Sinais do tempo
O mundo visto da Twitoesfera
O Twitter é uma plataforma de microblogging.
Cresceu de 2 para 32 milhões de utilizadores
durante o último ano. Cresce cerca de 100% ao
mês. Ganhou um Webby - que é uma espécie
de Óscar da internet - para o melhor programa
informático de 2008. A prova de que não se fala
de outra coisa é ter sido tema de capa da revis-
ta Time ou da Veja. Foi o suficiente para eu me
decidir a criar uma conta no Twitter. Comecei
esta viagem na pele do enviado-especial da
revista à Twitosfera... e no momento em que vos
escrevo tenho a perfeita noção de que me tornei
mais uma espécie de correspondente da revista
na Twitosfera. Chegar ao Twitter é fácil, difícil
é deixá-lo. Mas é melhor contar-vos como tudo
começou:
Tinha lido que políticos, jornalistas e notáveis
de toda a espécie, agora Twitavam, pelo que me
mudei também para a Twitosfera para entender
o que faz do Twitter o fenómeno social mais re-
volucionário do momento. De aspecto rudimen-
tar, o Twitter tem uma janela - como a janela do
“o quê que estás a fazer” do Facebook, só que
sem o facebook - que me permite, com o limite
de 140 caracteres, escrever mensagens que
podem ser lidas por todos os meus seguidores,
designados em Twittês por Followers. Eu por mi-
nha vez também sigo pessoas singulares e co-
lectivas que me interessam por alguma razão ou
só para retribuir a amabilidade de me seguirem:
Jornalistas; bloggers, políticos, escritores, artis-
tas, empresas, amigos, colegas ou familiares,
não forçosamente por esta ordem, entre muitas
outras classes indeterminadas de Twiteiros.
No Hi5 ou no Facebook, era só pôr lá umas
fotos, ou umas entradas no diário, adicionavam-
se os amigos todos e já está. Podíamos não ir
lá durante anos que não perdíamos os nossos
amigos. Na Twitosfera é diferente. Em primei-
ro lugar porque já não são apenas os nossos
amigos. Em segundo, porque sendo eles meus
seguidores, só me continuarão a seguir se virem
que eu tenho algo para lhes dar em troca que
lhes interesse. Estão-me a seguir?
A primeira coisa a fazer quando se abre uma
conta no twitter é escolher o username. Escolhi
@boomerangomics em homenagem a mim mes-
mo e à minha obra. (risos) Em seguida comecei
a seguir alguns órgãos de comunicação social e
1 ELES & ELAS
por João Moura
logo senti ali, em tempo real, a imprensa mun-
dial a fervilhar nas matérias de que serão feitos
os jornais do dia seguinte!
Mas o melhor ainda estava para vir. Para a
minha estupefacção ser completa, descobri que
até já tinha seguidores! Sim caro leitor, leu bem.
Tal e qual como um como um guru, cuja palavra
chega a todo o mundo, eu também já tinha os
meus seguidores, apesar de ainda não ter dito
nada.
Nesse momento devo confessar que me emocio-
nei, ao imaginar os meus seguidores paciente-
mente à espera de um sinal meu. De uma pala-
vra. Quiçá um link, para vibrarem intensamente
com a minha eloquência que até então estivera
coberta por um manto de silêncio - Como um Página inicial do twitter
Mahatma Gandhi mudo - ao mesmo tempo que
pensava: Mas o que é que eu vou dizer a esta
gente que me segue, num meio em que tudo e
todos me parecem estranhos? Como me dirigi-
ria a eles? Meus caros seguidores? My Fellows
Followers? Soou-me patético. Ainda pensei
em pedir ajuda ao homem que me inspirou na
criação do Partido do Realismo Mágico - o es-
critor japonês Haruki Murakami - mas ele estava
em retiro espirittwital e já não twitava há duas
semanas. Por agora vou deixar o manifesto do
meu novo partido para próximas crónicas, se
conseguir passar esta na censura.
Voltando à nossa estória, resolvi aprender as
regras básicas de utilização do Twitter bem
como as de conduta e de etiqueta. Em seguida,
tímidamente, comecei a Twitar. Primeiro, Re-
twitei uns Twitts do jornalista Paulo Querido que
Kim Jomg-il no twitter
me pareceu uma referência incontornável da
Twitosfera portuguesa. Tinha lido algures que
Re-Twittar é tido como um comportamento alta-
mente amável e sociabilizante na twitosfera, de- ideia do alcance da ferramenta - entre outros, responderem por ele - tendo-lhe eu twitado algu-
pois, arrisquei copiar uns links do youtube, até contavam-se o Washington Post - e parecendo mas reservas relativamente a números do caso
que por fim já postava Twitts totalmente origi- que não, isto mexe com uma pessoa. A procis- BPN que ele referia na sua crónica daquele dia,
nais, raciocínios inteiros formatados em apenas são de seguidores de quem só conhecia a aura ao que ele me respondeu, no próprio dia, apesar
140 caracteres e à medida que fui ganhando lendária, continuou engrossar. Uns após outros, da vertigem em que se vivem os últimos dias de
poder de síntese e confiança, começei a mandar até que de repente, de de entre as dezenas campanha.
bocas sobre assuntos que estavam na ordem do de seguidores anónimos, eis que surge a New Terá sido um pequeno passo para um aprendiz
dia, ou #Hashtags, algo que só permitido sem York Book Review ou o historiador, cronista do de Twitteiro, mas um grande passo para a de-
perda de seguidores, a Twitteiros de um certo Público e candidato independente pelo BE, Rui mocracia, promovendo uma aproximação entre
gabarito. Tavares: Convém referir a possibilidade que eleitores e candidatos a governantes que torna
Em poucos dias, já tinha mais de uma centena tive de interpelar directamente um candidato no apetecível e inevitável uma maior participação
de seguidores e - só para vos dar uma pequena Twitter, - qual Obama, mas sem assistentes a política por parte dos cidadãos, logo, a prazo,
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 O mundo visto da Twitoesfera
a um aumento da qualidade da classe política.
Resumindo e concluindo: O Twitter tinha-me
permitido a experiência democrática mais parti-
cipativa da minha vida.
Para além de ser qualquer coisa parecida com
ter todos os jornais abertos em cima de todas
as mesas, em permanente actualização, as
paredes forradas de televisões todas ligadas em
canais diferentes e ainda, estar a ouvir comen-
tários ao vivo de uns 27 Josés Pachecos Perei-
ras e 19 Marcelos Rebelo de Sousa. Que mais
se pode querer da vida?
Assisti em tempo real ao esmagamento dos Ti-
gres Tamil, considerada a organização terrorista
mais eficaz do mundo porque já assassinou dois
chefes de estado - e de mais uns milhares de ci-
vis da mesma etnia - pelo exército do Sri Lanka.
Assisti à reconquista pelo exército Pakistanês
do vale de Swat aos Talibãns. Presenciei quase
in-loco o evoluir da explosiva crise sucessória
que ameaça a dinastia comunista Kim, na Co-
reia do Norte, cuja História não é propriamente
fértil em decisões inteligentes. Assisti à censura
movida pelo governo Chinês ao acesso livre dos
cidadãos chineses ao Twitter e a outras redes
sociais, na data do 20º aniversário do massa-
cre na Praça de Tiananmen, que ironicamente
significa “Praça da Paz Celestial” que foi o que
milhares de estudantes lá encontraram naquele
longínquo dia de 1989. Twittei o link do video no
youtube “Tankman” em que um herói anónimo
e desarmado consegue a proeza de, sozinho,
travar - ainda que só por alguns momentos, a
progressão da mortífera coluna de tanques do
exército chinês. Assisti às reacções de dezenas
de jornalistas, políticos, humoristas, à evolução
das tristemente célebres sondagens que em vez
de eleitorais, mais pareciam eleitoralistas. Pude
acompanhar a ansiedade de um pai - o talento-
so e acessível Nuno Markl - perante a eminên-
cia do nascimento do seu filho Pedro enquanto,
um a um, iam sendo eleitos os deputados.
Afinal não houve empate técnico, nem o CDS
desapareceu do mapa político-partidário. Nuno
Melo tem feito o trabalho de casa na Comis-
são Parlamentar ao BPN, de tal forma que no
momento da vitória, receei que ele se enganas-
se e tirasse do bolso, em vez do discurso, um
documento altamente comprometedor para Vitor
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Constâncio. E se bem pensei, melhor o Twittei.
Antes das eleições sentia-se um desaponta-
mento generalizado com os partidos e com os
políticos, mormente com o PS que nos governa.
Ao escolher Vital Moreira que é parecido com
Gepeto, o pai do Pinóquio, Sócrates mediu mal
o risco e ao subscrever a tese de associação
PSD = BPN, ficou com o destino político traça-
do. Num momento de inspiração, twittei que a
candidata do PCP Ilda Figueiredo me fazia lem-
brar aquelas testemunhas de Jeová, a quem já
fechamos educadamente a porta na cara, mas
ainda conseguimos ouvir a sua voz nas escadas
a perguntar se não queremos seguir a palavra
do @Senhor .
Só não consegui ver o cartaz do POUS que
Carmelinda Pereira mandou fazer mas que in-
felizmente, não teve orçamento para distribuir e
que segundo reza a lenda consistia nela, Car-
melinda, a fazer um manguito à União Europeia,
sobre um fundo amarelo, prometendo nada
menos do que: Proibir os despedimentos. Ah
valente!
Fora de brincadeira, a vitória da abstenção, re-
corta no horizonte a silhueta uma nova ameaça
às liberdades e garantias dos cidadãos cujo ru-
ído de fundo já se faz ouvir: O ataque ao direito
de não votar.
Os pequenos empresários, webmasters, ma-
rketeiros e negociantes já perceberam o efeito
multiplicador dos Twitts e Re-Twitts, no seu
universo de seguidores, mas sobretudo nas
suas vendas. Por exemplo: Há restaurantes que
Twitam os pratos do dia. Os bloggers que fazem
o mesmo. As empresas mais orientadas para
os seus clientes não desperdiçam a oportunida-
de de serem seguidas por estes - que por sua
vez são estimulados por promoções e eventos
reservados a seguidores - mas sobretudo as
empresas não desperdiçam a possibilidade de
saber quem e como são os seus clientes, o
que dizem, como vivem, o que fazem, do que
gostam e o que querem: Se querem conhecer
melhor alguém, sigam-no no Twitter.
Por exemplo: Se me quiserem seguir a mim,
procurem por João Moura, ou por @boome-
rangomics, ou então teclem este endereço no
vosso browser: https://twitter.com/boomeran-
gomics e verão que os meus Twitts não fogem
Censura à liberdade de expressão
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Esmagamento do Gi Joe - Soldado Americano
ao registo das minhas crónicas, recheados de
informação económica, política, ironia e claro:
Reservo sempre um tempinho para me dedicar
aos meus ódios de estimação: Ditadores, má-
quinas de propaganda montadas para enganar,
reprimir e roubar o povo, em geral e de mentiro-
sos, revisionistas e negacionistas do holocausto
em particular.
Embalado pelo sonho revolucionário de der-
rubar ditaduras com o Twitt certo no momen-
to certo, divulgo links de sites recheados de
posters de propaganda vintage soviética e
norte-coreana para além de outras guloseimas
trendy-kitsch, ou então links para alguns dos
meus livros favoritos disponíveis online, cuja
leitura gosto de aconselhar a quem ainda não
os leu, como a obra prima: “Escuta Zé Nin-
guém” de Wilhelm Reich http://www.geocities.
com/projetoperiferia4/escutazeninguem1.htm
, o inventor da orgonomia http://www.youtube.
com/watch?v=1wD8jW5Uqdk , ou da máquina
que faz chover (Cloudbuster. De resto, dou tanta
música aos meus seguidores através de links
para o youtube ou para a blip.fm. que até já es-
tou a ser seguido pelo editor do meu suplemento
cultural favorito, Vasco Câmara, que com o caso
Freeport ao rubro - e o primo de José Sócrates
na berlinda - elegeu a música dos Undertones
Campeão Olimpico Soviético
“My perfect cousin” (O meu primo perfeito) como
a música perfeita. Há seguidores que valem por
mil. Em contrapartida é uma grande responsabi-
lidade ser seguido por eles.
Mas não há bela sem senão: O livro negro do
Twitter ainda está a ser escrito e por vezes, na
impossibilidade de largar o Twitter, ou seja de
largar a vida dos outros e voltar a dar atenção à
minha própria vida, penso, em quantos e quan-
tos disseram às suas esposas que iam só ali ao
cybercafé comprar cigarros e Twittar um bocadi-
nho... e nunca mais ninguém os viu.
O Twitter é na opinião de eminentes visionários,
a plataforma que vai mudar a forma das em-
presas comunicarem com os seus clientes e a
forma como comunicamos uns com os outros.
Dizem que vem ajudar a filtrar a informação que
nos chega pela internet e que nos permite até
seguir o Dalai Lama, solidarizarmo-nos com a
luta de libertação do corajoso povo do Tibete
e Twitar furiosamente pela libertação de todos
os oprimidos do mundo. Mas, adaptando uma
canção do Bob Dylan, pergunto eu: De quantos
seguidores precisa um homem de ter no Twitter
até conseguir mudar o mundo? The answer my
friend, is blowin’ in the wind.
Are you Following me?
@boomerangomics n