Você está na página 1de 1

A desmedida

Na explicao sobre a catarse, vimos que para haver a catarse um heri deve passar da
dita (ou seja, da felicidade, da sorte, da estabilidade) para a desdita (ou seja, a
infelicidade) por uma desmedida sua.

Desmedida, portanto, uma medida do personagem, normalmente o heri, que se


mostrar equivocada, provocando sua peripcia (a mudana do destino do personagem
da felicidade para a infelicidade).

Para Aristteles, a fora trgica est na desmedida do heri. A loucura e o desejo por
vingana, por exemplo, so a desmedida de Hamlet, enquanto em Romeu e Julieta o
amor a bela desmedida de ambos.

Modernamente, a noo de desmedida tem sido ampliada sobremaneira. Vale observar,


entretanto, que fundamental para a narrativa essa ao que justifique o destino do
personagem, em especial se for o protagonista. Sua falta pode causar um problema de
verossimilhana e fazer com que a histria seja rejeitada pelo leitor.

Exemplos de desmedidas

> A ambio, por exemplo em O Jogador, de Dostoievski;


> O amor exagerado, por exemplo em As Cartas do Jovem Werther,
de Goethe;
> O abalo da mente que leva o heri a cometer um crime, por
exemplo em O Estrangeiro, de Camus;
> O desejo sexual, por exemplo em O Crime do Padre Amaro, de
Ea de Queirs;
> O preconceito, por exemplo em Grande Serto: Veredas, de
Guimares Rosa;
> O desapego ao dinheiro, por exemplo em O Exrcito de um
Homem S, de Moacyr Scliar;
> A vaidade, por exemplo em O Retrato de Doran Gray, de Oscar
Wilde;
> Nos romances policiais, uma falha do vilo que leva o detetive a
prend-lo.

Por fim, tambm conforme comentado na explicao sobre catarse, hoje muito comum
o heri passar da desdita para a dita por uma virtude sua. Embora seja uma mudana
conceitual importante, a estrutura clssica est aqui, mudando-se a ideia de uma
desmedida pela ideia de uma virtude que justificar o final do personagem.

Você também pode gostar