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Guerra e emergncia da Utopia, na esteira de Emmanuel

Levinas e Miguel Abensour.


Palavras-chave: Utopia, Guerra, Levinas, Abensour, Converso

Pedro Filipe de Moura Ribeiro Vilar p.mrvilar@gmail.com

Partindo de Miguel Abensour e Emmanuel Levinas, e do modo como estes


filsofos entendem a experincia totalizante da guerra e a converso
utpica; pretendo discutir tanto a categoria Totalidade na acepo
levinasiana intimamente associada guerra, quanto a inevitabilidade e
latncia, no colectivo e no individual, da Utopia segundo Abensour.

Um dos pressupostos filosficos, a nosso ver mais convincentes e


persuasivos de Miguel Abensour para demonstrar a necessidade e, de certo
modo, inevitabilidade da Utopia justamente a evidncia trgica e
traumatizante da guerra. Em Emmanuel Levinas lintrigue de lhumain
entre mtapolitique et politique, numa das linhas de argumentao
seguidas para demonstrar a sobrevivncia e recorrncia utpicas, constata
a necessidade interna de uma civilizao ou cultura abandonar o belicismo
da guerra, rejeitando o conflito e abraando uma nova paz:

Pois da catstrofe nasce um novo alerta utpico, o isso nunca mais


transformando-se ao mesmo tempo em exigncia de utopia, como se a
catstrofe revelasse a contrario a necessidade imperiosa da utopia; melhor,
como se a provao da catstrofe nos fizesse inspiradamente renovar o
mais profundo da utopia, a negao da morte () 1

Guerra, genocdio, catstrofe, desencadeando uma refutao concreta,


emprica, das suas causas mais profundas, sob a forma de um novo sonho
colectivo.2

A guerra para Levinas, por outro lado, representa a explicitao absoluta do


ser, a patncia ou a verdade do real 3, na medida em que no conhece
ou concebe qualquer exterior a si mesma; de facto esta Instaura uma
ordem em relao qual ningum se pode distanciar. Nada pois exterior.
A guerra no manifesta a exterioridade e o outro como outro; destri a
identidade do Mesmo.4

1 Abensour, Miguel; op. Cit. p. 63.

2 Ib. p.58.

3 Levinas, Emmanuel; Totalidade e Infinito, p.9.


Totalidade da guerra obscurecendo um fundo utpico, messinico, apenas
entrevisto no seu refluxo e emergir pstumos.

Proponho-me ainda observar como pases que sofreram guerras e conflitos


devastadores incorporaram e manifestaram no seu ps-guerra uma forma
exemplarmente pacifista, segundo, justamente uma ideia de rejeio e
converso subsequente.

4 Ib. p.10

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