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Curriculo, género e sexualidade 0 “normal”, 0 “diferente” e 0 “excéntrico™ Nés, educadoras © educadores, geralmente nos sentimes ouco A vontade quando somos confrontados com as idéias de provinotledade, precariedade, incertera -t&o recorrentes nos dis. ‘curs08 contemporaneos. Preferimos contar com referéncias se. ‘uiras, dlregbes claras, metas sélidas e inequivocas. Apeser dis. 80, hoje sto poucos os que se atrevern a negar que a instabilde. dle @ a transitoriedade se transformaram em “marcas” de nosso tempo, J4 néo é mais possivel desprezer tais efitmacSes como 5¢ elas se constituissem numa ladainhe rezada por intelectuais pos:modemistas, uma espécie de mantra que tem o poder de desmobllizar e que, por isso, deve ser exorcizada do campo edu. cacional. De formas multo concretas, temos sido langados a si tuagdes absolutamente imprevisiveis, algumas trégicas, outras fascinantes, quase todas inexplicéveis. Mais do.que nunca nos pereebemos vulneravels, sem qualquer preparo para enfrentar (08 choques © os desafios que aparecem de toda parte. “iene resendone V Clu ste ates Cuca Cogs aim ‘i premovito pea Crveranea do Moelle Peso da odd gs olen fevered 202 Agrees na ra vl aby ee el sana 1 eae 200) piel moons neo ue fazer? A muitos talver parega mais prudente buscar no pastado algumas certezas, algum ponto de estabilidade capaz de dar um sentido mais permanente e universal & aco. O rims € 9 cardter das transformagées podem, contudo, converter ease Fecuo em imobilidade. Para outros ~ eaqui pretendo me inclult = 2 oP cdo € assumir os rscos e a precariedade, admitir os parade. 208; 5 dividas, as contradigdes e, sem pretender hes der uma Solisdo definitive, ensalar, em vez disso, respostas provisérias, {nukiplas, localeedas. Reconhecer, como quetem os/as pos me demistas, que 6 possivel questionar todas as certezas sem que isso signifique a paralisia do pensamento, mas, ao contrarie; se de, Implica compreender, sim, que s8o precisamente os dliscut> 509, 09 eédigos, as representagdes que atribuer o significado de diferente a0s corpos ¢ as Identidades. Judith Butler (1999; 153) diz que “e diferenga sexual [..] nfo é, nunca, simplesmen- te, uma fungBo de diferengas materiais que nfo sejam, de alguc ‘ma forma, simultaneamente marcadas e formadas por préticas discursivas", As diferencas de género e de sexualidade que 380 atribuidas ds mulheres ou eos sujeltos homosexuals, sem divi do, se expressam materialmente em seus corpos ¢ na concrete de de suas vidas, a0 mesmo tempo em que séo significadas ¢ ‘marcadas discursivamente. As dferencas tém efeitos materials, evidentes, por exemplo, na impossibilidade ou nas dificuldades legeis que homens e mulheres homossexuais ttm de constitulr familia, de assumir a guarda de filhos ou de adoté-los, ou alfa de receber heranga apés morte de seus companheitos ¢ corn: panhelras. Os discursos produzem uma "verdade" sobre o8 ath jeitos ¢ sobre seus corpos, ao denunciarem, por exempla, of 'maleficios da menstruagdo, assoclando-a & anemia ea tens8o, a0 sugerirem, consequientemente, que mulheres “esclarecidal!” eviter essa sistemética perda de sangue. Os discursos resultam num “sabe!*, como o que afirma, por exemplo, que, diante da ‘ragédias pessoals, as mulheres acionam zonas cerebrals dif: Fentes e mais amplas do que aquelas aclonadas pelos homeris, Os discursos traduzer-se, fundamentalmente, em hierarqul que sto etribuidas ads sujeitos e que so, muitas vezes, assum ds pelos proprios sujeltos. Por Isso, para educadoras & ed\ci ddores importa saber como se produzem os discursos que inal tuem diferencas, quais os efeitos que os discursos exerceln, quem & marcado como diferente, como curriculos ¢ outa Inte tancias pedagégicas representam os sujeitos, que possibile des, destinos e restrigdes a soctedade thes atribui. jesta perspective, a diferenca se constitu, sempre, numa re Jago. Ela deixa de ser compreendida como tum dado e passa @ 7 ‘erviste como Uma atribulGdo que é feta a partircde um determi. ado lugar. Quem & representado como diferente, por outro ldo, torna-se indlepensével para a definic&o ¢ para ‘a contiriue aflemagio da Identidade central, j& que serve para indicar o que esta dentidade nao ¢ ou nto pode ser. Assumir essa perspective fe6rica supoe, portanto, refletir sobre relagdes entre sujeltos « grupos, significa enalisar confltos, disputes jogos de poder historicamente implicados nesses processos. Supée, também, Feconheser que varios embates culturals sfo levados a efeito,

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