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eee geared gex PLANO DIRETOR DE RECURSOS HiDRICOS | | BACIAS DOS RIOS VAZA BARRIS E REAL DOCUMENTO SINTESE GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA SECRETARIA DE RECURSOS HIDRICOS SANEAMENTO E HABITACGAO : SUPERINTENDENCIA DE RECURSOS HiDRICOS inca BACIAS DO VAZA BARRIS E REAL 1 | i _ PLANO DIRETOR DE RECURSOS HIDRICOS } } ( ee DOCUMENTO SINTESE GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA SECRETARIA DE RECURSOS HIDRICOS, SANEAMENTO E HABITACAO. SUPERINTENDENCIA DE RECURSOS HIDRICOS SALVADOR, NOVEMBRO DE 1996 a APRESENTAGAO Uma das prioridades da Secretaria de Recursos Hidricos, Saneamento e Habitagdo do Govemo do Estado 6 dar continuidade & elaboragao dos Planos Diretores de bacias hidrograficas que, em ‘seu conjunto, comporéo o Plano Estadual de Recursos Hidricos, documento programatico do Governo da Bahia nesse campo de aco, conforme previsto na Constituig&io Estadual. Nossa érea de estudos abrange a Bacia dos Rios Vaza Barris e Real, que se encontra numa regiéo atravessada por trés grandes zonas naturais, revelando seus diferentes aspectos © as diversas combinagées que estas podem apresentar. ‘A Zona da Mata caracteriza-se pela presenca de um clima Umido, com solos profundos, vegetagao de floresta pluvial © tem como atividade econémica principal a monocultura exportadora. A Zona do Agreste, por sua vez, apresenta um clima de transig¢&o, subsmido, com uma vegetaco natural semicaducifélia e solos variados. Sua principal atividade 6 a producdo de subsisténcia e a pecuaria, destacando-se alguns plantations como 0 de fumo e citrus. A Zona do Sertdo, caracterizada pelo ciima semi-érido, apresenta uma vegetago caracteristica caducifoia, a caatinga, com solos em geral rasos, mas de boas propriedades quimicas, cuja principal atividade 6 a pecuaria. Dessas trés regiSes, 6 a semi-drida que se caracteriza como uma das areas mais probleméticas do Brasil, no s6 por seus aspectos naturais, particularizados do restante do pais @ apresentando um tipo climatico especifico @ Unico, mas por constituir-se em uma das reas de maior tenso social, decorrente principalmente do uso e da distribuig&o das terras. Toda essa problematica, tanto natural como social, obrigou o governo a tomar diversas medidas intervencionistas, tanto politica como economicamente, voltadas para a criagéo e 0 desenvolvimento de uma estratégia de planejamento regional. E nesse contexto que o presente estudo se desenvolve. ‘A gua 6 um recurso primordial para 0 desenvolvimento econdmico. Sendo finito e com variagdes sazonais e multianuals, a sua utllizago poderé vir a ocorrer de forma confiiiva. Visando resolver 0s conflitos © prevenir-se dos que possam vir a ocorrer, foi elaborado este Plano Diretor, abrangendo estudos que v4o da caracterizagio da regio a avaliagdo das disponibilidades das aguas e dos diversos usos atuais e futuros desse potencial, propondo agdes para o disciplinamento e monitoramento dos seus usos e intervengSes necessdrias para garantir a oferta, com qualidade, dos recursos hidricos superficials e subterréneos e, assim, contribuir para 0 crescimento sécio-econdémico da regia. Salvador, novembro de 1996 Roberto Moussallem de Andrade ‘Secretério de Recursos Hidricos, Saneamento © Habitaco eee COMENTARIOS AO PLANO j ORGANIZAGAO DO TRABALHO © Plano Diretor de Recursos Hidricos das Bacias dos Rios Vaza Barris e Real abrange estudos multi-disciplinares de caracterizagtio da regio que subsidiaram a elaboragio de metas e diretrizes para 0 ordenamento do uso da agua. : Este trabalho apresenta um Documento Sintese do Plano estruturado em doze Capitulos, descritos a seguir: © Capitulo 1 - INTRODUGAO discorre sobre aspectos gerais da regio e sobre os estudos realizados. © Capitulo 2 - LOCALIZAGAO situa geograficamente a area em estudo e apresenta a divisio municipal. © Capitulo 3 - APOIO INSTITUCIONAL relaciona os instrumentos legais e institucionais ligados ao trabalho, No Capitulo 4 - CARACTERIZACAO DO MEIO FISICO, sé0 abordados os aspectos climatolégicos, geomorfolégicos, geolégicos, geotécnicos, de solo, flora e fauna. } © Capitulo 5 - CARACTERIZAGAO DO SISTEMA SOCIO-ECONOMICO E INSTITUCIONAL faz referéncia aos estudos demograficos, aos sistemas de produgéo, de infra-estrutura e institucionais. etnias © Capitulo 6 - PLANIFICAGAO DA REDE HIDROMETRICA apresenta as condigées da rede pluviométrica e fluviométrica da area da bacia e proposig6es para a rede hidrométrica basica, © Capitulo 7 - ESTUDO GEOAMBIENTAL E AVALIAGAO AMBIENTAL apresenta 0 diagnéstico * geoambiental e a avaliacao da qualidade ambiental da regido em estudo, ressaltando os prejuizos causados pelas diversas atividades desenvolvidas pelo homem nos ecossistemas. © Capitulo 8 - CARACTERIZAGAO E INVENTARIO DOS RECURSOS HIDRICOS esboga um quadro de diversos aspectos da Hidrologia de Superficie, da Hidrogeologia, da qualidade e dos! Usos dos Recursos Hidricos na regiéo e apresenta o balango das disponibllidades hidricas de superficie @ subterraneas, além do levantamento e da andlise dos pontos de inleresse na rede hidrica da bacia. © Capitulo 9 - CENARIOS DE USOS DOS RECURSOS HIDRICOS traca quadros futuros sobre! as probabilidades dos usos da agua, segundo dvereas variavels e hip6teses de crescimento de demanda. © Capitulo 10 - METAS, ESTRATEGIAS E ACOES PROPOSTAS descreve as diretrizes ~ norteadoras deste trabalho, as intervengSes e programas propostos para solucionar as quest6es levantadas, dentro de cada érea especifica, denominados Pianos Setoriais, apresentando as ages propostas em cada uma delas. © Capitulo 11 apresenta as REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS e, finalmente, no Capitulo 12 ANEXOS, identifica-se a equipe que desenvolveu os trabalhos @ a relagio dos desenhos apresentados. Meee A proposta deste trabalho foi elaborar um diagnéstico fisico, s6cio-econémico e hidrico da bacia @ apresentar um elenco de agdes necessérias, compondo um documento programatico da regio, sem apresentar conclusSes, por néo ser esse seu objetivo, e sim o de servir como subsidio aos 6rgos atuantes. COMO USAR ESTE TRABALHO Aleitura deste plano pode ser iniciada diretamente pelo capitulo 8, passando 0 leltor em seguida aos capitulos subsequentes, para somente depois apreciar o restante do trabalho. Convém observar que esta orientago 6 reservada ao leltor que ja est4 bem familiarizado com a regio, sua geografia fisica, econdmica e politica. Aqueles leitores que ainda no tiveram oportunidade de conhecer o trabalho com dados da regidio devem fazer a leitura completa do documento na seqliéncia como ele esta apresentado, pois somente assim compreenderéo melhor as raz6es de varias das propostas apresentadas. O que é importante observar @ que este documento, bem como seus volumes parciais, oferece diretrizes para 0 disciplinamento do uso da agua. Portanto, nao se deve esperar que 0 mesmo chegue ao nivel de projeto e muito menos projeto detalhado das agbes. Por este mesmo motivo, espera-se que a atitude do leitor seja, sobretudo, de continuacao deste trabalho. A QUEM SE DESTINA O PLANO DIRETOR Este Documento Sintese 6 de interesse de govemantes, politicos, empresérios, técnicos, pesquisadores, professores, estudantes, habitantes da regiéo estudada, usuérios da agua e outras pessoas que, de uma ou de outra forma, tenham ligagSes com 0 uso ou o aproveitamento de seus recursos hidricos. Desnecessario @ mencionar que as organizagées, as quais esto ligadas todas as categorias de leitores aqui relacionadas, so as maiores interessadas no plano e, sobretudo, na colocagdo em pratica das medidas que o mesmo propée. ‘Assim, a Superintendéncia de Recursos Hidricos da Secretaria de Recursos Hidricos, Saneamento e Habitago do Govemo do Estado espera que cada leitor néo s6 exerga 0 necessério espirito critico de leitura, como também adote uma postura pratica, interagindo com as entidades que devem implementar as agSes ora propostas, contribuindo para o desenvolvimento do setor de recursos hidricos e para o bem-estar da regio sob estudo. ‘Salvador, novembro de 1996 José Luiz Lima de Oliveira Diretor Geral da Superintendéncia de Recursos Hidricos AW BA BAHIATURSA BANEB BIRD BR CAR CEPED CEPLAB CEPLAC CERB CHESF CIR COELBA CONAMA CPE CPRM CRA DBO DDA DERBA DESENBANCO DEVISA DNAEE DNOCS DNPM E EBDA EMBASA EMBRAPA FNE FNS Ha IBAMA IBGE INCRA, INEMET INPE IPH/UFRGS kK Us mis, N NE Nw OoMM SIGLAS E ABREVIATURAS UTILIZADAS. - Tipo de Clima - Classificago Koppen ~ Bahia ~ Empresa de Turismo da Bahia S.A. ~ Banco do Estado da Bahia S.A. - Banco Interamericano de Desenvolvimento - Indicagao de Rodovias Federais - Companhia de Aggo e Desenvolvimento Regional ~ Centro de Pesquisa e Desenvolvimento - Centro de Planejamento da Bahia - Comissio Executiva Plano Lavoura Cacaueira - Companhia de Engenharia Rural da Bahia = Companhia Hidroelétrica do Rio Séo Francisco - Coordenagiio de Irrigacdio da SEAGRI - Govemo do Estado da Bahia = Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia - Consetho Nacional de Meio Ambiente - Centro de Planejamento Econémico da SEPLANTEC.- Governo do Estado da Bahia - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerals - Centro de Recursos Ambientais da SEPLANTEC - Governo do Estado da Bahia Demanda Bioquimica de Oxigénio Departamento de Defesa Agropecuéria da SEAGRI Departamento de Estradas e Rodagens da Bahia Banco de Desenvolvimento do Estado da Bahia Departamento de Vigilancia e Satide da SESAB Departamento Nacional de Aguas e Energia Elétrica Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, Departamento Nacional de Pesquisa Mineral Leste - Empresa Balana de Desenvolvimento Agricola - Empresa Baiana de Aguas e Saneamento S.A. - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaria - Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste - Fundago Nacional de Satide ~Hectare - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovavels - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica - Instituto Nacional de Colonizagao e Reforma Agréria - Instituto Nacional de Meteorologia ~ Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - Instituto de Pesquisas Hidrolégicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul ~ Parmetro hidrogeolégico de permeabilidade - Litros por segundo - Metros cibicos por segundo Norte Nordeste Noroeste ‘Organizagao Mundial de Meteorologia 6 ieee ee | cc ee a Pt 97,10 R = RAIS - RG s s scT SE ‘SEAGRI SEFAZ SEI ‘SEPLANTEC SESAB ‘SETEC SICM ‘SNLCS. ‘SRH SRHSH SUCAM SUDENE SUDIC sw T ton w = Plano(s) de Topo - Vazdo minima de 7 dias em tempo de recorréncia de 10 anos - Rampas + Relatério Anual de Informagées - Indicagdo de Desenho - Sul - Pardmetro Hidrogeolégico de Armazenamento ~ Secretaria da Cultura @ Turismo = Sudeste < Secretaria da Agricultura, lmigagao e Reforma Agraria do Govemo do Estado da Bahia - Secretaria da Fazenda do Govemo do Estado da Bahia - Superintendéncia de Estatistica e Informacées ~ Secretaria do Planejamento, Ciéncia e Tecnologia do Govemo do Estado da Bahia - Secretaria de Saude ~ Secretaria de Energia, Transporte e Comunicagées do Governo do Estado Bahia ~ Secretaria da Inddstria, Comércio e Mineragao do Govemo do Estado da Bahia = Servigo Nacional de Levantamento e Conservacdo de Solos ~ Superintendéncia de Recursos Hidricos da SRHSH - Govemo do Estado da Bahia ~ Secretaria de Recursos Hidricos, Saneamento e Habitago do Governo do Estado da Bahia ~ Superintendéncia de Campanha de Satide Publica - Superintendéncia de Desenvolvimento do Nordeste ~ Superintendéncia de Desenvolvimento industrial e Comercial = Sudoeste ~ Parametro Hidrogeolégico de Transmissividade - Tonelada_ - Oeste SUMARIO 4. INTRODUGAO 2. LOCALIZAGAO 3. APOIO INSTITUCIONAL 3.1 COORDENAGAO E GESTAO 3.2 ASPECTOS LEGAIS 3.3 ASPECTOS INSTITUCIONAIS 3.3.1 ENTIDADES ATUANTES NA AREA 4, CARACTERIZAGAO DO MEIO FISICO 4.4 CLIMATOLOGIA 42,VEGETAGAO 4.3 FAUNA 44 GEOLOGIA 4.5 GEOTECNIA 4.5.1 EsTupos GEoTECNICcos 4.5.2 CADASTRO DE OBRAS E OCORRENCIAS MINERAIS 4,6 GEOMORFOLOGIA 4.6.1 UNIDADES GEOMORFOLOGICAS 4.8.1.1 PEDIPLANO SERTANEJO 4.8.1.2 TABULEIROS DISSECADOS DO VAZA BARRIS 4.6.1.3 CHAPADAS 00 TONAE DA SERRA TALHADA 4.6.1.4 TABULEIROS DO ITAPICURU 4.6.1.5 TABULEIROS DO RIO REAL 4.6.1.6 TABULEIROS CosTEIROS 4.6.1.7 PLANICIES DELTAICAS, ESTUARINAS E PRAIAS 4.7 SOLOS 5. CARACTERIZAGAO SOCIO-ECONOMICA E INSTITUCIONAL 5.1 SISTEMA SOCIO-ECONOMICO. 5.2 AGOES GOVERNAMENTAIS NA REGIA 5.3 ORGANIZAGAO SOCIAL 6. PLANIFIGAGAO DA REDE HIDROMETRICA 6.1 CARACTERIZAGAO GERAL DA AREA "1 15 8 18 19 19 S & ge2sss8e8 S82 8 8 2 8 6.2 REDE HIDROMETEOROLOGICA EXISTENTE, 6.2.1 DisPONIBILIDADE DE DaDOs PLUVIOMETRICOS. 6.2.2 DisPONIBILIDADE DE DADOS FLUVIOMETRICOS 6.3 PLANEJAMENTO DA REDE HIDROMETEOROLOGICA 16.3.1 METODOLOGIA 6.3.1.1 PREENCHIMENTO DE FALHAS 6.3.1.2 TESTE DE HOMOGENEIDADE REGIONAL 6.3.2 SELEGAO DE ESTAGOES 6.3.3 CALCULO DA DISTANCIA ENTRE AS ESTAGCES. 6.3.4 PREENCHIMENTO DE FALHAS. 6.3.5 MEDIAS DOS TOTA'S ANUAIS. 6.3.6 REGIME PLUVIOMETRICO 6.3.7 REGIONALIZAGAO 6.3.7.1 ESTAGOES PLUVIOMETRICAS 6.3.7.2 ESTAGOES FLUVIOMETRICAS 6.3.8 REDE OTIMA 6.3.8.1 REDE PLUVIOMETRICA 6.4 CONCLUSOES E RECOMENDAGOES: 6.4.1 PLUVIOMETRIA 6.4.2 REDE FLUVIOMETRICA 7. ESTUDO GEOAMBIENTAL E AVALIAGAO AMBIENTAL 7.4 DIAGNOSTICO GEOAMBIENTAL 7.2 AVALIAGAO DA QUALIDADE AMBIENTAL 8, CARACTERIZACAO E INVENTARIO DOS RECURSOS HIDRICOS 8.1 DISPONIBILIDADE DOS RECURSOS HIDRICOS SUPERFICIAIS 18.1.1 REDE HIDROGRAFICA {8.1.2 DIsPONIBILIDADES HIDRICAS COM BASE EM FLUVIOMETRIA 8.1.2.1 BACIADO Rio VAZA-BARRIS 8.1.2.2 BaciaDo Rio REAL 8.1.3 DisPONIBILIDADES HIDRICAS COM BASE NO METODO DE MOLLE & CADIER 18.1.4 INFRAESTRUTURA HIDRICA - ACUDES 8.1.4.1 AGUDES EXISTENTES 8.1.4.2 AGUDES JAESTUDADOS: .2 DISPONIBILIDADE DOS RECURSOS HIDRICOS SUBTERRANEOS 8.2.1 PARAMETROS Fisicos 1 AQOIFERO FissuRAL 2 AQOIFERO GRANULAR DA BACIA DE TUCANO 3 AQOIFERO GRANULAR TERCIO-QUATERNARIO 8.2.2 PARAMETROS QUIMICOS 8.2.3 CLASSIFICAGAO DA AGUA 8.2.4 QUALIDADE DA AGUA 58 58 8882823888 8 888 22 4 87 93 107 107 107 107 110 112 112 113 114 8.2.4 QUALIDADE DA AGUA 8.2.5 POTENCIAL HIDROGEOLOGICO 8.3 USOS DOS RECURSOS HIDRICOS 8.3.1 RECURSOS HIDRICOS DE SUPERFICIE 8.3.2 RECURSOS HIDRICOS SUBTERRANEOS: 8.4 REDE INVENTARIADA, 9. CENARIOS DE USO DOS RECURSOS HIDRICOS 10. METAS E ESTRATEGIAS E PLANO DE AGOES: 10.1 PLANO SETORIAL DE SANEAMENTO 10.2 PLANO SETORIAL DE IRRIGAGAO, DRENAGEM 10.2.1 IRRIGAGAO E DRENAGEM 10.3 PLANO SETORIAL DE CONTROLE HIDROLOGICO 10.4 PLANO SETORIAL DE CONSERVAGAO AMBIENTAL 10.4.1 CONSERVAGAO AMBIENTAL 10.5 PLANO SETORIAL DE GERAGAO DE ENERGIA HIDRELETRICA 11. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 12. ANEXOS 1146 116 119 119 421 124 125 127 162 162 180 180 198 207 4. INTRODUGAO Na composigSo do Plano Diretor de Recursos Hidricos da Bacia Hidrogréfica dos Rios Vaza Barris @ Real, a regido foi estudada nos seus aspectos fisicos, sécio-econémicos @ hidricos. Esses estudos esto apresentados, de forma sintética, neste relatério, para permitir aos usudrios um conhecimento geral da regiéo. O documento sintese comporta inicialmente a caracterizagao do meio-fisico nos seus aspectos climatolégicos, geomorfolégicos, geolbgicos, geotécnicos, de solos, flora @ fauna. © conhecimento e a compreenséo dos fendmenos climaticos oferecem informagées basicas para @ anélise da organizagao natural de qualquer area, constituindo um dos aspectos essenciais no Planejamento econdmico-espacial ndo sé do espago agrério, como também dos espagos urbanos e de turismo e lazer, projetando-se, ainda, na avaliag4o da qualidade ambiental. A andlise dos componentes morfolégicos associada as caracteristicas topogréficas, litoestruturais e de drenagem permitiu a identificagéo de um conjunto de feigées que caracterizam, geomorfologicamente, a regiéo da Bacia dos Rios Vaza Barris e Real. Para o planejamento eficiente de uma regio 6 necessdrio que se conheca, mais detalhadamente, a érea a ser manejada. Nesse sentido, o mapeamento da cobertura vegetal é de fundamental importancia, devido @ sua capacidade estabilizadora dos ciclos bioquimicos, climéticos e da manuteng&o da biodiversidade nos mais diversos ambientes. As diferentes espécies animais desenvolvem-se em funco do seu ambiente, fundamentadas na ‘sua relagéo com o meio fisico e com outras espécies animais @ vegetais, incluindo ai o ser humano, que, ao modificar as caracteristicas ambientais, cria a possibilidade de desenvolvimento de outras espécies que possam aproveitar-se desses novos ambientes. Em seqdéneia, aborda a caracterizagéo do sistema sécio-econémico e institucional, a Planificagéo da rede hidrométrica, o estudo geoambiental, a avaliago ambiental da regio e a caracterizag4o dos recursos hidricos de superficie e subterraneos. A Planificagao da Rede Hidrométrica consiste no diagnéstico, andlise e esbogo de proposipses no sentido do estabelecimento de uma rede de medi¢&o de varidveis hidrolégicas que satistaga ‘aos objetivos de planejamento, gerenciamento e intervengéo racional e consciente no que tange ao uso da agua. Tratando-se, as aguas, de recursos naturais limitados em quantidade e qualidade e de sua importancia social e econémica, o conhecimento de sua disponibilidade, em ambos os aspectos mencionados, deverd ser baseado em informagSes coletadas, continua e repetidamente, a0 longo-do tempo e de forma distribuida espacialmente, permitindo caracterizar adequadamente as regides sob analise. 1" A Planificagdo da rede hidrométrica da Bacia dos Rios Vaza Barris e Real contibui para uma visdo global de sua configuragdo atual e desejada, visando o registro e a representago dos Parametros hidrolégicos de maneira mais adequada ou, em outras palavras, de forma otimizada, visando orientago no sentido da racionalizago de esforgos e recursos. Os estudos geoambientais tem como objetivo bésico fomecer os meios de compreensso racionalizagéo dos usos do solo, de forma a evitar os danos advindos do seu uso indiscriminado, @ ponto de no compensarem 0 esperado actimulo de capitals gerados pelas atividades econémicas. A caracterizagso @ delimitagto de zonas homogéneas é um dos instrumentos para esse fim. Atualmente existe uma séria preocupagdo em compreender tanto 0 grau de alteragSo dos sistemas naturais sob o impacto da ago antrépica como os riscos que envolvem a utlizagao de tum sistema natural mals frégilrelacionada & possibliidade de a sociedade planejar o seu proprio futuro. Assim, os estudos geoambientais e a avaliagSo ambiental desenvolvidos para a Bada Hidrogréfica dos Rios Vaza Barris @ Real t8m como objetivo subsidiar a elaboragdo do Plano Diretor da referida bacia, contribuindo para a elaboragto de Planos, Projetos e Programas de Trabalho @ para a formulago de uma politica de uso dos recursos hidricos, sem comprometimento de sua sustentabilidade. A caracterizagao da regio em estudo, no que diz respeito aos Recursos Hidricos de Superficie e ‘Subterraneos, visa esbogar um quadro geral das diponiblidades das aguas na regio, dentro do atual grau de conhecimento de suas ocorréncias, quantitativa e qualitativamenta, Tal conhecimento associa-se ao Diagnéstico do Meio Fisico da Bacia, haja vista a estreita relago enlre as ocorréncias hidricas e os aspectos climéticos, geolégicos, geomorfolégicos, pedolégicos, de uso dos solos e outros. ‘Complementa-se tal quadro com o conhecimento das interferénclas antrépicas e com a utilizagao das aguas para quaisquer que sejam os usos, consuntivos ou néo. © Diagnéstico dos Recursos Hidricos da Regio Hidrogréfica do Rios Vaza Barris ¢ Real constitui- Se como nlicleo @ base de apoio, ao nivel do conhecimento, para as andlises, projegbes e ProposigSes inerentes a um Plano Diretor de uso das 4guas, © conhecimento das disponiblidades hidricas, suas quantidades, formas de ocorréncia espacial e temporal, sua qualidade, ao lado das utlizagbes atuais e potenciais, instrumentaliza os analistas empenhados na andlise © definigéo de metas de uso e preservagSo des mananciais sob uma estratégia de racionalismo na exploragao desse recurso natural, imitado, vuinerdvel e de suma importancia social e econdmica. 12 Reese ave A fase superficial est caracterizada brevemente quanto a hidrografia, nos seus sentidos fisico e morfol6gico, & pluviometria e a fluviometria. Essas abordagens so complementares e baseiam- se nos Diagnésticos Geomorfolégico, Climético e de Planificagao da Rede Hidrométrica. Ao lado das andlises quantitativas, os aspectos de qualidade das aguas superficiais tiveram sua caracterizagao desenvolvida. ‘S40 abordados ainda aspectos relacionados a qualidade das 4guas subterraneas, com base nos, sos para abastecimento humano, animal e de irigag&o. apresentado um estudo sobre a composig&o quimica dos aqiiferos, os quais s4o classificados de acordo com os principais tipos hidrogeoquimicos. Por fim, apresenta-se o estado atual de utilizapo das aguas na bacia, seja qual for a finalidade. Com esse diagnéstico, define-se, em conjunto com as disponibilidades, o grau de comprometimento atual dos Recursos Hidricos Regionais. ‘Assim, reunidos todos os aspectos correlacionados, os recursos hidricos deveréo ser compreendidos como um bem piiblico, limitado, vulnerdvel e fundamental para a vida, o que conduz a que as praticas conservacionistas devam sempre ser consideradas. © Inventario de Recursos Hidricos abrange o estudo das disponibilidades hidricas de superficie e subterréneas, baseado na rede inventariada com os pontos caracteristicos relatives a: ‘= obtencdo de informagées hidrolégicas (Postos Fluviométricos); + local de captaco existente, ou possivel, para irrigacao; « local de utilizag&o existente, ou potencial, para geracao hidrelétrica; outros usos com certa importaricia. © inventario visa 0 estabelecimento de cendrios de uso dos recursos hidricos e diz respeito a andlise das utilizagSes efetuadas até o momento atual e a estimativa das possiveis evolugdes no uso das 4guas no futuro. E inerente as atividades de planejamento tracar quadros futuros sobre uma base aceitavel de incerteza, logo significa situar as possibilidades futuras dentro de supostas probabilidades. Ry’ As provavels situages futuras do uso das Aguas baseiam-se no diagnéstico fisico e econémico- social, ligado aos recursos hidricos @ a verificaggo das pontencialidades latentes com vistas a0 incremento ou redugdo das demandas. O estabelecimento dos cenérios de uso das aguas centrou-se na expectativa do crescimento das demandas pelos diversos setores usuarios, a partir do nivel de uso atual, ao longo do tempo. B Baseando-se em todos os dados levantados, foram tragadas as metas e estratégias para o Planejamento do uso dos recursos hidricos da bacia, através da proposicao de agées especificas Para os seguintes Planos Setoriais: - Saneamento Basico; = Itigagao e Drenager ~ Controle Hidrolégico; - Conservagao Ambiental, Turismo e Lazer; - Geragéo de Energia Hidrelétrica, © Estudo dos Recursos Hidricos das Bacias Hidrogréficas dos Rios Vaza Barris e Real é composto dos seguintes produtos: VOLUME! - DIAGNOSTICO REGIONAL Tomo ll - Climatologia, Vegetagao e Fauna Tomo Il - Geologia, Geotécnia Geomorfologia e Solos Tomo ll - Caracterizago Sécio-Econémica e institucional VOLUME II - PLANIFICAGAO DA REDE HIDROMETRICA = CARACTERIZAGAO DOS RECURSOS HIDRICOS VOLUME Ill - ESTUDO GEOAMBIENTAL E AVALIAGAO AMBIENTAL VOLUME IV -_ INVENTARIO DOS RECURSOS HIDRICOS VOLUME V - PLANO SETORIAL Tomo | - Saneamento Basico Tomo Il - Inrigagdo e Drenagem Tomo Ill = Controle Hidrolégico Tomo —IV- Conservagdo Ambiental, Turismo e Lazer Tomo V - Geragdo de Energia Hidrelétrica VOLUME VI- RELATORIO INSTITUCIONAL VOLUME Vil- RELATORIO GERENCIAL DOCUMENTO SINTESE “ a TA ne eee == 2. LOCALIZAGAO A rea objeto do presente estudo esté situada entre os paralelos 9°45' e 11°45' S @ os meridianos 37° 30' e 39° 45 W. Através do mapa de localizag&io a seguir, podem-se identificar os principais rios que compéem a bacia, as principais vias de acesso e os municipios que estéo inseridos na area. A Bacia do Vaza Baris na Bahia drena os municipios da regiéo econdmica Nordeste do Estado (Uaua, Monte Santo, Euclides da Cunha, Macururé, Jeremoabo, Pedro Alexandre, Coronel Jodo ‘$4, Antas, Cicero Dantas e Paripiranga). O seu principal rio nasce na Serra da Canabrava, no Municipio de Uaud, enquadrado no sistema geral Espinhago/Diamantina, com diregao oeste-este até sua desembocadura no Oceano Atlantico. Os principais rios e riachos que compéem a Bacia em estudo sao: + Riacho Ipueira, Rio Séo Paulo, Rio Bendengé, Riacho do Cipé, Rio Mandacaru, Rio do Rosério, Riacho das Barreiras, Riacho Pau de Ferro, Rio Caralba, Riacho José Gregério, Rio Salgado, Rio Quingones, Rio Tingiii, Riacho Baixa do Sarita, Riacho Velha Passagem. © Rio Real nasce no Municipio de Pogo Verde, no Estado de Sergipe, tomando a diregao sudeste e desembocando no Oceano Atléntico. Constitui-se numa estreita faixa que banha os municipios baianos limitrofes a Sergipe (Paripiranga, Antas, Cicero Dantas, Ribeira do Pombal, Ribeira do Amparo, ttapicuru, Rio Real, Jandaira e Conde). Os principais rios e riachos que compéem a bacia sao: * No estado da Bahia, Riacho Balxa do Tubardo, Riacho do Saco, Riacho Pedenga, Rio Apraius; ‘+ No estado de Sergipe, Riacho do Urubu, Riacho Carepau, Riacho Jacarezinho, Rio Jabiber, Riacho Periperi, Rio Itamirim, Rio Mocambo. A principal via de acesso para a regiéo do Vaza Barris ¢ através da BR-116, passando por Euclides da Cunha, indo até Uaud, no extremo oeste da bacia. Outra via de acesso 6 a BR-235, que margeia o rio Vaza Barris e atravessa a 4rea da bacia no sentido oeste-leste. Para a regiéo do Rio Real, 0 acesso pode ser feito através da BR-101 até as proximidades das cidades de Rio Real e Jandaira e a partir dai o deslocamento é feito através da BA-398. Recentemente inaugurou-se a BA-099 (Linha Verde), que liga Salvador a Itanhi a leste da bacia. Quanto configuragao geopolttica, a regido abrange 21 municipios em uma area de 14.503 km* para a Bacia do Rio Vaza Barts ¢ 2.284 km* para a Bacia do Rio Real. 6 COMVENCOES CARTOCRARICAS 3. APOIO INSTITUCIONAL 3.1 COORDENAGAO E GESTAO A Secretaria de Recursos Hidricos, Saneamento e Habitagdo € a responsdvel pela coordenago do Plano Diretor de Recursos Hidricos da Bacia do Rios Vaza Barris e Real, através da ‘Superintendéncia de Recursos Hidricos - SRH. 3.2 ASPECTOS LEGAIS Os dispositivos legais e normativos relativos aos recursos hidricos, inclusive a nivel constitucional, considerados no planejamento dos recursos hidricos da Bacia dos Rios Vaza Barris e Real compreendem: + Constituig&éo Federal * © Capitulo Il - Da unio @ o Capitulo Ill - Dos Estados, nos artigos 22 e 26, respectivamente, definem a agua como bem piblico, sob dominio da Uniéo ou do Estado, conforme sua situagdo geogréfica, * © Artigo 21, inciso XII, alinea b, difine a competéncia da Unido para explorar, direta ou mediante outorga do direito de uso, o aproveitamento energético dos cursos d’ 4gua em articulago com os Estados, Incisos XVIII e XIX desse mesmo artigo explicitam a competéncia da Unido para planejar e promover a defesa contra calamidades piblicas (secas @ inundagées) e instituir sistema nacional de gerenciamento dos recursos hidricos. * © Artigo 22, inciso IV, estabelece a competéncia exclusiva da Unido para legislar sobre as aguas, embora, nesse mesmo artigo, fique estabelecida a possibilidade de lei complementar autorizando os Estados a legislar sobre questées especificas referentes as aguas. * © Artigo 23 estabelece que compete & Unido, aos Estados e aos Municipios, de forma comum, registrar, acompanhar e fiscalizar as exploragdes dos recursos hidricos em seu terrtério. + © Pardgrafo 1° do Artigo 20 assegura aos Estados e aos Municipios a patticipagéo no resultado ou compensacdo financeira relativa & exploracdo dos recursos hidricos, dentre outros recursos, = 0 Decreto Presidencial n° 1 de 11/01/91 regulamenta a Lei Federal n® 7.990 de 23/12/89 define os critérios para distribuig&o mensal dos recursos relativos a compensagées financeiras anteriormente definidas. = 0 Cédigo das Aguas, de 1934, e o Decreto Presidencial n° 24.643 de julho/34 definem Aguas publicas, comuns e particulares, tratam do principio de outorga, modalidades de concessdo e garantia de acesso as aguas, buscando atender as necessidades de vida.- 8 Constituigéo Estadual * © Capitulo V traga as diretrizes a serem observadas pela Politica Hidrica ¢ Mineral a * No Artigo $8, © Estado transfere para o dominio municipal as éguas dos mananciais : totalmente contidos em um s6 municipio, i‘ * © Artigo 199 prevé, na forma da lei, que seré instituldo um Plano Estadual de Recursos. Hidricos, fe * OArtigo 200 estabelece critérios de cobranca das aguas, i * OQ Artigo 204 define a necessidade de lei complementar que disponha sobre a reparti¢ao dos recursos orlundos da participagéo na exploragéo, ou da compensaco financeira, destinada a0 Estado, * Q Artigo 203 dé prioridade aos programas de imigagéo e eletrficagao rural. * © Aigo 216 Capitulo Vil, trata das reas de preservago © proteggo de nascentes ¢ margens de rios. * OArtigo 226 trata de langamento de residuos industriais e esgotos. ~ Foi aprovada em 12/05/08 a lei 8855, que istituiu o "Plano Estadual de Recursos Hidricos” ~ Sistema Gerencial Estadual para a gestéo ambiental, composto pelo CEPRAM e CRA - responsaveis pela implementagao da politica estadual e protegao ambiental 3.3 ASPECTOS INSTITUCIONAIS 3.3.1 ENTIDADES ATUANTES NA AREA. SoBe ne te ta eh NIVEL FEDERAL IBAMA + Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais e Renovaveis INCRA > Instituto Nacional de Colonizagao e Reforma Agraria FNS + Fundago Nacional de Satide EMBRAPA - _ Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecudria CPRM + Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, INEMET - Instituto Nacional de Meteorologia SUDENE > Superintendéncia de Desenvolvimento do Nordeste FIBGE > Fundagdo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica Agentes Financeiros - Banco do Brasil e Banco do Nordeste NIVEL ESTADUAL CRA = Centro de Recursos Ambientais SRHSH > Sercretaria de Recursos Hidricos, Saneamento e Hat DERBA > Departamento de Estradas e Rodagens da Bahia CERB = Companhia de Engenharia Rural do Estado da Bahia EMBASA > Empresa Baiana de Aguas e Saneamento S.A. EBDA ~ _ Empresa Baiana de Desenvolvimento Agricola CAR = Companhia de Desenvolvimento e Agdo Regional SEC > Secretaria de Educagdo e Cultura COELBA - Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia TELEBAHIA - Telecomunicagées da Bahia S.A. SRH > Superintendéncia de Recursos Hidricos Lone 4. CARACTERIZAGAO DO MEIO FISICO 4.1 CLIMATOLOGIA A situagao geogréfica das Bacias Hidrogréficas do Vaza Baris e Real faz com que o clima das reas abrangidas seja caracterizado por altas médias termométricas, que variam de 25°C (litoral) a 23°C (sertéo de Uaud, cabeceira do Vaza Barris), © por forte evaporacéo, que varia de 1.200mm (ltoral) para 500mm (sertéo de Uaua).. A precipitagao pluviométrica mostra uma distribui¢ao espacial muito desigual, dividindo a 4rea ‘em duas faixas: uma considerada Umida, delimitada pelas isoietas de 800mm a mais de 1.800mm, disposta paralelamente ao litoral e atingindo o sertéo paralelamente a latitude 10° 30’; @ outra, considerada seca, @ delimitada pelas isoietas de 800mm a menos de 500mm, dominando todo o sertéo semidrido, onde predominam precipitagses em tomo de 600mm anuais. Utlizando-se 0 indice de umidade de Thornthwaite, so delimitadas trés regides de umidade distintas: @ primeira compreende o litoral e a regiéo da cidade de Jandaira, com indices de +20mm, caracterizando um clima Gmido a subimido fraco; a segunda, compreendida no Municipio do Rio Real, com indices de +20 @ -20 mm que definem um clima subUmide fraco; a terceira jo Municipio de Rio Real ao extremo ceste da area, com indices abaixo de - 20 mm, definindo um clima semi-arido. Dados referentes aos elementos de pressdo, nebulosidade, insolagéo e ventos séo raros e referem-se ao final da década de 70 e inicio de 80 e, desse modo, impossibilitam determinar de forma acurada a quantidade, distribuigéo e variabilidade dos mesmos. Faz-se necessaria,, portanto, a implantagdo de um érgao centralizador que mantenha postos meteorolégicos para coleta continua dos dados, divulgando-os através de publicagao de facil acesso. Finalmente na classificago climatica da rea utilizou-se 0 indice de umidade de Tormthwaite, sendo definidos cinco climas regionais: a) Umido @ subumido - corresponde ao litoral e mostra precipitagses de 800 a 1.800mm, excedente hidrico acima de 100 e evapotranspiracao real e potencial altas (+1.200mm @ +400mm); b) subiimido - corresponde & regiéio do Municipio de Rio Real com pluviometria média anual de 1.200 a 1.000mm, indice de umidade de +20 a -20, excedente hidrico de 0 a 400mm e evapotranspiraco real anual entre 1.200 e 1.000mm; ¢) Subtmide a semi-drido - corresponde a drea conhecida como Agreste, zona de transicao entre 0 litoral umido e 0 sert&o semi-drido. Os totais pluviométricos variam de 500 a 1.200mm, © indice de umidade de -20 a -40 e o excedente hidrico de 400mm a 0; 20 4) semi-érido - refere-se a Bacia do Vaza Baris e aos municipios de Heliépolis e Tobias Barreto (SE), com totais pluviométricos préximos de 600mm anuais, sendo que o periodo chuvoso vai de dezembro a margo, © excedente hidrico varia de 100mm a 0 © a evapotranspiracgo real estd entre 800 e 500mm; ©) semi-arido a arido - ocorre nas cabeceiras do Rio Vaza Barris, com precipitago total anual abaixo de 500mm, sem excedente hidrico anual, com uma deficiéncia hidrica anual que varia de 750 a 1050mm e um indice de umidade entre -20 e -60. QUADRO 4.1 - PARAMETROS DAS VARIAGOES MESOCLIMATICAS NO ESPACO CLIMATICO REGIONAL [PSS mA | RRRESE | PRESPTAGIO|| XCEDENTE [OS WESER | DEFIGRNGI [IF OE MESES ERPERATIRA] ESPACIAL "| neoionaL | UmipADE | TOTALANUAL | “Hiomico® |vexeesered nismee ‘any | aaeuat cin) uA a) ae aE [5 Sista ore rms a=, FP anes | ts | et 02a sar aido Fr Sabino | 0323} tao] a0 B= ema * 0-808] aa ae z = =3 CF e880] —o Teer Fort: Fonseca & Azevedo, 1963 4.2 VEGETAGAO Este estudo integra o Plano Diretor das Bacias Hidrogréficas do Rio Vaza Barris e do Rio Real, localizadas nas regides Nordeste e Litoral Norte do Estado da Bahia. Apresenta como resultado o mapeamento na escala 1:500.000 das diferentes Regides Fitoecolégicas presentes na drea e a dindmica de ocupacao do uso do solo. Para atingir este objetivo, foram utlizados vasto material bibliogréfico, imagens de satelite e controle de campo. Apés varias fases de ajustamento e integragSo dos dados coletados, definiu-se a LEGENDA, langando-se o tema em base cartogréfica. Na classificagao da cobertura vegetal @ Areas antropicas, optou-se por seguir os critérios ‘@xonémicos da metodologia do Projeto RADAMBRASIL, com algumas adaptagées. Nessa classificagao, a vegetago é separada em regises fitoecolégicas, entendidas como “éreas de floristica determinada de formas biolégicas proprias, que se repete num mesmo tipo climatico, ocorrendo, ainda, em terrenos de litologia variada e relevo bem definido". 21 Re LEGENDA TIPOS CLIMATICOS Dumoo 4 susamo Sumas recouais | F ame | 6 samanco Hi sewamao 4 sao 1 Fone 2 woo 3 eco ESOCLIMAS. mens ° CONVENGOES. CARTOCRAFICAS: memo marr € acto ‘Assim, nas bacias estudadas foram identificadas trés regiées fitoecologicas distintas - Cerrado (Savana), Caatinga (Estepe), Floresta Estacional Semidecidual, além das Formagbes Pioneiras, Areas de Tensfo Ecolégica e Areas Antrépicas. © Cerrado (Savana) ocupa uma faixa estreita nas bordas dos Tabuleiros do Itapicury, limitando- se para leste com 0 Tabuleiro do Rio Real. clima varia de subdmido a semi-drido, com totais pluviométricos entre 900 & 600 mm anuais. Essas formagies s8o essencialmente edéficas, sondo capazes de resistir 4 seca. Apresentam estrato arbéreo arbustivo @ herbéceo graminéide. No estrato arbéreo as érvores so esparsas, baixas, de casca corticosa, troncos tortuosos muito flexlveis caracterizados com espécies como a lixeira (Curatella americana), para-tudo (Tecoma aurea), murici (Byrsonima sp) entre outras, No estrato herbéceo gramindide predominam arbustos, subarbustos e gramineas. ‘A Caatinga ooupa grande extensSo na Bacia do Rio Vaza Barris. O cima 6 de semi-érido a arido com perfodos secos prolongados e chuvas irregulares. E uma formagao xeréfila, lenhosa, decidua, rica em cactéceas e bromeliéceas, Expressa-se como uma mistura complexa de formag6es diferenciadas em sua composigao, densidade e porte das plantas, que foram agrupadas em arbérea densa, arbérea aberta e tipo parque, com presenca ou no de palmeiras. Predominam as espécies de cactéceas, a exemplo do xique-xique, mandacaru e facheiro. Num clima mais Gmido, préximo ao litoral, domina a Regido da Floresta Estacional Semidecidual, que se encontra bastante alterada, com alguns remanescentes cedendo espago as atividades agropastoris. Nas planicies deltaicas, estuarios e pralas predomina uma cobertura vegetal tipica de primeira ‘ocupagtio, a exemplo dos manguezais e da vegetacao de restinga. Nas zonas de intensa transic&o climética e variadas faceis litologicas, ocorre um processo gradual de adaptaco da cobertura vegetal a essas instabilidades. Al, duas ou mais regiées fitoecolégicas se justaposicionam, se interpenetram, ora misturando-se ou guardando sua identidade sem se misturar, constituindo as 4reas de Tenséio Ecolégica. Nesses ambientes foram identificados os contatos Cerrado/Caatinga; Cerrado/Floresta Estacional; Caatinga/Floresta Estacional e Cerrado/Caatinga/Floresta Estacional. {As dreas antropicas referem-se as superficies de maior concentrago das atividades agropastoris. Na sub-bacia do Rio Real dominam cuitivos de laranja, maracujé, coco, mandioca, milho, feljdo e silvicultura (eucalipto) & qual se associam pastagens e vegetagdo secundéria. Na Bacia do Rio Vaza Barris, em fungo das condigbes adversas do melo, no que diz respeito aos balxos indices pluviométricos, sua irregularidade e a elevada deficiéncia hidrica, as atividades agricolas ficam condicionadas aos periodos chuvosos através de cultivos tradicionais como feiido, milho e mandioca. A agricultura imigada 6 praticada nas proximidades do agude de Cocorob6, em alguns trechos do Rio Vaza Barris, nos municipios de Canudos e Jeremoabo, principalmente, com cultivos de tomate, pimentdo, melaio, melancia, manga, banana entre outros. A pecuaria & representada, nos municipios de Uaud, Canudos e Jeremoabo, pela caprinocultura ©, nos demais municipios que comp6em a Area, pela bovinocultura em caratér extensivo. 'Nos limites das bacias em questo encontram-se algumas areas de protegdio aos ecossistemas como @ Estago Ecolégica do Raso da Catarina, iocalizada ao norte da bacia do Rio Vaza Barris, © duas reas de protegdo ambiental na sub-bacia do Rio Real, a APA do Litoral Norte e de Mangue Seco, estas ditimas com Plano de Manejo concluido. Constata-se que a regio encontra-se bastante alterada pela ago antropica, cujas atividades vem Provocando desequilibrios aos ecossistemas naturais, necessitando-se de um planejamento @ficiente dessas alividades buscando uma utilizagao racional dos recursos naturais, 4.3 FAUNA A fauna reflete a adaptacto dos diferentes biomas constituindo-se num indicador biolégico tao importante quanto a cobertura vegetal, quando relaciona as modificagdes do meio ambiente com @ qualidade de vida por ele condicionada. Por esse motivo, a riqueza e a diversidade de espécies nunca foram to importantes como agora, em virtude da ameaga constante a que estado ‘submetidos os ecossitemas pela agzo do homem. Do ponto de vista da distribuigto ecolégica, a grande maioria da fauna terrestre enquadra-se ‘como formas umbréfilas - adaptadas para viver na sombra das florestas @ brejos - ou como formas helidfilas - tipicas de ambientes abertos como 0 Cerrado e a Caatinga, | NOW Neto | i), | a 7 le uge g i | 2 a fle yaa ble] | le Gl No semisérido, posiggo em que se insere grande parte da area estudada, a estiagem representada pela escassez e até auséncia da agua condiciona a fauna, sua diversificacao e resistencia. A medida que a aridez se acentua, a diversidade de espécies diminui, tendo como conseqiiéncia a redudo do numero de individuos. No ambiente da Caatinga, espécies como a anta (Tapirus terrestris L.) e a capivara (Hydrochoerus hydrochoerus L.) desapareceram pela auséncia de 4gua, enquanto a ema (Rhea americana L.) e a siriema (Cariana cristata L.) permanecem porque so mais resistentes. Entre as aves, s4o representativos 0 gaviéo comum, o anu preto, 0 urubu, 0 tico-tico, 0 passaro preto, a rolinha e outros. Ccorre a presenga de tatus e preds, muito cagados na area, aumentando os riscos de extingo das espécies. No cerrado e nas areas de transig4o, a maioria dos animais s4o espécies de ampla distribui¢ao como © porco do mato, o tamandud-bandeira, a capivara, o veado, a siriema, @ anta @ 0 tatu. Alguns representantes desse bioma estéo ameagados de extin¢do, a exemplo do tatu-bola, do veado-campeiro, do lobo-guara e da ariranha. Diversas espécies da fauna dessa regiéo encontram-se na Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameagada de Extingdo, destacando-se na Bacia do Rio Vaza Barris a arara-azul-de- lear, ave que habita a regio conhecida como Raso da Catarina, abrangende os municipios de Uaud, Canudos @ Jeremoabo, que vem se tornando rara com a devastagao do seu habitat natural. ‘A parte mais imida do espago estudado conta com duas areas de protego ambiental, as APAS do Litoral Norte e de Mangue Seco, ambas com Plano de Manejo definido. Na APA de Mangue Seco existe uma base de nidificago e desova de tartarugas marinhas do Projeto Tamar. Nessa 4rea foram realizados levantamentos faunisticos e catalogadas 157 ‘espécies onde se incluem aves, répteis, peixes, mamiferos, anfibios, moluscos, crustaceos € insetos, 4.4 GEOLOGIA [A geologia da regiéo do Estado da Bahia que esta situada ao longo das Bacias dos Rios Vaza Barris e Real 6 representada por quatro pores de dominios geotecténicos, definidos pela literatura geolégica come Craton do Sao Francisco (1), Faixa Sergipana (2), Bacia do Tucano (3) @ 0s Depésitos Cenozéicos (4) (Figura 4.1). A porgdo do Craton do Sao Francisco (1) ocorre nas cabeceiras do Rio Vaza Barris e compreende rochas de idade arqueana a paleoproterozsica (> 2,3 ba - 1,8 ba). Esse 26 SECs eee eee embasamento geolégico ¢ composto por gnaisses de origem priméria ignea (tipo tonalito - \roncihjemito-granodiorito) que foram submetidos a processos de metamorfismo de alto grau com fusdo granitica associada. Estes gneisses englobam a sequéncia vulcanossedimentar Genominada de Rio Capim e corpos igneos intrusivas do tipo soleira, dique e pluton acamadado, de composigao basica-ultrabasica, A seqiléncia Rio Capim ocorre a oeste do agude de Cocorobé, em uma area aproximada de 12 km? e € constituida por metabasitos gabréicos, metatufos basalticos, metapirociasticas acidas e metassedimentos quimico-exalativos com metamorfismo tipice de médio grau (facies anfibolito), A Faixa Sergipana (2) representa uma sucesséo de seqiéncias sedimentares geradas e metamorfisadas durante 0 Ciclo Brasiliano (1,4 a 0,65 m.a) subdivididas em Grupos Vaza Barris, ‘Simao Dias, Macururé, Miaba, Estancia e Complexo Maranco. © Grupo Vaza Barris engloba metacarbonatos, fiitos e xistos conglomeraticos gerados em ambiente ltoraneo de submaré, abaixo do nivel de ondas, sendo os primeiros comespondentes a ambientes de plataforma e o ultimo a fluxo de detritos em talude continental, © Grupo Siméo Dias € composto por metapelitos arenosos depositados por correntes de turbidez. ‘em ambiente marinho aberto. © Grupo Macururé representa um terreno vulcanossedimentar com vulcdnicas de composigao Acida e metaritmitos contendo corpes intrusivos granodioriticos que geraram metamorfismo de contato, © Grupo Miaba € constituide por uma sequéncia de sedimentos continentais (quartzitos ‘metaconglomerados) e por uma seqiiéncia plataformal carbonatada, © Grupo Estancia representa um outro terreno de ambiente marinho constituido por sedimentos terrigenos recobertos por metacalcarios. Por fim, 0 Complexo Marancé representa uma bacia vuleanossedimentar com metavulcdnicas e metaplut6nicas acidas @ intermediérias sotopostas a metacarbonatos e metarenitos com diques associados de metabasitos, serpentinitos e metadiabasios. As interpretacdes mais atualizadas para evolugo geotecténica da Faixa Sergipana (2) envolve a aproximagao e a colagem de diferentes porpées da superficie terrestre ao paleacontinente do Craton do Sao Francisco. Esses processos de acres¢o continental foram desenvolvidos durante 2 tectogénese ocorrida no Ciclo Brasiliano @ as estruturas originadas, dobras redobradas @ falhamentos com componentes de transcorréncia e de empurréo (Falhas de Séo Miguel do Aleixo ¢ de Belo Monte-Jeremoabo), contém indicadores cinematicos que indicam transporte tectonico de NE para SW. ar

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