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A mesa e os papeis refletiam um tom alaranjado que incidia pela

janela do escrtrio no quinto andar. J era o fim do expediente e o cansao


fsica comea a se manifestar entre os funcionrios atravs de uma srie de
bocejadas que instigava a todos ali a olharem para seus relgios. No era
apenas a rotina do trabalho que deixava Clio cansado, os textos que tinha
que revisar e editar eram, na maioria das vezes, na seo de cultura.
Entretanto no eram reportagens interessantes, essas na verdade eram
uma raridade para ele, mas sim artigos de opnies sobre temas
aparentemente polmicos.
A situao poltica no pas no ano de 2016 e as constantes crticas
quanto a organizao das olimpadas no foram o suficiente para angariar a
ateno plenas dos escritores do jornar. Matrias sobre o perigo eminente
da criminalidade, a brutalidade desproporcional da polcia e os escandalos
de corrupo tiveram seus momentos de reflexo, anlise e, como sempre,
pouco resultado. Se falava de coisas importantes, prioridades a serem
reconhecidas. A imparcialidade jornalstica apontava inmeros problemas,
mas poucas solues contundentes, e sempre relativamente acessveis ao
estado, que deixam os leitores estarrecidos e sedentos para darem suas
opnies recicladas.
Mesmo com todo o borburiu de questes relevantes, ainda surgiam
artigos que Clio fazia questo de trabalhar com toda sua eficincia para
no ter o desnimo de lembrar deles no metr voltando para casa. Um texto
que foi finalizado em tempo recorde por Clio falava sobre o conceito de
arte e o autor recomendava que se tudo pode ser considerado arte, ento
melhor fazer arte feliz, ao invs de coisas tristes. Essa era a reclamao
principal do autor e sua ideia central era apenas isso. Clio reorganizou os
pargrafos para dar uma melhor fluidez ao texto e enviou rapidamente para
o pessoal do layout.

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