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Elaine Sampaio2
Safira Barbosa3
Jussara Borges4
Introdução
Hoje mais que em qualquer época, o conhecimento e a administração
equilibrada dos recursos tecnológicos e informacionais têm sido fator estratégico
indispensável para o desenvolvimento das sociedades. Paradoxalmente, como
resultado da ampla e por vezes desordenada oferta de informações, principalmente
via Internet, surgiram barreiras relacionadas ao seu acesso, tais como o número
ilimitado de fontes e o desconhecimento de mecanismos de filtragem, organização e
mesmo de apropriação da informação.
Neste cenário, a information literacy - neste trabalho traduzida por
“competência informacional” - ganha cada vez mais espaço entre bibliotecários e
arquivistas, particularmente, porque são profissionais que têm a informação como
objeto de trabalho. De forma genérica, a competência informacional está relacionada
à simbiose de conhecimentos, habilidades e atitudes para perceber uma
necessidade de informação, localizá-la rapidamente, avaliar sua pertinência e
qualidade, e aplicá-la adequadamente. Atualmente também tem sido empregada
para designar processos de construção de conhecimento a partir da busca,
utilização e criação de informações. Outro viés do conceito é a aplicabilidade da
informação para resolver questões da vida cotidiana, o que envolve também a
necessidade de reconhecimento e busca da informação para tomada de decisão.
Observa-se na literatura sobre o tema que há uma preocupação em propiciar
o desenvolvimento de competências informacionais no usuário, mas poucas
pesquisas têm se ocupado em saber se o próprio profissional da informação tem
competência informacional. Também há poucos estudos que trabalham com
métodos ou modelos para medir a competência informacional; os trabalhos, em
geral, têm como foco a discussão das habilidades a serem desenvolvidas.
A partir dessa constatação, este estudo se propõe a investigar o
desenvolvimento da competência informacional entre os estudantes formandos da
graduação em Biblioteconomia e Documentação e da graduação em Arquivologia da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), partindo do levantamento dessas
competências e da proposição de um modelo de aferição das mesmas.
O artigo está estruturado em 7 partes. Segue-se à Introdução, a
fundamentação teórica, na qual se analisa o Contexto de emergência da
competência informacional, seus Conceitos e a discussão relativa à Avaliação dessa
competência. Em Procedimentos Metodológicos se explica a estratégia para
alcançar o objetivo e nos Resultados são avaliadas as competências informacionais
desenvolvidas pelos formandos. Por fim, a Conclusão sumariza os principais
1
Versão prévia deste artigo foi apresentada como trabalho de conclusão de curso na Universidade Federal da
Bahia
2
Bacharel em Biblioteconomia (ICI/UFBA)
3
Bacharel em Arquivologia (ICI/UFBA)
4
Doutoranda em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Facom/UFBA), Mestre em Ciência da Informação
(ICI/UFBA), Professora Assistente (ICI/UFBA)
2
Competência informacional
Competência informacional é um conjunto de competências que abrangem o
uso da informação de forma que possa ser recuperada e utilizada para tomada de
decisão na vida social, no trabalho, nas pesquisas acadêmicas, entre outros. Sua
definição básica é o reconhecimento da necessidade da informação, além da
habilidade efetiva na localização, avaliação e uso.
Em seu estudo, Miranda (2006) define a competência informacional em três
dimensões sendo relacionadas: ao saber (conhecimentos), ao saber-fazer
(habilidades) e ao saber-agir (atitudes). O sujeito, no seu contexto, utiliza tanto a
razão quanto a sua experiência para construir seu conhecimento. No que diz
respeito às habilidades, relaciona-se à capacidade de aplicar e fazer uso do
4
5
Tradução de Maria das Graças Almeida Teixeira - professora do Instituto de Ciência da Informação
(ICI/UFBA).
5
Procedimentos Metodológicos
Num primeiro momento, foi identificado na literatura o tema competência
informacional quanto: 1) ao conceito; 2) às competências que são apontadas para os
profissionais da informação, e 3) à avaliação de tais competências. Além da
aproximação teórica, o resultado alcançado nessa etapa foi a síntese das
competências desejáveis a um profissional da informação, tendo como base a
análise da literatura e as discussões no grupo de pesquisa. Para cada competência
foram instituídos indicadores que objetivavam verificar se a competência era
observável no pesquisado.
Resultados
No Quadro 1 estão indicados os resultados obtidos em todas as 6
competências pesquisadas entre os 29 indivíduos. Na competência 3, no entanto, 2
alunos de Biblioteconomia não conseguiram compreender as informações
localizadas, o que inviabilizou o prosseguimento do levantamento com eles. A partir
da competência 4, portanto, contamos com apenas 27 pesquisados fazendo parte da
amostra.
21 4 4
informação
informação
resolução do problema 27 1 1
ões
Compreende as informações
recuperadas 21 3 5
Competência 3:
da informação.
facilmente recuperá-la 17 7 3
Competência 6:
de roupas alertando para os cuidados para lavá-las e passá-las. Sobre esses pontos
Cendón (2001) diz que:
Este tamanho [tamanho das bases de dados] é de alta relevância para que
a ferramenta seja considerada boa, já que os recursos informacionais na
Internet só podem ser encontrados em uma pesquisa, se alguma ferramenta
os tiver incluído. Se um motor cobre mais da Web, ele terá maior chance de
conter a informação procurada [...] Embora gigantescas, as bases de dados
de cada motor não são iguais. Assim, para a mesma busca, cada
mecanismo invariavelmente trará bons resultados que outros não
encontraram. Para uma busca ser completa, necessariamente há de se usar
mais de uma ferramenta.
Em relação ao conhecimento dos mecanismos de busca, a maioria (25
pesquisados) demonstrou o domínio nesse quesito, usando termos que buscavam
traduzir e sintetizar a necessidade de informação, como: “cuidados no lavar e
passar”; “simbologia das etiquetas”; “camisa + cuidados + símbolos”. No entanto, 22
pesquisados precisaram empregar estratégias alternativas de busca, pois os termos
usados não estavam remetendo para a resposta apropriada na primeira tentativa.
Em geral, na segunda ou terceira tentativa, a informação requerida foi localizada e
passou-se às demais etapas do atendimento, mas 2 casos merecem menção: 1
estudante de Biblioteconomia acabou “perdendo-se” no site do Inmetro (Instituto
Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) e após mais de 20
minutos desistiu: “Realmente não consegui encontrar a informação das etiquetas,
fiquei devendo isso”; outro colega chegou ao site do Mercado Livre em que verificou
algumas informações sobre cuidados com camisas de algodão, leu o conteúdo
dessa página de maneira rápida, não prosseguiu com a busca e afirmou não
conhecer os símbolos na etiqueta, como também não demonstrou interesse em
ajudar a usuária com a informação solicitada.
Os 3 estudantes de Arquivologia que obtiveram resultados parciais no
terceiro indicador, na verdade tiveram dificuldades pela ausência de domínio de
algumas ferramentas do computador, como não conseguir usar adequadamente o
mouse e desconhecer o uso de links de acesso.
Assim, embora o resultado geral dessa competência seja o mais positivo se
comparado com as demais, ficou latente que, ainda, alguns profissionais da
informação saem da universidade sem habilidades básicas no uso do computador -
o que pode atrapalhar, senão inviabilizar sua atuação – e, pior, ainda há os que
deixariam o usuário ir embora sem a informação, embora ela esteja no seu “acervo”,
por falta de competência para localizá-la.
O Quadro 2 apresenta os dados obtidos com os formandos de
Biblioteconomia com relação à Competência 4 (Aplicar Informações). Como já
mencionado, comparativamente às demais competências, essa mostrou-se a menos
desenvolvida entre os futuros bibliotecários.
Quadro 2: Competência 4 - Aplicar informações
Indicadores Sim Parcialmente Não
Comunica as informações ao usuário de forma 9 1 0
compreensível para ele
Certifica-se de que o usuário compreendeu a 6 0 4
resposta
Verifica se o problema de informação do usuário foi 6 0 4
resolvido
Média 7 0,33 2,66
Fonte: pesquisa das autoras
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abriram arquivos de diferentes extensões (pdf, html, doc), mas 2 foram avaliados
como parcialmente competentes porque demonstraram dificuldades para localizar o
arquivo enviado pelo seu e-mail. Um não conseguiu abrir o próprio e-mail.
Os resultados da competência 6 demonstraram a centralidade que as
tecnologias de informação e comunicação ocupam no fazer arquivístico e como o
despreparo em manipulá-las compromete a execução de atividades que lhe são
específicas. Como afirmam Silva e Abreu (1997): “As mudanças já instaladas
impõem mudanças conceituais, de mentalidade, de comportamento. [...] impondo-se
uma ampliação de habilidades que vão muito além do registro e da guarda de
documentos.” A evolução se faz necessária e vem se prenunciando há tempos.
Conclusão
Os resultados revelam que os alunos de ambos os cursos estudados, em
sua maioria, possuem as competências indicadas como de responsabilidade do
profissional da informação, assim como desempenham seu papel de mediadores ou
facilitadores da informação. Em contrapartida, os resultados não são uniformes, com
alguns formandos esbarrando em procedimentos básicos como a manipulação das
tecnologias de informação e a inconclusão do processo de referência.
Os pesquisados, em geral, souberam identificar a necessidade de
informação do usuário, apesar de no primeiro momento haver certa resistência de
alguns alunos ao dizer que esse tipo de questionamento é quase impossível de
acontecer em uma biblioteca ou num arquivo. De acordo com Suaiden (1995), no
entanto, a biblioteca pública é uma instituição social, tanto pela amplitude do seu
campo de ação quanto pela diversificação dos seus usuários. Com os arquivos não
é diferente: “Outro não é o papel do arquivista na sociedade contemporânea senão o
de colaborar estreitamente para que os fluxos informacionais na sua área de ação
arquivística se possam dar de forma plena e mais satisfatória possível” (BELLOTTO,
2004).
A segunda competência – pesquisar informações – encontrou os melhores
resultados em ambos os cursos, enquanto a quarta competência - aplicar
informações – e a sexta competência - organizar, armazenar e recuperar a
informação – obtiveram os resultados menos satisfatórios para formandos de
Biblioteconomia e Arquivologia, respectivamente.
Percebe-se que os alunos de Biblioteconomia estiveram mais voltados em
localizar as informações solicitadas e transmitir o que foi encontrado, mas nem
sempre atentaram quanto à compreensão das informações pelo usuário. O papel do
bibliotecário só será completo se o usuário conseguir assimilar o que foi explicado,
podendo realmente resolver seu problema de informação. Já para os futuros
arquivistas faz-se necessário algumas ressalvas acerca das competências 3 e 6: a
análise, a avaliação, a organização, a armazenagem e a recuperação da
informação, embora funções chaves para os arquivistas, ainda não foram
competências completamente desenvolvidas por todos.
Um fato agravante neste estudo é que tivemos dados que indicam que
alguns alunos não desenvolveram competências informacionais. Os dois alunos que
não prosseguiram na pesquisa demonstraram despreparo em relação a
procedimentos básicos para um bibliotecário, como é a formulação de estratégias de
busca: mesmo com a Internet disponível, não conseguiram encontrar a informação.
O profissional da informação não poderia jamais deixar um usuário sem resposta.
Por fim, deve-se deixar claro que se torna indispensável a realização de
estudos mais extensivos, para que os resultados possam servir de parâmetro para
conclusões mais substantivas. Sugere-se para o futuro uma pesquisa que relacione
15
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