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JOHN RAWLS Oo LIBERALISMO POLITICO "Anno oe ite senuereMas © 1995 Calabi Univer ro as phe apn desi Ts Ve (© cermo libra no tem nos Estados Unidos 2 mesma acepszo que Ihe €aesibuida entre nés e na Europa. Os conservadores norte-ameti~ ‘anos entendem-no como sindnimo de socialists © que tampouco faz en sentido no Brasil. © socialismo ocidencal, embora acaleneasse a ilu ead slo da saciedade sem classes ¢lutass pela estatizagio da economia, ‘atv Ges Mendes sempre se ateve aos limites impostes pelo sistema democritico ee eice presencativo (ao contrério do soialismo oriental, que sderiu a cota Mie Gama Aro Titarismo e passou a et conhecido como comunismo, juscamente pa- Ss 12 alo confundi-lo com o socilismo). Nos Estados Unidos, nunca, eat hhouve movimento expressive em favor da criagdo de qualquer espé- Moc Anan cie de Estado empresitio, A coreente force (liberal, em grande medi ee deo sete 4s identificada com o Partido Democrat) caracteriza-se pela adogio Suma sb de mecanismos oficiais destinades a promover a elevacio dos padrGes Feit ii de enda da minoria que nio consegucfaz8-lo através do mercado pereatat (Naw Deal de Roosevelt; Big Sicety de Lyndon Johnson ec.) Assim Impreno nas fis da sendo, ela mais se asemelha 8 socal-democracia eutopéia, ainda que rica Pals Aer «sta $6 ¢ tenha ofiializado no Congeesso de Godsberg (novembro Been Ade 1959), do Partido Social-Democrata Alemio, que rompe com © _marxismo ¢ renuncia a socedade sem classes, se bem que sem abdi- cat de uma cerca igualdade de reatadss (0 compromisso dos liberis € 20 om aigualdae de oportunidad) O ira amveicano pode, pois, ee eee ‘ser qualificado de social-democrata. Os liberais estadunidenses sio escent ea — chamados de mers o nro dispondo de geandein- on 0 CEP O10 7S Past Aa Ahuncia no Pardo Republicano.Tampouco paderim ser identifi 01 36.00 0.1 27-46 cador com os conservadores, ques tab muito stuantes, mas Sut etenowcieente Se culivam faa pep A digressia precedente vem a propésico deste livro que se deno- mina Libations pli. Seu autor € um auttatico lideral, na acepgio acima caracterizada,sendo portanto legitimo caracterizé-o como s0- cial-democraa, Jolin Rawls (nascido em 1921), professorem Harvacd, sleangou grande nomeada com a publicagio, em 1971, do livro Uma tuoria da justia. Naquela oporcunidade, avangou a hipstese de que a justiga dia tespeto a0 conjunto da vida humana, eno apenas a um de seus segmencos. Deveria repousar num principio igualitiio as- sim formulado: “codes o valores sociis — liberdade e oportunid de, progtesos e riquezas eas bases do respeito asi mesmo — dever distribuir-se igualmence,a menos que uma disribuigio desigual de ‘qusisquere de todos eses bens seja vantajosa pars todos". Rawls pre- ‘ende, assim, ter chegado i apreensio de um principio bisico ("A jus- tiga 6 primeira vieeude das instieuigBes sociais, como a verdade 0 € de todos os sistemas de pensamento"), a partir do qual seria possivel reorganizar a vida socal. (© igualicarismo de Rawls veio dar novo alento 20s social-demo- rata (tera) americans. Como, em 1965, as familias considera das pobres compusessem 17,3% da populagio, o nivel mais alto da histria americana, a celeuma provaceda pelo fato levou o presidente «em exercicio (Lyndon Johnson) a lancar novos programas de assstén cia, em decorténcia do que os dispéndios correspondentes rapida~ ‘mente alcangarum moncantes da ordem de US$ 400 bilhies anuais. corre que iniciativa ndo reuleou na redusio daquele contingen- {e, Ao conteito disso, emergiu ofendmeno das familias com um Ga cochefe (basicamente mes soleiras),cujs ilhosiriam sucessivamen: teengrossar a fileiras de drogados e delinglentes.O igualicarismo entra em decliio eo clamor pela reforma dese siseema ganhs fora (conseguiv, como sabemos, introduzr diversas mudanga, inclusive ‘com o apoio dos chamados new democrats, corrente com crescente in fluéncia no Partido Democrata que, de uma certa forma, aproxima- vaste da insscénciarepublicana em prol da revitalizagio dos valores ‘adicionais da sociedade americana). Reivindica-se a paternidade responsivel, que os programas de asistencia social fica acabaram, por enfraquecer. Nesse contexto € que a obra Una vera da justia de 6 Rawls aruou no sentido de reagrupare fortalecer os liberals (scial- ‘ira para que eles concebam seu states comum € garantido de cidae dios iguais e cents conectar uma deverminada forma de encender 2 9 liberdade e a jgualdade com uma concepgio especifica de pessoa que penso ser afim as nogSes compartilhadas conviegSes esenciais im= plfcicas na culeura pablica de uma sociedad democritica’ ‘A obra de Rawls ensejou uma grande dscussio nos principals pat> ses do Ocidente,¢ no sé no mundo anglo-suxio. Neste, a douttina ‘moral sceta desde o inicio do culo XIX consiste em afirmar que, ‘ng busca da prépia elicidade (da maneita especifca como a enten- dem), o¢ individuos contribuirio para a conquista da flicidade ge- ral, Essa doutrina foi denominada de atlterimo, denominagio que cde modo algum expressa seu sentido principal. Na eradugio latina, 0 termo sil no expressa 0 que se tinha em mente ao empregéclo. Referiase, na verdade, iquelas ages efits, isto €, que se mostra vam adequadas & consecugio des objetivs visados. No fundo, tem= se afaidéia protestante de que o sucesso social seria um indicio de salvagio (a partir da premissa de que as acBes dos individuos deve ‘iam ter em vista erigir na terra uma obra digna da glia de Deus), E, se merece a aprovagio de Deus, sua aco € benéfica para codos ( “mio invisivel” de Adam Smith). ‘A experiéncia concreta revelou duas coisas: 1) 0 mercado, se cia condigdes apropriadas para o exerici da criatividade dos empreen- dedores — e portanto do progresso material —, também engendrs crises colossais como a de 1929; 2) eliminagio do mercado —co- ‘mo preconizado e em certa medida levado & pritia pelo socialismo democritico do Ocidente — leva i estagnacio (a Inglaterra do pés- ‘guerra é 0 exemple mais flagrant) [A social-sdemocracia (bem como aquilo que entre és tem sido de- rnominado de liberaismo social) busca um caminho que permit rméximo de liberdade ao mercado e, 20 mesmo cempo, o controle €a ingeréncia extatais naquele aspectos que sejam decsivos pars a esa= bilidade econdmica politica. Essa busca passe nataralmente pela aproximacio entre moral e politica, como deseja John Rawls. O su- cesso de Tony Blair deve-seem grande medida a seu empenho em re- cuperar a componente moral do socialismo originério. Contudo, se aplicado, o igualitarismo de Rawls produziria um grande dissenso, social, donde a sua virtual impossibiidade sistema democritico to epresentativo, i que dificilmente enconteatia sficience apoio para ser adotado, No fundo, 0 que estd em discussio € 0 seguinte: no processo de busca de uma posicio superadora das limitagBes do socialism, mas preservadora de seu legado (mora) imorredouro, deve a social-demo- ‘racia manterfidelidade 8 ignaldade de raltads? © trabalhismo in- lés jf respondeu negativamente a esa pergunca. O nosso voro é que «4 publicagio desta obea seminal de Joho Ravis leve os social-demo- ‘rata brasileirs a participaedesse émpolgante debate Brasilia, janeiro de 1999 Carls Henrique Cardin © LIBERALISMO PoLIiTtico Jon Rawis Para Anne, Le, Alle Liz SUMARIO Tncrodugio PARTE (© LIBERALISMO POLITICO” ELEMENTOS BASICOS ‘CONFERENCIA I~ IDEIAS FUNDAMENTAIS $1, Duas questdes fundamentais §2.A idéia de uma concepgio politica de justin 83. A idéia da sociedade como um sistema equiativo de cooperagio $4. A idéia da posigo original $5. A concepgto politica de pessoa $6. A idéia de sociedad bem-ordenada §7, Nem comunidade, nem associagio 8. Sobre o uso de concepgses abstraeas (CONFERENCIA Il AS CAPACIDADES DOS CIDADAOS SUA REPRESENTAGAO §1, 0 mzoivel eo racional §2. 0s limites do juizo $3. Doutrinas abrangentes erazoiveis $4. A condicio de publicdade: seus es niveis §5. Auconomia rcional: artifical, no politica 6. Autonomia plens: politica, nio éica a 46 3 38 6 2 8 84 a 92 98 102 no 116 1 §7. A bese da motivagio moral da pessoa §8. Psicologia moral: floséfica, alo psicoldgica ‘CONPERENCIA I © CONSTRUTIVISMO POLITICO 1. A idgia de uma concepgio conserutivisea §2. 0 construrvismo moral de Kane {3A jusiga como equidade enquanco visio construivista ‘$4. O papel das concepces de sociedadee pessoa $5. Ties concepyses de objerividade [§6, A objecividade independence da vio causal do conhecimento 157, Quando existem razdes objetivas, em termos politicos? 48. Oalcance do conserutivismo politico (© LIBERALISMO POLITICO: TRES IDEIAS CENTRAIS CCONFERENCIA IV - A IDEA DE UM CONSENSO SOBREPOSTO §1. Como 6 liberalismo politico € possvel? §2. Agquestio da estabilidade 43. Tits caracteriticas de um consenso sobreposto ‘$4. Um consenso sobreposto io € indiferente, nem cético §5. Lima concepcio politica no precisa ser abrangente 96, Passos para um consenso consticucional 7. Passos para um consenso sobreposto 8. Concepgio e doverinas: como se eelacionam entre si? 126 Bz 135 144 147 153 156 163 165 v2 180 186 190 196 200 205 au 216 CCONFERENCIA V- A PRIORIDADE DO JUSTO F AS IDEIAS DO BEM $1. Como uma concepsdo politics limita 8 concepgées do bem §2.O bem como racionalidede §3. Bens primétiose comparagies interpessouis 18 221 223 225 $4. Os bens prisirios enquanto necessidades dos cidadios 45. Concepts permissiveis do bem e vireudes poliicas $6. A justia como equidade ¢ justa em relagio as concepsdes do bem? §7. 0 bem da sociedade politica {98 A justice como equidade & completa CCONFERENCIA VI- A IDEIA DE RAZAO PUBLICA 1, As quest fans deo pablice $2. Raziopablicn eo ideal de cidadania democrvca 85, Raztes o-pblcas $4. O contetido da raziio piblica §5. A idéia de elementos constitucionais essenciais 6.0 supremo eribunal como exempla de rst pablica §7. As dificuldades aparentes da raziio publica $8. 0s limites du rao pilin PARTE IL ‘A ESTRUTURA INSTITUCIONAL CCONFERPNCIA VII - A ESTRUTURA BASICA COMO OBJETO $1.0 objeto primeica da justiga §2. Auunidade pela seqéncia apropriada {$5.0 libertrianismo no atsibui nenbum papel especial 3 estrutura bisica $4. A imporeincia da justiga bsica §5. Como a estrutuea bisica afta os individuos §6. O acordo inicial como hipotético nlo-histrico 87. Caractersticas especiais do acordoinicial {§8. A nacareza social das eelacBes humanas 9. A forma ideal da estrurura bisica §10, Resposca 3 critica de Hegel 234 238 243 249 256 262 265 269 272 277 281 201 298 309 34 318 321 324 328 331 334 338 CCONFERENCIA VII - AS LIBERDADES FUNDAMENTAIS SUA PRIORIDADE §1. 0 objetivo nical da justia como eqhidade §2 O staras especial das liberdades fundamentais 43. ConcepgBes de pessoa e cooperacio socal $4. A posicio original $5. A prioridade das liberdades, I: a segunda ‘capacidade moral $6. prioridade das liberdades, I: primeica capacidade moral 97. As liberdades fondamentas nZo io ‘mera formalidade §8. Um sistema plenamence adequado de liberdades fundamentais §9. Como as liberdades se encaixam num §10, A expresso politica livre SLL. A regea do perigo claro e presente §12. A manucengio do valor equitaivo das iberdades poicicas §13. As liberdades vinculadas a0 segundo §14. O papel de justia como eqhidade 348 353 359 365 370 380 387 391 397 405 414 a2 a7 turmooucko [As es primeiras conferéncias dest livo coincidem, em termes -erais, com aquelas que apresentei na Universidade de Colimbia em. abril de 1980 e foram publicadas, com revises consideraveis, no Journal of Philusphy, em setembro daquele ano, com o vieulo de“O ‘construtivismo kantiano na teoria moral", Ao longo dos dee anos se _guinees elas foram rescrtase passaram por nova revisfo. Acho que cstdo muito mais claras do que ances, 0 que ado significa que agora ‘estejam totalmente clas. Continuo chamando de conferéncas © que poderia ser chamado de capiculos, pois foi na qualidade de cones cias que eu as concebi tento preserva, talvez sem sucesso, um certo ‘estilo coloquial ‘Quando as conferéncas originais foram proferidas, plancjava pus blici-lasjuntamence com outraserés. Uma delas, "A estrutura bisi- «ca como objeto” (1978), jé fora proferida e publicada, enquanto as futras duas, “As lberdades fandamencais e sua prioidade” (1982) € ‘Unidade social e bens primros” (1982), estavam esboradas ou pré- xximas de sua conclusio, No encanto, quando essas ers outra confe- ‘ncias foram Finalmente apresencadas, vi que no tinham o tipo de Lunidade que eu queria, quer encre si, quer em relagio&serésanterio- tes'. Por iso esctevi mais er dssertagGes sobre oliberalismo poli 0%, como agora denomina 0 conjunto, comegando com "Uma con= cepgio politica, nio metafisica” (1985), grande parce da qual ests 1 Decor acon dt pina a nig age alert 2 Ese tern uta em “Oveppng Cones” Ofd ara of Lisl Sa 7 eve tern de 187) 2Sae Te Prey igh an Le of he Gen Phang and Pali ‘Af to cde 98, 271273. 2 incluide na primeira confeténcia, seguida por “A idéia de um consen- s0 sobreposto” (Oserlapping Consensus) (1987), “A prioridade do justo € as idéias do bern” (1988) €“O dominio do politico” (1989). As tes ‘leimas, consideravelmente refeitas e combinadas, juntamente com, "A idéa da tanto pablice", que aparece aqui pela primeira ver, cons- ticuem as erés conferénciasfinais deste liveo. [As seis primeias conferéncias esto celacionadas da seguince ma- ‘cits: as els primeiras apresentam o puno de fundo filos6tic do l= berslismo politico em termos de rardo pritica, principalmente os 881, 3, 7,8 da Conferéncia I todos os da Conferénca Il, enquan- to a5 eds lkimas discutem mais detalhadamenteviris de suas pin~ cipaisidéias, como, por exemplo, a idéia de um consenso sobrepos- to, idéia da prioridade do diteita e sua relagio com as idias do bem, 4 idgia da ranio pablica. As conferéncias tm agora aunidade te- sndcica desejada, canco ence si quanco com o espiitoe teor de Una teria da justia’ dia do liberalismo politico. (Os abjetivos de Um tra da ui foram esbogados em seu pre- fico (§§2-3). Ali, comeco observando que, durante grande parte do periodo moderno da filosofie moral, a visio sistemitica predominan- te no mundo de ings inglesa sempee foi alguma forma de uit rismo, Isto se deve, entre outeas cosas, 20 Faro de ess visio er sido repeesentada por uma longa linhagem de escritores brilhantes, de Hume e Adam Smith a Edgeworth e Sidgwick, que construfram um, cedificio intelectual realmente impressionance no que diz cespeito 8 amplitude e profundidade. Em geral as objecSes de seus crticos foram limitadas, Observaram dificuldades com o principio de utili- dade e salientaram disceepncias sériase evidences entre suas imp cagBese nosas convicgSes moras comuns, Mas cteio que esses citcos, ‘ao conseguiram elaborar uma concep¢i0 moral vidve esistemética que pudesse contrapor-se de fato a ese edificio, O resultado foi que nos vimos muitas vezesforgados a zee uma opgzo encre o utiitaris- ‘mo e oineuicionismo racional e, provavelmente, a escolher uma va- riance do principio de uilidade resereae limitada por objegbes in- tuicionietas aparentemente ab. 5. Thy Ja Cabge Mas: Haar Univer Pros, 171). 22 (Os objerivos de Tara (ainda parafaseando seu precio) cram ge peralizarelevar a uma ordem superior de abseragZo a doutrina tradi- ional do conceato socal. Eu queria mostrar que essa doutrina tinh, como responder As objegBes mais Gbvias que, em geral, forum conside- ‘das fata para ela, Espero claborar com mais clatea as principas c= racterstcas estruturas dessa concepsdo —a que chamei de “justia ‘como eqiidade'— edesenvolvé-La como uma outa visio sisteméti cde jusiga, superior ao utltarismo. Julguei que essa oura concepsio, cea, entre as concepgies moraistradicionais, a que mais se apeoximava de nosas convicgées refleidas de justiga,consctuindo a base mais apropriada para as insticuiges de uma sciedade democriica. (Or objets dessa confeéncias sio bem diferentes. Observe que, ‘em meu resumo dos objecivos de Teri a tadigio do contrato social parece como parte da flcsofia moral ¢nio se fax distingio alguma ‘ee Filosofia morale politica. Em Teoria, uma doutrina moral da mente politica de justiga. O conteaste encre doutrinas filosficas € -morais abrangenees concepgBes limitadas ao dominio do politico no é de grande relevincia. No entanto, esas diseincBese ids afins slo fundamentais nas conferéncias aqui apeesentadas [Na verdade, pode parecer que 0 objetivo e 0 teor dessas conte ‘acias indica uma grande mudanca em relacio aos de Tria. Ceeta- justica de alcance geral ado se discingue de uma conce ‘mente, como jd ressltei,existem diferengas importantes. Mas, para entender a nacureza ea exten desis diferencas, é preciso vé-las como fatores decorrences da tentativa de exclarecer um grave proble- ‘ma interno, proprio da justiga como eqlidade. Elas decorrem, em ‘ues palaveas, do fato de a descrigio de estabilidade, na Parte IIL e Tira, ndo ser cerente com a vislo em sua totaidade. A elimina- iio desss incoeténcia, creio,responde pelasdiferencas entre quela obra ea presente, De resto, as conferéncias aqui apresentadas acaram substancialmente a mesma esteutura ereor de Teri’ 4 Evdemeann,¢pcin aig msl deo fe eves ual gl ‘oresum eo cone epg come ead ram spasm Une de ‘ee. Rigscs ee soto, tir eee a mina aca 23 © serave problema a que me referi — € preciso que eu explique — diz respeito a idéia pouco realist de “sociedade bern-ordenada”, tl como aparece em Terie. Uma caracterfstcaessencial de uma so- ‘ma concepclo politica eazoével de justiga € possivel. O liberalismo politico comege por levar a serio profundidade absolueadesse con. Aieo lacente eieeconciisvel. Sobre a relacio entteo iberaismo politico ea filosofia moral do petiode moderna, enquanto a filosofia moral ea, claro es, profun- damente afetada pela sicuacio religiosa no incerior da qual se desen= volveu depois da Reforma, os principaisescricores do século XVIII ssperavam estabelecer uma base de conhecimento moral independen- te da aucoridade ecesicicae acessivel A pessoa comum, razoivel conscienciosa. Feito iso, quiseram desenvolver todo o leque de con- ceitas € pri ‘pos com base nos quaisestabeleceriam 05 requisicos ‘da vida moral, Com ess finalidade, estudaram as questdes bisicas da epistemologiae da psicologia moral, eis como: (O conhecimento ou a nogio de como devemos agir seria dado di- cecamente & alguns apenas, a uns poucos(o cleo, digames), ou 2 c- da pessoa normalmenterazoivel ¢conscienciosa? ‘A ordem moral exigids de n6s deriva de uma fonte externa, de ‘uma ordem de valores existence no intelecto de Deus, por exemplo, ‘ou surge, de algum modo, da pris nacureza humana (tanto da ra- io quanto do sentimento, ou de uma ur com of requisitos de nossa vida em comum na sociedade? Finalmente, devemos cer persuadidos ou levades a aos convencer de nossos deveres e obrigacdes por uma morivacio externa, pelas san Bes divinas, por exemple, ou peas sang¥es estas? Ou somos cons dos de tal forma que temas em nossa naturees motivos sufcien- Fo de ambos), juntamente a4 ‘es para nos levar a agir como devemos, sem a necessdade de amea- ase indugées externas"? “Todas essas questées surgitam primo na ecologia. Entre os au cores que geralmence eseudames, Hume e Kant, cada qual 3 sua ma- rei, escolhe a segunda alternativa como espostaa cada uma dessas crs questées. Acreditam que a ondem moral surge de algum modo 4 prdpria natureza humana, como eazio ou como sencimento, das condigies de nossa vida em sociedade. Acreditam também que saber fou cer consciéncia de como agir é dado diretamente a coda pessoa que Sj notmalmence razoivel e conscencioss.E, por fim, areditam que somos constieuidos de tal modo que temios em nossa nacureza moti vos suficientes pura ns levar a agie como devemos, em a necesida- de de sanges externas, ow pelo menos nio sob forma de eecompen: 55 e punigSes impostas por Deus ou pelo Estado. Na verdade, canto Hume quanto Kane encontram-se 0 mais longe possvel da visio se- _gundo a qual somente uns poucos tém discernimento moral ¢codas 4s pessoas, ou a maioria delas, devem ser obrigadas a fazer 0 que é ‘certo por meio dessa sangbes™. Nesse sentido, suas idéias fem par- {e daquilo a que chamo de liberalismo abrangente, em contraposigio a iberaismo politica, ‘Oliberalisma politico aio € um liberalism abrangente, Nio ado- ‘ca uma posigdo geal sobte as trés questbes acim; deina que sejam espondidas 3 sua prdpria maneita plas diferentes vies abrangen- tes. Contudo, no que diz respeico a uma concepto politica de just: (4 num regime democritico consticucional, 0 liberalismo politico Aefende caregoricamence a segunda alternativaem cada umadas ques- es propostas. Nesse caso fundamental, defender esss alteroativas faz parte do constrativismo politic (IM). Os problemas geris de f 15. si pein cnet de acct Scheid Mr Phy fn lng Kone A At. i (Cambedge Combes Uniey Pree Aiverios ent de Schaewiod, ete es, em partic, “Natal Lam, Sheps, and (he Mea ot Eta oft yf a 92191 299-508 cei an kat, Mn Py 2, a grea Hae 35 losofia moral nfo sio da alga do liberalism politico, exceto quan do afetam a maneita pela qual a culeura de base e suas doutrinas brangentestendem 4 apoiar um regime coasticucional. O liberalis- ‘mo politico vé sua forma de ilsofia poicica come possuidora de um tema proprio, qual seja: como € possivelaexisténcia de uma soci dade jst live em condigies de profundo conflto doutrinsria, sem perspectiva de resolugio? Para manter a imparcialidade entre dou- trinas abrangente,o iberslismo politico aio discuteespecificamen- te-0s t6picos moras que dividem essus doutrinas. As vezes iss0 pa- rece apresentar dificuldades, as qua procuro resolver a medida que surgem, como em V8, por exemplo, Pode parecer que minha énfise na Reforma e a longa controvér- sia sobre a tolernca, entendidas como a origem do liberlismo, seia anacrnica em relasio aos problemas da vida politica contempori- ‘nea. Entre noss0s problemas mais bisicos encontram-se 0s de ra, ccnia e género, f possivel que tenham um cariter inteiramence dife- rente, que exija ptinefpis diferentes de justca, no discutidos pela Tori ‘Como observei antes, Uma tora da jusicapropés-se a apresentar ido que as con- cepgesteadicionais mais importantes e conbecidas. Tendo em vista ‘ssa finelidade, limirou-se — como as questSes que discure deixam, Claro —a uma série de problemas cisscos e ans que estiveram no ‘uma visio da justia politica e social mais savsf centro dos debates hiséricos relativos 3 escrutura moral e politica do Estado democetico moderna, Por isso tata dos fundamentos das li- berdades eeligiosase politicas biscas,e dos direios fundamentais ‘dos cidados na sociedade civil, incluindo aqui a liberdade de movi- ‘mento ea igualdade equitativa de oportunidades, o dieito& proprie~ dade pessoal eas gatantias asseguradas pelo império da lei A Tewia dliscute também a justiga das desigualdades econdmicase socias mu ima sociedade em que os cidadios sio considerados livres e iguais, ‘Mas ignora em grande parte a questio das reivindicagdes de demo- cracia na empress no local de trabalho, assim como a de justia en ‘tre os Estados (ou povos, como peefito dizer) e praticamente deixa cde mencionar a justia penal ea protecdo ao meio ambiente ou a pre 36 servacio da vida silvestre, Quteas questdes importantes sio omii- as, como, por exemplo, a justiga da ena familia, embora eu de fico supona que, de alguma forma, a familia € justa. O pressuposto sub jacente & que uma concepcio de jusige desenvolvida com o foco em tans poucos problemas clisicose de longa data hé de se coreta 0, pelo menos, apresentar dretrizes para a resolugio de outeas questes Esse & 0 raciocinio que fundamenta a focalizacio em uns poucos pro- blemas clisscos cenerise persistentes F clara que «concepgéo de jusiga 3 qual se chegs dessa mancira pode mostra se defeitusa so € que esté por cis de grande pare da crcica fica 3 Teoria, segundo a qual 0 tipo de hibealismo li e- presenta seria insinsecamente defetuoso po se bascr numa con- cepsoabstrata de pessoa e por evar de uma ida individualist, ‘io social, de nacoreza hamana ou porque empregata uma distin- fo implausivel ene pblio eo privado, o que aiposibilcaria de idar com os problemas de género fami. Acreito que geande pare dessasobjoes concep de pessoneideia de naturezs hu mana resultado fato de nose vee a iia da posi original como um acificio de representa come explico em I:4. Acredito tam- bem, embora nio procure demonsteé-lo nas conferéncias aqui pre~ sentes, que as supestas dificuldades em discutir problemas de géne- 0 familia podem ser superadas, Dessa forma, continuo achando que, se dispuseemos das concep= bese principios adequados as questieshisticas bésicas,essas con cepgSes e principies teri larga aplicacio 20s nossos pestis proble- ‘mas. A mesma jgualdade da Declaragio da Independéncia que Lincoln Jnvocou para condenar a escavidio pode ser invocada para condenat a desigualdade ea opressio das mulheres. Penso que é uma questio, de entender o que os principios anteriores requerem sob outta cit Ccunstinciase de insstr para que sejam postos em pritica pels ins Citwigdes existences. Por essa razio, a Tria concentroucse em certos problemas hise6ricos, na esperanca de formular uma série de concep (8es principiosafins erazodveis que possam ser aplicados tambéen 8 outtos casos bisicos 7 Para concluit, procurei moscrar nas observagSes acima que agora ‘entendo justiga como eqidade como uma forma de liberalismo po> Hicico, e procurei mostrar também por que mudancas se fizeram ne cesstias, Essas observagées enfatizam o sério problema interno que levou a tais mudangas. No entanto, nio pretendo dar uma explicas ‘io de como e pot que essas madancas foram feicas de fo, Na ade, nio creio que saibs por que tomei essa direcio especitica Qualquerhistéria que eu conte sera, provavelmente fcgio, apenas aguilo em que quero acreditar. ‘O primeico uso que fiz dessa idéias de concepto politice de jus- tiga ede consenso sobreposto foi equivocada e levou a abjegées que, inicialmenee, achei desnorteentes: como idéias simples como as de ‘uma concepgio politica de jusica e de um consenso sobreposto po- dem ter sido mal entendidas? Subestimeio grau de complexidade necessirio pars que Teri fosse coerentee considerei pontos pac os algumas pegs essenciais que falearam para uma formulaso con- vincente do liberalism politico. Denezeessas pegas que faltaram, 2s principais so 1) aidéia de justiga como equidade enquanto visio auto-susten- ‘ada, ea de um consenso sobrepasto como um componente de sua incerpreragio da estabilidade; 2) distingdo enere pluralismo simples e pluralismo razosvel, ia de uma doutrina abrangente razosvel; 3) uma interperagio mais completa do razovel edo racional en- tretecda na concepsio da consteutivismo politico (em conera~ posigio ao consteutivismo moral), de modo que fique claro o tembasamento dos prinefpios do diteio e da justiga na razio pritics. Com essas pegs no lugar, acredico que as partes obscurasestejam agora esclarecidas, Tenho muitos ageadecimentos a fazer, 2 maioria dleles indicados nas notas de rodapé ao longo de todo o Livro. Com aqueles com quem rive discusses instruivas sobre as pessausentes ‘mencionadas acima, pessoas com as quas aprendi muito, cenho uma divida especial acompanhada dai 38 ‘Ageadeso aT, M. Scanlon as numerosas discusses insteutivas, desde o comeso, sobre 0 construtivismo politico © o conserutivisme ‘em geral, motivo pelo qual ess visio, apresentada em Il, esté agora ‘mais compreensivel do que a anterior, esbocada em 1980; e também plas discusses sabre a dstingio entre o razosvel eo racional, ¢s0- bre a maneita de especificar orazodvel, rendo em vista os abjetivos de uma concepgio politica de justiga (IE 1-3). ‘A Ronald Dworkin e Thomas Nagel sou grato pelas muita dis- cussies enquunto partcipsvamos de conferéncias na Universidade de Nova York entre 1987 1991; , em eelago 3 idéia de justiga como, ‘eqiidade enquanco visio auto-sustentada (I:5), por uma conversa in- ‘comumence esclatecedora pot volta da meia-noite no bar deseeto do Hotel Santa Licia, em Népoles, em juno de 1988. ‘A Wilfied Hinsch, pela necessidade da idéia de uma douetina sbrangence ¢razoivel, em contraste com uma doutrina abrangente ‘impliiter (U3), e pla discusses insteutivas a esse respeito-em maio, « junho de 1988, {A Joshua Cohen, que enfatizou a importincia da discingio encre pluralismo razodvel epluralismo simples (1:62), pelas muias dis- ‘ussbesvaliosas sobre a idéia do razovel em 1989-90, codas sintet zadas em seu artigo de maio de 1990. {A Tyler Burge, por dus longas cartas no verio de 1991, em que ‘questionava ecriticeva uma versio anterior de IIL. Persuadiu-me de que eu no apenas ndo conseguita dar um sentido claro 3s formas pe- las quais canto o construtivisme moral de Kant quanto 0 meu cons truivismo politico explicam a autonarnia moral ou politica, mas que cexcedera também of limites de uma conce politica de justica a0 fazer o conttaste entre conscrutivisme politica e intuicionismo ta- ional. Na centativa de coreigir esss falhas graves, reescreviinteea- ‘mente 0s §§1, 2€5. ‘Como indicam essas datas, cheguei a uma compreensio clara do liberalism politico — a0 menos em minha opinigo — s6 nos dlti« ‘mos anos. Embora muitos dos enssios anteriores sparecam aqui com ‘© mesmo titulo ou um ctulo semelhance, e grande parce do mesmo 39 contesido, foram codos consideravelmence ajustados para que, jun~ tos, expressem 0 que agora acedito set uma visio coerente. ‘Procurei agradecer « outta pessoas nas notas de rodapé. No en- canto, os agradecimentos que se seguem dizem eespeito a dividas que se estenderam por muito cempo e, por uma f22%0 ou outea, no pu dram ser devidamente econhecidas de outra maneir ‘Agradego a Burton Dreben, com quem discuti longamente 2s aquestées dessas conferéncia, discussdes que tiveram inicio no final, dos anos 70, quando a idéia de liberalism politico comegou a tomar forma em minba mente, Sew incenivo firme e sua severa critica tal- raidica me fizeram urn bem imenso. Minha dvds com ele € impos- sivel de pagae. ‘Ao falecido David Sachs, com quem diseuti desde 1946, quando ‘nos encontramos pela primeira vez, muita das questdes que 0cexto considera, principalmence as que dizem respeico&psicologia moral Em relaso aoe rdpicos deste livro, Sachs eeu tivemos longs discus ses, muito valiosas para mim, em Boston, ers vezes na década de 1980. Na primaverse no verio de 1982, discutimos virias das difi- culdades que encontramos nas conferencias que proferi em Colimbia fem 1980; no verZo de 1983, ele me ajudou a preparar uma versio consieravelmence melhorada de “A esteurura bisica como objeto”, assim como uma versio muito melhor do §6 de “As liberdades fun- séamentaise sua proridade”, que trata a idéia da sociedad como uma ‘unio social de unidessoiais, Espero usar ambasalgum dia. No verio de 1986, reelaboramos a conferéncia que havia proferido em Oxford rho més de mio ancesio, em homenagem a H. L.A. Hare. Essa ver~ ‘so melhorads foi publicada em fevereio de 1987 na Oxford Journal of Legal Sidie, grande parce dela reaparece aqui em IV. ‘A falecida Judith Shklar sou grato pelas iniimeras discusses ins ‘rucivas desde que nos conhecemos, hé erinca anos. Embora nunca tenhe sido seu aluno, aprendi com ela como um escudante aprende~ Fia,o que me fez melhor, Em relacio a este livro, ela me fo de gran de uxili, especialmente ao sponta dieecdes que deviam ser explo- radas;e sempre confei nla em questdes de interpreragio historia, 4 de imporcincia crucial em virias passagens do texto, Nossa ileima discussiogirou em eorno dessa quests. [A Sarpuel Scheffler, que, no outono de 1977, enviou-me um pe _queno artigo, “Independencia moral ea posigio original”, no qual afi haver ur sévioconflico entre a cerceira parte de meu artigo “A independéncia da eoria moral” (1975), que tratava da rlacio en: ‘re identidade pessoal ceoria mor ‘e meus argumentos contra © utiliaeismo em Teri. Lembro-me de que foi nesse momento (eu ‘estava de licenga naquele ano) que comecei a pensar sea visio da ‘Thora no peecisarie ser cottigida, ¢ em que medida. A decisio de explorar esse problema, ¢ndo um otro t6pico, acabou levando 3s confestncias de Colmbia de 1980, ¢ aos enssios posceriores que ea bboram a idéia do liberalism politico ‘A Erin Kelly, que nos tleimos dois anos leu os rascunhos do ori= inal, destacando a passagens nas quai o texto estava obscuro e su _gerindo esclerecimentos; propds-me formas segundo as quais argu ‘mento poderia ser reorganizado para le dar mais orga; €, a0 fazer perguntas levancar objegSes,levou-me a remodelar 0 texto inter Seria impossivel fazer uma lista de todas as tevisdes a que seus co- _mentitios me conduzirany; mas, 3s vezes,levaram a aleragBes im- porcantes, AS mais Fundamentais, procure: agradecer-lhe nas notas de rodapé. Ox méris deste trabalho, sejam quais forem, resuleam, ‘em boa medida de seus esfogos Finalmente, gostaria de agradecer As seguinces pessoas por seus ‘comentiriosescritos sobre o texto ‘A Dennis Thompson, que me enviou varias piginas de sugestoes cextremamente valioss, €quase todas levaram a correges ou revises do texto; indiquei os lcais onde algumas delas foram feitas nas n0- ts de rodapé, onde também cite seus comentieos. [A Frank Michelean, pelos muitos comentirios perspicazes que relucei em admiei, porque na poderia responder a els de forma ade- quads sem fazer, neste momento, mudangas substanciais ¢ de longo 15.0 de fei pubis dpi em hp Snd 3811999 397-05 4“ alcance. Somente em uma passagem (VI6.4) tive condigoes de res- ponder-the a content. ‘A Robert Audi, Kene Greenawalee Paul Weithman, que me man- daram sugestOesinstigantes sobre VI, algumas das quais consegui incluie, vistas no tleimo momento ‘A Alyssa Bernstein, Thomas Pogge e Seana Shiffin, que me ens viaram extensos comenttios eseritos, os quas infelizmence no pu de levar em consideragio em sua cotalidade. Lamento que eles nfo vejam seus comentérios discutidas aqui como deveriam. Lamenco ‘também por, a0 reimprimie "As liberdades fundamentais sua pr ridade"(1982) sem aleeragSes, no ter respondido is criticas pene trantes de Rex Martin, apresentadas em seu Rasuls and Rights, prin- cipalmente cape. 2,3, 67 elo erabalho ingrato de me ajudar acorrigire editar oo inal e 8 provas, agradeco a minha mulher Mard e & nossa filha Liz, € ‘Michelle Renfeld e Matthew Jones. Job Rawls ‘Oueubto de 1992 2 PARTE O liberalismo polftico: elementos basicos IDEIAS FUNDAMENTAIS (© liberalismo politico, o titulo destas conferéncias, soa familia [No entanto, quero dizer com essa expresso algo bem diferente, ceio fu, do que 0 leitor provavelmente supse. Talves por isso eu devesse ‘comegar com uma definigzo de liberalismo politico, explicando por jque 0 chamo de "politico™. Mas nenhuma definicio é Geil no inicio, ‘Comeso, 20 concririo, com uma primeiea questo fundamental sobre & justiga politica numa sociedade democrivica, a saber: qual a con cepa de justiga mais apea a espeificar os termos eqlitativos de coo- peragho social entsecidadios considerados lives e igus, e membros plenamence cooperativos da sociedade durante a vida toda, de uma _geragio até seguinte? ‘A essa primeira questo fundamental, acrescentamos uma segun= «da, da rolerincia compreendida em cermos gerais. A culeua polti- ca de ums sociedade democtitca € sempre marcada pela diversidade de douttinas eeligiosas,flosdficas © morsisconflitancese itreconci- ligveis. Algumas sio perfeitamente rszodveis,e essa diversidade de outrinas razodveis, 0 liberalismo politico a vé como o resultado ine= vitével, a longo prazo, do exerccio das faculdades da razdo humana «em insttuigBes basics livees e duradouras. Por conseguinte, a se= _gunda quescio consisceem saber quais sio 0s Fandamencos da role- Fincia assim compreendida, considerando-se ofato do pluralismo e zndvel como resultado inevitivel de insieuiies lives. A combinacio ddessas duas questdes nos leva a perguntar como é possivel exist, 20 longo do tempo, uma sociedade juste estvel de cidadios lives © “6 iguais, mas que permanccem profundamente dividides por doutri- as religions, filoséficas e moras razoéveis, ‘As lutas mais dficeis, pressupse o iberalismo politico, sto reco ahecidamente travadas em nome das coisas mais elevadas: da reli- ‘lo, das vsiesfilos6ticas de mundo e das diferentes concepges mo= ris da bem. Pode parecer surpreendente que, com oposicdes ti profundas asim, a conperasio justa entre cidados Lives e iguas se- js possiel, De fto, a experignciahistrica most que isso earamen- ‘© € possivel, Seo problema levantado & demasiado familia, 0 libe- talismo politico propée, « meu ver, uma solugio pouce familiar. Para apresencar essa solugio, precisamos de um certo conjunto de idias afins. Nesta conferéncia, exponho as mais centeais e proponho uma Aefinigio no final 68), $1. Duas questies fandamentais 1. Em primeira lugar, 0 curso do pensamento democritico ao lon- {80 dos dois dltimos séculos, aproximadamence, deiza claro que, n0 presente, no hi concordncia sobre a forma pela qual as insttuigBes bsicas de uma democracia consticucional devam ser organizadas pa- ra satisfazer os cermos equitativos de cooperagio entre cidadios con- Siderados lives e iguas. Iso fica evidente nas idéias profundamente conerovercidas sobre a melhor forma de expressar os valores da liber- dade eda igualdade nos dieeitos eliberdades bisicos dos cidadios, de modo que sejam sacisfeitas as exigéncias canto da lberdade quan- ‘to da igualdade, Podemos ver esa discordincia como um conflito no incerioe da propria tradigio do pensamento democrético, entre a eri digio associada a Locke — que di maior peso ao que Constanc cha smava de “as liberdades dos modeenos”, as iberdades de pensamenco conscitncia, certos direitos bésicos da pessoa ede propriedade, ¢ 0 império da lei — ea eadicio asociada a Rousseau, que df mais pe- 0.20 que Constane chamava de "as liberdades dos antigos", as liber- 46 dades politicasiguaise os valores da vida piblica’. Estilizado, esse conhecido contraste pode nos serie para pr as idéias em order, Para responder 8 primeira questio, a justica como eqiidade’ pro- ‘cura arbicrarencte essa eradigaes confliantes propondo, primeizo, dois prinfpios de justiga que sitvam de dretrizes para 2 forma pela {qual as instcuigles bisicas devem realizar of valores de liberdade e igualdade;e, em segundo lugar, especificando um ponto de vista com base no qual esses principios ejam considerados mais adequados do ‘que outros prineipios conhecidos de justiga 3 idéia de cidadios de- mocritics tidas como pessoas liveese iguais. 0 que € preciso mos- ‘rar € que, em se tratando de cidadios assim concebidos, um certo tipo de organizagio das insteuicdes poicicase sociis bisicas € mais aproptiado a realizagio dos valores de liberdade eigualdade. Os dois, principios de justiga (mencionados acima) sio os sepuintes’ 4, Todas as pessoas cém igual direio a.um projeto inteiramence stiafacrio de dircito elibetdades bisicas iguais para todos, projeto este compativel com todos os demais;e, nese projet, as libetdades poivicas, e somente esta, deverdo cer seu valor eqiltativo gaeantido. ', As desigualdades sociaise econdmicas devem saistazer dois re- ‘uisitos: primero, dever estar vinculadas a posigées e cargos abertos a todos, em condigGes de igualdade eqitativa de opor- 1. Ve“Lkery the Aen Compr with hr ah Maer (1819 em Bean ‘Gmbridge Uninet Pes, 988) A daca de ited sobtes dit ‘ema s lnfnpolin mo mune niga nome rn nt perdi (Bie de Grae 2A cop de sige presen em Tai (lode The Bue Libero and Thi Pry Tone Lato Hama aa vl I (Sis Lite Cy. Uns o ish romp Os mer dealer dh ‘scoop. 4655 dura oferta So poate vier exp ‘he ele bon om Tore lou fa arena de epee pete o> Isr 1 Ham et ria of hae a tunidades; e segundo, devem representar 0 maior beneficio possivel aos membros menos privilegiados da sociedade. Cada um desses princjpios regula as instieuigbes numa esfera pt cular, do apenas em relasio aes divetos, liberdades e oporcunid: des bisicos, mas também no que diz respeio is reivindicagbes de igualdade; a seguada parce do segundo principio, por sus ve, subli- thao valor dessas garancias institucionais!. Juntos, os dois prinet= pics regulam as insttuigdes bsicas que realizam esses valores, con~ feeindo-se a primeiro proridade sobre o segundo. 2. Uma longa explanagdo seria necessria para esclarece o signi ficado e a aplicagio desses princfpios. Como iso no constitu o te- ma desta conferéncias,fago apenas alguns comentivios. Primeiro,, ‘ej esses principios como manifesagées do contetido de uma con- cept politica liberal de justia. © teor de uma cal concept € de- finido por eéscaratersicas principals: 2 especiticagio de certos di ‘ites, lberdades eoporcunidadesbisicos (de um tipo que conbiecemos dos regimes democriticos consttucionais) b)stibuicio de uma prio ridade especial a esses direitos, liberdades e oportunidades, princi~ palmente no que diz respeito a exigéncias do bem geral ede valores perfeccionista: « €) medidas que assegurem a todos os cidadios 05, ‘meios polvalences adequados para que suas iberdades e oporcunida- des sejam efetivamente postas em pritica. Esses elementos podem ser compreendidos de diversas maneiras, uma vee que existem mui- tas variantes de iberalismo. Além disto, os dos principios expressam uma forma igualiciria, de liberalismo em virtude de txés elementos. Sto eles: 2) garan ‘do valor eqitativo das ibeedades politica, de modo que nio sejam puramence formais;b) igualdade eqieativa (e, é bom que se di ‘ilo meramente formal) de oportunidades; , finalmente co cham: do principio da difecenca, segundo o qual 2s desigualdades socais © econmicas associadas aos cargos e posgles devem Ser ajustadas de 4.0 aor dea gain psn pl eect ame ad en pis A ate eet fea 03 Sct de fara a compen em V4 48 «al modo ue, seja qual foro nivel dessasdesigualdades, grande ou ‘pequeno, ever representar 0 maior benefico possivel para 0s men= bros menos privilegiados da socicdade. Todos eses elementos ainda tém validade, como tinham em Teri; 0 mesmo se pode dizer da at- ‘gumentagio em favor deles, Assim sendo, pressuponho 20 longo de todas esas conferncias a mesma concepgio igualitiria de justiqa de ances, ¢,embora mencione eevises de vez em quando, nenhuma de- las afeta esse ponto.em particular’. No entano, nosso ema € 0 libe- ralismo politico eas idéias que o consticuem, de modo que grande parce de nossa discussio dix respeitos concepcBesliberas de forma ‘mais geral, admitindo todas as suas variances, como, por exemple, quando consideramos aidéia da razio piblca (em IV). Finalmente, como seria de esperar, alguas aspectos importances los dois princfpis so ignorados na formulagio sucinta apresencada cima, Em particular, o primeieo principio, que traca dos direitos € Liberdades bisios igusis, pode facilmence ser precedido de um prin- cpio lexicamente anterior, que prescreva a saisfagio das necessida des basicas dos cidaos, a0 menos 3 medida que asatisfaio dessus necessidadesseja neces para que os cidadios entendam e enham condigies de exercer de forma fecunda esses direitos eliberdades. & cevidente que um principio desseeipo tem de estar pressuposto na 5, Hd uma sre de ques pe inept pon ew ea de ile Teng Por explo metas meno legis eae eens po {ine descrge top msn da edo em de Sal Kip em Nama iNew (Cantige, Mas: Hara Una Pree 973) Alen dio pis ‘So rye cine cnt orn eng a gees pa iia de ame sree ndfscanet expecta doe eosin compa Som dea de Mil eye scram a aro jute odes cmalig {Mir de forme mai eva pel prs bacco dn men preg ae (Shera ct bo cas unplemente ama compeades sous peep ra feria. (Cee nen jeg slg pram qo ih reli i do ier Imo pisces rune cone igual Tor No re Se. ture eis mang pm que inns ane 49 aplicacio do primero principio’. Mas, aqui, nio me estendo sobre cessaseoutras queses. 53. Em ver disso, retomo nossa primeira questio perguaco: co- ‘mo a filosofia politica poderia encontrar uma base comum para res ponder a uma questi fundamental como a da familia de instiuigBes mais apropriads para garantie a libeedadee 2 igualdade democriti- ‘a? Talvez o miximo que se possa fazer seja teduziro leque de dis- cordincias. No entanto, mesmo convigbes profundamente araiga~ das madam ao longo do tempo: a tolerinca religioss€ acita hoje, © ‘os argumentos em favor da perseguicio no sio mais deendidos aber- tamence; da mesma forma, aescravidio, que levou 4 Guerra Civil, americana, ¢repudiada como inerentemente injustae, por mais que “suas conseqiénciss persistam em policcas socias eer aticudes in- confessiveis, ninguém est disposto a defendé-la. Reunimos convic- les arraigadas, como a nogio de rolerinca religiosa e a de repidio 8 cexctavidlo,¢ procutamos organizar a idéas e prineipos bisicos ne- las implicitos numa concepcio politica coerente de justia. Tas con ‘vicgBes so pontos de referencia provisos, que, ao que parece, coda concepgio razosvel deve levar em conta. Nosso ponto de partida é, nto, & nogio da prépria culture publica como fundo comum de ‘dias eprincipios bisicos implicitamente recoahecidos. Esperamos formular ess idase principios de forma clara o bastante para ati- cclé-los em uma concepgo politica de justca condizente com nos- sae conviegdes mais profundamence arraigadas. Expressamos isso 20 dizer que uma concepgio politica de justi, para ser aceitivel, deve ‘star cle acordo com nossasconvicgées fefletidas, em todos os niveis 7A epi rm deve princi ani code uma emg mcg Mars, May, Sal June Prem: enctea Unvesty Pes 1989p 14 Coco mma ped mg de Pl om com 5) ge pce Income forma val engin sci A eld na los elcons inj eine i lite eee pec ame vem Tor cm ne deni or slr farmers erm der une, epee deo € ‘cms ede gust, pe cosets algun forma ei Smo se 30 oF de generalidade; deve, pois, decorret da devida reflewo, ou daquilo que, em outto trabalho, chamei de “equilibrioeeflexivo™ ca pica pode estar dividida num nivel muito profundo. Na verdade, assim hi de ser com controvérsias de longa lata, como aquela sobte 0 entendimento mais correto de liberdade € iqualdade. Iso é um sinal de que, se qusermos encontrae urna base cde concordincia pablica, devemos buscat uma maneira de organizar ideas e principios conhecidos numa concepsio de justiga politica aque exprese esas ides e fot. A justia como equidade procura realizar ese intento valendo- se de um idéia organizadora fundamencal no incrior da qual codas 8 ids principio possam ser sistematicamence conectados rela cionsdos, Essa idéia orgenizadora € da sociedade concebida como tum sistema eqUitacivo de cooperagio social entre pessoas livres & ‘guais, vistas como membros plenamente cooperacivos da sociedad 0 longo de coda a via. Tl idéiafornecea base para responder & pri ‘meira questo fundamental, que retomo adiante em §3. 4, Suponha agora que a justia como equidade cenha conseguido seus objetvos e que uma concepgio politica publicamente acetavel, tenha sido encontrada, Nesse caso, essa concepsio propo ponto de visea publicamente reconhecido, com base no qual todos os cidadios podem inquire, uns frente aos outeos, se suas instieuicdes poliicas sto justas. Tal concepgio Ihes possibilica fazer isso especifi cando o que deve ser publicamenteteconhecido pels cidadlos como saubes vlidas e suficientes, as quais so destacadas por essa mesma concepgio, As principais insttuigies da sociedade ¢ a maneita pela {qual se organizam num sistema Gnico de cooperagio social podem ‘Accaltuca pol ios de um modo diferente do ance- {Ver Toa pp. 206, $855 € 1206 Un casi do eal eno i “bpp rat ou deja pectin em cams pc, Sgr cose Fendamena Toes poem eu cece nea Hi mbes Derr see elin fei ete mpl, qr on pio ino er Ferme apd pe de euler er (hn) On cement cnpls iam wn primer I delndepedene va Thon, Proc oft Aner Papa a 494974) 3 ser examminadas da mesma forma por qualquer cid sua posigfo socal ou seus inceresses mais paticulares, (© objetivo da justia como eqidade 6, por conseguince, pritico: apresenta-e como uma concepio da jusiga que pode ser comparti= hada pelos cidadios como a base de um acordo politico racional, bem-informada ¢ voluntéro, Express a raxio politica compartlha- dds e publica de uma sociedade. Mas, para se che yar a uma razio com- sea qual for parcilhads, «concepgo de justica deve ser, eanco quanto possvel, n= dependent das doutrinas filoséficase eeligiosas conilitantese opostas ‘que os cidadis professam, Ao formulae tal concepco, 0 iberalismo politico aplica 0 principio da oleedncia ilosofia. As doutrinas reli- slosas, que em culos anceriores formavam a base reconhecida da so- ciedade, foram aos poucos cedendo o lugar « pincipios constieucio- ris de governo que todos os cidadios, qualquer que seja sua visio feligioss, podem endossar. Doutrinas filosficas « morais abrangen- «es tampouce podem ser endossadas pelos cidadios em geral jf nzo podem mais, se € que puderam algum dia, constituir-se na base re conhecida da sociedade, Desse modo, o liberalism politico procura uma concepgio pol tica de jusiga que, assim esperamos, poses conquistar 0 apoio de um. consenso sobreposto que abarque as douteinas religiosas, iloséficas€ morais razoiveis de uma sociedade regulada por ela’. A conquista esse apoio permed responder nossa segunda questo fundamen- ‘al: como os cidados, que continuam profundamente dividides em ‘elagio as dour nas religiosas, filos6ficas © morais, mantém, apesar disto, uma sociedade democriticajustae estivel? Para esa finalida- cde, em geal & desejévelrenunciae 3s vies flosficase morsisabran- _gentes que estamos habituados a usae para debater questdes poliicas fandamentais na vida pdblica. A razdo pablica — 0 debace des cida- ios no espago piblico sobre os fandamentos consticucionais ¢ as questdes bisieas de justiga — agora é mais bem orientada por wma concepgio politica cujos princfpios ¢ valores todos 0s cidadios pos- 9 kia eum coer bp fi em 42. dea em 4634 32 ie sam endossar (VD, Essa concepso politica deve se, por assim dizer, politica, endo metafisca Por conseguint,o liberlisma politico tem por objetivo uma con- cepgdo politica de justiga que seconsticua numa visSoauto-sustenci- vel, Nao defende nenbuma doutrina metafisca ou epistemol6gica es pecifica, além daquela que a propria concepsio politica implica rquanco interpretagio de valores politicos, uma concepgio politica auco-sustentivel nio nega a existéncia de outros valores que se apli- _quem, digamos, aquila que ¢ pessoal, familiar ov proprio das associa es; tampoucoafiema que os valores politicos so separados de outros ‘aloes ou que estejam em descontinuidade com eles. Um abjetvo,co- smo disse, €espcifcar a esfera politica e sua concepgio de ustiga de tal forma que as instituigdes possim conquistar 0 apoio de um consenso sobreposto, Nesse caso, o& préprios cididios, no exercicio de su liber- lade de pensamentoeconscifnciaeconsiderando suas doutrinasabran- _Rentes, wm a concepco politics como derivada de — oa congruente com — outros valores seus, ou pelo menos nio em conlito com ees. §2. A idéia de uma concepgio politica de justiga 1. Até agora usa idéia de uma concepgio policica de ustga sem cexplicar eu sigoificado. Do que i fai, ealver se poss deduie 0 que quero dizer com esse temo ¢ por que 6 liberalism politico fz uso essa idéia. No entanto, precisamos de uma formulacio explicit, qual seja: uma concepcio politica de jusiga tem és carareisics princi pais, cada uma delas exemplificada pela justiga como equidade Pressuponho alguma familaridade com ess vio, mas no muita, 'A primeira caraceristca di respeito a0 objetivo de uma concep= «fo politica. Embora tal concepsio seja,evidentemente, uma con- cepgio moral eata-se de uma concepgio moral elaborada para arn 10 Aan in “a nic, 33 ‘ipo especifico de objetivo, qual se, para insticuigées politica, so~ ciais ¢ econémicas, Em particular, ela se aplica a0 que chamarei de “estrututa bisica” da sociedade, que, para nossos propésitos atuais, suponho seja uma democracia constitucional moderna (uso "demo- cracia constitucional”, “regime democritico” ¢ expresses semelhan= ‘es como sindnimes, especificando quando aio 0 so). Por estrucura ia entendo as principas instcuigoes politics, sociais eeconémi ‘as de uma sociedade, ea mancira pel qual se combinam em um s tema unificado de cooperaczo social de uma gerago até a seguinte! Portanto, 0 foco incial de uma concepsio politica de justiga a = ‘rutura das insttuigdes bisicas eos principos,crtéros e preceitos gue se aplicam a ela, bem como a forma pela qual essas normas de~ ‘vem estar expressas no carter e nas atitudes dos membros da soc dade que tealizam seus ideas. ‘Além disso, suponho que a estrucura bésica se ade uma socie dade fechada, isto 6 devemos considers-laauto-suficiente e sem re- lagBes com outrassociedades. Seus membros s6 entram nela pelo nas cimencoe sa deixam pela mort. Isso nos permite falar deles como ‘membros nascidos numa sociedade onde passardo a Vida inceira. Que ‘uma socidade ej fecal € uma abstrago considesivel, que se jus tifica apenas porque nos possbilta concentratmo-nos em cereas ques tes importants, lives de detalhes que possam nos disteie. Em ‘gum momento, uma concepcio polieica de justiga deve craar das relagGesjustas entre os povos, ou do ditito das gences, como as cha- marei, Nestas conferéncias, ado discuto como se deve elaborar um, diceivo das gentes, comando como ponto de partida a justiga como ‘eidade, cal como ela se apica a sociedades fechas 2, A segunda caracterstica diz respeito ao modo de apresentaso: ‘uma concepso politica de justiga aparece como uma vi rentads. Embora queitamos que uma concepcio politica encontee ‘uma justificaglo com referéncia uma ou mais doutrinas abrangen- 12. Ver Tore 2 eombém A aro ae obj ee oan: 2 15 Verne the Lew a apis shue Seen ¢ Hae Sng On Hae opt eT Od mney Ls 193) Non ork Bc Bk, 1998 34 fae tes, ela no éapresentada como tal nem deriva de uma doutrina des- se tipo aplicada i extrucura bisica da sociedade, como se essa estu- «uta fosse simplesmence outro t6pico 20 qual a doverina 6 aplicada importante enfatizar esse ponto: iso significa que devemosdistin- ‘uit entre a forma pela qual uma concepgio politica ¢ apresentada e 0 fato de fazer parte ou poder ser derivada de uma douttina abran- ‘gente. Suponho que todos os cdadice professem uma doutrina abean- ‘gente 8 qual a concepgzo politica que aceitam estes telacionada de alguma forma. Mas um trago distintivo de uma concepsio politica € 6 fato de ser apresentada como auto-sustentivel eexplanada & parce, ‘ou sem qualquer referéncia a um contexto elo amplo, Usando uma ‘expressio em voge, a concepgio politica € um médulo, uma pacte constitutivaessencil que se encaixa em virias doutrinas abrangen- ‘es ezoéveissubsistentes na sociedade regulada por ela, podendo con- uiscar o apoio daquelas douteinas. Iso significa que pode ser apre sentada sem que se afirme, saiba ou se arrisque uma conjectura a respeito das doutrinas a que possa pertencer ou de qual delas poder conquistar apoio. esse sentido, uma concepedo politica de justiga difere de muicas doucrinas morais, pois estas sfo comumence consideradas vsbes ge= raise abrangentes.O wtilitarismo é um exemplo conhecido. O prin= «0, problema de prover aquilo que podemos chamar de um atendi ‘mento médico normal. Com relacio aos problemas para os quais jusciga como eqidade talvez nlo tenhs uma resposta, hi vitias pos sibilidades, Uma delas é que a idéia de justia politica nfo abrange rodas 2 co nem & de se esperar que 0 aca. Ou o problema pode ser realmente de justia poliica, masa justiga como eqiidade no € apropriads nesse caso, pot melhor que sea pars outros casos, A pro- fundidade dessa deficiéncia¢ algo que 6 podemos avaliar quando 0 «caso especifco for examinado, Talvez simplesmente n0s fate perspi- ‘cia para descobri como estender 0 conceito.Seja como for, no de ‘vemos esperar que a justica como eqUidade, ou qualquer concepio dle justiga, abranja todos os casos de certo ettado. A justica politica sempre precisa ser complemencada por outras virtues, [estas conferéncis, deixo de lado esses problemas de extensio € concentzo-me naquilo que chamei acima de questio fundamental da justia politica. Fag isso porque o defeito de Teri de que tatars 25 Veron 38 2. Vers eens de Noman Die ea 64 ‘estas conferéncis (conforme expliquei na introdugio) encontea-se na resposta que li for dada a essa questio fundamental. Que tal questio € realmence fundamental, comprova-oo ato dete sido foca dl ci- ‘ica liberal arisrocracia nos séculos XVII e XVIII, da cetica soci lisea 3 democracia liberal consticucional dos éculos XIX e XX e, no presente momento, do conilito entre liberalismo e conservantismo a respeito do direio 3 propriedade privada e da legitimidade (em con- ‘eaposicio a eficiéncia) das medidas poitias sociais ligades ao que passou a ser chamado de walfare stare E essa questio que determina 105 limites iniciais de nossa discuss. $4. A idéia da posigio original 1. Retomo agora idéia da posicio original". Essa idéia€inerodu- ida a fim de descobriemos que concepgio tradicional de justiga, ou aque variance de uma dessas concepgbes, especies os principios mais, adequacs pea ealza a liberdade ea igualdade, uma vex que se con- sdere a Sociedade como um sistema eqiitativo de cooperagio entre ci- adios livres e iguais. Supondo-se que queremos saber do que cada ‘oncepso de justica €capas, porque introlue aida da posicioori= ‘inal ede que maneira ela ajuda «responder a essa questio? ‘Considere de novo a idéia de cooperacio social. Como devem ser detecminados os termes equitarivos de cooperagio? Sto simplesmen- te formulados por uma autoridade externa, distinea das pessoas que cooperam? Sao, por exemplo, estabelecidos pela lei de Deus? Ou es- ses termos devem ser reconhecides pelas pessoas como equicatives fm relagio a seu conhecimenta de uma ordem moral independence? Por exemplo: slo reconhecidos camo termosexigidos pela lei natu- ‘al, ou por um reino de valores de que comam conhecimento por in ‘uigio racional? Ou esses termos si estabelecidos por um compen _misso entre as prdprias pessoas Iur do que consderam como beneficio ‘eciproco? Dependendo da esposta que damos, chegamos a uma con cepgio diferente de cooperagio social 25. Yer Tone. BSA ep 5 6 |A justiga como eqiiidade recoma a deutrina do contrato social € dota uma variance da Gleima resposta: 0s termos eqlitativos da coo [peragio social slo concebidos como um acordo entre as pessoas en= Wolvidas, isto 6, entre cidadios livres e iguais,nascidos numa socie~ dade em que passim sua vida, Mas esse acordo, como qualquer acordo vilido, deve ser estabelecido em condigles apropriada. Em particu lar, essas condigBes devem situar eqiitativamence pessoas livres € ‘guais, nio devendo permitie a algumas pessoas maiores vantages de barganha do que a outras, Além disso, coisas como a ameaga do ‘uso da forge, a coetgdo, o engodo e a fraude devem ser excludas. 2. Até aqui, sem problemas. As considerasdes precedentes so fi smilies & vida cotidiana. Mas os acordos da vida cotidiana sf feitos ‘numa situagio especificad de forma mais ou menos clara, siuagio cess incrstada nas insttuigbes findamentas da estrucur bsica. No ‘encanto, nossa trea estender a idéia de acordo a essa estrurura fun ‘damental. Enfrencamos aqui uma dificuldade de toda concepgi0 po- Ticica de jusiga que se vale da idé ‘outro qualquer. A dificuldade é que precisamos encontrar um ponto ide vista apartado dessa estrucura bisicaabrangente, no distorcido por suas caraceristicase circunstincias particulares, um ponto de de contrato, tanto social quanco vista a partir do qual um acordo eqieativ entre pessoas considera- das lives e iguas possa ser estabeecido, ‘A posigio original, com os eagos que chamei de “o véu de igno- rincia", esse ponto de vista”, O motivo pelo qual a posiglo origi fal deve abstr as contingéncias do mondo social e nio set aferada por els & que as condicdes de um acordo eqiitativo sobre os prin ios de ustiga politica encze pessoas lives ¢jguais deve eliminar as ‘vantagens de barganha que surgem inevitavelmence nas insttuigdes de base de qualquer sociedade, em funcdo de tendéncias soci, his {ricase naturais cumulaivas. Tas vantagens contingentese influgn~ cis acidentais do passado no devem afetar um acordo sobre os prin- cipios que ho de regular a isticuigSes da propria esteucurabisica, ro presente no fururo. 246 Sond deg ha, $e 24 66 3. Aqui enfrentamos uma segunda dificuldade, mas que €s6 apa ente, Explico: a partir do que dissemes, é claro que a posicio origi fal deve serconsideradla um atificio de representagio e, por conse- fuince, todo acordo estabelecido pelas partes deve set visto camo hiporéticoe a-istérico. Mas, nese caso, como acordas hipotécicos ‘io criam obrigacées, qual a importincia da posigio original? A res. ‘posta es implicica no que j foi dito: a imporcincia € dada pelo pa- pel das virias caracteristicas da posigdo original enquanto atificio de representagio, Para que sejam vistas como representantes de cidadios livres € iguais em via de estabelecer um acordo sob condigbeseqtacivas € Aaecessirio que as partes esteiam simetricamence scuadas. Além dis 0, parco da suposicio de que uma de nossa convicciesrefletidas € seguinte: 0 fato de ocuparmos uma posigio social pariculae nlo € ‘uma boa razdo para propor, ou esperar que os outros aceitem, uma concepgio de justica que favorega oF que se encontram nessa mesma posigio. Da mesma forma, o fao de professarmos uma decerminada outrina religiosa, filséfica ou moral abrangence, com a concepsio slo bem associada a ela, nfo € uma boa e120 para propor, ou esperae {que 0s outros aceitem, uma concepgEo de justiga que favorecaas pes seas que concordam com essa doutring, Pars expressir esa convicglo de acordo com a posigio original, no é permiido que 2s partes co- hecam a posi 0 social daqueles que representam, ou a doucrina abrangente especifca da pessoa que cada uma delas representa". A tua oer de igor eerie no ieee conte drm Kansan wr de roi sages cos pecans, Ee bo dle tsa em oto nde lr coma 6.2 I Bem a mesma ida € aplicada 3 informagdo sobre a raga eo grupo étnico, 0 _género eos diversostalentos natura, eais como fora fisicae iceli- _géncia, ado isso dentro do leque normal de variagio, Expressamos ‘esses limite informasgo de maneira igurada a0 dizer que as partes cstdo por tris de um véu de jgnorincia, Assim, a posigio original € apenas um artificio de represencagio: desereve as partes, cada qual responsével pelos interessesestenciais de um cidadio live e igual, ‘numa sicuagio equiativa alcangando um acordo sujeito a condigtes que limitam apropriadamente oque podem propor como boas raztes" “4 Portanto, ambas as dficuldades mencionadas acima podem ser speradas quando vemos a posicio original como um artificio de re- presencagio: ela representa 0 que consideramos — aqui e agora — Tasca vn edo inet ceo pola de ati, concerto Spe nds ngs ape Bs ea gor roe dos get ‘itn cepona opt de teen rum ade det {pre ncona emo coe de cence pls eae condamer ‘Secondo ono won davis fern ted dca pleee Fibs de ama cide deste, Una form depos cone dota to cou pla sg qr pole contre pono fl rn ca ire {ese ma eae be pes de sicel sume side uc ol do loan nae Nes dt pl em gue deve de um concep pas Se yin squnt o ut-sraie QQ) 22), arn ements o o rnc pute cm for dew eigen pm, ivocna i e ‘ont trl es eon ncn rgor ene dot sagt rane Ere gio 1 Wile Hoch oe peresier a een edn eplament ee Tipe“ Vl gore nd he eo Oeapping Coser Ba Homburg, hn pu sige expres uma carci sic et do esti Kun gun conten pli, quel syed neo ele onal {Sudo imaine ce A lec dag ne Tara at ‘tee ma enn oer do cna, as Scene rie ote ‘Sedo saponin ob ates an geno em br Se ic {ges sofrmulade de acd com posi egal , prio mpstas partes sat ‘Trt spc om os col Cogeco arn da 68 condigdes eqhitativas, segundo as qusis o representantes de cida- ds livres e iguas dever especificar es termos da cooperagio social ‘no ambito da esteurura bisica da sociedade; e como também repre sena0 que, nesse imbito, consideramos resrigdesaceives as ra bes de que as partes dispaem para favorecer uma cancepgao politica de jusiga em detcimenco de overs a concepcio de justiga que as par- ‘es adocariam identifica 2 concep de justiga que consideramos — aqui ¢ agora — eqicativaejustifcada pelas melhores raze, ‘A ida é usar a posigfo original para represencar tanto a iberda- dea igualdade quanco as rescigdes 3 rae apresentadss, ede ma neira tl que se torna perfeitamente evidente qual acordo sera feico pelas parcesrepresencances dos cidadics. Mesmo que existam, como certamente existem, razdes a favor e contra todas as concepyies dis- Poniveis de justia, ainda assim pode haver um equiltbrio global de tazies claramentefavorives a uma concepgzo em derimento do ces- to. Enquanto artficio de representacio, aida da posigio original serve como um meio de refle « auro-esclaeecimento pablicos, Ajuda-ncs a elaborar o que pensamos agora, desde que sejamos capa 2es de cer uma visio lara e ordenada do que a justigarequer quando a sociedade € concebida como um empteendimento cooperative en tre cidadios livres e iguais, de uma geracio até a seguinte, A posigio original serve de idéia mediadora geagas& qual todas as nossas con- vicgGes refletidas podem vir a se relacionar umas com as outs, seja {qual for seu grau de generalidade — digam respeito a condiceseqi- tativas para sieuar as partes a restr razoaveis is rtzbes que po- dem ser apresentadas, « principios epreceitas primeitos ou aos jul ‘gamentos sobre insttuigdes¢agBes particulates. Iso nos possbilia ‘estabelecer uma coeréncia maior entre todos 0 nossos julgamentos; «6, com essa autocompreensio mais profunda, podemos chegara um acordo mais amplo uns com os outs, 5. Incrouzimos ume idéia como a da posigio original porque no parece haver forma melhor de elaborat uma concepsio politica de iustiga para a estrucura bisicaa pacir da idea fundamental da socie- dade como um sistema duradouro e equitativa de cooperssdo encre duds considerados livres eiguas. Isso parece particularmente evi Cc) lente quando pensamos na sociedade como algo que se estende por igetagbes, herdando sua cultura pablicae suas instcuigBes sociais © politicas(juntamente com seu capital real e estoque de recursos na turis) daqueles que viveram antes. No encanto, o uso dessa idéia tem ‘certos perigos. Fnquanto acificio de representacio, seu nivel de abs- ‘ragio provoca mal-encendidos. Em particular, a descrigio das pares, pode parecer pressupor uma concep¢io metafisica particular da pes Soa, como, por exemplo, a idéia de que a narurezaessencial das pes- soas€ independente e anterior a seus atributos contingents, inclusi= ‘ve seus fins ilkimose ligagBes particulates, até mesmo ssa concepgéo do bem e do cariter como um todo" ‘Acredito que isso se trate de um equivoco criado pelo faro de nfo se ver posigio original como um artficio de represemtago. O véu de ignotineis, para mencionar uma carater posicio, nio tem implicagbes metafisicasespecifias a respeico da na~ turers do eu; no implica um eu ontologicamence anterior aos fatos sobre as pessous, cujo conhecimento € vedado as partes. Podemos, por assim dizer, enerar nessa posigio a qualquer momento simples- rence aegumentando em favor de principios de jusciga em conso~ ica importante dessa rncin com as restrigBes 8 informacio mencionadas acima. Quando, dessa forma, simulamos estar na pesiglo original, nossa argument {lo no nos compromete com uma doutrina metafisca particular 30 brea nacureza do eu, assim como nossa participagio numa pega, 10 papel de Macbeth ou de Lady Macbeth, ado nos leva. a pensar que so thos de fato um rei ou uma rainha envelvidos numa luta desesperada pelo poder politico, O mesmo se aplica 3 representagio de um papel fem termos gers, Deveros rer em mente que estamos tentando mos- trar como a idéia de sociedade, enquanco sistema equitativo de coo: 29. Vee importante abu de Michel Sel, Liat ad he Lins of Dr ante Cae Ue Po 10 ou oc ma en nau nc One Caco ey, 19) om en prt 70 perago socal, pode se desenvolver de modo a encontrar princios aque especifiquem os dition liberdads basco eas formas de igual- dade mais apropiadss patos que cooperam, uma ver que ot consi- deremos cidadis, pessoas lve igus 6 Tendo examina a ids da posigio original cu fara ands umn acrtscimo,a fim de evieat mal-entendidas. F importante dstinguie {és pontos de vist! 0 das partes oa posigho original, o dos cidadtos uma sociedade bem-ordcnada ¢,finslmente, 0 nosso — 0 seu 0 eu, que estamos formulando aida de usiga como eqidade exa- rminando-aenquanco concepso politica de justia. Os dois primeitos pontos de vista fazem parte da concepgto de justga como eqidade e so expecifcador por referncia asus dns fandameneais. Mas, enquanco as concepgdes de uma sociedade bem- cordenada de cidadios como pessoas lives e iguas podem muito ‘bem se elizadas rm nosso mundo social, a parts, vistas como re resentantesracionais que especiicam ox temos eiitaives da co0- Peraglo socal ao chegat a um acordo sobre os principios de asia, So simplesmente partes da psig original. Esa psig € estabele ida por ve? e por mim naclaborago da justiga como eqdade, de ‘modo que a naturera das partes cabe somente ands: ela so apenas 2s cvaturasarificiais que povoam noso dispositivo de represena- So. A justign como equdade ¢ ersvelmente mal- Fm come ole Ieper cpap cn ne ocr imitans go ream pio de use dims ‘ss ms aan erst xen com adios Sooper ‘Sipe cm meno cin pr ober ser ge eon Cte cooeu pr lias de mba om us Sets ose ‘ence dobem 86 ‘cos mais essenciais. A pao pela verdade toda leva-nos a procurse ‘uma unidade mais ampla e mais profunda, que alo pode set justi cada pela ranio pablica ‘Mas eambém 6 erado pensat numa sociedade democritica como ‘uma asociagioe supor que sua eazio pblicainclua objetivos ¢valo- ‘es nio-polticos. Fazer isso €negligenciaro papel anterior e funda- -mental de suas insticuigBes bisicas no estabelecimenco de wm mun do social em cujo interior, esomente nee, podemos, com todas of cuidados — alimencagio, educacioe certa dase de bos sorte — rans formae-nos em cidadios lives eiguais. A eserurua jsta desse mun= cdo social é crada pelo ceor da concepcio politica, de modo que, pela rzio piblica, todos os cidadios podem entender seu papel e com- parcilhar seus valores politico da mesma form $8. Sobre 0 uso de concepgbes abstratas 1. Para expor aquilo que chamei de liberalismo politico, patti de virias idéas basicase conhecidas, implictas a cultura politics p= Dlica de ums sociedade democritica, Essa idéis foram elaboradas és eeansformatem numa familia de concepges em cujos termes 0 liberalismo politico pode ser formulado e compreendido. A primeira elas € a prépria concepeio de juscig politica ($2); seguem-se a ela ‘rds idéias fundamentals: a concepcio de sociedad como um sistema, ‘eqicacivo de cooperasio social ao longo do tempo ($3) ¢ as das idéias que a acompanham —a concepgo da pessoa como live e igual (5)eaconcepgo de uma socedade bem-ordenada ($6). Empregamos sind duas outras idéias para apresencat a justiga como equidade: a6 concepcées de esceucura bisica ($2) ¢ da posigio original ($4), Finalmente, pata apresentae ums sociedade bem-ordenads como wm mundo social possivel,acrescencamos a essa idlas as de um consen- so sobreposto e de uma doutring abrangente e razoével ($6). © pl- ralismo razoivel especificado com referénca a esta tkima. A nati +reza da unidade social & dada por um consenso sobreposto estivel entre doutrinas abrangentes erazodveis (V1). Nas conferéncias e- 87 ‘auinces, outrasidéias biscas sero ineroduzidas pera completar 0 sentido do liberalism politico, tais como as idéas do dominio do politico (IV) e da razio piblica (VD. ‘Depois de encendidas eseas concepgBese suas telages, eeromo a _quescio conjunta" de que cata o liberalismo politico eafirmo que ‘Gs requisits parecem suficientes para asociedade ser um sistema eajiativo e estivel de cooperasio entre cidadios lives e igus, pro- fandamente dividides pelas doucrinas abcangences €razoiveis que professim, Primeico, a extrutura bésica da socedade €regulada por "uma concepco politica de justigs; segundo, esa concepgto politica € objeco de um consenso sobreposto entre doutrinas abrangentes € razodveis;e erceiro, a discussio piblica, quando 0s fundamencos, consticucionais e queseées de justigabisicaestio em jogo, € condu~ ida nos rermos da concepgio politica de justiga. Esse resumo bem sucinco caracteriza o liberalismo politico e «forma segundo a qual cle entende o ideal de democracia consitucions 2, Algune podem peotestar concta 0 uso de antas concepyées abs- tratas, Talvez seja necessério mostrar por que somos levados ¢ con- cepgdes deste tipo. Na ilosofia politica, 0 trabalho de absteasdo & acionado por coils politicos profunds". $6 0s ideslogos € os vi- siondrios no sencem profundos conflitos entre valores moras €en- se estes € 8 valores ndo-polcics. Concrovérsis profundas ede lon- 45. Eu ques fore eee aes {Aust center pee et even ser een cae odes tee lo som cones rein Ee gue ed see di For ep tee ide prc ens operons ese ers oun +m "Rte de tr om a rade ama omg alc em ede ee Sui aque meee ma unde ampli pec en a eae ar ar conden exe ma 49 hain en deco rade Jt Cae seo de Mica! Wale, Sif 13 maf Pa 8 805 "Warp 437. e pode Ces di qs vide Walesa como ‘Bin olic dev ear oo ecm da ePti, Koo e Sick ® ‘rene i rap poe Waser aca gue deve emi ql er as 88 ga data preparacam o cerreno para a idéia de justiticagio razogvel en- ‘quanto problema pritico, enio epistemolégico ou metafisico ($1). Voleamo-nos para a filosafia policica quando nossas percepsSes poli ticas compartilhadas, como diria Walzer, desmoronam, e também {quando estamos dilacerados interiormente. Reconheceremos isso se imaginarmos Alexander Stephens repudiando o apelo de Lincoln as abscragdes do direto natueal erespondendo-Ihe com as seguintes p= lavras:o Norte precisa respeitar as percepgées poitias compartilha- das do Sul ao que se refee ao problema da escravidio™. claro que a resposta a esta afiemagio pass pela filosofia politica ‘A ilosofia poliica aio se afasta, como pensam alguns, da socie- dade e do mundo, E também no pretende descobrie 0 que & ve ddade com seus préprios métodos dstintives de raciocinio, apartada, de toda € qualquer tradicio de pritica e pensamenco politicos, Nenluma concepsio politica de juscca poderia ter peso entre nds se iio ajudasse a colocar em ordem nossasconvicgBes refleeidas de jus- tiga em codes os avis de generlidade, do mais geral ao mais parti- cular, Ajusdat-nos a fazer iss é um dos papéis da posigo original ‘A filosofia politica, assim como os principios da liga, ndo pode I mpor-ncs nossas convicgBesrefleidas. Senos sentimos cougidos, cle vex seja porque, a0 fefletie sobre a questio em paut, valoces, princt- pos e normas s30 forrulados e organizados de tal maneira a see li ‘yremente reconhecidos como aqueles que eealmente aceitames ou blica e procuramos descobrir como 0s cidadios poderiem, depois da preendam o fato do pluralismo eazosvel. Este éltimo fto,e sua pos- sibilidade, € algo que devemos procurar entender, ‘A idéia de publicidade, eal como € entendida pela justiga como ceallidade, tem trésnives, que podem ser descritos da seguinte forma: ( primeio foi mencionado em 1:6. Chegamos a esse nivel quan- doa sociedade é efecivamente regulada por principios publicos de juscig: 0s cidadios aceitam e sabem que 0s outos também aceitam esses principos, e esa percepcio, por sua ver, € publicamente reco nhecida. Além disso, a insttuigBes da estrutura bisica da sociedade no so juscas (da manera definida por estes princpos), todes os dota- dos de razi reconhecem iso, Fazem-no com base em crencas publi ‘camente compartilhadas, confirmadas pelos mécodos de investigagao «formas de eaciocinio geralmence aceitos como apropriades para as _questes de justi politica ‘O segundo nivel de publicidade diz respeito As crencas gerais, 2 Juz das quais os prinpios primeicos de justiga podem, eles mesmos, ser aceitos, sto 6, as erenges gers sobre a nacuceza humana, sobre a forma pela ual as insticuigdes saciais e poliicas geralmente funcio- ram e, enim, coda aquelas crengas que so relevantes pata a justiga politica. Os cidados de uma sociedade bem-ordenada concordam, gosto modo, com esas crengas, porque podem ser confirmadas (CO- ‘mo no primero nivel) por métodes publicamente compertilhados de investigagio e formas de raciocinio. Como foi discutido em V4, pressuponho que esses meds sejam familiares a senso comum € incluam os procedimentose conclusées da cigncia do pensamento social, quando estes sio bem estabelecidose ao conceovertidos. Sto featamente esas crengas gers, que refletem as visdes pablicascor- rentes de uma sociedad bem-ordenada, que nés — isto, voc® eeu, ‘que estamos estrururando ajustiga como eqidade (4.6) — aribu mos 3 partes na posilo orginal (© terceito Ultimo nivel de publicidade estérelacionado com a jusificagio plens da concepcio publics de jusiga,apresentada em seus proprios tetmos. Essa justficagio inelui eudo quanto poderia ice dizer — voc? eeu — quando definimos a justiga como equida- dee efleimos sobre o porqué de procedermos de erea forma em vez {de outra. Nesse nivel estou supondo que ral jusificacio plena tam- bbém seja publicamente conhecids, ou melhor, pelo menes publica- ‘mente acessvel. Essa condigio menos rigotoss (que ajusificagio ple ‘a Soja acessivel)admite a possibilidade de que alguns nfo queitam levar to longe a refleaso istic sobre a vida politica e, com cer- teed, ninguém é obrigado a fazé-lo, Ma, s¢ 0s cidadios assim 0 dese- jarem, a justificaglo plena ese presente na cultura pablia,efleida ‘em seu sistema juridien e nas instituigSes politicas, bem como nas, principais ceadicdeshistvicas de sua interpretagio. mm 2. Vamos estipular que uma sociedade bem-ordenada stisica o- dos os trés niveis de publicidade de el forma que possamos dizer que ‘a “condigio de publicidade plena” est saiseita(reservo 0s adjetvos ‘pleno” ou “completo” para os aspeccos da concepcio de justice de uma sociedade bem-ordenada). Essa condigio plena pode parecer ex- ‘essiva, Mas €adotada por ser apropriada a uma concepcio politica de justiga para cidadosrazodveise racionais, que slo livres e iguas. ‘A condigio pode ser mens vélida para as doutrinas abrangentes em igerl, mas se —e até que pomto — se aplicaa elas, fica em aberco, como uma questo & pare "Agu € relevante notar que ssociedade politica € singular de duas foemas. Como discuto em IV: 1.2, o politico especifica uma relagéo ‘entre pessoas no interior da escrucuca bisica da sociedade, uma s0- Ciedade que supomos fechada: é auro-suficiente eno cem relagdes, ‘com outta sociedad (:2.1€ 7.1). $6 entramos nea pelo nascimen- 1s pela morte, O outro aspecco distintivo do politico € ‘que, embora o poder politico sempre seja um poder coercivo, num regime constitucional € 0 poder do pablico, isto €, 0 poder de cida- dios lives iguas, enquanto organism coletivo, Além disso, as ins- tieuigdes da eserutura bisica tim efeitos Socais profundos ede longo prazo, moldando de mancics fundamental o cater e os objeivos dos cidadios, os tipos de pessoas que slo aspiram se, Por conseguinte, €apropriado que os termes eqiitativos da coo: peragio social entre cidadios livres e iguais devam saisfazer os te- (uisitos da publicidade plena, Pois sea estrutura bisica se apis em SangGes coerivas, por mais rca escrupulosa que sea sua aplicagto, 6s alicerces de suas instituigdes devem resistir ao exame pablico. roe 96s ‘Quando uma concepcio politica de justiga satisfaz essa condiclo, © ts arranjos sociais bisicos eas agBes individuaissfo plenamente jus tificiveis, os cidadios podem apresencar razGes para suas crengas € Conduta uns 4s outros, confiantes de que essa exposigao aberta for~ taleceri o entendimento piblico, em vex de enfraquecé-lo”, Ao que parece, a ordem politica no depend de enganos histricamente aci- nz dlencais ou araigados, nem de outascregas equvocads que se bie siem nas sparénciasenganosas de insiuigdes que nos levam 4 con- Ccbererroneamente sua forms de funcionsment.& clara que nio se pode cer ceteza disso, Masa publiidade assegur, tanto quanto 0 petmiem as medidas pti, que os cidadios estejam em condigbes de conhecere aceta as influéncasdifuas da esteucurahisca que smoldam sua concepcfo de si mesmos, seu cater e seus fins. Como ‘eremos, que os cidados estejam nes scuio€ uma condo para aque realizem sua liberdade de manera plenamenteauténoma, em texmos politicos. so signa que, em sua vida poli pila, ax da precisa ser escondido 5. Agora observe que o primeira afvel da condigo de publicida- de adquire forma facilmentena posigio orginal: exigimos apenss ‘que spares, como representantes, avaliem as concepges de justia tendo em mence que os pricipios com os quis concordam devern serve de concepeto politica epublica de justige. Dever set rejeiae dos 0s prineipios que fancionatiam bem, desde que no fossem pa blicamente reconhecids, ou desde que os fatongeais sob 0 ais se fandamentam no seam alvo de conhecimentoe cena gerl Consdere, por exemplo, a douttna do dieeo penal puro, como foi discuvida por esrtoresecoisicos rardios Ess doutin dis- 21,0 ston di que a ec escio,mas agen a pres se conc, ann mi cn on moo cae els elie pss oad cos be ro cd setae ss chataenNrsw rnhnspsc c 52 Eat um decried io debian bs de logo phe, Aw le do entree gue corm ith de Des pm Deve 9), Te Naf owt Los er, 991A di el pop Willan Det TP Pa LT er Gegain Unery Pra 18, {ah 1 Apes Pal Wess Sate Shin pr ee ein, 13 cingue entre a lei natural ea let do soberano, baseada na autoridade Jeiima deste rpendendo da inengio do legislador e do tipo de lei em questio, néo uma falea deixar de fazer 0 que a lei do soberano requer. Embora ‘io exist ei sem uma correspondence obrigacio, nesse caso a obri- zaglo consste apenas em nfo resist 8 penalidade do soberano, sea pessoa for presa, Evidentemente, num pais onde essa doutrina do di tio penal é publicamente aceta como uma doutrina que se aplica 4 leis fscas, pode ser dificil cer um sistema eqiicativo de eeibuta ‘lo da renda, por exemplo, As pestons ni verio nada de errdo em cexconder seus rendimentase alo pagar os impostos sso sobrecar- ‘ega.o poder penal do govern e solapa o senso publica de equidade Esse tipo de aso ilustra como as partes devem pesar as conseqién- cias do conhecimenta piblica dos prineipios propostos, eos princi- limo. £ uma fala moral viola Ii natural mas, de: pos de justice que adotam vio depender dessus avaliagSes. {A representasio do segundo nivel de publicidade plena também 6 deta ela 6, na verdade, modelada pelo véu de ignortnca, Esse ni- vel implica simplesmente que as crengssgerais empregadas pelas pa tes ao considerarem as concepgBes de justiga também devem ser pu blicamente conhecidas. Como a argumentacio das parces é uma representagio das premissa para a conceptio pblica de justica, os

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