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Quando é permitido espionar conversas no MSN – Empresas podem monitorar

funcionários, desde que avisem antes.

Você pode instalar um programa que espiona o MSN no computador da família?


Provavelmente não, mas se você for um pai, você pode sim espionar as conversas do
seu filho. Empresas também podem inspecionar as conversas dos funcionários – desde
que haja um aviso prévio sobre a prática. Mas nem pense em monitorar seu/sua
parceiro(a) ou seus amigos: advogados especializados dizem que isso é ilegal e a prática
pode até ser considerada criminosa. Saiba quando você pode e não pode monitorar as
conversas de alguém no MSN (e outros comunicadores) na coluna Segurança para o PC
de hoje.

Se você está na conversa, tudo bem

Os advogados especializados em direito digital Omar Kaminski e Laine Moraes Souza


concordam: se você está participando na conversa, pode gravá-la, mesmo sem
autorização judicial. Nem é preciso avisar os outros participantes. Esse entendimento já
foi inclusive dado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou prova lícita a
gravação de uma conversa realizada por um dos participantes sem autorização ou aviso
aos demais.

Embora alguns telefones celulares bipem durante a gravação de conversa para alertar a
outra pessoa de que a conversa está sendo gravada, não há necessidade disso na
legislação brasileira. “Foi um acordo firmado entre as empresas fabricantes que
colocassem este barulhinho para avisar da gravação. A conversa, no entanto, pode ser
gravada sem nenhum problema”, explica Laine. O que não pode, segundo ela, é pedir
que um terceiro não relacionado com a conversa, realize a gravação.

Segundo os advogados, a mesma lógica deve valer na internet. Se você está na


conversa, tudo bem. Mas e se você não faz parte da conversa? Aí, depende.

Empresas podem monitorar, desde que comunicado com antecedência


A advogada Laine Souza explica: “para que a empresa possa monitorar seus
funcionários, deve possuir uma política clara de segurança da informação e colher a
assinatura de todos os funcionários, demonstrando que conhecem e concordam com esta
política. Caso o funcionário não concorde ou não respeite a política, ele pode ser
demitido por justa causa”.

Em outras palavras, o funcionário precisa estar ciente de que está sendo monitorado. De
fato, há softwares de monitoramento que funcionam em larga escala para serem usados
em empresas. Um deles é o Trevio, desenvolvido pela empresa de segurança gaúcha
Interage, que, segundo dados da empresa, monitora cerca de 3 mil PCs e 15 mil
usuários.

Para Ricardo Roese, diretor-executivo da Interage, há motivos para monitorar


funcionários em empresas. “Pesquisas denunciam que, hoje, de 30% a 40 % do tempo
de um profissional é gasto na internet para uso pessoal. Outro fato relevante é a
dispersão. Como um profissional vai se concentrar se a cada três minutos o alerta
sonoro ou a janela do MSN invade o trabalho?” Ele conta que, em um caso, o software
identificou um funcionário que passava até seis horas por dia em bate-papo,
conversando com 1.200 contatos.

Também relevante é o vazamento de informações sensíveis, como projetos, negociações


e listas de clientes. Roese conta que já conseguiu identificar “grandes projetos de
calçados e sandálias sendo enviados a concorrentes”.

Para o advogado Omar Kaminski, os empregados têm cada vez menos expectativa de
privacidade no ambiente de trabalho. “A jurisprudência já é pacífica no sentido de
consentir o monitoramento, e a grande questão é se há possibilidade de monitorar
também as conversas pessoais, não relacionadas com o trabalho. Porém, como irá
monitorar o acesso no smartphone do empregado, por exemplo?” questiona o advogado.

Roese informa que o próprio software pode auxiliar a tarefa de avisar. “Você pode
configurar uma mensagem de alerta como: ‘evite abusos. Conversa controlada e
monitorada.’” Para ele, as empresas têm todo direito de realizar a monitoração. “O
computador e o link de comunicação [internet] são recursos da empresa. Logo,
deveriam ser bem utilizados. E o que vemos é a proliferação de vírus e o vazamento de
informações confidenciais através do MSN”.

Pais podem monitorar os filhos menores de idade

Como os pais são responsabilizados pelas ações dos filhos, é obrigação deles saber o
que a criança faz na internet. “O pai tem direito de fiscalizar o que o seu filho faz. É até
obrigação dele, previsto no ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente]”, informa a
advogada Laine Souza.

Executivo de uma empresa que vende soluções de monitoramento, Ricardo Roese


também é pai. Para ele, é importante falar com os filhos sobre o assunto. “No ambiente
doméstico, acredito que uma boa conversa expondo os riscos da internet com seus filhos
seja bastante produtiva. Eu particularmente negociei com minha filha de 10 anos o
seguinte: você me indica a relação de amiguinhos [contatos] para serem cadastrados no
Trevio, e o papai não monitora suas conversas, ok? Negócio fechado”, conta.

Pode monitorar o computador da família ou do parceiro?

Laine Souza resume: “o monitoramento de pessoas maiores e capazes somente é


permitido quando a pessoa monitorada tiver conhecimento desta situação e der anuência
para que ela ocorra. Assim, o computador familiar pode ser monitorado, desde que
todos os membros da família saibam disso”.

Sendo assim, não se pode monitorar o computador da namorada, do marido ou do


irmão. Se um computador for de uso exclusivo seu e ninguém mais deveria estar
utilizando-o, aí sim você pode monitorá-lo. Mas, se você sabe que outra pessoa possa
vir a utilizar o computador, com o seu consentimento, a pessoa deve ser avisada a
respeito da existência do monitoramento.

Caso contrário, o juiz provavelmente não aceitará a prova obtida, e o monitoramento


terá sido realizado em vão. Ou pior: a pessoa ilegalmente monitorada pode entrar com
ação na Justiça para pedir indenização. Para Omar Kaminski, “a regra é a necessidade
de autorização judicial”. De acordo com ele, as partes precisam tomar cuidado extra,
porque a interceptação de comunicações pode configurar crime previsto no artigo 10 da
lei 9.296 de 1996, que possui uma pena de dois a quatro anos de prisão e multa.

Fonte G1

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