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Peter L. Berger Thomas Luckmann = | MODERNIDADE, | PLURALISMO E CRISE DE SENTIDO A orientagao do homem moderno. sosdvel evitar que as pessoas se srarhas no mundo mademo; esomente ent seré identidade das pessoas individuals € a coesto das sociedades sejam ameagadas ou, até mesmo, a afeeoto de eses da modemidade www.vozes.com.br Ff ane Ani rss caracteriea de nosso tempo 6. conwuisio das certezas¢ 0 ‘questionamento das Idennidades. A crescente velocidade com que se esonvoivar as soiedades rmodemas agrava eta tendéncia por uma ‘wansformagio cada ver mais intonsa das estrturasfaliares das cemtezasbasoadas na experignca.O saber tradicional, como transmitem alge, a eco, a fain ou @ Esado,envelhece com maior rapide. As insstigoes Uwaticionais de orienagio vio sendosuplementadas, quando no substiuidas, por novas. 8 conflts entre a ciferentes ‘ofertas de orentago 80 resolvdos no “mercado”; os fins ‘208 contedidos da vida fazer concorténcia uns com oe foutros, de modo que neste conterto as orersagbes que se pretendem efcazes devem responder ao desafio de tornar ‘compativels certosconceitos da ida que sefam vidos para o Indviduo com outras Indicagoes que apéier a ceondigao comuniaria da sociedad, Pater Berger ¢ Thomas LLuckmann sao sem divide dos Modernidade, plural: crise de sentido os 4 PEs = Dados Internacionais de Catalogacéo na Publieagio (CIP) (Clinaza Brasileiea do Livro, SP, Brasil) Berger, Peter L Modernidade, pluralism e crise de sentido ‘orientagdo do homem moderno Peter L, Berger, “Thomas Luckmann ;tradugio de Edgar Orth. ~ Peteépolis, J: Vozes, 2008 _ASBN 85.326.2040-0, ‘Titulo original: Modernist, Plualismas und Sinnkrise - Die Orientierung des modernen Menschen. 1, Phraismo (Cincias sociis) 2. Valores soci [-Lackman, Thomas. IL. Titulo, 03-6076 opp 306 Trios para catilogo sistematio: 1. Orientagio cultural: Phuralsmo: Sociologia 306 Pater ole Barger Thomas Lachmann Moderidade, pluralismo ¢ crise de sentido A orientagao do homom moderno 2 Baieao dust de Edgar Orth y EDITORA VvozEs Petrépolis ‘© Bertelsmann Foundation Publishers, 1995 ‘Titulo orignal alee: Moderitt, Pluralsmus und Simarive “Die Orientierang des modemen Menschen Direitos de publicagéo em lingua portugues: 2004, Eaitora Vozes Ltd, Rus Fret Lui, 100 25689-900 Petrdpais, RJ Intemet:http/fewuevores.com.be Brasil ‘Todos os dieitos reservados. Nenhuma parte desta abr poder ser eptoduzida ou transmitida por qualquer forma ‘elou quaisquer meias(eletrnico ou mecanica, ineluinda fotocdpiaegravacéo) ou arquivada em qualquer sistema ou Danco de dados sem pesmissio esta da Editor, Falitragaoe org lterdria: Ana Keonemberger ISBN 85.326.2949-0 (edigao brasileira) ISBN 3.89204.172-5 (edigio ales) FACULDADE EVNGELICA DE BRASLIA FE-BELOTECA rowo_ 2) fy own" Of Time Esteli fo eompostocimpreso pola Editor Vores Ltd ~Suménia Prefécio, 7 Modemidade/pluralismo e crise de sentido ~ Qual necessidade bisica em orientagao deve ser satisfeita?, 11 7. Os fundamentos da signifcsncia da vida humana, 13 2. Significancia nas relagessociis, eoincidéncia de sentido e as condigdes gerais para o surgimento da crise de sentido, 25 {[B) Modemidade eerie de sentido, 37 HA perda da auto-evidéncia, 53 5. Habitos e crises de sentido, 65 -B.O trato socal das erses de sentido: ilusoes & possibilidades, 75, 7. Berspectivas, 85 Autores, 93 Abe qustoes sobre orientagto cultural farem parte dos ai prementesdesafiog da socedade moder, O ir. duals eo plolome sos conlgiessab aguas apes ce abel padites pau sua PE Sam destes padres para se of quma situacao cheia de Spies date da necnidad detomac esis ‘Trés complexos de perguntas dizem tespeito 20s pro- blemas centrais, para cuja solugao a Fundacao Bertelsmann aquercontribuircom a criagéo de uma nova dre de projetos sobre a“ovientagéo cultural”: ~ Como € possivel realizar 0 sentido tendo em vista ‘opgoes pluralistas? — Como ajustam as pessoas os intimeros papéis e 6o- nexies sociais em que atuam? Em outras palavras ‘como conservam uma identidade estivel? — Que sistema de valor orienta suas idéias de bom © ‘mau? Enquanto um geupo de pessoas partlha desse sistema de valores, impoe-se a pergunta: que tipo de sociedade constituem as pessoas que tém pads se- rmelhantes de sentido e emitem julgamentosiguais de valor? E ainda: em que contribuem essas sociedades para a coesio da sociedade como um todo, e até que ponto so uma ameaca para ela? Quais as sociedades que colaboram com servigosativos de integracio? Co- mo pode a sociedade modema prover as necessétias ligagées? Pessoas orientadas possuem um antidoto contra amea ‘as enistencias de sua autocompreensio. Elas se véern co- mo pessoas de identidade inquestionsvel. Dispéem de pa crdes moras mediante os uais analisam suas ages no que se refere 20 eeito produzido sobre a sociedade, Nostréseampos, as pessoas no seguem mais evidénciae tradicionais do gue seja significative, bom ov justiicado pela sciedade, (6a) tém a possibilidade de escolher. Eas fi- zem isto individaalmente e por isso a pergunta: sera que a pertengasociedade €prejudicada com isso? Além do mais, surgem da dversidade pluralista das escolhas pestis, so- cietades que apreciam a lealdade de seus membros, mas ‘nose preacupam com o bem-estar da sociedade em si ‘Aiea de projetos sobre “orientagio cultural” comegou sua rie de publicagées com o volume initulado Oriente- rungeverlust ~Zur Bindungskrise dr modernen Gesellschaft [A perda de ovientagao ~ a crise de coesto da sociedade ‘moderna. Para uma proximea fase, hi boas perspectvas. Coma primeiro resultado, os soeislogos Peter Berger (Bos- ton) e Thomas Luckmann (Constanga) conelaizam sua andlise Sobre.os mecaniamos responsiveis pelo desencade- amento da crise de sentido nas sociedades modemas Faz parte de um contexto de projtos que teatam da oientacio no campo social mais prdximo da orientagdo eomunicacio- nal na empresa, da funcio de orientacio do Estado em co- nexlo com a legitimidade da atuacéo estatal, bem como dasnovas necessdades de orientagio no campo cientific. Peter L, Berger e Thomas Luckmann véem as causas da eyoizagio,plualizasto e prineipalmente nas sociedades, fa seiagto ies proto Tovar a que Silinntew si © conacram pecepstes cs veis de sentido-em grandes grupos meep” (es de una vida iin 5 a0 partihades por pes {quenas comunidades. E importante observar como sind viduos se unem nesta comunidade. Além disso, todas essas comunidades particulares estio num relacionamento com (0s grandes campos funcionais da sociedade como econo- mma, politica eciéncia, Entre esses niveise comunidades hd instituigées intermedidras, comunicagio moral cotidiana cca divulgacio da midi, Necesséra se torna uma pesquisa ultesior para saber como se realizaa mediacao equaisinsti- ‘uigdes a tornam efetiva, Com isso mostra-se uma perspec- tiva que abrange as forcas antaginicas até as tendéncias centrifugas da sociedade modema. Prof, Dr Werner Weidenfeld Membro-dretr da Fundacio Bectelsmann Modernidadelpluralismo e crise de sentido ~ Qual necessidade basica em orientagio deve ser salisfoita? 1 Ou fondomantos de signfncia da vide humana Mors certezas fla da rise de sentido ns tempos atuais¢ realmente uma forma nova de desorientagio na vida das pessoas modernas, Nio poderia ser que estivésse- ‘mos ouvindoa dltima repetigao de um velholamento? Nao seria. a qucixa que expressa a angistia que sempre afigiu a humanidade diante de um mondo tornado instvel? Seria avelba queixa de que a vida humana é uma vida para a ‘morte? Seria a vor da divida de que esta vida poderia en- ccontrar seu sentido numa histéra transcendent da salva- ‘glo? Ou este desespero nasce da falta desse sentido? Esta- ‘mas longe no tempo do livro do Eclesiastes (“Tudo ilu- sio, tudo ¢ frustragdo"), mas nao distantes do espirito da ‘xénica do Bispo Otto von Freising escrita ha mats de 850 anos: "Somas to deprimidos pela mesnivia do passado, rm stiados da prépra vida". O tempo éainda ‘mais longinguo, mas adstineia entre aj concepcdes sobye ‘destino humano na histéria nio diferem muito desde ‘Tucidides até Albert Carnus @20- Em que se baseia a convicedo dos eriticos modemos ‘sétias pasadas2Esses observadores dificilmentepartem do pressuposto de que se operou uma transformacio radical das condigdes bisicas da vida humana, Elesdeveriam, tes, supor uma nova consituigo Seclal do sentido da vida hhumana nos tempos modemos que langam o sentido ¢, com ele, a vida humana numa erie sem par na histria “Tais suposigbes possuem grande poder de sugestio e por {sso também de convicgio, o que néo signifies, porém, que resistam a uma investigagio empirica, Nas analisessociolé- cas aluais pressupdese obvismente algo como sentido © significdncia como motive do agi humang.e como pano de bce oust asap desea ca ‘Tnodeynidade € neoestvio fazer algumas consideragsesan- ‘tropollgiens-peévias. Flas dever Jevar sm consideracio os pressupostos geraiseestruturas bésicas da pgnuficincia da ida humanaySomente assim é possivel entender melhor as mudangas histricas de certas formagies de sentido, OG wiatide se constitu na co cine do indivduo, que tomou pessoa através de ‘pomp pee ara de ces ‘magao histérico-scial da identidade pessoal sto caracters- ticas essenciais de nossa espécie, cua filo e ontogénese com- plicadas nto preisamos considera aqui. Contuda, faremos tum breve esboca das operages zea. 2, me dliante as quais se constzoem as miltiplassgeificincias da expergncia eda agdo na vida humana 0) A conscitusia tomada cm sino ¢ nada; deve hayer sempre conscizncia dealgo 0. Existe somente enquanto dis ge sua atencio paraumobieto, para om sietivp. Este ob- jeto intencional é constituide pelas diversas realizagbes de fintese da conseigncia e aparece em sua estrutura geral se setrata de percepeves, memorias ou immaginacdes 0 redor do miicleo, 0 “tema” do objeto intencional estende um ‘campo temtico, ereado por um horizonteaberto.No hor zonte & sempre dada automaticamente a consciéncia da ‘propria corporalidade, que também pode ser tematizada. A. vhS jiéncia de temas inter xelacionados — aa Jos ec oabal node sug osentide Pos vidoes que io Sidicodalea aso enfemente, mas para as quai o feck fu ylve sua atengio, gaan um grav maior de dfinigio tenia, tomando-seexpenénciar” delinesdas ‘As expericiasindvidualente consideradas ainda nso tetiam sentido, Mas quando um nticleo de@xperiéncidse se- para da base daa conciénia capt elagio de Se ile com as outrasexperiéncas. As Formas mais sim- ples dessas rlagdes sio entendidas como “igual”, “sex mnelhante’, “diferente”, “igualmente bom’, “diferente e {in?, ete. Asim se constitu o graw mais elementar do sertidon sentido nada mais éde que uma forma za de conseitneiz: nincaisteom sm si um | abjtocle referncia Sentido€ a conseitncia de queexiste! Sumario entre as experigncias O nverso também 6 lide o sentido de experiénciat ~c, como ainda seréde- smonstrado, de agbes~ seréconstraido em primeio lugar porespeciis elizagbesrelaionas” da conscicia A ex Periénciaatual em dado momento pode ser relacionada ‘com uma experiéncia jd acontecida ha pouco ou num pas- sadoremoto, Ceralmente a experiéncia tual ni €elacio- nada com uma dnica otra experiéncia, mas com um tipo de experiéncia, um esquema de experiéncia, uma maxima ‘comportamental, uma legitimagio moral, etc., derivados de muitas experiéneias e armazenados no conhecimento subjetivo ou tomados do acervo social do conhecimento, Por mais enredada que possa parecer a fenomenologia das realizagBes multiples da conscigneia, seus resultados _sio os simples elementos significativos de nossas experién- io.dig. Assim, por exemplo, na vivéncia de uma flor, hé uma forma tpica, ligada a uma cor tipica, relacio- nada a uma qualidade tipca de aroma, tatoe uso, Num di- recionamento da atengio, a vivéncia tora-se experiencia, exitnca ¢ colocada numa relacio com outras expe fincas (tants lores) ourelaionada a una Etadado sco soil do conhecneatn ev dos Ape) ¢, finalmente, poderd ser integrada talvez num plano de Sido (coe eer ama). Neste proceso sf inte irados vitos tipos clasifcatéros (cravo dos Alpes, ama- da) num esquema processual (clhere lear a) ¢fusiona- dos numa unidade mais complexa, porém ainda cotidiana de sentido, Se finalmente, gproieta nig €levado 3 pritica poxque conflta com uma méxima compartamental basea- dana moral (nto colher lorvara!,chagacse.asima decisio figura umnivel superio i ae) eessva ponderaeto de valores ¢ inkeesses.) — sf.aw Ocxemplo mostra também o. sano senti, do agit cio, O-sentidedo agit atual-€ prospestivo, contudo.a agio realizada'€ cetvospectivamente signiicativa, Qagir€ orien ale! tadono sentido de um obieti ANS) umautopia;nele o agente antecpa S02 Gadeaderabilidade sue ‘urgéncia e pondera os passos gue RP Ievama ele A medida que o processo nfo se tomou cone- ido através de agdes semelhantes do passada e, sss teansformado em habito. odo age em vi cugo constitu na lacie dos passa da apa com ocbie- {vp Aagio{fconcluds,bem-sucedida ou fracassada—mas (7 Bvidentemente também 0 ig também a acio jd considerada completa no esbogo - pode sexcomparada com outras, pode ser entendida como ocum= pimento de miximnas Comportamentas, ser explcada cus tificada como execugao de leis, ser deseulpada como viol ‘cho de normas, ser negada 2 outros e~ Sere de sentida caractesizam toda: ou Sopra 4 rofina cotidiana tainbémasi eee exa estrutust | ws catacteisticas podem parecer indistinta sm esta sade soto mat anu dienes alin ates ee Ihe sio préprios Gmediaticidadelou media- feidade exiprosddade ou unlateraldade sO agit social pode ser divecionado a. pessoas pzesentes ou ausentes, a tmortos e ndo-nascides; pode querer abordiclos em sua in- ividualidade, ou como tipos sociais de diferentes graus de anonimidade, ou mesmo como simples membros de gra- os sociais. Pele vsara uma resposta ou nfo ~ pode haver resposta ou nao. Pode ser intencionado como tinico, ou vi- sando tepeti¢o regular ou prolongacao no tempo. Nessas diferentes dimensbes de sentido ¢ que se constzéia se lneia complexa do agi sociale das relages soci, Quando falamos da anstituicio do sentido na cons- ita td, fou aro que no se pod iar eam ee ado, de una monadn “tr jae. tidiana etd eepleta de miltplas Soll g dsomente neste agi que se fume a denial essa doindividuo, Vivéneias puramente subjetivassi00 fandamento da constituigao do sentido:

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