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eikhenbaum cchkloyskt jakobson tomachevski jirmunski tynianov vinogradov ape AN DA AULA formalistas russos EDITORA GLoBo neath bb Copyright © 1970 by Editora Globo S.A. 18 edigdo — maio de 1971 24 edigio —junho de 1973 32 edigéo —margo de 1976 Capa de JOAO AZEVEDO BRAGA Direitos exclusivos desta traducio, em lingua portuguesa, da Editora Globo S.A. Porto Alegre —- Rio Grande do Sul — Brasil SUMARIO Prefdcio — Boris Schnaiderman ........ 000 cece ee eee IX A Teotia Literéria dos formalistas russos no Brasil —- Dionjfsio de Oliveira Toledo 2.1.0... eee ee eee tee ee XXII PRIMEIRA PARTE A PROBLEMATICA DO FORMALISMO J A Teoria do “Método Formal” — B. Eikhenbaum .......... 3 A Arte como Procedimento — V. Chklovski .............- 39 Sobre a questo do “Método Formal” — V. Jirmunski ...... 37 A Escola poética formalista e o marxismo — L. Trotsky ..... 71 II As Tarefas da Estilistica — V. V. Vinogradov ...........-4: + 89 Os Problemas dos Estudos Literdrios e Lingiifsticos —~ J. Tynia- nov e R. Jakobson ........... beeen nen ee nen sees 95 A Noc&o de Construgao —- J. Tynianov ......--..--.- 20s: 99 Da Evolucio Literdtia — J. Tynianov ......-. ee ee eee eee 105 Do Realismo Artistico — R. Jakobson ......--00- +e eee eee 119 Vil SUMARIO SEGUNDA PARTE O POEMA Ritmo e Sintaxe — O. Brik 2.00.0. eee 131 Sobre o Verso —- B. Tomachevski .......0.0 000. c eee ce eens 141 TERCEIRA PARTE A NARRACAO Sobre a Teoria da Prosa — B. Eikhenbaum ......... veeehes 157° Tematica — B. Tomachevski 2.02.00 0 2000 eee eee eee eee 169 A Construgao da Novela e do Romance — V. Chklovski .... 205 Como é feito O Capote de Gogol — B. Eikhenbaum ........ 227 As Transformagées dos contos fantdsticos — V. Propp ...... 245 APENDICE Idéias para uma Teoria Literdria — Dionisio de Oliveira Toledo 271 ne ee PREFACIO (4804 & 4%}0) Kstranho destino, o do assim chamado formalismo russo! No inverno de 1914-1915, alguns estudantes da Universidade de Moscou fundaram, sob os auspicids da Academia de Ciéncias, 0. Cireulo Lingiiistico de Moseou, que tinha por objetivo promover estudos de poética e de lingiiistica, conforme programa submetido pelos organizadores ao secretério da Academia, o famoso lingiiista A. A. Chakhmatov. Eram muito joveus os membros do grupo, mas, desde o inicio, ja se patenteia a seguranga com que abordam determinados proble- mas da arte e da literatura. O fato de colocarem a poética ao lado da lingitistica indica uma faixa de preocupagdés que seria domi- nante no movimento entdo apenas esbogado, particularmente © es- tudo da.fungdo poética(a expressao seria usada mais tarde) como fato importante “da linguagem, até entdo geralmente descurado pela lingiifstica tradicional. Depois de uma primeira publicagio do grupo, a brochura A ressurreic¢éo da palavra, de Vitor Chklovski (1914), deveu-se a Ossip Brik a iniciativa da ecoletanea Poética (Petrogrado, 1916). Seguin-se a.fundagdo, em 1917, da OPOIAZ (Obchehestvo por izut- chéniu poetiicheskovo tazikdé — Associagio para o Estudo da Lin- guagem Poética), que haveria de cooperar intimamente com o Cir- ‘eulo Lingiiistico de Moseou. “Desde o inicio a nova corrente se caracteriza por uma recusa | eategorica as interpretagies extraliterdrias do texto. A filosofia, a sociologia, a psicologia, etc., nado poderiam servir de. ponto “de par- tida” ‘para a abordagem da obra literéria. Hla poderia conter esta ou aquela filosofia, refletir esta ou aquela opiniao politica, mas, do ponto de vista ‘do estudo literdrio, o que importava era o priom, ou. processo, isto é, o _Principio_ ote organizagao da obra como pro- ) quase um manifesto do movimento: : “SA poesia 6 linguagem em sua funeao estéticn. “‘Deste modo, 0 objeto do estudo liter4rio nie 6 a literatura, ' tas a literariedade, isto é, aquilo que torna determinada obra uma © x Boris Schnaiderman Prefdcio ; . XI obra literaria. E no entanto, até hoje, os historiadores da literatura, © mais das vezes, assemelhavam-se 4 policia que, desejando prender determinada pessoa, tivesse apanhado, por via das dividas, tudo e todos que estivessem num apartamento, e também os que passassem easualmente na rua naquele: instante. Tudo servia para os_histo- riadores da literatura: os costumes, a psicologia, ‘8. politica, a filo- sofia. Em lugar de um estudo da literatura, criava-se um conglo- ‘merado de disciplinag mal-acabadas. Parecia-se esquecer que estes elementos pertencem as ciéncias correspondentes: Histéria da Filo- sofia, Histéria da Cultura, Psicologia, ete., e que estas iltimas podiam, naturalmente, utilizar também og monumentos literdrios como documentos defeituosos e de segunda ordem. Se o estudo da literatura quer tornar-se uma ciéncia, ele deve reconhecer o ‘pro- cesso’ como seu tnico ‘herdi’!’’. Deste modo, o movimento voltava-se nao sé contra os excessos de critica sociolégica e politica, da submissdo.da estética i. étiea,. que havia caracterizado a critica russa durante anos e anos, mis sobretudo e particularmente, contra a _metafisica e religiosidade . simbolistas_r Sie egeep oe ( S$, para quem o texto literario aparecia com muita freqtiéncia apenas como uma das maneiras de buscar o ‘‘ine- favel’’, o ‘‘inconsttil’’, o extraterreno, O trabalho critico dos assim chamiados formalistas voltava-se para o contingente, o imediato, o palpavel, o analisdvel. Como lembra ainda Roman Jakobson, o Circulo Lingilistico de Moseou contava, entre seus membros poetas como Maiakovski, Pas- ternak, Mandelstam e Assiéiev?. Isto ndo se devia a mero acaso: os proéprios objetivos dos formalistas eram os mesmos da poesia mais avangada da época —- a de Kbliébuikov e Maiakovski, a do jovem Pasternak (tio diferente do poeta agressivamente tradicional da velhice!), a do Mandelstam dos anos da RevolugZo (tao afastado do neoclassico de toque ligeiramente simbolista dos anog anteriores!), & poesia violenta e imediatista das ruas e dos comicios, & qual nao conseguiram permanecer indiferentes sequer os maiores poetas do préprio simbolismo russo: Andriéi Biéli e Aleksandr Blok, este muito atacado por isto mesmo pelos companheiros de movimento. No periodo tumultuoso em que ruiam os valores consagrados, 1 Roman Jakobson, Noviéichaia miskaia poésia — nabrossok piérvi tA novissima poesia russa — esboco primeiro), Tipegrafia A Politica, Praga, 1921 (obra escrita em 1919), pag. 11. 2 Roman Jakobson, «Vers une science de Vart poétiques, in Tzvetan Todorov, Théerie de la littérature (antologia do formalismo russo), Badi- tions du\Seuil, Paris, 1965, pag. 12. . quando a velha estética nado podia mais satisfazer os jovens, a alianga entre critica formalisia e poesia arrojada e revoluciondria parecia expressar o que mais se adequava ao espirito da época, Os romancistas de luvas de pelica, os poetas de saldo e de porta de confeitaria, os estetas refinados e transcendentes, haviam tomado em grande parte o destino do exilio. A Riissia procurava estrutu- rar-se em novas formas, sob novos principios, e o arrajo e novado- rismo tanto dos poetas como dos estudiosos da literatura condiziam com o espirite dos novos tempos. Sem divida, os formalistas encontravam suas raizes também na tradigao russa, A par da tendéncia para a critica ideolégica e politica, do utilitarismo desenfreado, que encontrou sua expressao maxima no ensaio tolstoiano O que é a arie?, afirmara-se na Rassia, mais de uma vez, a necessidade de se atribuir o devido valor aos elementos formais da arte liter4ria, A. S. Pushkin eserevia ja em 1825; ‘‘Nossos eriticos ainda nao chegaram a acordo, para, wma clara distingio entre os géneros classice e romAntico. Devemos a nogao confusa sobre este assunte aos jornalistas franeeses, que geralmente atribuem ao romantismo tudo o que ihes parece trazer o selo do devanear e do ideologismo germanico ou baseado em tradigées e preconceitos do povo simples: a mais imprecisa das definigées. Uma poesia pode apresentar todas essas caracteristicas e, ao mesmo tempo, perlencer ao género classico. ‘Se em Ingar da forma da poesia nos basearmos”unicamente no espirito com que foi eserita, nunca haveremos de nos desemaranhar das definigdes. Um hino de J. B. Rousseau, pelo espirito, natural- mente se distingue de uma ode de Pindaro, uma sadtira de Juvenal de uma sftira de Horacio, ‘Jerusalém Libertada’ da ‘Eneida’, e, no entanto, todes eles pertencem ao género classico, ‘“‘Devem ser incluidas neste género ag poesias eujas formas eram conhecidas por gregos ¢ romanos, ou eujes modelos eles nes deixaram; por conseguinte, incluem-se ai: a epopéia, o poema di- datico, a tragédia, a comédia, a ode, a sitira, a epistola, o poema herdico, a écloga, a elegia, o epigrama e a f&bule, ‘*Que géneros de poesias devem entdo classificar-se como poesia romantica? “ Aqueles que nZo eram conhecidos dos antigos e aqueleg em que as velhas formas se modificaram ou foram substituidas por outras®’’, 3 A. 8. Pushkin, «

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