformaram as implicago ¢ politicas do movimento or 46 M. F Agha, diretor de arte da Bogue e colaborador fre- ayer cao cable iiente de periddicos de design, afirmou em um artigo de 1931 que os curopeus haviam sido aceitos no “templo das artes grificas norte-americanas” porque eram “6timos em chamar a atencio”. Agha pinta uma imager ada aceitacio dos des Jo que eram usi- ou dos porque conseguiam produzir "Valor de Atencio, Estalo men € Barulho, enquanto, em seu tempo livre, Ihes era perm tido se deliciar com diseussées inocentes a respeito da era da maquina, adequagio a funcio e objetividade na Apés deixar a Bauhaus em 1928, Bayer foi tor de arte da Vogue alema. Com esse trabalho, ele se tor prestigiados.Estiidios Dorland em Berlim. Em 1938, emigrou para Nova York onde trabalhou como consultor para J. Walter Thompson em 1944 ¢ como diretor de arte da Dorland Interna ie tional entre 1944-46. Por seu sucess : comercial nessas empresas, tomnou-se onsultor de design para a Container Corporation of America ee assumin a diregio do departamento aa de design da empresa.* O trabalho de Bayer para acca cexemplifica a bem-sucedida inte- gracio do enfoque “Universal” com wn _iwideologia corporativa, A cca foi na eriagio de identidades as coesas, Assim como 0s caracteres do Universal ficavam re- c gulares pela armadura na qual eram ¥ Construidos, a identidade corporativa ¥ seguia um plano centralizado. Kea Arquitetura ¢ mobilia de eseritério, pintura de paredes e caminhoes, tipografia dos cheques, cabecathos de papéis de carta, relat6rios anuais,faruras e anvincios eram pensados como um corpo coeso, Seu ensaio de 1952, “Design como uma expressio dda indstria", descreve a identidade da cca como uma “funcio de gerenciamento” asada para controlar a opinio de empregados, consumidores e paiblico. ? =~ Em 1966 Bayer recebeu sua maior missio como diretor de atte da Adantic ‘ bon Richfeld Corporation (axco),selecio- nando ou fazendo projetos de arqui- ss tetura, tapecatia e azulejaria, mutase sinalizagio, eseulturas pibicas, tipogra- fia e propaganda, além de resp pela colegio de arte da corporacio. Como na cca, Bayer usava seu enfoque racionalizado de “design total” para auferir A axco a aura de uma regularidade transcendente ~ qualidade que expressava visualmente a autoridade de uma corporacio multinacional 18 CUFOpeUs, ratado por Agha para ser dire- 1 diretor de arte dos me Se o design “estilo Bauhaus” de Bayer re- presentara outrora uma alternativa critica a valores estabelecidos, 0 uso corporativo © transformou em uma linguagem buro- ‘esdtica oficial, Seu trabalho para a ARCO € .0CA revelam as contradi A politica de sua teoria do design. Bayer aspirava a dissipar as distingoes de classe ¢ oe desigualdades sociais da cultura européia sro : + tradicional homogeneizando a lin Visual. Nao admitia que a homogeneizacao da linguagem também homogeneizasse a experiéncia ea cultura. O amplo nivela- mento das diferengas de classe que Bayer r pretendia atingir com um design raciona~ lizado encorajava a eliminagio de vores nativas ¢ individuais em favor de um Vocabulario visual centralizado, tipo desenhado por Bayer foi empregado naquilo que Barthes denominaria de “mitologias” corporativas: seu significado tornou-se uma “riqueza domada” que as corporagées “tém a sua disposicao”. Enquanto os designers dos anos 1920 enfocaram © potencial politicamente libertirio da nova linguagem visual, os designers corpora tivos desviaram esse foco para eolocar a ilaridade formal e a estabilidade em an AIfAbEt ko-oRdinaetiy FonetikS — primciro plano, de modo a consubstanciar Visualmente sum autoridade, Usando nova ‘mente um termo de Barthes, esse desvio nao “oblitera” os significados pregressos conferidos ao design; ele os "distorce” para que possam trabalhar em favor da ideologia da corporacio.? O que outrora and visin wil be « mor efektiv tul of komuniketin Kp simbotizara mudanga pasiou a simbolizar > esenhou em 1962 0 logo- ; tipo da American Broadcast Corporation. y s Ele exemplifica o uso do desig corporacio. Rand usa uma variagio do tipo Universal para eriar tum logotipo distinguido pelo refinamento geoméarico e pela EF repeticio do circulo, As formas limpas ; ‘ regulates das letras traduzem-se na - amoridade estavel, regular e unificada t too da corporacio. Em tempos passacdos, © design geoméirico havia sido um aliado da reavaliacio da sociedade, secon mas no logotipo da anc ele é utili zado para reafirmar a estabilidade da ‘ = onganizacio. nodernista por uma grande 8 Ao contririo do que afirmavam os primeiros designers modemistas,o significado de 1um tipo muda conforme o contexto histérico e cultural em que aparece. Uma variagio do outrora radical Futura foi engenhosamente usad mar and Associates em seu logotipo para a Mobil Corporation. Aqui, o distintivo 0 da Futura, realgado em vermetho, representa o principal insumo da M il Mobil ~ petrdleo: cm inglés, oi! - com perleicéo gcomeétrica, Esse bi logotipo simboliza w fa pelo escritorio Chermayeff, Geis- passa a simbolizar a autoridade da corporacio. wcoumaee cata ceoma OD MINQOAales incia que contra rncbes puritanas clo projeto original. O fino peso de linha e as letras, 0 entrelagadas ajudam a desviar o foco para aspectos mais decorativos. Essas caracte- risticas “estilizadas” complementam as conotagoes do ato de comprar; dos extravagan: tes bens de consumo e da fachada de prestigio que a loja projeta. Em 1974 a International Ty Bauhaus cscs nao incorpora o rigor geométrico nem a simplicidade do desenho original. Quando usada no contexto da cultura popular, como acorre nos eréditos do popular programa de tv Roseanne, a fonte ganha significados ainda mais distantes das intengdes originais de Bayer. A geometria e 0 peso de suas letras confndem-se com © humor franco ¢ atrevido dessa mulher grande e engracada Bayer no adlmitia que sua concepcio de universalidade pudesse ser um produto de sua cultura e historia. Acreditava que fo design resultava de leis naturais, nio de regi obscurece a real influéneia de fatores so- iais, econdmicos e politicos que rodearam € conformaram sua compreenstio de uma fonte “universal”. Seu projeto seria uma sees manifestacio das leis universais da Tingua- ect sgem visual ou a visualizacio de wma idéia de universalidade especifica 3 Alemanha de Weimar? A hist6ria do tipo Universal revela que a fonte era um sintoma de uma fissura histrica, que refletia 0 ¢olapso dos valores culturais do século x1x ¢ o nascimento de um mundo novo € mais “racionalizado A historia também revela que o significado de um tipo néo é inerente A sua forma, mas continuamente recriado, As corporagies do pés-11 Guerra, por exemplo, fizeram uso de {bes do tipo Universal e do método racionalizado de design de Bayer para fazer —_\ n que sua autoridade culturalmente construida parecesse natural ¢ auto-evidente. significado do Universal é mediado por pessoas ¢ instituigées que 0 usam. dizem as in peface i$ construfdas culturalmente. [sso 4

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