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DA Alunos Sobredotados: Respostas Educativas/ Dinamicas de Accao Educativa Helena Serra* Resumo Cada crianga traz em si uma combinacao essencial e substancialmente unica de caracteristicas e atributos, com génese nao somente na sua constituigao e plano genético, mas também derivados de muitos factores de influéncia presentes no ambiente a que € exposta, dentro dos varios grupos a que pertence, sendo de grande importancia a qualidade da interaccao entre estes dois conjuntos de factores determinantes. As elevadas capacidades que algumas criangas apresentam possibilitarao, naturalmente, uma realizacao elevada, uma vida enriquecida e de melhor qualidade, um contributo positivo para o engrandecimento da sociedade em geral, se o seu envolvimento familiar, escolar e em grupo de pares for adequado. A familia cabe encontrar formas de proporcionar enriquecimento de vida da crianca pela presenca e disponibilidade, pelos estimulos oferecidos, pelas relacoes afectivas estabelecidas, que se constituem como factores imprescindiveis para se conseguir uma boa e equilibrada estimulagao do seu potencial. A escola cabe tornar-se meio propulsor do aparecimento e desenvolvimento das suas potencialidades. A nao promogao de ambientes criativos, a falta de estimulos, de recursos, de oportunidades, 0 nao atendimento diferenciado em funcao das caracteristicas e necessidades individuais, constituem, frequentemente, as causas do nao desabrochar de capacidades latentes ou da perda de capacidades reveladas. Um programa de educagao para sobredotados deve prever uma estrutura “ESE de Paula Frassinetti 3 que permita a aceleracao, a complexidade e o aprofundamento, bem como todo o material suplementar necessario. As dinamicas de accao do professor, em termos de metodologias e de estratégias, a diferenciagao pedagogica e 0 desenvolvimento de actividades de enriquecimento curricular, representam para o aluno sobredotado o suporte consistente da sua educacao. As criancas sobredotadas com desequilibrio de desenvolvimento nas suas capacidades, podem ter de enfrentar situagdes de nao aceitagao que podem degenerar em frustracao, desmotivagao e, nao raro, em problemas do foro psicoldgico e/ou fisiolégico, o que significa uma perda irreversivel de talentos que poderiam ter sido uma mais valia para a humanidade. As escolas nao podem continuar a permitir-se 0 desconhecimento das necessidades educativas especificas destes alunos, 0 alheamento em relacao a praticas de diferenciacao, em ambientes inclusivos. Introducao O Ministério da Educagao, em documentos publicados, tem assumido, teoricamente, esta problematica: “Sobredotacgao constitui a expressao de um conjunto de factores interactuantes que resultam na manifestagao de um desempenho saliente. (...) O ambiente educativo em que se processa o desenvolvimento das criangas e, particularmente, a escola, joga um papel decisivo na sobredotacgao, cabendo-lhe a responsabilidade de criar oportunidade e experiéncias de aprendizagem favoraveis ao desefivolvimento e expressao da sobredotacao. (...) A atencao as diferencas individuais e ao contexto de aprendizagem implica uma flexibilizagao da organizacao escolar, das estratégias de ensino, da gestao dos recursos e do curriculo, por forma a proporcionar o desenvolvimento maximizado de todos, de acordo com as caracteristicas pessoais e as necessidades individuais de cada um. (...) Uma das maiores dificuldades que decorre da operacionalizacao destes ptincipios, no contexto de cada escola, diz respeito a concretizagao de um ensino diferenciado e a planificagao e gestao dos recursos humanos e técnicos disponiveis para lhe dar coeréncia e viabilidade. O ajustamento da qualidade das respostas educativas produzidas pela escola telativamente aos alunos sobredotados. podera contribuir para a construgao de uma pratica pedagégica mais centrada nas particularidades psicoldgicas, sociais, cognitivas, que fazem de cada crianga e jovem um sujeito nico, cujo direito a diferenca é a valorizacao das suas potencialidades e competéncias 74 devera constituir a finalidade central do sistema educativo” (in Criangas e Jovens Sobredotados: Intervencao Educativa, ME-DEB, 1998). No entanto, muitos pais portugueses estao angustiados com a falta de respostas da escola. Muito poucos estao orientados e apoiados, dando um suporte adequado aos filhos. E verdade que os professores e educadores estao cada vez mais despertos para esta forma de diversidade e para as necessidades destes alunos e que a gestao das escolas vem desenvolvendo esforcos para apoiar as diferentes formas de diversidade, todavia, quanto aos alunos sobredotados, as dificuldades de actuagao mantém-se e sao miltiplas. Em nosso entender, as criancas sobredotadas apresentam Necessidades Educativas Especiais, por isso necessitam de respostas diversificadas que passam pela flexibilizacao e adequacao curricular e por uma efectiva diferenciagao de métodos e estratégias educativas. Conceito de sobredotacao As criancas sobredotadas nao constituem um grupo unico, homogéneo e facilmente reconhecivel em qualquer situagao. Cada crianga traz em si uma combinagao essencial e substancialmente tnica de tracos, caracteristicas e atributos, oriundos nao somente da sua constituigao e plano genético, como também derivados de muitos factores de influéncia presentes no ambiente a que é exposta, dentro dos varios grupos a que pertence, sendo de realcar a importancia da qualidade da interaccao entre estes dois conjuntos de factores determinantes. O aluno sobredotado é visto como alguém que possui um conjunto de vincadas caracteristicas pessoais, entre as quais se salientam: percepcao e meméria elevadas, raciocinio rapido, habilidade para conceptualizar e abstrair, fluéncia de ideias, flexibilidade de pensamento, originalidade e rapidez na resolucao de problemas, superior inventividade e produtividade, elevado envolvimento na tarefa, persisténcia, entusiasmo, grande concentragao, fluéncia verbal, curiosidade, independéncia, rapidez na aprendizagem, capacidade de observacao, sensibilidade e energia, auto-direccao, vulnerabilidade e motivacao intrinseca (Serra, 2001). Tem sido comummente aceite que 0 aluno sobredotado é aquele que se destaca por um desempenho excepcional numa determinada area ou, simultaneamente, em diversas areas como: capacidade intelectual, capacidade de lideranga, aptidao oy académica especifica, capacidade psicomotora, psicossocial e criativa ou que apresenta talentos e habilidades especificas para as artes plasticas, teatro, musica, danga ou demais habilidades (Novaes, s/d). Outras definigdes mais especificas desviam o enquadramento teérico da sobredotacao para situagdes mais precisas da componente humana. Assim: » na teoria das multiplas inteligéncias, desenvolvida por Howard Gardner (1994), a mente humana é multifacetada, existindo varias capacidades distintas que podem receber a denominagao de inteligéncia: légico-matematica, linguistica, musical, fisico-cinestésica, espacial, interpessoal e intrapessoal; > na teoria da criatividade o enfoque é colocado na actividade de criar, de produzir aquilo que é simultaneamente original e util, envolvendo a capacidade de perceber possibilidades, tolerar ambiguidades, recombinar, pensar independentemente, planear, julgar sem preconceitos, perceber analogias. Independentemente de uma definicao consensual, na crianca sobredotada, um cérebro de sete anos, pode funcionar muito além dessa idade cronolégica, conquanto nao deixe de pertencer a um corpo de sete anos, com emocées proprias dessa idade. As criancas sobredotadas, com desequilibrio de desenvolvimento nas suas capacidades, podem ter de enfrentar situacdes de nao aceitagéo que podem degenerar muitas vezes em frustracdo, desmotivagao e, nao raro, em problemas do foro psicolégico e/ou fisiolégico, o que significa uma perda irreversivel de talentos que poderiam ter sido uma mais valia para a humanidade. A familia, como primeira educadora, tem de encontrar formas de pro- porcionar enriquecimento de vida da crianga pela presenga e disponibilidade, pelos estimulos oferecidos, pelas relagdes afectivas estabelecidas, que se constituem como factores imprescindiveis para se conseguir uma boa e equilibrada estimulacao do seu potencial. A escola tem de cuidar da promogao de ambientes criativos, plenos de estimulos, de recursos, de oportunidades. Quanto as dinamicas de accao do professor, em termos de metodologias e de estratégias, a diferenciacao pedagogica e o desenvolvimento de actividades de enriquecimento curricular, Tepresentam para 0 aluno sobredotado o suporte consistente da sua educacao. 1% Caracteristicas gerais dos alunos sobredotados Os sobredotados revelam um conjunto de indicadores comportamentais especificos que podem ser agrupados de acordo com determinados dominios de referéncia. Segundo Guenther (2000), afirmam-se os seguintes tipos de talentos: talento académico (inteligéncia verbal, pensamento abstracto ou capacidade geral); pensamento criativo (artes, ciéncia, etc.); talento psico-social (lideranga); talento psicomotor (competéncias motrizes). Apresentam um conjunto de caracteristicas distintivas. No dominio das aprendizagens revelam possuir: » vocabulario avancado para a idade e nivel escolar; » habitos de leitura independente, as vezes por iniciativa propri: » dominio rapido da informagao e facilidade na evocagao de factos; » facil compreensao de principios subjacentes; » capacidade para generalizar conhecimentos, ideias ou solucées; > conhecimentos excepcionais numa ou mais areas de actividade ou de conhecimento. No dominio da motivagao demonstram: » tendéncia para iniciar as suas proprias actividades; » persisténcia na realizacao e na finalizacgao de tarefas; » busca de perfeicao; » desmotivacao perante as tarefas de rotina. No dominio da criatividade manifestam: » curiosidade elevada perante um grande numero de coisas; » originalidade na resolugao de problemas e no relacionamento de ideias; » pouco interesse pelas situacées de conformismo. No dominio da lideranca revelam: » auto-confianga e sucesso com os pares; 7 » tendéncia a assumir a responsabilidade nas situacoes; » facil adaptacao as situacdes novas e as mudangas de rotina. No dominio sécio-moral demonstram: » preocupacao com os problemas do mundo; » ideias e ambigées muito elevadas; » juizo critico relativo a si proprio e aos outros; > preferir interac¢6es sociais direccionadas para pares mais velhos ou adultos. (adaptado de Renzulli, 1984) Os problemas escolares dos sobredotados Alguns sobredotados podem ter sido éptimos alunos nos primeiros anos de escolaridade. A monotonia, a rotina, 0 desperdicio de tempo, a hostilidade dos colegas, a independéncia rebelde e a atitude de alguns professores podem ter contribuido para desempenhos aquém do esperado, diluindo todo o prazer que ele evidenciara outrora. Véem a escola, nao como um lugar proporcionador de aprendizagens significativas, mas sim como um espaco de grande tristeza e frustracao. Alguns limitam-se a ocupar um lugar na sala de aula, completamente alheios ao que ai acontece, preferindo libertar o seu pensamento para os conceitos que mais Ihes agradam, nem sempre os mais valorizados pela cultura escolar. Outros nao possuem um equilibrio harmonioso e global das suas capacidades, podendo apresentar areas basicas fracas o que origina dificuldades na realizagao escolar e na interaccao pessoal. Os sobredotados com sucesso, obtém bons resultados escolares e adaptam-se facilmente as expectativas dos professores e dos colegas. Um pequeno numero tem dificuldade em aceitar as suas capacidades e em compreendé las. Por vezes, o contexto escolar parece nao compreender o aluno sobredotado, impedindo-o de intervir quando e como gostaria, subaproveitando as suas realizagoes. Tais comportamentos originam frustracao, que se manifesta em comportamentos desajustados, de oposigao, auto-marginalizando-se dos demais, numa tentativa de chamar a atencao sobre si proprio, um modo inconsciente de solicitar ajuda e apoio. O reconhecimento, pelo professor, de que um aluno é mais inteligente ou talentoso do que os pares da turma, nao lhe da o direito de o exibir ou distinguir dos demais, fazendo perigar a relacao com os colegas. Como educadores, importa ter consciéncia de que a maneira como estruturamos 0 ambiente para as criangas, modifica a sua estrutura biologica e neuroldgica. Quando o cérebro se torna mais acelerado e mais integrativo nas suas fungées, 0 individuo expressa caracteristicas que identificamos como inteligéncia elevada. Pode comprovar-se que algumas dessas caracteristicas so resultados directos de modificagées na estrutura do cérebro. Essas mudangas vao continuar a ocorrer enquanto houver estimulacao apropriada, pelo que 0 aluno deve sentir desafios, dirigidos ao seu nivel de desenvolvimento, dado que o crescimento pode nao continuar e o individuo, de facto, pode perder potenciais. Uma maneira essencial de garantir que 0 cérebro receba a estimulagao de que precisa é através do curriculo diferenciado. Um programa de educagao para sobredotados deve prever uma estrutura que permita a aceleracao, a complexidade e 0 aprofundamento, além de todo © material suplementar necessdrio. Muitos alunos sobredotados possuem extraordinaria quantidade de informacoes e exibem elevados niveis de conhecimento tornando-se a compreensao de conteidos muito avangada € significativa, sendo aconselhada a aceleracéo, com vista ao avanco nas aprendizagens. A complexificagao assenta na ampliacgao e enriquecimento dos contetidos curriculares pelo estudo de questdes, problemas e temas que envolvam estabelecer relagdes entre as ideias, efectuar conexdes com outros assuntos, adoptar diferentes pontos de vista, praticar interdisciplinaridade, integrar altos niveis de pensamento no trabalho regular, encontrar relagdes diversas e incomuns, formar conexées e configuracoes originais, relacionando ideias a niveis de maior sofisticagao, visualizando associagoes entre assuntos, topicos e niveis, encontrando e construindo solugées miltiplas. O aprofundamento implica descobrir detalhes, informagées novas e re- conhecer novas perspectivas do que foi aprendido. A diferenciagéo natural parte do concreto para o abstracto, do proximo para o distante, do conhecido para o desconhecido, do simples para o complexo. A diferenciacao introduzida, envolve, por exemplo, comparagoes entre passado, presente e futuro, inclusao de estudos classicos, filosofia e eventos actuais, analise de temas determinando factos, conceitos, generalizagées, principios e teorias. Sugestées para os professores O papel do professor é sobretudo de facilitador e orientador da aprendizagem da crianca sobredotada. Importa que saiba: » respeitar o seu ritmo de aprendizagem, facultar-lhe toda a informacao possivel sobre assuntos do seu interesse, instigando o pensamento divergente, encorajando a pesquisa e procura de saberes mais aprofundados; » estimular o espirito observador, exercitando-o através de livros, imagens, visitas de estudo, filmes, etc. » permitir a liberdade de movimento na accao e na tomada de decisoes; » fornecer materiais individualizados relacionados com o tema a pesquisar; » enriquecer a experiéncia de vida em todas as direccdes possiveis; » encorajar e permitir 0 trabalho independente, respeitando a sua indivi- dualidade; » dar oportunidade para mobilizar os seus interesses e perseguir os seus objectivos; » minimizar ao maximo o uso da repeticao, de forma a evitar que a crianca se desinteresse e se desmotive; » debater com ela assuntos do seu interesse; » elogiar e reconhecer o seu trabalho; » alimentar 0 seu espirito auto-critico, de forma a que procure cada vez maiores niveis de qualidade e perfeicao; » ajudar a crianga a lidar com o insucesso, mostrando-lhe que nao se pode ser sempre excelente em tudo, levando-a a olhar o insucesso como situacao de aprendizagem, analisando e compreendendo o sucedido; » responder com a maior precisao e clareza possivel 4s suas questoes, instigando-a a que questione sempre mais e melhor; >» permitir-lhe que crie novas situa¢ées artisticas, que fujam do convencional, facultando-lhe os meios necessdrios para que o faca; » dar-lhe disponibilidade de tempo e materiais para “brincar” com as ideias; » permitir-The que experimente uma grande variedade de técnicas e materiais, fornecendo-lhas; » criar situagées problematicas, instigando-a a que procure a sua resolucao; » alimentar a sua sensibilidade a beleza e a estética, 4 harmonia e a origi- nalidade; » criar situagées que lhe permitam fantasiar e imaginar; » aceitar as suas ideias e solucées para os problemas e perguntas; oma » dar-lhe espaco e tempo para que expresse a sua opiniao; » aumentar a sua autoconfianga face as criangas da sua idade e face aos adultos, nomeadamente através de jogos e situagées de trabalho de grupo; » promover e enriquecer a relagao com os seus “pares” » permitir o intercambio de opinides por forma a leva-la a perceber a riqueza da partilha; » aumentar o seu grau de responsabilidade, fazendo-a cumprir 0 que se propoe; » dar-lhe oportunidade de assumir varios papéis na interaccéo com o grupo; » permitir e favorecer o seu contacto com pessoas e criangas de diversos contextos socio/econémico/culturais, com a finalidade de a levar a conviver com as diferencas que nela existem em relacao aos demais; » provocar situagoes que lhe déem oportunidade para desenvolver capacidades de lideranga (jogos, actividades, tarefas); > oferecer-Ihe novas ideias sobre varios temas; > facultar-lhe e promover-lhe a possibilidade de utilizagao de novas técnicas e materiai: » incrementar nelao gosto pela producao de trabalhos originais, equilibrados e harmoniosos; » respeitar 0 seu ritmo na realizacao dos seus projectos, permitindo-lhe que ); » permitir e incrementar a sua capacidade de “criar” produtos originais; » proceder a abordagens criativas para o desenvolvimento e fortalecimento das suas habilidades orais; » permitir e incentivar a que seja ela a organizar e sequenciar, no espaco e se concentre neles por largos periodos de tempo (horas, dias, semanas,. no tempo, os varios passos para a execucao dum trabalho; » fazé-la prever os passos a dar para a obtengao do produto final; » estimuléla a que encontre varios métodos e meios alternativos para atingir determinado objectivo. Envolvimento escolar As dinamicas de accao do professor, em termos de metodologias e de estratégias pedagogico-didacticas, a diferenciagao pedagdgica e 0 desenvolvimento de actividades de enriquecimento curricular, representam para 0 aluno sobredotado 0 suporte consistente da sua educagao, ja que é a cada professor e ao conselho de turma que compete: construir um projecto curricular de turma que contemple todos e cada um dos alunos; estabelecer finalidades; determinar objectivos de aprendizagem; seleccionar experiéncias significativas de aprendizagem; ajustar os métodos e as estratégias; regular as aprendizagens; reorganizar o percurso do processo de ensino-aprendizagem; introduzir alteragoes consequentes; propor actividades de enriquecimento curricular; utilizar espagos e equipamentos pedagogicos complementares; desenvolver, de forma progressiva, programas de aprofundamento sobre determinados contetidos curriculares e/ou de aceleragao para contextos mais avangados, pelo recurso a adaptagoes curriculares entre disciplinas ou areas disciplinares. Como estratégias, Van Tassel (1980) propde um conjunto de estratégias educativas que procuram facilitar 0 processo de ensino/aprendizagem dos alunos sobredotados e, consequentemente, promover 0 seu sucesso escolar. Estas estratégias tendo em conta os dominios psicoldgico, social, cognitivo e ecoldgico, serao as seguintes: » sentimento geral de sucesso num ambiente intelectual estimulante; » flexibilidade nos tempos atribuidos para a realizacao das tarefas; »- clima de participacao e partilha de responsabilidades; » suporte emocional para o fracasso; » ajuda do aluno na compreensao do efeito social de determinadas atitudes e comportamentos; » participagao em tarefas de grupo; » desenvolvimento e partilha de interesses e competéncias, evitando o isolamento e o desajuste social; >» clarificagao e discussao de regras e as consequéncias do seu desrespeito; » estimulo a auto-critica, assim como ao desenvolvimento da dinamica de grupos; » recurso a jogos de expresséo dramatica sobre aspectos da vida social do grupo-turma, de forma a percepcionar melhor o estatuto social do aluno sobredotado e descobrir solugGes educativas mais integradoras; > promocao da comunicagao escola-familia, envolvendo os pais no percurso escolar dos seus educandos; » ensino individualizado nos contetidos especificos que melhor dominam,; » flexibilizacao curricular adaptada a ritmos de aprendizagem mais rapidos e estruturada com tarefas especiais ou op¢oes alternativas; » facilitacao do acesso e disponibilizacao a/de recursos adicionais de informacao nas areas do conhecimento do seu interesse, que assegurem a motivagao do 82 aluno na actividade escolar e ajudem a expressao e 0 desenvolvimento das suas caracteristicas potenciais; » organizacao de trabalhos de projecto contextualizados no quadro dos objectivos curriculares e situados na comunidade educativa, proporcionando a construcao social do seu proprio conhecimento e o dos outros alunos; » estimulacao da expressao criativa, através da facilitagao das interaccdes verbais e nao-verbais livres e espontaneas; » participacao na planificacao de tarefas sobre os contetidos da aprendizagem, sob a orientagao do professor, tendo em conta o grau de exequibilidade e a originalidade das propostas; > realizacao de experiéncias de aprendizagem activas e orientadas para a resolugao de problemas, estruturadas a partir da vida real; > construcao de um clima de sala de aula onde os alunos sobredotados sintam que podem manifestar as suas diferentes habilidades e que traduza expectativas favoraveis de sucesso; > planificacao para todos os alunos, incluindo os sobredotados, de momentos formativos de jogo e de lazer; > criagao de condicées para a produgao de respostas ajustadas a questoes que exigem procedimentos de pesquisa; > adopcao do refor¢o positivo na valoracao do trabalho realizado, reconhecendo e elogiando o resultado conseguido pelo aluno sobredotado. Consequéncias da falta de apoio aos sobredotados Aescola deve implementar estratégias de diferenciacao pedagogica, quer ao nivel da organizacao e do planeamento do processo de ensino-aprendizagem dos alunos sobredotados, quer ao nivel do desenvolvimento de competéncias sociais, promotoras do exercicio da cidadania, na perspectiva do aprender a viver juntos. Se assim nao for, nas miultiplas e diversas interaccdes que o aluno sobredotado desenvolve no seu quotidiano escolar, pode ficar fragilizado, 0 que pode traduzir-se, a nivel sécio-emocional, em irritabilidade, sentimento de inferioridade, culpabilizacao pelos outros, isolamento, baixa auto-estima, rejeigao por valores, descrenca em si proprio, passividade, procura de marginalidade; a nivel escolar, em baixos resultados, atitude negativa, apatia, desatengao, irreveréncia, falta de persisténcia, culpabilizacao dos professores pelos seus insucessos, desinteresse, hiperactividade, preferéncia pelos grupos marginais; a nivel familiar, em agressividade, instabilidade emocional, isolamento, arrogancia, intolerancia, desobediéncia, infelicidade e sentimento de rejeigao. Apresentacao da Associacao A Associacao Portuguesa das Criancas Sobredotadas — A.P.C.S. - foi fundada no Porto, em 1986, na sequéncia do primeiro congresso internacional realizado na mesma cidade, em Agosto de 1986, em que tomaram parte numerosos cientistas estrangeiros, alguns de renome internacional. Em 1987, realizou o seu segundo congresso internacional, igualmente na cidade do Porto. Dirigiu a sua accao no sentido de promover a sensibilizagao publica, a formagao de profissionais e de pais, a identificacao, orientagao e encaminhamento de casos, 0 atendimento de casos através de programas de enriquecimento, o intercambio com instituigdes congéneres estrangeiras, a participagao em conferéncias e outros eventos internacionais no ambito desta tematica. Fé-lo numa atitude pioneira, quando no nosso pais ainda constituia tabu falar-se de SOBREDOTACAO. A partir do final da década de noventa, numa relacao estreita com a Escola Superior de Educacao de Paula Frassinetti, que a honrou, concedendo-lhe, sem qualquer interesse lucrativo, 0 espaco-sede e a co-responsabilizacao pelo programa SABADOS DIFERENTES, orientou a sua acgao para uma maior expansao, através da criacao de pélos em miiltiplas localidades do continente e regides autonomas. Dessa forma e a par disso, tem continuado a sensibilizar a opinido publica através da realizagao anual de Encontros Tematicos, a responder as solicitagdes de apoio, aconselhamento e formacao que lhe sao dirigidas por pais, pelas escolas ou outras instituicoes, a efectuar a identificacao de casos, a desenvolver actividades dirigidas a criangas e jovens sobredotados, e tem contribuido para 0 estudo cientifico relacionado com a tematica. A AP.CS. dispoe dos érgaos estatutariamente definidos, e organiza-se internamente por centros - Centro de Expansao, Centro de Atendimento, Centro de Documentacao - e ntcleos - Nucleo Jovem. Tem vindo a contribuir por todas as formas para 0 adequado desenvolvimento das criangas e jovens sobredotados, colaborando na defesa do direito da crianga ou jovem a desenvolver-se saudavelmente na escola e na comunidade, porque rodeados das condigdes ambientais adequadas, isto é, rodeados da compreensao das suas capacidades.e necessidades e, por forga disso, atendidos num ambiente inclusivo, de forma diferenciada. nes Como organizacao de pais, de ambito nacional, pretende colocar, em didlogo vivo com as instancias governamentais, a defesa das condi¢des adequadas para o seu desenvolvimento salutar, ciente de que 0 nosso pais e a comunidade global enriquecer-se-ao se os soubermos rodear de um envolvimento educativo condigno. Portugal nao pode continuar a permitir que, nas escolas, se desconhegam as necessidades educativas especificas destes alunos e se nao opere a diferenciagao, em ambientes inclusivos. Referéncias Bibliograficas CORTIZAS, M. (2000). Mentes criativas, mentes superdotadas? Sobredotacao, 1, 2 (1), p. 99 -120. FREEMAN, J. & GUENTHER, Z. (2000). Educando os mais capazes: ideias e ac¢ées comprovadas. Sao Paulo: E.P.U. GARDNER, H. (1983). Frames of mind. New York: Basic Book. GUENTHER, Z. C. (1984). Dez anos em prol do bem-dotado. MEC-ADAV, Imprensa Oficial, Belo Horizonte. GUENTHER, Z. C. (1986). Inventividade, criatividade, inteligéncia e educagao de bem-dotados, Educagao em Debate, ano 9, n.° 12, Jul/Dez. p. 59-68. GUENTHER, Z. C. (2001). Desenvolver capacidades e talentos, um conceito de inclusao. Rio de Janeiro: Editora Vozes. GUILFORD, J. P. (1952). The nature of human intelligence. New York: Basic Book. NOVAES, H. (1992). Psicologia de la actitud creadora. Buenos Aires: Kapelusz. SERRA, H. (2004). O Aluno Sobredotado / A Crianga Sobredotada. Vila Nova de Gaia: Edigdes Gailivro. TORRANCE, P. (1965). Predictive Validity of the Torrance Tests of Creative Thinking. Journal of Creative Behavior, 6: 236-252. WINNER, E. (1996). Criangas Sobredotadas. Mitos e Realidades. Lisboa. Instituto Piaget. fetal

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