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ISSN 1414-0160 N25 (2*Edigao) 2000 O discurso em mosaico = PuB/UFRI | CA EA presente pesquisa foi planejada e iniciada sm uma hipdtese de trabalho que conduzisse ‘ampliar ¢ modificar a hipétese.” A hipotese sera aqui descrita da maneira F ‘como se desenvolveu em nosso pensamento. Trabalhos anteriores de fundamental impor- tncia realizados por Whitehead ¢ Russel (1910), Wittgenstein (1922), Carnap (1937), Whorf (1940), entre outros, bem como minha propria tentativa de usar esses raciocinios como uma base epistemolégica para a teoria psiquise ttica, levaram a uma série de generalizagées: (1) Que a comunicagao verbal humana pode ccanhecid no Brasil por sta teoria da “aupla vinci”, que ex lice pi “aasterieaa pola comural de pela Smbivalencis. Eston inicalmente a natuvecs da pases comunicagi humana, estendende posteriormente a sie tigagio ao dizeurso da eaquicafieni, *Greyory Bateson, antropaloge norte Uma teoria sobre brincadeira e fantasia! Gregory Bateson” operar € de fato sempre opera em muitos ni- veis contrastrantes de abstracio. Estes se distri- buem em duas diregdes a partir do nivel apa- rentemente simples da denotagio (“o gato esti em cima do tapete”). Uma distribuigio ou con- junto desses niveis mais abstratos inclui aque- las mensagens implicitas ou explicitas em que © assunto do discurso é a linguagem. Nés as sticas (por exemplo, Jo sonora de ‘gato’ representa qual- quer membro de tal ou tal classe de objetos” ou ‘a palavra ‘gato’ nao tem pélo ¢ nao arranha”) Ao outro conjunto de niveis de abstragao, cha- maremos de metacomunicativo (por exemplo, “eu dizer onde encontrar 0 gato foi um ato chamaremos de metalin, amistoso” ou “isto é brincadeira"). Nestas meta- comunicacdes 0 assunto do discurso é a relacio entre os falantes. Note-se que a grande maioria das mensa- gens, tanto metalingiiisticas como meiacomunicativas, permanece implicita; note- se também que, especialmente na entrevista 36 psiquidtrica, ocorre uma outra classe de men- sagens implicitas - sobre a maneira como men- sagens metacomunicativas de afeto e hostilida- de devem ser interpretadas. (2) Se especularmos sobre a evolucio da comunicagao parece evidente que ocorre um estigio muito importante nessa evolucio, quan- do o organismo gradualmente para de respon- der de maneira “automatica” aos indicios de humor do outro ¢ se torna capaz de reconhe- cer um indicio como um sinal, isto é, de reco- nhecer que os sinais emitidos pelo outro indi- viduo por ele mesmo sio apenas sinais, em que se pode confiar, desconfiar, que se pode falsear, negar, ampliar, corrigir, ¢ assim por di- ante. E claro que este reconhecimento, de que sinais sio sinais, de modo algum est completo mesmo na espécie humana, Freqientemente respondemos automaticamente a manchetes de jornal, como se estes estimulos fossem indi- cadores diretos de eventos em nosso ambiente, em ver de sinais inventados e transmitides por criaturas tao complexamente motivadas como nés mesmos. O mamifero nao-humano fica automaticamente excitado pelo odor sexual do ‘outro, Isto é como deve ser, na medida que a secretacio desse indicio é um indicador “involuntario” de humor, isto é, um evento exterior perceptivel que é parte do proceso fisiolgico que estamos chamando de humor. ‘JA na espécie humana, uma situagao mais com- plexa comeca a ser a norma. Os desodorantes mascaram os indicios olfat6rios involuntarios ¢, k Cadernos 1PUB/S em seu lugar, a indiistria cosmética oferece a0 individuo perfumes que nao sao indicios involuntirios, mas sinais voluntarios ¢ reconhe- civeis como tal, Nio so poucos os homens que ficam de cabeca virada com 0 apelo de algum perfume e, se acreditarmos nos publicitirios, parece que esses sinais usados de maneira vo- luntaria tém, as vezes, um efeito antomatico € auto-sugestivo até sobre quem os usa voluntari- amente. Seja como for, essa breve digressio serve para ilustrar um estigio de evolucao - o drama inici- ado quando os organismos, tendo comido 0 fruto da arvore do conhecimento, descobrem que seus sinais sio sinais. Segue-se nfo apenas Co evento caracteristicamente humano da lingua- gem, mas a complexidade de fenémenos como ‘empatia, identifica¢ao, projecio € assim por diante. E com eles vem a possibilidade de nos comunicarmos na multiplicidade de niveis de abstragio mencionada acima. (8) © primeiro passo definido na formula- ‘do da hipotese que guia essa pesquisa ocorreu em janeiro de 1952 quando fui a0 zoolégico de Fleishacker em Sio Francisco para procurar critérios comportamentais que pudessem indi- car se um dado organismo € ou no capaz de reconhecer que 0s indicios emitidos por ele mesmo € por outros membros de sua espécie sio sinais. Teoricamente eu tinha imaginado quais deveriam ser esses critérios - que @ ocor- réncia. de indicios (ou _sinais) ‘metacomunicativos no fluxo da interacao en- twe 08 animais indicaria que eles tém pelo me solve fantasia ¢ incrdeira jguma idéia (consciente ou nao) de que fcios sobre os quais metacomunicam sio figide encontrar mensagens denotativas entre jamiferos nao-humanos, mas eu ainda nto a que os daclos sobre os: fenémeno bastante conhecido de todos: vi isjovens macacos brincanda, isto é, envolvidos ‘uma seqiiéncia interativa na qual as agdes sinais, individualmente, eram semelhantes, fias nao idénticos, aos de um combate. Era jdente, mesmo para um observador humano, jue a seqiiéncia como um todo nio era com- bate ¢ era evidente para 0 observador humano B que, para os macacos participantes na ativida- ide, aquilo era “ndo-combate” * Ora, Smeno, o da brincadeira, 86 poderia ocorrer se 0s organismos participantes Pfossem capazes de algum grau de metacomunicagao, isto é, de trocarem sinais ste fe que transmitissem 2 mensagem “isto é brinca- F deira’, (4) © préximo passo foi o exame da mensa- gem “Isto é brincadeira” ¢ a compreensio de que essa mensagem contém elementos que ge- ram necessariamente um paradoxo do tipo Russeliano ou de Epiménides - uma assercio negativa contendo uma meta-assergio negati- vaimplicita, Expandida, a assercio “Isto é brin- cadeira” parece algo como: “Estas agdes nas quais estamos presentemente engajados niio denotam o que aquelas acdes que elas represen: tam denotariam’. Agora ponderemos sobre a expressio em ico “que elas representa”, Dizemos que a pa- lavra “gato” representa qualquer membro de uma dada classe. Isto é, a expres ta” € quase sindnimo de “denota”, Se agora substituirmos “que elas denotam” pela expres Jo “represen- sio “que elas representam” na definigio expan- dida de brincadeira, o resultado é: “Essas acdes, nas quais estamos presentemente engajados, nao denotam o que seria denotado por aqui las ages que essas ages denotam”, A dentada de brincadeira denota a mordida, mas nao denota o que seria denotado pela mordida. De acordo com a Teoria dos Tipos Légicos, 6 claro que tal mensagem seria inadmissivel porque a palavra “denota” esta sendo usada em dois graus de abstracdo ¢ esses dois usos sio trax tados como sindnimos. Mas tudo 0 que apren- demos com esse tipo de critica € que seria His t6ria Natural de ma qualidade esperar que os processos mentais ¢ habitos comnnicativos dos mamiferos se conformassem ao ideal do pen- samento légico. Na verdade, se © pensamento humano e a comunicacio sempre se confor- ‘massem ao ideal, Russell nao teria - de fato nao poderia - ter formulado o ideal. (5) Um problema relacionado ao anterior, na evolugdo da comunicacao, diz respeito a origem daquiio que Korzybski (1941) chamou de relagao mapaterrit6rio: 0 fato de uma men- sagem, qualquer que seja seu tipo, nao consis- tir nos objetos por ela denotados (“A palavra 3 ‘gato’ no arranha”). Na verdade, a lingua pos- sui uma relacdo com os objetos que denota comparivel com aquela que um mapa tem com um territ6rio, A comunicagio denotativa como ocotre na linguayem humana s6 é possivel de- pois da evolucao de um conjunto compleso de regras metalingiiisticas (mas nao verbalizadas)" que governam como palavras e oragdes devem ser relacionadas a objetos ¢ eventos. E, portan- to, apropriado procurar metalingtifsticas e/ow metacomunicativas em esas regras um nivel pré- humano e préverbal. Pelo que foi dito acima, parece que brinea- deira é um fendmeno em que as agdes de “brin- cadeira” se relacionam a, ou denotam, outras agdes de “nao-brincadeira”, Encontramos, portanto, na brincadeira uma instancia de sic nais que representam outros eventos, ¢ deste ponto de vista, parece que a evolugao do fend- meno brincadeira pode ter sido um passo im- portante na evolucio da comuntcacio. (6) A ameaga & outro fenémeno que se asse- tha a brincadeira, na medida em que certas agées denotam, mas diferem de, outras agées. © punho cerrado de ameaga é diferente do soco, mas refere-se a um possivel futuro soco, inexistente no presente. Assim como a brinca- deira, também a ameaca é usualmente encon- trada entre os mamiferos ndo-humanos. Na verdade, tem-se argumentado ultimamente que uma grande parte do que parece ser combate entre membros de uma dinica espécie deve ser vista mais como ameaca (Tinbergen, 1953; Lorenz, 1952), Cadernos IPUB/S (7) O comportamento histriénico e os arti- ficios enganosos sio outros exemplos de uma nei primitiva da diferenciagio mapa- tervit6rio, Hi evidéncias de quea dramatizagio ocorre entre pissaros: a gralha pode imitar seus, préprios indicios de humor (Lorenz, 1952) € antificios enganosos foram observados entre os macacos guariba (Carpenter, 1934) (8) Poderiamos esperar que ameaga, brinca- deira e comportamento histridnico fossem trés fendmenos independentes, cada um contribu- indo para a discriminacio entre mapa e terri- trio. Mas tal nao parece ser 0 caso, pelo me- nos no que diz respeito A comunicagio dos mamiferos. Breve andlise do comportamento infantil mostra que combinagdes tais como brin- cadeira histr brincadeira, brincad ocor nica, blefe, ameaga em tom de a implicante em respos- ta A ameaga, ameaga histridnica, ¢ assim por diante, formam juntos um tinico e indivisivel complexo de fendmenos, Além desses, fendme- nos encontrados entre adultos, tais como jogos de azar € certos jogos que envolvem risco tem suas raizes na combinagio de ameaga € brinca- deira. E igualmente dbvio que nao apenas a ameaga, mas sua reciproca - © comportamento do individuo ameagado - fazem parte desse complexo. E é provavel que no apenas 0 comportamento histridnico mas o de especta~ dor devam ser incluidos neste dominio. Tam- bém seria apropriado mencionar aq piedade, (9) Uma extensio deste raciocinio leva-nos a incluir © comportamento ritual dentro deste auto- Le tie sae fantasia bined campo geral, no qual se faz distin¢io, embora ‘0 inteiramente, entre a a¢io denotativa ¢ aquilo que deve ser denotado. Estudos antro- pologicos de ceriménias de tratados de paz, para citar um s6 exemplo, reforcam essa co! clusio. Nas Ihas Andaman, 0 acordo de paz é con- cluido depois que a cada lado é dada liberda- cle cerimonial para golpear o outro. Este exem- plo, entretanto, também ilustra a natureza ins- tivel do enquadre “Isto é brincadeira” ou “Isto € ritual”, A discriminagio entre mapa ¢ terri- rio é sempre passivel de anular-se, e os golpes rituais usados no restabelecimento da paz po- dem, a qualquer momento, ser confundidos com 08 golpes “reais” de combate. Nestes casos, a cerim6nia de paz se transforma em batalha (Radcliffe-Brown, 1922). (10) Isso nos leva a0 reconhecimento deuma forma mais complexa de brincadeira: 0 jogo que é construido nao sobre a premissa “Isto € brincadeira”, mas, sobretudo, em torno da per gunta “Sera isto brincadeira?”, Esse tipo de interagao tem também suas formas rituais, por exemplo, no trote de iniciacao. (11) © paradoxo esta duplamente presente nos sinais trocados dentro do contexto de bri cadeira, fantasia, ameaca, etc. Nao s6 a mordi- da de brincadeira no denota o que seria de- notado pela mordida a sério, por ela represen- tada, como também a prépria mordida é uma ficgio, Nao s6 0s animais, ao brincarem, nem sempre significam o que estio sinalizando, mas, também estio geralmente comunicando sobre algo que nao existe. No nivel humano, isto leva a uma grande variedade de complicacies ¢ in- versbes nos campos da brincadeira, fantasia & arte. Ilusionistas e pintores da chamacts escola trompe Coeil se esforgam em adquirir uma virtuosidade cuja tinica recompensa € aleangada depois que 0 espectador «escobre que foi enganado e é forcado a rir ow maravie Ihar-se perante a habilidade do enganador. Os cineastas de Hollywood gastam milhdes die dé- ares para aumentar o realismo de uma sombra Outros artistas, talvez mais realisticamente, i sistem que a arte seja ndo-figurativa, Jogadores de péquer conseguem um estranho € viciante realismo equiparando as fichas, com as quais jogam, a délares. No entanto, insistem que 0 perdedor aceite perder como parte do jogo. Finalmente, na regiéo obscura onde arte, magia ¢ religido se encontram ¢ se sobrepoem, desenvolveu-se a “metafora que é [literalmen- te] significada”, a bandeira pela qual homen dao sua vida € © sacramento que € visto como mais do que “um indicio externo e visivel que nos foi dado”. Aqui podemos reconhecer uma tentativa de negar a diferenca entre mapa e territério e de voltar a inocéncia absoluta da comunicaco por meio de puros indicios de humor. (12) Devemos encarar, enitio, duas peculi ridades préprias da brincadeira: (a) as mensa- gens ou sinais trocados durante a brincadeira sio de algum modo nao-verdadeiros, ou nao- intencionados; e (b) aquilo que é denotado por esses sinais é ndo-existente. Estas duas peculiar w idades as vezes se combinam de forma ests nha para reverter uma conclusio a que chegi mos acima, Foi dito (4) que uma dentada “de brincadeira” denota uma mordida, mas nio vai denorar aquilo que seria denotado pela mordi- da, Mas hi outras instancias em que um fend- meno contrariy ocorre. Um homem experi- ment, com intensidade total, um terror de natureza subjetiva quando uma langa é atirada contra ele de uma tela de cinema de trés d mensdes ou quando cai de cabeca de uma g) de altura criada por sua prépria mente na i tensidade de um pesadelo, Durante o momen- to de terror, nao se questionou a “realidade” mas de fato ndo havia nem a langa projetada na tela do cinema, nem um rochedo no quar to de dormir; As imagens no denotavam aqui- Jo que elas aparentavam denotar, mas essas mesmas imagens evocaram 0 mesmo terror que teria sido evocudo se se tratasse de uma verda- deira langa ou de um verdadeiro pre ‘Com um truque semelhante de auto-contradi- ¢6cs, 08 diretores de cinema de Hollywood po- dem oferecer a um piblico pui ta gama de fantasias pseudo-sexuais que de outra forma nao seriam toleradas. Em Davi Bate-Seba, Betsaba pode ser um elo perverso entre Davi e Urias. E-em Hans Christian Andersen, © her6i inicia sua jornada acompanhado por ‘um rapaz. Ele tenta encontrar uma mulher, mas qnando falha em sua tentativa, retorna para 0 rapaz. E claro que nao ha homossexualidade em nada disso, mas a escolha desse tipo de sim- bolismo esti associada nessas fantasias a certas Gudernor IP UB's iuléias caracteristicas sobre, por exemplo, a fale tu de perspectiva da posi¢ao heterossexual mnasculina face a certos tipos de mulheres, ou 4 certos tipos de autoridade masculina, Em suma, a pseudo homossexualidade da fanta sia niio representa um verdadeiro homossexualismo, mas representa € expressa atitudes que podem acompanhar um verdacei- 10 homossexualismo, ou servir de base para sua etiologia, Os simbolos em si ndo denotam ho- talidade, mas de fato denotam idéias para as quais um simbolo apropriado seria o homossexualismo, Evidentemente € necessario reexaminar a exata validade semantica das in- terpretagdes que 0 psiquiatra oferece a um paciente ¢, como passo preliminar para essa amilise, ser necessario examinar a natureza do enquadre na qual essas interpretagées sao fei- tas (13) O que foi dito anteriormente sobre brincadeira pode ser usado como um exemplo introdut6rio para a discussio de enquadres contextos, Em suma, nossa hipotese é de que a mensagem “Isto é brincadeira” estabelece um enquadre paradoxal comparivel ao paradoxo de Epiménides. © enquadre pode ser diagramado da seguinte forma: Todas as afirmacdes neste quadro sio falsas. Eu te amo. Eu te odeio, A primeira afirmagio neste quadro contém Lim tor solve fantasia ¢incadeira uma proposi¢io contradit6ria a propria a cao. Se a primeira afirmacio for verdadeira, entio deve ser falsa, Se for falsa, entao deve ser vercadeira, Mas a primeira afirmagio inclui todas as outras que estio dentro do enquadre. Assim, se a primeira afirmacio for verdadeira, todas as outras devem ser falsas; e vice-versa, se for falsa, todas as outras devem ser verdadeiras. (14) Aqueles cujo pensamento pende para a légica vio observar um nonsequitur. Se pode- ria dizer que, mesmo que a primeira afirmacio seja falsa, ha uma possibilidade légica de que algumas outras afirmagdes do enquadre sejain ndo-verdadeiras. E, no entanto, uma caracteris- tica do pensamento inconsciente ou de “pro- cesso primdrio” que © pensador nao consegui distinguir entre “alguns” e “todos”, e também nao consegue distinguir entre “nem todos” ¢ “nenhum”. Parece que a realizagio dessas dis tingSes € executada através de processos men- tais de nfvel mais alto ou mais consciente que servem, no caso do individuo nao-psic para a correcio do pensamento em branco € preto proprio dos niveis mais baixos. A nds nos parece, ¢ esta pode ser uma posigio ortcdoxa, que © proceso primario est4 em permanente operacao, e que 2 validade psicolégica do pa- radoxal enquadre da brincadeira depende des ta parte da mente. (15) Mas, por outro lado, ainda que seja hecessrio invocar o processo primario como principio explanatério para que possames apa- gar a nocdo de “alguns” de sua posi¢io entre “todos” ¢ “nenhum”, isto nao significa que a atividade “brincadeira” seja simplesmente um meno do processo primirio. A distincio © “nio-brincadeira”, «sin cnwre “brineadei como a distingio entre “fantasia” ¢ “ndo-funta sia” é certamente uma fungio do proceso sc cundirio ou do “ego”. No sonho, o sonhador geralmente nao tem consciéncia de que esti sonhando e durante uma brincadeira «eve set freqiientemente lembrado de que brincadeira”, Da mesma forma, no sonho ou na fantasia o sonhador nao opera com 0 conceito de “nio- verdadeiro”. Opera com varios tipos de afirma- Ges representativas, mas com uma curiosa ina- bilidade de produzir meta-afirmacdes. A nao ser préximo de acordar, nao pode sonhar uma afirmagao que se refira (ie., que enquadre) 20 seu sonho. Segue-se, portanto, que o enquadre da brin- cadeira, usado aqui como um principio explanatério, implica uma combinagio especial dos processos primario e secundario. Isto, por sua vez, relaciona-se ao que foi dito anterior mente, quando se argumentou que a brincadei- ra lepresenta um passo a frente na evolucio da comunicagio-o passo crucial da descoberta das relacdes mapa-territério, No processo prima- rio, mapa e territério sio neutralizados; no pro- cesso secundario podem ser diferenciados. Na brincadeira, sio simultaneamente neutraiiza- dos e diferenciados. (16) Deve-se mencionar uma outra anoma- lia logica neste sistema: a de que a relacao en- tre duas proposicdes geralmente descritas pela a palavra “premissa” torousse intransitiva, Em geral, todas as relacdes tivas. A relacio “maior do que” é tipica neste sentido; é convencional argumentar-se que, se A.é maior do que Be B é maior do que C, en- 10 A é maior do que C. No entanto, nos pro- cessos se observa a tansitividade das relagdes assimétricas. A pro- posi¢o P pode ser uma premissa para Q; Q pode ser uma premissa para R; e R pode ser uma premissa para P. Especificamente, no sis- tema que estamos considerando, contraise ain- A mensagem “todas as afir mages dentro deste quadro sio falsas” deve ela propria ser entendida como uma premissa a0 avaliarmos sua veracidade ou falsidade. (CE. a intransitividade das preferéncias psicolégicas discutida por McCulloch (1945). O paradigma para todos os paradoxos deste tipo geral € 0 “conjunto dos conjuntos que niio sio membros de si préprios” de Russel (1910). Com isso, Russell demonstra que 0 paradoxo é gerada an se tratar a relagio “ser um membro de” como intransitiva.) Com esta ressalva, de que a rela- 40 “premissa” em psicologia é possivelmente intransitiva, usaremosa palavra “premissa” para denotar a dependéncia de uma idéia ou men- sagem em rela¢io a outra, uso comparavel a relagdo de dependéncia usada em Légica quan- do se diz que a proposigio P é uma premissa de Q. (17) Tudo isso, entretanto, deixa ainda obs curo 0 significado do conceito de “moldura” ou “enquadre” ea nocio a ele relacionada de “con- ssimétricas so transi- psicolégicos nao da mais 0 circulo, Cadernos 1PUB/S texto”, Para tornii-los claros € necessdrio insis- tir, em primeiro lugar, que estamos tratando de conceitos psicolégicos. Usamos dois tipos de analogia para discutir esses conceitos: a analo- gia fisica da moldura de um quadro ¢ a analo- gia mais abstrata, embora ainda no psicolégi- ca, do conjunto matematico, Na teoria dos con- juntos, os matenviticos desenvolveram axiomas € teoremas para poder discutir com rigor as plicagdes logicas cle pertinéncia em catego- rias ou conjuntos que se intersectam. As rela- ‘cdes entre conjuntos sio geralmente ilustradas por diagramas nos quais os itens ou membros de um universo maior sio representados por Pontos ¢ 0s conjurtos menores so delimitados por linhas imaginarias contendo os membros de cada conjunto. Tais diagramas sao ilustra- des de uma abordagem topolégica a légica de classificagdes, O primeiro passo ao definirmos um enquadre psicolégico seria o de dizermos que é (ou delimita) uma classe ou conjunto de mensagens (ou de agdes significativas). As ati- vidades hidicas de dois individuos em uma dada ocasiio seriam entio definidas como o conjun- to de todas as mensagens trocadas por eles em um periodo delimitado de tempo e modifica- das pelo sistema de premissas paradoxais que acabamos de descrever. Em termos de um dia- grama da tcoria de conjuntos, esas mensagens poderiam ser representadas por pontos ¢ 0 “conjunto” seria circundado por uma linha que separaria estes pontos de outros pontos repre- sentando mensagens de “nio-brincadeira” ou literais. A analogia matematica falha, no entan- Uma tora sobre fantasia ¢ incadeira to, porque o enquadre psicolégico nio é repre: sentado satisfatoriamente por uma linha ima- ginaria, Pressupomos que os enquadres psico- logicos possuem algum gruu de existéncia real Em muitos casos 0 enquadre é reconhecido conscientemente e até representado no vocabur lario (*brincadeira’, “filme", fa”, “linguagem”, etc.). Em outros casos v0de nao haver referéncia verbal explicita aos enqua- dres € 08 sujeitos podem nao ter consciéneia deles. No entanto, o analista verifica que seu pensamento é simplista quando adota a nogao de um enquadre inconsciente como principio explanatério; freqiientemente ele ou ela avan- ca além desse ponto, inferindo a sua existéncia no inconsciente do sujeito. Mas se a analogia do conjunto matemvitico 6, talvez, abstrata demais, a analogia da moldu- ra de um quadro é excessivamente conereta. O conceito psicologico que estamos tentando definir nao é nem fisico, nem logico. Na verda- de, a propria moldura fisica, acreditamos, é acrescentada aos objetos fisicos de arte elas pessoas porque estas operam mais faciliente ‘em um universo em que algumas de suas carac- teristicas psicolégicas sio externalizadas. Sio essas caracteristicas que estamos tentando dis- cutir, usando suas externalizagdes como meca- nismos ilustrativos, (18) As fungdes e os usos dos enquacires psi- col6gicos podem agora ser listados ¢ ilustiados com referéncia as analogias cujas limitecdes foram indicadas no paragrafo antetior.(a) En- quadres psicol6gicos sio exclusivos, ou sea, a0 incluir certas mensagens (ou acdes significati- vas) dentro de um enquadre, outras mensagens, sio excluidas.(b) Enquadres psicolégicos si0 inclusivos, ou seja, ao excluir certas mensagens, outras sao incluidas. Do ponto de vista da teo- ria dos conjuntos matematicos, estas duas fun- {ges sao sindnimas, mas do ponto de vista da psicologia € necessirio listi-las separadamente. A moldura em volta de uma gravura, se a con- siderarmos como uma mensayem cuyja intengao 6 ade ordenar ou organizar a percepcao do observador, diz, “preste acencao no que esta dentro e nao preste atengio no que esti fora.” Figura fundo, no sentido em que estes termos sio usados pelos psicdlogos da gestalt, nao se relacionam simetricamente como 0 sio 0s con- ceitos de conjunto e complemento da teoria matematica dos conjuntos fundo tem de ser positivamente inibida € a percepcio da figura (neste caso a gravura) tem de ser positivamente intensificada (c) Enquadres psicol6gicns estio relaciona- dos com 0 que estamos chamando de “premis- sas”. O enquadre da gravura sinaliza ao obser- vador que este ndo deve usar o mesmo tipo de raciocinio ao interpretar a gravura que pode- ria usar ao interpretar 0 papel de parede fora da moldura, Ou, em termos da analogia deri- vada da teoria dos conjuntos, as mensagens encerradas dentro da linha imaginaria sio de- finidas como membros de uma classe em virtu- de de compartilharem premissas comuns ou de serem mutuamente relevantes. O préprio en- quadre torna-se, entio, parte do sistema de A percepcio de premissas, No caso do enquadre de brincade ra, © proprio enquadre esti envolvido na avai 1¢io das mensagens nele contidas. Em outros casos, 0 enquadre é apenas um auxil balho cognitivo de entender as mensag contidas, servindo de lembrete ao pensador que estas mensagens sio matuamente relevantes e que as mensagens do lado de fora do enquadre podem ser ignoradas.(d) No sentido do pari- grafo metacomunicativo. Qualquer mensagem que explicita ou implicitamente defina um enqua- dre, ipso facto, fornece ao receptor instrugdes ou ajuda em sua tentativa de entender as mensi- gens incluidas no enquadre.(e) © inverso de (a) também é verdadeiro. Toda mensagem metacomunicativa ou metalingiiistica define explicita ou implicitamente, 0 conjunto de mensagens sobre o qual esti comunicando, isto €, toda mensagem metacomunicativa constitu ou define um enquadre psicolégico. Isto, por exemplo, € bastante evidente em relacao a cer tos sinais metacomunicativos tais como os de pontuacio em uma mensagem impressa, mas se aplica igualmente a metacomunicativas mais complexas, como por snele anterior, um enquadre mensagens exemplo a definicao que o priquiata faz de seu préprio papel no processo de cura. £ em te mos dessa definicdo que as suas contribuigdes, que integram o total de mensagens que ocor- vem em uma psicoterapia, devem ser compreendidas.(f) A relagio entre enquadre Psicolégico © o gestalt perce siderada e, neste ponte, ial deve ser con- Catone tren moldura de um quadro, Na pintwrs de Rontault ‘ou Blake, as figuras humanas © outtes objetos representados tém seus contornos esbocaclos em linhas. “Homens sibios ensergamt cm con= tornos¢, portanto, elesos desenhain” Mt dessas linhas, que delimitam uma perceptual ou “figura”, existe win campo visu- al ou “fundo” que, por sua vez. € delimitado pela moldura do quadro, De forma semelhan- te, em diagramas da teoria de conjuntos, 0 universo maior dentro do qual os conjuntos menores sio desenhados esti, ele préiprie. con- tido em uma moldura. Este duplo enquadre, acreditamos, no meramente é uma questio de “enquadres dentro de enquadre: indicacio de que processos mentais se asseme- Tham & logica quanto a. necessitare moldura externa que delimite um func em de uma ‘cebi- relagio ao qual as figuras possim ser p das. Freqiientemente, esta necessidade nio é satisfeita como, por exemplo. quando vemos uma escultura na vitrine de uma loj de quin= quilharias, 0 desconfortivel. Sugerimos que a necessidade desses limites externos a0 fundo relaciona-se uma preferéncia por evitar os paradosos de abstra¢io. Quando uma classe légica ou con- junto de itens é definido - por exemplo, a clas- se das caixas de fésforos - é necessirio delini- que & uma sensagio tar © conjunto de itens que devem ser exclui- dos, neste caso, todas aquelas coisas que nao si0 caixas de fosforos. Mas os itens que devem ser incluidos no conjunto “fundo” devem ser do mesmo grau de abstragio, do mesmo “tipo 16- ma teria sone fates inca gico” daqueles dentro do seu préprio conjun: to, Especificamente, se quisermos evitar 0 pa- radoxo, a “classe da caixa de fosforos" e "a clase se de nio-caixas de f6sforos” (embora ambos esses itens sejam claramente nao caixas de fos foros) nao devem ser considerados como mem- bros da classe dos objetos nio-caixa de fésforos. Nenhuma classe pode ser um membro de si A moldura de um quadro, porque delimita o fundo, & aqui considerada como uma represen especial e importante de enquadre psicologico - a saber, um enquadre cuja fungao é delimitar um tipo légico. Isto, na verdade, é 0 que foi indicado acima quando foi dito que a moldu- io para o observador de que ele nao deve estender as premissas que vigoram entre as figuras dentro do quadro part 0 pa- pel de parede atris dele. co externa de um certo tipo Mas, isso é precisumente este tipo de enqua- ioxo. A regra para evitar paradoxos insiste que os itens fora de qualquer dre que gera © para linha delimitadora sejam do mesmo tipo logi- co daqueles dentro da linha, mas a moldura de um quadro, conforme foi analisado acima, é a linha que separa itens de um dado tipo légico de itens de outro tipo légico. De passagem, é interessante notar que a regra de Russell nao pode ser formulada sem que seja quebrada, Russell insiste que todos os itens do tipe légico inapropriado sejam excluidos (isto é, por uma linha imaginaria) do complemento ou fundo de qualquer classe (ou seja, ele insiste em dese- har uns linha imaginaria exatamente do tipo que ele praprio proibe.) (19) Todo este assunto de enquadres © pa- radoxos pode ser ilustrado em termos de com- portamento animal, em que trés tipos de men- sagens podem ser reconhecidas ou deduzidas. (a) mensagens do tipo que estamos chamando aqui de indicios de humor; (b) mensagens que simulam indicios de humor (em brincadeira, ameaga, comportamento histriénico, etc.); {c) mensagens que permitem ao receptor dife- renciar entre indicios de humor € aqueles i dicios que se assemelhaim a eles. A mensagem “Isto € brincadeira” é do terceiro tipo. Ela i forma ao receptor que certas dentadas € outras agdes significativas nao sio mensagens do pri- meiro tipo. Portanto, a mensagem “Isto é uma brinca: deira” estabelece um enquadre do tipo que pode facilmente precipitar um paradoxo: é uma tentativa de diferenciar, ou de tracar uma linha, entre categorias de tipos logicos diferen- tes. (20) Esta discussio sobre brincadeira € en- quadres psicolégicos estabelece um tipo de constela¢io triddica (ou sistemas de relagdes) entre mensagens. Uma instincia desta conste- lagio € analisada no pargrafo 19, mas é eviden- te que constelagées deste tipo ocorrem nao cl no-humano, mas também na comunicagio humana, muito mais complexa apenas no ni do que a primeira, Fantasia ou mito podem si- mular uma narrativa de natureza denotativa e, para distinguir entre estes tipos de discurso, as 46 pessoas usam mensagens do tipo que definem enquadres, € assim por diante. (21) Em conclusio, cheyamos a tarefa com- plexa de aplicar esta abordagem teérica aos fendmenos particulares de psicoterapia. Aqui as linhas de nosso pensamento podem ser 0 mais brevemente resumidas apresentando € parcialmente respondendo as seguintes perguntas:(a) Ha alguma indicagio de que certas formas de psicopatologia sio caracteri- zadas especificamente por anormalidades no manejo de enquadres € paradoxos pelos pacientes?(b) Ha alguma indicagéo de que as técnicas de psicoterapia dependem necessari- amente da manipulagio de enquadres ¢ paradoxos?(c) E possivel descrever 0 processo de uma dada psicoterapia em termos de interagao entre o uso irregular de enquadres pelo paciente ¢ a manipulagio destes pelo terapeuta? (22) Em resposta a primeira pergunta, pa- rece que a “salada de palavras” na esquizofrenia pode ser descrita em termos da incapacidade do paciente em reconhecer natureza metafé rica de suas fantasias. Em lugar do que deveri ser uma constelagio triddica de mensagens, a mensagem que enquadra o discurso (por exem- plo, a locucao “como se fosse”) & omitida, e a metéfora ou a fantasia sio narradas ou realiza- das de um modo que seria apropriado se a fan- tasia fosse uma mensagem do tipo mais direto. A auséneia de enquadramento ou metacomunicag’o observada no caso de sonhos em (15) € caracteristica das comunicacdes do Cadermes 1PUB/S esquizofrénico. Com a perda da habilidade de estabelecer enquacres metacomunicativos, ha também uma perda da babi a mensagem mais primdria ou primitiva, A metafora é tratada diretamente como uma lade de realizar mensagem do tipo mais primiio, (28) A dependéncia da psicoterapia na mnanipulagio dos enquades se deve ao fato de que a terapia é uma tentativa de modificar os habitos metacomunicativos do paciente. Antes da terapia, o paciente pensa € atua em termos de um certo conjunto de regras para a cons cdo e compreensio dle mensagens. Depois de tuma terapia ben de um conjunto diferente de tais regras. (Re- gras deste tipo sio, em geral, nao-werbalizadas € inconscientes tanto antes como depois de uma terapia). Portanto, no processo da terapia, deve ter havido comunicsgio em um nivel meta sucedida, ele age em termos em relagio a essas regras. Deve ter havido co- municagio sobre wma mudanga de regras Mas tal comunicacio sobre mudanga nio poderia possivelmente ocorver do tipo das que sio permitidas pelas regras metacomunicativas do paciente, tal como exis tiam tanto antes como depois da terapia. Sugeriurse acima que os paradoxos da brin- cadeira sio caracteristicos de uma etapa de evo- lugio. Suge! sio um ingrediente necessirio neste processo mos psicoterapia. £ profunda, de fatw, « semelhanga enue 0 processo de terapia e o fendmeno brincadeira. Ambos ocorrem dentro de um enquadre psi- m mensagens mos aqui que paradoxos similares de mudanga que denomi a wine ftasa ¢bincudera colégico detimitado, uma delimitagio espacial € cemporal de um conjunto de mensagens interativas. Tanto ma brineadeira como na te- rapia, is mensagens apresentam uma rela¢io especial e peculiar com uma realidade mais conereta © mais basica, Da mesma forma como © pseudo combate na brincadeira nao é um combate real, © pseudo amor e 0 pseudo édio nao sto amor € ddio reais. transferido” diferenciado do amor € ddio reais por meio de sinais que invocam 0 enquiadre psicolégico; e de fato é esse enqua- dre que permite ao que é transferido alcangar sua intensidade completa e poder ser discuti- do entre paciente ¢ terapeuta. As caracteristicas formais do processo terap construcio de um modelo em etapas. Imagine primeiro dois jogadores que se engajam num jogo de canastra seguindo um conjunto padro- hizado de regras. Enquanto essas regras dura- sm questionadas por nenhum dos Jogadores, nao ha mudanca no jogo, isto é, nenhuma mudanga terapéutica ird ocorrer. (De fato, varias tentativas de psicoterapia fracas sam por esta razi0.) Podemos imaginar, no entanto, que em um dado momento os dois Jogadores de canastra parem de jogar e come- cem a discutir as regras. Os seus discursos en- contram-se agora num tipo légico diferente daquele em curso no jogo. No final desta dis- cussiio, podemos imaginar que eles voltario a jogar mas com regras modificadas. Essa seqiiéncia de eventos, no entanto, €ain- ‘utico podem ser ilustradas através da rem e nio foi da um modelo imperfeito de uma interacio terapéutica, ap-sar de ilustrar nossa tese de que ate pia necessariamente envolve uma combi nagao de discursos com tipos légicos diferen: tes, Os nossos jogadores imagi © paradoxo ao separar a sua discussio das re gras do jogo, do jogo propriamente dito, e ¢ precisamente esta separagio que de ser feita em psicoterapia, Da maneira em que o concebemos, 0 processo de psicoterapia realizada dentro de um enquadre em que as itas mas sujeitas a mudanca jos evitaram te mpossivel m a ser uma nteracio entre duas pessoas, regras sio impli Tal mudanca s6 pode ser proposta através de aco experimental, mas toda a¢io experimen: tal na qual a proposta de mudangas das regras esteja implicita 6, ela propria, parte do jogo em andamento. E esta combinagao de tipos légicos um tinico ato de significacio que da a tera pia um carater nao rigido como o da canastra, ‘mas, 20 contrario, o de um sistema de interacio em constante evolugao. As brincadeiras dos fi Ihotes de gatos ou de lontras tém essa mesma natureza. (24) Quanto a relagao especifica entre maneira como o paciente manipula enquacires € a maneira como o terapeuta os manipula, muito pouco pode ser dito no presente mo- mento. £ interessante observar, no entanto, que © enquadre psicolégico da terapia é um anclo- go das metamensagens ou enquadres que 0 esquizofrénico nao consegue atingir. Falar em “salada de palavras” dentro do enquadre psico- logico de uma terapia, em um certo sentido, 48 nio é patol6gico, De fato. o neurético é estimu- lado a fazer justamente isso, a0 contar seus so- nhos € suas associagdes livres, de forma que paciente e terapeuta possam chegara uma com- preensio desse material. Através do processo de interpretagao, o neuratico é levado a inserir a locucao “como se fosse” nas produgdes de seu pensamento de processo primario, produgdes essas que ele havia do ou reprimido, Ele precisa aprender que a fantasia contém verdades, Para 0 esquizotrénico 0 problema se apre- senta de forma diferente. O seu erro est em lidar com metaforas do proceso primario com a total intensidade de uma verdade literal. Atra- vés da descoberta do que essas metiforas repre- sentam, ele precisa descobrir que si apenas ‘criormente desvaloriza- metiforas, (25) Do ponto de vista do projeto, no entan- to, a psicoterapia constitui apenas um dos vari- 0 campos que estamos tentando investigar. A hossa tese central pode ser resumida como a afirmagao da necessidade dos paradoxos de abstracdo, Nio é apenas Historia Natural de ma qualidade sugerir que as pessoas possam ou devam se adequar & Teoria dos Tipos Logicos nas suas comunicacdes; seu fracasso nesta tare- fa nio se deve a um mero relaxamento ou a ignorancia. Ao contririo, acreditamos que os paradoxos de abstracio devem estar presentes €m todos os tipos de comunicacao mais com- plexos do que sinais de humor, e que sem esses paradoxos a evolugao da comunicagio estaria estagnada. A vida se tornar entio uma troca Cadernas 1PUB/5 infindavel de mensagens estilizadas, um jogo ‘com regras rigidas, sem o alivio da variacio ou do humor: Notas 1.Atsadugio éde Liicia Quental. Agradecemosa Pedro Garcez pela revisio do texto. 2, Esse ensaio foi apresentudo porJ. Haley no Encon- to Regional da Associngiio Americana de Psiquiatria (APA) na Cidade do México em 1 de marco de 1954. Foi transctito no livro Sieps a un Ecology of Mind com permissio da American Psychiatric Association. Agra- decemos a APA por ceder os direitosautorais para esta publicagio, de circulagzo restrita. A tradugio deste tex: to também consta do lisyo Socilinguistica Interacional. Antropologia, Linguistica « Sociologia em Andlisedo Discu- 40, Age Editora, Porto Alegre, 1998, 3, Averbalizagio destas regras metalin conquista muito posterior que s6 pode ocorrer aps a cvolugio ce uma metadinguistica nao-verbalizada. Bibliogvafia ‘CARPENTER, G. R.- "A Field Study of the Behavior and Social Relations of Howling Monkeys” em Comp. Psychol. Monogr, 0.10: 1-168; 1984 CARNAPR,- The Logical Syntax of Language; New York, Harcourt Brace; 1937, KORZYBSKI, A.- Scienceand Sanity; New York, Science Press; 1941 LORENZ, K. Z. - King Solomon™s Ring: New York, Crowell: 1952. McCULLOCH, WS.-"A Heterarchy of Values, etc.,"em Bulletin of Math. Biophys, n.7:89-93; 1945. Uma torte solve fentesiae incur RADCLIFFE-BROWN, A. R, - The Andaman Islanders Cambridge, Cambridge University Press; 1922 RUESCH, Je BATESON, G. - Communications: The So. cial Matrix of Psychiatry; NY: Norton, 1951 TINBERGEN, N, - Social Behaviorin Animals with Special Reference to Vertebrates; London, Methuen; 1953. WHITEHEAD, A.N, ¢ RUSSEL, B. - Principia Mathematica, 3 vols,, segunda edicio, Cambridge, Cambridge University Press, 1910-13, WITTGENSTEIN, L. - Tractatus Logico Philosophicus, Londres, Harcourt Brace, 1922. WHORE B. L. - Whorf, "Science and Linguistics" em Technology Review, n,44:999.48; 1940, Bibliogra: fia CARPENTER, C. R.- "A Field Study of the Behavior and Social Relations of Howling Monkeys" em Comp. Psychol. Monogy,n,10: 1-168; 1984. CARNAP R - Tie Logical Syntax of Language; New York, Harcourt Brace; 1937. KORZYBSKI, A.- Science and Sanity; New York, Science Press; 1941 LORENZ, K. 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