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Cinquenta Por Cento Profeta

Cinquenta por Cento Profeta


Por Darrel T. Langart 1

Que ele era um falastrão não havia dúvidas. Que ele era um profeta genuíno,
porém... Mas, então, qual a diferença entre um falsário e um profeta de verdade?

Ilustrado por Schoenherr

D R. JOACHIM SENTOU-SE NA PEQUENA SALA ATRÁS DA RECEPÇÃO E MANTEVE


seus dedos esticados sobre as frágeis teclas da máquina de escrever que estava em
cima de sua mesa. As mãos pareciam flutuar, longas, magras e pálidas. Aquelas
mãos eram como se fossem duas gaivotas em um voo subitamente congelado sobre algum
petisco boiando no mar retorcido. Estavam prontas para cair instantaneamente, assim que
o tempo recomeçasse.

Todo o corpo do Dr. Joachim parecia suspenso no mesmo tipo de êxtase. Apenas seus lábios
moviam-se silenciosamente enquanto ele montava a próxima sentença em sua mente.

Fisicamente, o bom doutor poderia ser considerado um grande homem: ele tinha ombros
bem largos e bem musculoso. Mas, escondido como estava sob as ondulações do seu traje
monástico azul, apenas sua curta estatura era notável. Ele tinha apenas cinquenta e quatro
anos, mas a sua pálida face, coberta por uma longa barba esvoaçante, um longo cabelo
branco e um pequeno chapéu azul dava-lhe um ar de eternidade, como se os séculos
passassem por ele e deixassem apenas marcas de experiência e sabedoria.

A extemporaneidade de um Matusalém idealizado, prestes a chegar ao seu nono centenário;


a sabedoria divina entalhada na face de Moisés enquanto ele desce do Sinai; o poder místico
do grande Merlin enquanto ele suavemente entoava uma palavra de albamancia — tudo
isso parecia ter sido cuidadosamente fundido e infundido no homem que sentava-se atrás da
máquina de escrever, compondo sentenças mentalmente.

Aquelas mãos gaivotescas lançaram-se subitamente ao teclado, e a velha máquina


tiquetaqueou rapidamente por quase um minuto, até que o Dr. Joachim pausou novamente
para ponderar suas próximas palavras.

Um sino soou suavemente.

Os olhos castanhos do Dr. Joachim voltaram-se rapidamente para a imagem preta-e-branca


na tela da TV montada na parede. Ela estava conectada a uma câmera escondida na sala ao
lado e mostrava uma mulher entrando pela porta da frente. Ele suspirou e levantou-se de
sua cadeira, ajustando seu robe azul cuidadosamente antes de ir para a porta que abria-se
para a sala externa.

1 Traduzido e editado por Renato Pincelli e com Notas do Tradutor (N. do T.). Para informações sobre o autor e o
tradutor, veja as notas biográficas na última página.
Fifty Per Cent Prophet, texto original desta obra, está sob domínio público nos Estados Unidos.
Esta tradução poderá ser livremente reproduzida desde que não seja utilizada para fins comerciais.
Qualquer outro uso ou modificação do texto depende de autorização do tradutor.
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Ele esperava que fosse uma cliente, mas...

“Olá Susan, minha querida”, disse ele, em um barítono macio, enquanto atravessava a
porta. “O que parece estar em problema?”

Não era o que ele teria dito a um cliente. Você não lhe faria perguntas, faria afirmações. Ele
teria dito, por exemplo: “Oh, você está com um problema.” Isso parece muito mais onisciente
e poderoso.

Mas Cherrie Tart — née Sue Kowalski — era uma das melhores strippers na beira-mar.
Passava seus invernos na Flórida, em Nevada ou em Porto Rico, mas no verão ela sempre
voltava pro Golden Surf do King Frankie, para fazer negócios de veraneio em Coney Island.
Ele poderia ter um bom nome no show-business agora, mas ela nunca se livrara de seu
passado carnavalesco e de King Frankie, que apesar do ultrabronzeado do Golden Surf,
ainda estava grudado em meio às velhas tradições de Minsky.

A aparência aborrecida em seu rosto perfeito era facilmente visível na tela de TV, mas fora
substituída por um sorisso brilhante à medida que o Dr. Joachim abria a porta. O sorisso
tremeu por um instante e ela disse: “Nossa, doutor, você consegue assustar uma garota
fazendo-a pensar que você pode mesmo ler a mente.”

Dr. Joachim apenas sorriu. Susan poderia saber, mas um bom místico nunca revela todos os
seus segredos. Ele sempre desejou poder realmente ler mente — ele ouvira falar de um
homem que podia — mas um pouco de psicologia bem aplicada é o suficiente às vezes.

“Então, doutor, como tem passado?”

Ela sorriu com seu melhor sorriso cenográfico — todos os dentes perfeitos, enquadrados
numa face perfeita e o cabelo como um perfeito elmo dourado. Ela parecia uma garota de
vinte e poucos anos, mas o Dr. Joachim sabia que ela havia nascido em 1955 e que
completaria trinta e dois anos em janeiro que vem.

“Razoavelmente bem, considerando-se tudo. Pelo menos”, admitiu o Dr. Joachim. “eu não
estou morrendo de fome.”

Ela olhou a sala à sua volta — os tecidos pesados, os signos do zodíaco dourados e
prateados, cadeiras superestofadas, tudo planejado para fazer os “clientes” sentirem-se
confortáveis e ainda vagamente impressionados pela atmosfera de misticismo antigo. À
meia-luz, poderia até ser, mas ela sabia que se as luzes fossem mais claras, a breguice se
revelaria.

“T ALVEZ VOCÊ PRECISE de uma nova decoração, Doutor”, disse ela.

Impulsivamente, ela puxou sua bolsa e tirou dela um envelope que passou às
mãos do homem. Ele começou a protestar, mas ela insistiu: “Não, doutor, você não
precisa aceitar; você ganhou isso.” E depois, continuou, apressadamente:

“Naquele voo Nova York—San Juan, lembra-se? Você me disse para não embarcar, lembra-
se? Bem, eu... eu quase que esqueci o que você havia dito. De qualquer modo, eu tinha uma
passagem e estava pronta para ir quando o voo foi suspenso de repente. Disseram que era

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rotina. Checagem nos motores. Mas eu nunca havia ouvido falar de tal rotina, então
lembrei-me do que você me dissera, doutor e fiquei assustada.

“Uma hora depois, eles colocaram outro avião para o voo, eles ainda estavam trabalhando
no outro. Eu ainda estav muito preocupada, então decidi esperar até o dia seguinte.

“Acho que você leu sobre o que aconteceu.”

Ele fechou seus olhos e balançou a cabeça vagarosamente: “Eu li.”

“Doutor, eu estaria naquele voo se você não tivesse me alertado. Todo o dinheiro do mundo
não é o bastante para pagar-lhe por isso.” O olhar preocupado es estranho voltava a tomar o
rosto dela. “Doutor, eu não sei como você sabia o que estava para acontecer com aquela
aeronave. E eu não vou perguntar, eu nem quero saber. Mas... uma coisa: Era eu que eles
queriam?”

Ela acha que alguém explodiu o avião, ele pensou. Ela acha que eu ouvi os planos de algum
modo. Por um instante ele hesitou, depois disse:

“Não, Susan, eles não estavam atrás de você. Ninguém estava tentando te matar. Não se
preocupe com isso.”

O alívio inundara a face dela. “OK, Doutor, se você diz. Veja, eu tenho que ir agora, mas nós
temos que sair e tomar uns drinques juntos, agora que estou de volta. E... Doutor...”

“Sim?”

“Sempre que precisar de qualquer coisa — se eu puder lhe ajudar — me informe, tá?”

“Certamente, minha querida. E você não precisa se preocupar com nada. As estrelas estão
todas do seu lado agora.”

Ela sorriu, apertou a mão dele, e saiu, como um relâmpago de ouro e mel. Dr. Joachim
olhou para a porta que ela havia puxado atrás dela, depois olhou para o envelope que tinha
em mãos. Ele abriu-o gentilmente e tirou um maço de notas. Quinze mil dólares!

Ele sorriu de novo e colocou o dinheiro em seu bolso. Afinal, ele era um futurólogo
profissional, ainda que não gostasse dessa denominação, e ele salvara a vida dela, não é
mesmo?

Ele voltou à pequena sala interna, sentou-se de novo diante da máquina de escrever e, após
um minuto, começou a datilografar novamente.

Ao acabar, ele endereçou um envelope e colocou a carta dentro dele. Ele havia assinado com
seu nome verdadeiro: Peter J. Forsythe.

E M MENOS DE DUAS horas, a carta chegava ao seu destino, um prédio tijolos de seis
andares, um tanto antiquado, que ficava em meio a outros semelhantes na área de
classe média baixa de Arlington, Virginia, a um pulo do Pentágono e não muito longe
do Capitólio.

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A carta estava endereçada a Mr. J. Harlan Balfour — Presidente — Sociedade de Pesquisas


Místicas e Metafísicas. Mas Mr. Balfour não se encontrava na sede da Sociedade naquele
momento. Ele havia sido chamado para uma palestra em Los Angeles para um grupo que
esperava a Encarnação de Deus.

Mesmo se ele estivesse lá, a carta não lhe chegaria direto à sua mesa. Todas as
correspondências passavam antes pelo escritório do Secretário-Executivo, Mr. Brian
Taggert. A maioria das cartas — talvez noventa e nove por cento delas — seria entregue
diretamente na mesa de Mr. Balfour, se estivessem endereçadas a ele. Brian Taggert nunca
fora cruel a ponto de tirar de Mr. Balfour a alegria de sortear entre as milhares de cartas
excêntricas à procura daquelas que tinham a chama do verdadeiro misticismo e que tanto
fascinavam Mr. Balfour.

Mr. Balfour era um excêntrico e seu trabalho era tomar conta de outros como ele — um
trabalho que ele apreciava imensamente e amava com todo o coração, sentindo, como
sentia, que todo aquele tipo de coisa era a razão da existência da Sociedade. É claro que Mr.
Balfour nunca considerou-se a si ou aos outros excêntricos, no que ele estava tão errado
quanto na sua suposição da raison d'être da Sociedade.

Noventa por cento dos membros da Sociedade de Pesquisas Místicas e Metafísicas


(S.P.M.M.) eram apenas o que podia-se esperar que fossem. Qualquer um que estivesse
“verdadeiramente interessado na investigação do sobrenatural”, como diziam os anúncios
colocados em certas revistas, poderia pagar cinco dólares por um ano de associação, o que,
dentre outras coisas, garantia a assinatura da revista mensal da Sociedade, O Metafísico.
Era uma publicação bem impressa, de aparência conservadora que trazia artigos sobre
qualquer coisa, do último avistamento de discos voadores a uma reportagem com
cuidadosas avaliações matemáticas e estatísticas dos métodos da Rhine Foundation. Com
um campo de investigações tão vasto, a revista poderia-se considerar praticamente
universal em termos editoriais.

Estes membros formavam uma boa fachada para o verdadeiro trabalho da Sociedade,
trabalho foi pelos membros “do núcleo”, a maioria dos quais não aparecia nas listas de
associados. E, mesmo assim, era esse grupo de homens e mulheres que dava valor ao título
da Sociedade.

Mr. Brian Taggert estva longe de ser um excêntrico. O homem grande, moreno, de olhos
escuros e nariz de águia sentava-se em sua mesa no quinto andar do edifício da Sociedade e
checava a correspondência. Normalmente, seu grande corpo, digno de um lutador, poderia,
poderia ser encontrado placidamente recostado no sofá de uma parede próxima. Não que ele
fosse averso a qualquer tipo de ação, mas ele simplesmente não via virtude alguma na ação
sem propósito. Ele também não acreditava no dictum de Miles Standish2. Se ele queria
alguma coisa bem-feita, ele mandava o homem mais qualificado para fazê-la, fosse ele
mesmo ou outra pessoa.

Quando ele encontrou aquela carta de Coney Island, Nova York, leu-a rapidamente e depois
apertou o botão do aparelho intercomunicador de sua mesa. Ele disse três sílabas que não
fariam qualquer sentindo a não ser para aqueles que entendiam aquele tipo de taquigrafia

2MILES ou MYLES STANDISH (1584-1656) foi um dos passageiros do Mayflower e um dos primeiros colonizadores
a se estabelecer nos Estados Unidos. Standish fora escolhido como líder militar dos Peregrinos e costumava dizer
que “se quer uma coisa bem-feita, faça você mesmo”. (N. do T.)
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verbal. Depois, soltou o botão, fechou seus olhos, e colocou-se em contato telepático com
certos agentes da Sociedade em Nova York.

D O OUTO LADO DO RIO Potomac, num escritório do Senado, o telefone tocou na mesa do
Senador Mikhail Kerotski, chefe do Comitê de Exploração Espacial do Senado. Aquele
número estava fora das listas, era praticamente invisível e apenas umas poucas,
porém importantes pessoas do Governo dos Estados Unidos sabiam o número. Então o
Senador não precisava ficar repetindo sua identificação ao atender a linha e disse,
simplesmente: “Alô”. Ele ouviu por uns instantes e disse, em voz baixa: “OK, está bem.”
Depois, silenciosamente, ele encerrou a ligação.

Ele ficou sentado atrás de sua mesa por mais alguns minutos. Era um homem com
aparência de urso, com um rosto pálido e redondo, os olhos cercados por um inchaço e tudo o
fazia parecer um tipo sonolento de panda gigante. Ele arrumou os poucos papéis que tinha
sobre a mesa, colocou-os numa gaveta, levantou-se e foi para a antessala, onde disse aos
seus assessores que estava de saída para uma pequena caminhada.

Não tardou a chegor ao prédio amorronzado em Arlignton, e estava abrindo a porta do


escritório de Brian Taggert. Taggert acabara de receber relatórios de Nova York e dava
início a outra cadeia de ações. Ao ver o Senador Kerostski entrar, Taggert empurrou sobre a
mesa uma carta: “Dê uma olhada nisso.”

Kerotski leu a carta, e um suspiro de alíviu saiu de sua cara redonda. “Não é o mesmo tipo
de papel ou a mesma máquina de escrever, mas é ele, com certeza. Do que mais nós
sabemos?”

“Muita coisa. Espere um pouco e vou lhe dar a situação completa”. Ele pegou o telefone e
começou a falar em voz baixa. Era uma comunicação interna ordinária. Mesmo se a linha
fosse grampeada, ninguém fora do núcleo da S.P.M.M. saberia que aquela conversa tratava
de tudo, menos da publicação de um artigo esotérico n‟O Metafísico — algo sobre bastões de
radiestesia3.

Os membros do núcleo tinham uma coisa em comum: entendimento.

Considere o plutônio. Imagine alguém depositando pequenos grãos com miligramas do


metal em um balão de fundo redondo comum. (Numa atmosfera inerte, é claro; não dá pra
arruinar uma boa analogia com efeitos colaterais.) Mais de dois milhões e meio daqueles
grãozinhos poderiam ser lançados no balão sem que o operador tenha que se preocupar
mais do que deveria se estivesse trabalhando com grãos de chumbo ou ouro. Mas acima do
quinto milionésimo grão, apenas um estúpido, um ignorante, ou alguém indestrutível
poderia continuar trabalhando manualmente. Ocorre uma mudança qualitativa.

O mesmo se dá com o entendimento. À medida que a mente humana amplia suas


habilidades para entender outras mentes humanas, acaba por alcançar um ponto crítico no
qual a própria mente se modifica. E, em tal ponto a letra grega Psi deixa de ser um símbolo
para o desconhecido.

3 RADIESTESIA — do latim radius, que vem do latim e significa raiz ou radiação, e aisthesis, de origem grega e que
significa sensibilidade, indicando assim a “sensibilidade às radiações” que certas raízes teriam e que permitiria aos
radiestesistas encontrar no solo água e minerais, corpos enterrados, objetos perdidos, ou até qual seria a melhor
dieta para um determinado organismo. Embora consagrada pela tradição popular, é uma pseudociência. (N. do T.)
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Quando o entendimento ultrapassa esse ponto crítico, o diálogo, tal como é mantido pela
maioria dos seres humanos, torna-se desnecessariamente redundante. Mesmo numa
conversação ordinária um único gesto — um dar de ombros, um cruzar dos dedos ou um
nariz preso entre o polegar e o indicador — pode expressar uma ideia que tomaria muito
mais palavras e mais tempo. Uma única palavra — “porcalhão”, “nazi”, “santo” — pode
descrever mais do que as dúzias de palavras necessárias para defini-la. Tudo o que se
precisa é que o sentido dos símbolos seja entendido.

A capacidade de manipular símbolos é a mais poderosa ferramenta da mente humana. Uma


mente que possa manipulá-los efetivamente é, em todos os sentidos, verdadeiramente
humana.

Mesmo sem telepatia, era possível a dois agentes da S.P.M.M. manter uma conversa acima
e além do ba-fá-fá comum. E, naturalmente, rende mais. Quando se fala sem o ba-fá-fá é
possível passar em segundos informações que levariam vários minutos para serem passadas
através de uma conversa ordinária.

O SENADOR KIROTSKI APENAS ouviu uma pequena parte da discussão telefônica. Ele já
sabia da história.

Nos últimos oito meses, seis cartas anônimas haviam sido recebidas por várias
autoridades. Como disse Taggert certa vez, abre aspas, “Parece que temos um Abudah com
sua própria Hag4 que aparece e profetiza desastres, com minúcias.”

O Big Bend Power Reactor, perto de Marfa, no Texas, havia sido alertado de que seu
stellarator5 poderia explodir. A carta foi rejeitada como uma “excentricidade” e nenhuma
precaução foi tomada. A explosão causou nove mortes e cortou a energia da área por três
horas, com outros acidentes em consequência do blecaute.

O submarino mercante Bandar-log, em rota entre o Ceilão e o Japão, ignorou o aviso


enviado aos seus proprietários e nunca mais foi visto.

Na República do Iêmen, uma refinaria de petróleo pegou fogo e destruiu propriedades de


milhões de dólares apesar de uma carta anônima ter previsto o desaste.

A Barragem Príncipe Charles, na África central, rompeu-se e milhares de pessoas se


afogaram por que as autoridades encaminharam a carta à lata do lixo.

O desabamento de uma mina no Canadá extiguiu três vidas por que uma carta similar
havia sido ignorada.

Na época em que a quinta carta havia sido recebida, a S.P.M.M. obteve a informação e
começou sua investigação. Como órgão ex officio do Governo dos Estados Unidos, tinha seus
próprios meios de conseguir por as mãos nos originais das cartas que haviam sido recebidas

4 ABUDAH e HAG — são personagens de um conto árabe. Abudah é um mercador de Bagdá assombrado a cada
noite por Hag, uma velha bruxa. (N. do T.)
5 STELLARATOR — ou reator estelar. Trata-se de um tipo de reator nuclear que seria capaz de fazer fusão nuclear

em vez da já comum fissão nuclear. Ainda não existem reatores de fusão nuclear. Embora não haja nenhum
impedimento teórico, há grandes impedimentos práticos: são necessárias grandes quantidades de gás hidrogênio
mantidas a temperaturas de milhões de graus confinadas dentro de um enorme campo magnético. Diz-se estelar
por que a fusão nuclear é a fonte de energia das estrelas. Um Stellarator, portanto, seria algo como uma estrela de
laboratório. (N. do T.)
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por pessoas responsáveis em cada um dos desastres. Todas pareciam ter sido enviadas pelo
mesmo homem, todas pareciam ter sido batidas na mesma máquina e todas pareciam ter
sido postadas em Nova York.

Quando o sexto alerta chegou ao escritório da Caribbean Trans-Air, a S.P.M.M. em


colaboração com o F.B.I., convenceu os funcionários da companhia a retirar do ar a
aeronave regular e substitui-la por outra. Enquanto isso, a aeronave regular era
cuidadosamente inspecionada. Mas foi o avião substituto que se despedaçou em pleno céu.

O profeta anônimo, fosse quem fosse, era um homem de habilidades incomuns.

Então, a carta número sete foi recebida pelo Departamento de Espaço dos Estados Unidos.
A carta trazia a previsão de que um meteoro chocar-se-ia contra a Moonbase One6,
destruindo-a completamente.

Por fim, uma carta não-anônima havia chegado à S.P.M.M., pedindo admissão à sociedade,
com a devida taxa em anexo. A carta também dizia que o escritor estava interessado em
literatura sobre os assuntos de presciência, precognição e/ou profecia, e estaria interessado
em contatar qualquer um que tivesse experiência com tais fenômenos.

Somar dois e dois só pode dar quatro, não importa quão freqüente seja a soma. Mas elevar
dois à oitava potência pode fazer as pessoas rangerem os dentes para conseguir o resultado
exato de duzentos e cinqüenta e seis...

Brian Taggert encerrou a ligação telefônica. “É isso, Mike”, disse ao senador. “Nós o
pegamos.”

Dois dos agentes da Sociedade, ambos telepatas de primeira categoria, haviam saído para o
consultório “Dr. Joachim”, no Boardwalk de Coney Island. Eles se passariam por fregueses
— “clientes” era a palavra que o Dr. Joachim periferia — e fariam um trabalho de
sondagem profunda.

“Ele é o que se pode chamar de fraude perfeitamente sincera.” — continuou Taggert —


“Tenho certeza que você conhece o tipo.”

O senador assentiu silenciosamente. O campo estava cheio daquele tipo de coisa. Controle
completo, confiável de qualquer poder psiônico requer entendimento e sanidade, mas a
habilidade de mentir ficar dormente em muitas mentes que não podem controla-la, e pode
até explodir erraticamente às vezes. Encontrar uma analogia física para o fenômeno é
difícil, desde que as atividades mentais são, necessariamente, superiores às atividades
físicas.

Algumas das operações do cálculo tensor7 têm análogos na álgebra. A maioria não tem.

6MOONBASE ONE: Base Lunar 1. (N. do T.)


7 TENSORES são a generalização dos conceitos de vetor, funcional linear, transformação linear, forma bilinear, e,
de modo geral, aplicações n-lineares que levam n1 vetores a n2 vetores. Tensores são essenciais em diversas áreas
da física, como mecânica clássica, eletromagnetismo e a Teoria da Relatividade. Um vetor e um escalar são casos
particulares de tensores, respectivamente de ordem um e zero. Na Relatividade Geral, usa-se a palavra tensor
para o que seria mais corretamente chamado de campo tensorial; uma generalização de campo vetorial, em que, a
cada ponto, temos não um vetor mas um tensor. (N. do T.)
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T AGGERT FEZ UM GESTO com uma mão. “Ele está no negócio há anos. Evidentemente, ele
tem sido capaz de fazer umas poucas previsões acuradas vez por outra — o bastante
para manter sua reputação de pé. Ele tenta aumentar a freqüência, apuração e os detalhes
de seus „flashes‟ ao estudar as técnicas usadas por seus pares e, como resultado, ele
conseguiu juntar porcarias místicas suficientes para preencher uma biblioteca.

“Ele enfeita cada uma de suas previsões para seus „clientes‟ com todo tipo de truque e ele
tem feito isso há tanto tempo que realmente não tem muita certeza sobre qual previsão é
verdadeira e quantas foram enroladas.

“Os caras estão tentando obter mais informações sobre ele agora e vão fazer uma pequena
sondagem profunda, se eles conseguirem controlá-lo. Talvez eles consigam desencadear
mais um flash sobre aquele choque lunar, mas eu duvido disso.”

O Senador Kerotski mudou lentamente sua expressão facial.

“Você provavelmente está certo. Aparentemente, quando um desses trapaceiros revela-se


como um pré-cog, eles conseguem tudo num flash e depois não conseguem mais nada —
nunca mais. Eu gostaria que tivéssemos em nossas mão alguém que estivesse a meio
caminho do ponto. Nós temos especialistas em psicocinética, levitação, telepatia,
clarividência, e sabe-lá-o-quê. Mas parece que não somos capazes de encontrar um em
precognição.”

“Nós temos um agora.”, corrigiu Taggert.

O senador bufou. “Mesmo supondo que tivéssemos uma teoria completa sobre precognição e
supondo que esse Forsythe tenha o tipo de mente que pode ser ensinada, você acha que
conseguiríamos em um mês? Por que esse é todo o tempo que temos.”

“Ele é nosso primeiro caso.”, admitiu Taggert. “Nós teremos que extrair tudo dele e
construir uma teoria completa em volta do que tivermos. Eu ficaria surpreso se não
chegássemos a lugar algum nos primeiros seis meses.”

O Senador Kirotski levou a mão aos olhos, cobrindo-os.

“Eu desisto. Primeiro, os Chineses Soviéticos seqüestram o Dr. Ch‟ien e nós temos que
correr feito loucos atrás dele antes de descobrir que ele está construindo um motor espacial
que tornará a indústria de foguetes obsoleta. Depois, precisamos descobrir o que está
causando a série de acidentes que está atrasando o projeto de antigravidade do Dr.
Theodore Nordred. E agora, justo quando tudo estava se encaminhando nas duas áreas, nós
descobrimos que um meteoro está indo para a Moonbase One entre trinta e sessenta dias a
partir de agora.” Ele entreabiu o espaço entre os dedos médio e anelar e olhou para Taggert
com um olho. “E agora você me diz que o único homem que pode nos apontar uma data mais
precisa para nós não tem qualquer utilidade para nós. Se soubéssemos quando o meteoro
vai chegar, seríamos capazes de localizá-lo e desviá-lo a tempo. Ele deve ser bastante
grandinho para destruir a Base inteira.”

“Como você sabe que vai ser um meteoro?”

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“E você acha que os Soviéticos tentariam lançar uma bomba? Não seja idiota, Taggert.”,
disse Kerotski com uma expressão irônica. Taggert sorriu de volta.

“Não estou pensando que eles vão nos bombardear. Estou tentando olhar de todos os
ângulos.” O olhar aborrecido retomou o rosto de panda do senador.

“Nós temos que fazer alguma coisa. Se nós apenas soubéssemos que a previsão de Forsythe
vai realmente acontecer. Ou, se for, exatamente quando. E se há algo que a gente possa
fazer sobre isso ou se vai ser como um acidente aéreo. Se a gente não os tivesse feito trocar
os aviões, nada teria acontecido. E se, não importa o que a gente faça, a Moonbase One vai
pro espaço?”

“Lembre-se, nós ainda não construímos a Moonbase Two. Se nossa única base na Lua for
destruída, os Soviéticos terão a Lua inteira para eles. Alguma sugestão?”

“Claro, disse Taggert, Faça a si mesmo uma única pergunta: Qual a utilidade da Moonbase
One?”

Lentamente, um sorriso de beato espalhou-se sobre a face do senador. A discussão toda teve
exatos noventa segundos de duração.

“S ENHORA JESSER”, disse Brian Taggert para a figura balofa e quarentona sentada
atrás do balcão da recepção na sede da S.P.M.M. “Este é o Dr. Forsythe,
considerado um dos melhores clarividentes da atualidade.”

A senhora Jesser viu um senhor distinto, de barba branca. Ao encontrá-lo, ela tinha quase a
mesma expressão que a avó tivera ao encontrar Rodolfo Valentino, quase sessenta anos
antes, e que sua mãe teve quando, uma geração mais tarde, viu Frank Sinatra. Não era
incomum aquela expressão no rosto da Sra. Jesser: ela ficava assim sempre que era
apresentada a qualquer um que lhe parecesse impressivo e quem ela sentisse algum tipo de
energia mística.

“É um prazer tãããão grande te conhecer, Dr. Forsythe!”, exclamou ela, num tom quase
adolescente.

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“O Dr. Forsythe vai trabalhar conosco durante alguns meses. O escritório dele será na Sala
B, no quarto andar”, explicou Taggert.

Ele realmente gostava dela, apesar de seus maneirismos típicos de uma garota do colegial.
O misticismo fascinava-a e ela estava firmemente convencida de que ela mesma tinha “um
pouquiiiiinho só” de poderes psíquicos — e cada hora ela dizia ter um diferente. Mas ela
fazia um bom trabalho duplo, ainda que não soubesse de sua dupla função. Ela achava que
ganhava apenas para ser recepcionista ou atender o telefone, e era rápida e eficiente nisso.
Mas ela também era uma perfeita fachada para o verdadeiro trabalho da Sociedade. Se
alguém suspeitasse que a S.P.M.M. não fosse o grupo de misticóides que aparentava ser,
cinco minutos de conversa com a Sra. Jesser provariam o contrário.

“Oh, você vai ficar com a gente, Dr. Forsythe? Que beleza! A gente devia bater um papo
alguma hora!”

“Claro que sim, minha senhora”, respondeu Forsythe. Seu tom de voz e seus gestos
demonstravam a quantidade certa de dignidade, com um toque quase imperceptível de
condescendência pomposa.

“Vamos, Doutor; vamos ver o seu escritório.” A cara de Taggert não demonstrava nem sinal
da diversão que ele teve ao ver a ginástica mental dos dois. Forsythe e a Sra. Jesser eram
parecidos em muitas coisas, mas na verdade, dos dois, a Sra. Jesser era a mais honesta. Ela
podia se enganar, mas nunca tentou enganar ninguém mais. Forsythe, por outro lado,
tentava se adiantar aos outros e, ao fazer isso, conseguia se iludir bastante bem.

O humor de Taggert era malicioso. Ele não estava rindo dos dois; estava admirando a
capacidade da mente humana de se amarrar em nós. Quando alguém vê um bom
contorcionista fazendo seus movimentos, não ri dele; admira-o e diverte-se com os estranhos
gestos que ele pode fazer. E, como Taggert, alguém poderia sentir simpatia por aqueles nós
que se tornam tão desviados e intrincados, que ele nunca poderia destrinchar.

“Vamos subindo” disse Taggert. “Eu vou te mostrar onde fica o seu escritório. Desculpe, mas
não temos elevador. O prédio é antigo e não foi feito pensando-se nisso. E, na verdade, um
elevador nunca nos fez falta.”

“Não tem problema nenhum.”, disse Forsythe, seguindo-o escada acima.

Três semanas!

Taggert tinha que admitir: o tempo mínimo de previsão era bastante acurado. Puxa! Por
que sua última previsão não podia ser tão precisa quanto aquela sobre o vôo para Porto
Rico?

Foram perdidos seis dias para “acreditáveis” agentes da S.P.M.M. persuadirem o Dr. Peter
Forsythe a deixar seu lugar em Boardwalk e vir trabalhar em Arlington. Não é fácil
convencer um homem a deixar um negócio construído ao longo de muitos anos,
principalmente se for na alta temporada. Deixar Boardwalk durante o verão seria, na visão
de Forsythe, tentar um suicídio econômico. Ofereceram-lhe não apenas um salário melhor
do que ele recebia, mas também mais segurança. Aos cinqüenta e quatro anos de idade, não
é fácil abandonar o trabalho de uma vida.

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Mesmo assim, ele tinha muitas salvaguardas. O aluguel do escritório de Boardwalk foi
pago, ele teria um salário garantido enquanto trabalhasse e um “bônus de pesquisa” para
mantê-lo trabalhando até que a Sociedade terminasse essa fase de seu trabalho.

É muito difícil para um homem resistir à oferta de um telepata que sabe exatamente o que
seu cliente quer — e, mais ainda, do que ele precisa.

N O QUARTO ANDAR havia sons de movimento, o baixo ruído stacatto das máquinas de
escrever, pedaços de conversa ocasionais e o rumor do equipamento eletrônico.

Forsythe estava impressionado, ainda que nenhuma linha de sua face demonstrasse
isso. O escritório para o qual ele fora designado estava equipado com calculadoras
eletrônicas e seu nome, em letras douradas, já estava posto na porta. Foi a seu crédito que
ele ficou impressionado pelos dois fatores nessa ordem.

No fundo da sala, dois técnicos trabalhavam em uma das unidades, cujo painel estava
aberto. Perto deles, uma morena de olhos negros, com a beleza madura de seus trinta e
poucos anos segurava uma prancheta e tomava nota de vez em quando. Um dos homens
estava usando uma furadeira elétrica e o silvo de metal contra metal abafou o pequeno
ruído produzido por Taggert e Forsythe ao entrarem. Apenas a mulher havia percebido a
chegada deles, mas ficou indiferente ao fato.

“Sra. Tedesco?” Taggert chamou-a. Ela levantou os olhos da prancheta, sorriu e foi juntar-se
aos recém-chegados.

“Sim, Sr. Taggert?”

“Já terminaram?”

“Quase. Eles estão instalando o último componente agora.”

Taggert assentiu, indiferentemente. “Sra. Tedesco, este é o Dr. Peter Forsythe, de quem eu
lhe falei. Dr. Forsyhte, esta é a Sra. Donna8 Tedesco. Ela é a técnica de computação que vai
trabalhar com você.”

O sorriso da Senhora Tedesco era positivamente brilhante. “Muito prazer em conhecê-lo,


doutor. Eu sei que nosso trabalho conjunto vai ser interessante.”

“Tenho certeza que vai”, disse Forsyhte. Então, uma nuvem pareceu cobrir-lhe as idéias.
“Eu temo que devo confessar um certo... é... uma certa falta de conhecimento nos domínios
da informática. O Sr. Taggert tentou me explicar, mas ele, ele mesmo, admitiu que seus
conhecimentos sobre os detalhes são... é... um tanto vagos.”

“Eu mesmo não sou um homem de informática.” Taggert sorriu. “A Senhorita Tedesco será
capaz de lhe dar os detalhes melhor do que eu.”

Miss Tedesco piscou: “Você conhece os contornos, certo? Digo, do projeto.”

“Ah sim, com certeza”, disse Forsythe apressadamente. “Estamos tentando determinar se
ações de seres humanos podem realmente ter qualquer efeito sobre o próprio resultado da

8 DONNA (ou DONA) é um nome feminino comum nos Estados Unidos. (N. do T.)
12
Cinquenta Por Cento Profeta

profecia. Em outras palavras, se é possível, digamos, evitar um desastre que foi previsto ou
se apropria previsão assegura seu resultado.”

A mulher balançou a cabeça em concordância.

“Pelo que eu entendi”, continuou Forsythe, “nós vamos pegar diversos clientes — ou,
melhor, sujeitos — e eu vou... hã... exercitar meus talentos, do mesmo jeito que venho
fazendo há muitos anos. Os resultados vão ser formatados e processados pelos
computadores para ver se há alguma correlação entre a atividade humana decorrente da
previsão e o resultado real dos eventos.”

“Está certo.”, disse Miss Tedesco. Ela olhou para Taggert. “Isso é o que o comitê definiu, não
é mesmo?”

“No geral, sim.”, respondeu Taggert.

“Mas e quanto aos detalhes?”, perguntou Forsythe. “Quer dizer, como é que vamos fazer
isso? Vocês devem se lembrar que eu não tenho familiaridade alguma com... é...
procedimentos científicos de pesquisa.”

“Ah, vamos trabalhar nessa questão juntos.” Miss Tedesco estava radiante. “Você não
pensou que iríamos planejar uma agenda de trabalho sem a sua cooperação, pensou?”

“Bem”, disse Forsyhte, lutando visivelmente com o orgulho. “Eu suponho...”

Olhando para seu relógio, Taggert interrompeu-o: “Eu vou ter que sair e deixar vocês dois
definirem sua agenda de trabalho juntos. Eu tenho um compromisso em poucos minutos.”
Ele agarrou a mão de Forsythe e apertou-a vigorosamente. “Eu acho que vamos nos dar
bem, Dr. Forsyhte. E acho que nosso trabalho vai ser bastante frutífero. Perdoe-me.”

“Certamente, Sr. Taggert. E eu gostaria de agradecê-lo por essa oportunidade para fazer
um trabalho de pesquisa desta linha.”

Brian Taggert agradeceu Forsyhte e saiu apressadamente, com o ar de um homem


importante, com coisas urgentes em sua mente.

Ele subiu as escadas, foi até o escritório diretamente acima daquele que ele dera a Forsyhte
e entrou em silêncio. Dois homens estavam relaxados em divãs, com os olhos fechados.

“Emaranhados?”, Taggert perguntou num sussuro.

“Emaranhados.”

Taggert fechou a porta cuidadosamente e foi para seu próprio escritório.

H OWARD LAYTON, GENERAL DA USSF, a Força Espacial dos Estados Unidos, não parecia
muito diferente de qualquer outro oficial das Forças Espaciais. No máximo ele era
apenas um pouco mais atraente. Ele parecia tão forte que poderia posar para o pôster
de recrutamento — coisa que ele já havia feito na época em que era um recruta no Serviço
de Submarinos da Marinha dos Estados Unidos. Ele tinha quarenta e nove anos, mas
parecia um trintão prematuramente grisalho.

13
Cinquenta Por Cento Profeta

Ele ficou de pé no bunker de observação da área de pouso do Espaçoporto de Saint Thomas e


observou pelo telescópio um pesado foguete assentando-se na superfície da área de pouso. A
língua de fogo, branca e azulada, tocou a superfície e se espalhou. Depois a massiva nave
desceu lentamente sobre ela, como se estivesse escorregando em uma coluna de luz. A
coluna encolheu...

E, subitamente, se desvaneceu quando a nave tocou o solo.

O General Layton tirou os olhos do periscópio. “Mais um que volta a salvo, graças a Deus.”

Perto dele, o único outro homem naquela sala do bunker, um tipo civil e um tanto baixo, via
a mesma cena numa TV do circuito fechado. Ele sorriu para o general. “Quantas cargas são
com essa, até agora?”

“Cinco. Nós teremos o serviço feito antes do prazo final.”

“Você estava preocupado?”

“Um pouco. Ainda estou, para ser honesto. E se nada acontecer ao fim dos sessenta dias? O
Presidente não é um dos nossos, e ele só seguiu as recomendações da Sociedade até agora
por que fomos capazes de produzir resultados. Mas...” — ele fez um gesto para fora,
indicando a nave recém-chegada — “...toda essa despesa extra não vai cair bem se nós
falharmos apenas dessa vez.”

“Eu sei”, disse o civil. “Mas você conhece algum erro cometido pelo Brian Taggert?”

O General Layton sorriu. “Não. E se fosse em um homem mais comum, aquele tipo de
onisciência seria uma irritação dos infernos. Como ele está progredindo com Forsythe?”

Suspiro do civil. “Nós temos um monte de dados até agora e o método parece estar
funcionando bem. Mas ainda não temos o bastante para teorizar.

“O Forsythe só senta no escritório dele e faz „leituras‟, ou seja lá o que for, para os sujeitos
que entram. O Metafísico manteve um anúncio pedindo por voluntários e temos todo tipo de
pessoas ligando para marcar uma entrevista. Forsythe é tão feliz quanto um moleque.”

“E as previsões dele?”

“Donna Tedesco está processando os dados sobre as previsões. Ela está em constante
contato mental com ele. Assim também estão Hughes e Matson, no andar de cima. Três
deles estão emaranhados entre si — não me pergunte como; eu não sou telepata — e eles
estão conseguindo uma idéia muito boa sobre o que se passa na mente do Forsythe.

“De vez em quando, ele consegue um verdadeiro flash de alguma coisa e parece que chega
muito rápido. Agora a equipe está tentando analisar a estrutura fina do processo.

“No resto do tempo, ele simplesmente aparece com o ouro de tolo que os observadores de
bolas de cristal tem revelado há séculos. Mesmo quando ele tem um flash real, ele o coloca
no meio de uma pilha de extrapolações intuitivas. E quanto mais ele se afasta daquele flash
central, menos confiáveis são as previsões.”

“Você acha que teremos a teoria e a simbologia prontas antes daquele suposto meteoro
acertar a Moonbase One?”, perguntou o general.

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Cinquenta Por Cento Profeta

O civil deu de ombros. “Quem sabe? Vamos ter que por muita fé no que fizermos, pois não
haverá tempo o suficiente para testar todas as previsões dele. A cada sujeito é dado uma
planilha de relatos com suas previsões. Supomos que ele checa a acuração delas enquanto
elas acontecem. E nossos agentes fazem checagens pontuais só para ter certeza. Isso vai
levar tempo. Tudo que podemos fazer é esperar.”

“Eu imagino”. O General Leyton estava dando mais uma espiada pelo telescópio. A porta
da nave ainda não tinha sido aberta. O ar e o chão ainda estavam quentes demais. Ele
voltou-se para o civil. “E quanto aos relatórios de espionagem?”

O civil deu um tapa em sua pasta. “Eu posso lhe dar uma síntese, verbalmente. Você pode
ver isso mais tarde.”

“Desembucha.”

“Os soviéticos estão ficando preocupados, para dizer o mínimo. Você sabe, não dá pra
esconder esses foguetes. Os radares deles baseados na Lua tem captado todos eles, na
chegada e na partida. Eles estão se perguntando por que estamos fazendo tantas viagens
assim, subitamente.”

“Eles têm alguma teoria?”, o general perguntou com ar aborrecido.

“Têm sim”, disse o civil com um riso sardônico. “Eles acham que estamos nos preparando
para outro lançamento para Marte — dessa vez, um dos grandes.”

O general bufou, secamente. “Isso é muito pouco confortável. Como eles perceberam?”

“Eles supõem que estamos estocando material na Moonbase One. Eles supõem que
pretendemos construir a nave lá, com as cargas de materiais que estamos mandando lá
para cima, nos foguetes.”

“O quê?” O General Leyton ficou boquiaberto, depois fechou a boca. Então, ele começou a
rir. O civil fez o mesmo.

D ONNA TEDESCO EMPURROU os papéis sobre a mesa de Brian Taggert. “Veja-os por você
mesmo, Brian. Eu já examinei de seis modos diferentes da Septuagesima, e ainda não
vi nehuma resposta.”

Taggert franziu a testa para os papeis, tamborilou por cima deles, mas não os pegou. “Eu
vou acreditar em sua palavra, Donna. Pelo menos por hora. Se a gente se ferrar, vamos
acabar juntos.”

“Se quer saber, já estamos completamente ferrados.”

“Você acha que é assim tão ruim?”

Ela olhou-o com um olhar suplicante. “Você pode pensar em alguma outra explicação?”

“Não, ainda não”, Taggert admitiu.

“Nem eu posso. É isso. Cada uma de suas predições válidas, cada uma de suas intuições
pré-cognitivas — sem exceção — tem sido baseada em ações de seres humanos. Ele pode
15
Cinquenta Por Cento Profeta

prever brigas de família, flutuações do mercado de ações e resultados de eleições na


América do Sul. Suas previsões de desastres, cada uma delas, deviam-se a erros humanos,
falhas humanas — e não atos de Deus. Ele falhou ao prever o terremoto em Los Angeles.
Ele perdeu a enchente no Vale do Yang-tsé. Ele não sabia de nada sobre a erupção do
Stromboli. Todos esses desastres ceifaram vidas humanas nas últimas três semanas e ele
perdeu todos eles. Mesmo assim, ele conseguiu ver todo tipo de acidente, de avião, de navio,
até de automóveis ligados aos seus sujeitos.

“Sete dos sujeitos que o consultaram tinham parentes ou amigos feridos ou mortos na
sequência terremoto-enchente-erupção, mas ele não conseguiu vê-los. Mesmo assim, ele
pôde captar coisas tão pequenas quanto uma terrível queimadura no braço do sobrinho de
um homem.

“Com base nisso tudo, como podemos confiar em sua única previsão sobre o impacto de um
meteoro na Moonbase One?”

Taggert coçou a cabeça pensativamente. “Eu não sei,” disse ele devagar. “Pode haver
alguma conexão de algum modo.”

“Oh, Brian, Brian!” Os olhos dela brilhavam com lágrimas que já se acumulavam. “Eu
nunca vi você sair tanto peloa tangente desse jeito! Com base na palavra de uma velha
raposa como o Forsythe, um homem que mente metade do tempo, você aconselha o Governo
a torrar centenas de milhões de dólares na maior operação de transporte espacial da
história!

“Ah, sim, eu sei. A velha raposa está convencida de que está dizendo a verdade. Mas você
estava grampeando a mente dele quando o flash da previsão veio? Não! Alguém mais fez
isso? Não! E ele pode muito bem mentir para si mesmo, você sabe disso!

“E o que vai acontecer se não houver nada? Nós acabamos de passar da primeira data-
limite. Se aquele meteoro não cair dentro de 28 dias, a Sociedade vai voltar aonde estava há
dez anos! Ou pior!

“E tudo por que você acreditou na palavra do Sr. Falso — o Dr. Forsythe!”

“Donna,” disse Taggert com uma voz suave. “você acha mesmo que eu sou assim tão idiota?”
Ele deu um lenço para ela.

“N-não”, ela respondeu, enxugando os olhos. “Ca-Claro que não. É que eu ficou louca ao ver
tudo dando errado do jeito que está.”

“Nada deu errado ainda. Eu sugiro que você vá dar uma boa olhada na mente de Forsythe
de novo e tente realmente entender o velho. Talvez você consiga mais da estrutura refinada
da mente dele se você buscar mais entendimento.”

“O que você quer dizer?” disse ela, após assoar o nariz.

“Veja bem. Forsythe ganhou a vida como uma fraude, certo? Entretanto, ele nos mandou
aqueles alertas de graça — e anonimamente. Ele não pensou em nenhuma recompensa ou
prêmio, você sabe disso. E por quê? Por que ele é basicamente um ser humano decente. Ele
queria fazer tudo o que pudesse para evitar qualquer ferimento ou morte.

16
Cinquenta Por Cento Profeta

“Então por que é que ele iria nos mandar um alerta fraudulento agora? Ele não faria isso.
Ele não fez. Todos aqueles alertas — inclusive esse último — foram enviados por que ele
sabia que algo ia acontecer.

“Evidentemente, depois de receber um flash sobre um certo evento, ele é incapaz de


conseguir mais dados sobre aquela área em particular do futuro. Senão, nós conseguiríamos
mais dados sobre o acidente na Lua. Eu acho que se podemos ampliar o conhecimento dele
além de um ponto crítico, nós teremos um homem com presciência controlada e nós
precisamos de tal homem.

“Mas Donna, a única maneira de chegar lá é fazendo. A única maneira de derrotar esse
problema é você aumentar o seu entendimento sobre ele.

“Você já passou pelo ponto crítico — já foi bem longe dele — em entendimento geral. Mas
você também precisa ficar de olho naqueles detalhes tão pequenos.”

Arrependida, ela concordou. “Eu sei. Eu sinto muito. Às vezes uma pessoa pode chegar
perto demais de um problema.” Ela sorriu. “Obrigada pela nova perspectiva, Brian. Vou
voltar ao trabalho e procurar vê-lo com um pouco mais de clareza.”

N ACASA BRANCA, O SENADOR Mikhail Kerotski estava diante de dois homens: James
Bandeau, Secretário do Espaço9 e do Presidente dos Estados Unidos.

“Senhor Presidente,”, disse o senador. “Eu o conheço há muito tempo e você sabe, eu nunca
falhei.”

“Eu sei disso, Mike.” O Presidente respondeu tranquilamente. “Nem a sua Sociedade
falhou, até onde eu sei. É difícil para mim acreditar que eles obtêm suas informações do
jeito que você diz, mas você nunca mentiu para mim até agora, então vou confiar em sua
palavra. Sua Sociedade é o mais eficiente grupo de espionagem e contra-espionagem da
história. Mas isso é diferente.”

“Diferente pra caralho!”, bradou o Secretário Bandeau. “Sua própria Sociedade, senador,
admite que perturbamos os Soviéticos com esse negócio de operação de transporte espacial.
Eles mandaram suas próprias naves pra lá agora mesmo. De acordo com relatórios do
Serviço de Inteligência das Forças Espaciais, veículos lunares chineses andaram rondando
em volta da Moonbase One tentando descobrir o que é que está acontecendo.”

“Mais do que isso,” acrescentou o Presidente. “eles infiltraram um pequeno grupo na velha
Lunik IX10 para ver o que eles só podem ver lá de cima.”

O Secretário voltou seus olhos para o Presidente. “Aquele velho satélite circumlunar? Onde
foi que você ouviu isso?”

O Presidente deu um sorriso lívido. “Do relatório da S.P.M.M.” E voltou-se para Kerotski.
“Eu duvido que isso vai ser bom para eles. Eu não acho que eles vão ser capazes de ver
alguma coisa agora.”

9Cargo equivalente a Ministro do Espaço. (N. do T.)


10 Originalmente, a LUNIK IX foi uma sonda espacial soviética não-tripulada, lançada em 1966 para fotografar o
satélite natural da Terra e recolher amostras. (N. do T.)
17
Cinquenta Por Cento Profeta

“A não ser que eles tenham descoberto alguma maneira de combinar raios X com radar.”,
disse o senador. “E eu tenho certeza que eles não conseguiram.”

“Senador,” disse o Secertário do Espaço. “uma montanha de dinheiro foi gasta e um monte
de riscos foram tomados só por causa da sua declaração de autoridade. Eu...”

“Só um minuto, Jim.”, interrompeu com firmeza o Presidente. “Não vamos esquentar a
cabeça. Nada foi feito pela declaração de autoridade do Mike. Foi pela minha. Eu assinei a
ordem, por que acreditei que era a melhor, se não a única, coisa a fazer.”

Depois, voltou-se de novo para o parlamentar. “Só que hoje é o último dia, Mike. Não
aconteceu nada.

“Eu não vou culpá-lo. Eu não te mandei vir para cá para fazer isso. E acho que podemos
parar de nos aborrecer com a explicação do ponto de vista do dinheiro. Mas nós vamos ter
que explicar por que nós fizemos isso tudo, Mike. E eu não posso contar a verdade.”

Bandeau explodiu: “Eu disse que não poderia, não disse?! Seria ótimo, não seria? Eu posso
até ver as manchetes agora: „Foi conselho do meu cartomante‟, diz o Presidente. Porra!”

“Jim,” disse o Presidente, impassível. “Eu disse para me deixar cuidar disso.”

“E o que você quer agora, Sr. Presidente?”, disse Kerotski. “Quer que eu te ajude a inventar
uma boa história-tampão?”

“É sobre isso, Mike.”, admitiu o Presidente.

Kerotski balançou a cabeça lentamente: “Isso não vai ser necessário.”

Bandeau parecia a ponto de explodir, mas o olhar do Presidente silenciou-o.

“Senhor Presidente, eu sei que parece ruim. E vai ficar ainda pior por algum tempo. Mas,
permita-me fazer uma pergunta: Como o motor espacial de Ch‟ien está se saindo?”

“Por que?... Bem. Saiu há meses do papel. A nova nave está sob revisão agora. Você sabe
disso.”

“Certo. Agora, faça uma pergunta para si mesmo: Para que serve a Moonbase One?”

“Bem, pa...”

O telefone tocou. O presidente agarrou o fone. “Sim?”. Depois ele ouviu por um longo
minuto, enquanto sua expressão mudava devagar.

“Sim,” disse ele, por fim. “Sim, eu entendi. Não. Eu vou divulgar para os noticiários. Tudo
bem, ótimo.” E desligou.

“Doze minutos atrás,” disse ele, pausadamente. “a velha Lunik IX caiu na Moonbase One,
esmigalhando-a. Os Soviéticos disseram que um meteoro acertou a Lunik IX no ângulo
exato para fazê-la desacelerar e cair sobre a base. Eles mandaram suas condolências.”

18
Cinquenta Por Cento Profeta

B
RIAN TAGGERT RECOSTOU-SE no sofá de seu escritório e apoiou as mãos
complacentemente sobre o abdomen. “Então a teoria de Donna tinha fundamento e a
minha também. O acidente foi causado por intervenções humanas. Forsythe viu algo
caindo do espaço sobre a Moonbase One e presumiu que era um meteoro. Ele nunca
imaginou que os Soviéticos lançariam a velha Lunik IX sobre ela.”

Cuidadosamente, o Senador Kerotski acendeu um cigarro. “Vai haver um verdadeiro


rebuliço nos jornais, mas o Presidente deve anunciar que aceita a história soviética. Eu o
convenci de que é melhor deixar os Soviéticos pensar que agora estão muito à frente de nós
na corrida espacial. Não há nada como um pouco de complacência para atrasar alguém.”

“Como você o convenceu?”

“Fiz-lhe a mesma pergunta que você me fez. Agora que temos o motor espacial de Ch‟ien,
que utilidade uma base lunar tem? Nenhuma, é claro.”

Dona Tedesco curvou-se para a frente em sua cadeira. “Você já percebeu a sequência de
eventos, Senador? Nós soubemos que a base seria atingida. Decidimos abandoná-la.
Organizamos o maior deslocamento espacial da história para evacuar os mais valiosos
homens e instrumentos. Mas os soviéticos pensaram que estávamos mandando
equipamento para cima em vez de trazê-lo para baixo. Eles não sabiam o que pretendíamos,
mas eles decidiram dar um basta nisso e então lançaram um satélite espacial abandonado
sobre a base.”

“Se não tivéssemos decidido evacuar a base, isso nunca iria acontecer.”

“Isso é intervenção humana com uma vingança. Nós ainda não sabemos se as previsões de
Forsythe vão nos trazer algum bem ou não. Cada vez que agimos para evitar uma de suas
profecias catastróficas, acabamos por fazer as coisas que as causam.”

Silenciosamente, o senador soltou uma lufada de fumaça.

“Ainda vamos ter que continuar a trabalhar com ele”, disse Taggert. “Talvez nós vamos
acabar entendendo essa coisa de pré-cognição.”

“Pelo menos, conseguimos o que queríamos. Os soviéticos acham que nos colocaram dez
anos de atraso; acham que agora têm mais tempo para levar seu programa espacial a um
grande avanço.

“Quando eles chegarem a Marte e Vênus e aos planetas de Alfa Centauro, Sírius e Prócion,
eles vão nos encontrar lá, esperando por eles.”

O senador Kerotski riu, suavemente. “Você é um profeta muito bom, Brian. Você mesmo. A
única diferença entre você e o Forsythe é que ele está certo na metade do tempo.

“Você está certo o tempo todo.”

“Não”, disse Taggert. “Não o tempo todo. Só quando é importante.”

FIM
19
Cinquenta Por Cento Profeta

Sobre o autor
DARREL T. LANGART é um dos muitos
pseudônimos do prolífico autor Gordon Randall
Phillip David Garrett (1927-1987). Garrett foi
grande colaborador da clássica revista Astounding
Science Fiction nos anos 50 e 60. Foi também
padrinho do escritor Robert Silverberg. Além de
Ficção Científica, Garrett também escrevia obras de
Fantasia e História Alternativa.

Gordon Randall escreveu usando diversos


pseudônimos, entre os quais: David Gordon, John
Gordon, Alexander Blade, Richard Greer, Ivar
Jorgensen, Clyde Mitchell, Leonard G. Spencer,
Gerald Vance, Robert Randall (em parceria com
Robert Silverberg), Mark Phillips (em parceria com
Laurence Janifer) e Darrel T. Langart (um anagrama
de seu verdadeiro nome).

Garrett é mais conhecido por sua série de livros centrados em Lord Darcy, o romance Too Many
Magicians [Tantos Magos] (1966) e duas coletâneas de contos. No mundo alternativo de Lord Darcy,
um Império Anglo-Francês sobrevive até o século XX sob liderança da dinastia Plantageneta e a
mágica foi cientificamente codificada.

Nos anos 60, Randall Garrett foi um dos fundadores da Sociedade de Anacronismo Criativo (Society
for Creative Anachronism, SCA). A SCA é uma organização cultural que se dedica a estudar e encenar
diversos eventos históricos, principalmente da Idade Média.

Garrett deixou de escrever em 1979 após sofrer um ataque de encefalite e entrar em coma.

Ele faleceria oito anos mais tarde, no último dia de 1987.

Cinquenta Por Cento Profeta (título original: “Fifty Per Cent Prophet”) foi publicado originalmente
na revista Analog Science Fact & Fiction em Setembro de 1961. A revista foi descontinuada, mas o
copyright não foi renovado. O texto original está disponível no site do Projeto Gutenberg
(http://www.gutenberg.org/files/30337/30337-h/30337-h.htm), que reúne obras em domínio público.

Sobre o tradutor
RENATO PINCELLI (rntpincelli@hotmail.com) tem 20 e poucos anos e leva uma vida tripla: é
bibliotecário em uma escola pública durante o dia, estudante de Jornalismo na UNESP-Bauru
durante a noite e blogueiro ocasional (http://hypercubic.blogspot.com).

Após aprender o idioma inglês (quase) sozinho, passou a traduzir videoclipes e contos de ficção
científica como hobby durante as férias, feriados, fins-de-semana ou qualquer outra oportunidade de
ócio criativo. Gosta de rock californiano, artes gráficas, boas histórias, biografias, carros, astronomia,
ironia e humor 11. Não gosta de comer saladas, nem de religião e nem de fazer planos, mas pretende
tornar-se um poliglota troglodita até o fim da vida.

11 E, como podem perceber,também gosto de notas de rodapé, mesmo que sejam inúteis. (N. do T.)
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