Você está na página 1de 22
\ a @ ©0000 Ativagao, estresse e ansiedade ‘Apés ler este capitulo, voce deverd ser capaz de: 1. Discutira natureza do estresse e da ansiedade (0 que so e como sao medidos) 2. Identiicar as principais fontes de ansiedade e estresse 3. Explicar como e por que as emogdes relacionadas a ativagao e a ansiedade afetam 0 desempenno 4. Comparar e diferenciar formas de regular ativacao, estresse e ansiedade Jason chega para rebater no final do ultimo tempo com duas bolas fora e dois homens na base. Com uma rebatida, seu time vencera o campeonato estadual; com uma bola fora, 0 time perderd 0 maior jogo da temporada, Jason posiciona-se no lugar do batedor, seu coragdo esta aos saltos, ele sente algo estranho no es- témago © no consegue manter a concentragd0. Pensa, ento, no que uma vitdria significard para seu time e no que as pessoas pensardo dele se nao rebater. Cravando as travas da chuteira na terra, Jason aperta 0 bastao, faz uma pequena oragio e aguarda o primeiro arremesso. Se vocé pratica esporte, provavelmente jé enfrentou a grande ativacio e ansiedade de situagSes como a de Jason. Analise a citagdo a seguir, de Bill Shanky, ex-ge- rente do Liverpool Football Club, relativa & importancia de vencer e perder num esporte competitive. Ha pessoas que acham que o futebol é coisa de vida ou morte. Nao sou assim. Posso assegurar a elas que le 6 muito mais importante que isso. (Shanky, 1961) Aiinda que a pressao seja bastante real em locais de servigos de emergéncia ¢ militares, onde vida e morte podem realmente estar nas maos das decisOes de alguém, em suas habilidades de enfrentamento e desempenho eventual (Janelle e Hatfield, 2008), sucesso € fracasso em esportes competitivos — especialmente nos niveis mais elevados ~ também podem produzir extrema an- siedade. A historia esti repleta de atletas que tiveram de- sempenhos extraordindrios sob pressio (ver 0 Capitulo 11 que abordaa resisténcia mental) e aletas que tiveram péssimo desempenho (ver o Capitulo 16, que aborda ato de ‘amarclar"). Nao surpreends que a relagde entre ansiedade competitiva e desempenho constitui um dos assuntos mais debatidos e pesquisados na psicologia do esporte (revisdes podem ser encontradas em Hanton, Neil Mellalieu, 2008, 2011). Psicélogos do esporte e do exercicio ha muito estudam as causas e 0s efeitos da ativagao, do estresse ¢ da ansiedade no ambiente es- portivo competitive e em outras dreas de atividade fi- siva. Muitos profissionais da satide esto interessauus nos beneficios fisioldgicos e psicologicos do exercicio regular. O exercicio praticado regularmente diminuiu 0 nivel de estresse? Pacientes com graves transtornos de ansiedade se beneficiam de treinamento aerobico inten- sivo, necessitando de menos medicacdo? Para pessoas que tiveram uma péssima experiéncia na égua, imagine como pode ser estressante aprender a nadar. Como os professores podem reduzir essa ansiedade? Definindo ativagao e ansiedade Embora muitas pessoas usem os termos ativacdo, estres- ‘see ansiedade indiferentemente, 0s psicilogos do espor- tee do exercicio consideram importante diferencié-los Eles usam definigdes precisas para os fendmenos que estudam para ter uma linguagem comum, reduzir con- fusdes e diminuir a necessidade de longas explicagdes. Ativagao Ativagao & uma combinagao de atividades fisiolégicas € psicolégicas em uma pessoa ¢ refere-se a dimensies de intensidade da motivago em determinado momento. ‘A intencidade da ativagio ooorre ao longo de um con timuum (Figura 4.1), variando de nem um pouco exci- 4 7 w T2__ Fundamentos da psicologia do esporte e do exercicio FIGURA 4.1 O continuum de ativagao. tado (isto €, comatoso) a completamente excitado (isto 6 frenético; ver Gould, Greenleaf e Krane, 2002). Indi- viduos altamente ativados ficam mental e fisicamente ‘xcitadoos tim batimentos eardiacoa, roapiragao © do rese aumentados. A ativago ndo esti automaticamente associada a eventos agradaveis ou desagradaveis. Vocé pode ficar altamente excitado ao saber que ganhou 10 mithdes de délares. Poderia ficar igualmente excitado a0 saber da morte de uma pessoa querida, jiedade, genericamente falando, & um estado emo- ccional negativo caracterizado por nervosismo, preocupa- ‘do € apreensiio, associado a ativagao ou a excitagao do corpo. (Ainda que a ansiedade seja percebida como ne- gativa ou desagradavel, nfo influencia necessariamente ‘odesempenho de forma negativa; isso ¢ abordado mai adiante neste capitulo). Em situagdes esportivas, ansie- dade tem a ver com “um estado psicoldgico desagradavel ‘em reagdio aestresse percebido arespeito de desempenho de uma taref sob pressdo” (Cheng, Hardy e Markland, 2009, p. 27). A ansiedade tem um componente de pen- ‘samento (como preocupagao e apreensdio) chamado de ansiedade cognitiva, Apresenta também um compo- nente de ansiedade somaitica, que € 0 grau de ativagao fisica percebida. Além da diferenciagao entre ansiedade cognitiva e somética, outra diferenga importante a fazer entre estado de ansiedade e trago de ansiedade, PONTOS-CHAVE + Ativagdio é uma excitagdo fisiolégica e psicols- gica geral, variando em um continuum de sono profundo a intensa excitagao. + Ansiedade ¢ um estado emocional negativo em que sentimentos de nervosismo, preocupagio € apreensio so associados a ativagao ou excita- 0 do corpo. Estado de ansiedade As vezes nos referimos a ansiedade como um compo- nente eetvel da persenalidade: eutras, para descrever um estado de humor varidvel, Estado de ansiedade refere-se ao componente de humor em cons- tante variagdo. E definido mais formalmente como um estado emocional “caracterizado por sentimentos sub- Jetivos de apreensdo e tens, conscientemente percebi- dos, acompanhados por ou associados com ativagao ou excitagao do sistema nervoso autGnomo” (Spielberger, 1966, p. 17). Exemplicando, 0 nivel de estado de ansie- dade de uma jogadora altera-se de um momento para ‘outro durante um jogo de basquetebol. Ela pode ter um nivel levemente elevado de ansiedade (sentindo-se um [pouco nervosa e percebendo as batidas do coragdo) an- tes da bola a0 alto, um nivel mais baixo depois de entrar no ritmo do jogo e, entio, um nivel extremamente alto (sentindo-se muito nervosa, com 0 coragao acelerado) hos minutos finais de uma disputa acirrada, Fstada de ansiedade cognitiva diz respeita a0 gran ‘em que a pessoa se preocupa ou tem pensamentos ne- gativos, enquanto Estado de ansiedade somitica refe- te-se s mudangas de momento a momento na ativagao fisiolégica percebida, O estado de ansiedade somatica no é necessariamente uma mudanga na ativagdo fisi- ca da pessoa, e sim sua percepeaio dessa mudanga, Pes- quisas recentes sugerem a existéncia de um controle percebido, ou componente de regulagao do estado de ansiedade; isto €, 0 grau em que a pessoa acredita ter 0s recursos € a capacidade de enfrentar os desafios ¢ tam- bém um elemento importante do estado de ansiedade (Cheng, Hardy e Markland, 2009), PONTO-CHAVE 0 estado de ansiedade & um esta- do emocional temporério e altamente varidvel, de sentimentos conscientemente percebidos de apreen- io e tenso, associados a ativagdo do sistema ner- ‘yoso auténomo. Trago de ansicdade Ao contrario do estado de ansiedade, o trago de ansieda- de faz parte da personalidade, sendo uma tendéncia ou dis- posig2o comportamental adquirida que influencia o com- portamento, im particular, o trago de ansiedade predispie ndividuo a pereeber como ameagadoras uma ampla va- riedade de circunstincias que objetivamente podem nao set de fato perigosas, fisica ou psicologicamente. A pessoa responde a essas circunstancias com reayires ou niveis de estado de ansiedade, desproporcionais em intensidade e ‘magnitude ao perigo objetivo (Spielberger, 1966, p. 17) Por exemplo: dois jogadores de futebol com habi lidades fisicas iguais podem ser colocados sob idént pressio (como bater um pénalti ao final do jogo) e, contudo, ter reagdes de estado de ansiedade inteiramente diferentes devido as suas personalidades (ou seja, seus niveis de trago de ansiedade). Rick é mais tranguilo (bai xo trago de ansiedade) e ndo considera que bater um pé- nalti que pode vencer 0 jogo seja algo excessivamente ameagador. Portanto, ele ndo experimenta um estado de ansiedade mais intenso do que o esperado em tal situa- ga0. Ted, entretanto, tem elevado trago de ansiedade; assim, considera a chance de bater (ou, em sua visio, de perder) um pénalti como muito ameagadora. Ele ex- perimenta tremendo estado de ansiedade ~ muito mais Intenso do que o esperado ma situacd. Coneluindo, como o estado de ansiedade, 0 trago de ansiedade tem componentes diferentes. Por exemplo, a Sport Anxiety Scale, originalmente desenvolvida por Smith, Smoll e Schutz. (1990) e atualizada e ampliada para atletas jovens (a Sport Anxiety Scale-2; SAS-2) Smith, Smoll, Cumming e Grossbard, 2006) ¢ uma das ‘medidas mais utilizadas na especialidade e divide o trago de ansiedade em trés componentes, bem como um escore total. Os tr83 componentes incluem trago de ansiedade somatico (0 grau em que uma pessoa costuma perceber sintomas fisicos aumentados, como tensdo muscular), trago de ansiedade cognitivo (0 grau em que uma pessoa costuuma se preocupar ou tem autodiividas) e a ruptura de concentragdo (0 grat em que a pessoa costuma ter a concentragao interrompida durante uma competigao). \Vejaa Figura 4.2 para um resumo das inter-relagdes en- tre ativagao, trago de ansiedade e estado de ansiedade. PONTO-CHAVE O traco de ansiedade ¢ uma dispo- sigdo comportamental de perceber como ameagado- ras circunstdncias que objetivamente podem nio ser perigosas e de, assim, responder a elas com estado de ansiedade desproporcional. Pessoas com trago de ansiedade elevado costumam ter mais estado de ansiedade em situagdes de avaliagao e naquelas al- tamente competitivas, comparativamente as pessoas com trago de ansiedade mais baixo. Ativagao, estresse e ansiedade 73 Medindo ativagao e ansiedade Psicslogos do esporte e do exercicio medem a ativagao, © estado de ansiedade eo trago de ansiedade de varias formas fisiolégicas e por meio de medidas psicologi- cas, Para medi a ativagdo, eles observam mudangas nos seguintes sinais fisiolégicos: frequéncia cardiaca, respiragdo, condutividade cuténea (registrada em um medidor de voltagem) e bioquimica (usada para avaliar alteragdes em substdncias como as catecolaminas). Tam- bbém observam como as pessoas classificam seus niveis de ativago, usando com uma série de afirmagdes (co- mo “meu coragao esta pulando”, “sinto-me animado”), usando escalas numéricas que variam de baixo a alto Essas escalas stio chamadas de medidas de autorrela- to de ativagio e ansiedade Paramedir oeetado de ansiedade, os prisélogos usam medidas de autorrelato globais e multidimensionais, Nas medidas globais, as pessoas classificam 0 quanto se sentem nervosas usando esealas de autorrelato de baixo a alto, Um escore total ¢ calcutado pela soma dos escores de itens individuais. As medidas de autorrelato multidimensionais so usadas quase da mesma maneira, mas as pessoas classifica o nivel de sua preocupae: (estado de ansiedade cognitive) e quanto estio fisio- logicamente ativadas (estado de ansiedade somatico), mais uma vez usando escalas de autorrelato que variam de baixo a alto, Escores de subescala para a ansiedade cognitiva e somatica sto obtidos pela soma dos escores dos itens que representem cada tipo de estado de an- siedade. Escalas especificas ao esporte, que medem 0 estado de ansiedade no esporte, foram criadas para um melhor prognéstico do estado de ansiedade das pessoas com situagdes de esporte competitive. Um exemplo 6 0 amplamente empregado Competitive State Anxiety In- ventory-2 (CSAI-2) (Martens, Vealey e Burton, 1990), mostrado na pagina 75. Psicélogos também usam autorrelatos globais e mul- tidimensionais para medir o trago de ansiedade. Os for- matos dessas medidas so semelhantes aos das avalia- ges de estado de ansiedade, mas, em vez.de as pessoas Classificarem seu grau de ansiedade naquele momento, respondem a como “normalmente” se sentem, Escalas de trago de ansiedade especificas ao esporte foram eria- das; um exemplo a SAS-2 antes referida (Smith et al., 2006), Para melhor entender as diferengas entre estado de ansiedade cognitivo, estado de ansiedade somatico e trago de ansiedade no esporte, responda as pergun- tas-modelo das escalas de autorrelato CSAI-2e SAS-2 Existe uma relagdo direta entre os niveis de trago de anaiedads © eatado de anaicdade de uma peavea. Aa pesquisas mostram, com consisténeia, que aqueles que obtém escores altos nas medidas de trago de ansiedade 4 Fundamentos da psicologia do esporte e do exercicio Estadoe Trata-se de uma ativagao fsiolégica e psicol6gica geral do ‘organismo que varia de um continuum de sono profundo & Intensa exctagao. Alteragoes, de momento a momento, em sentimentos de ervosismo, preocupacao © apreensao associados com ‘excitagao do corpo. Tage ‘Trata-se de uma disposigao adquirida que predisp6e uma pessoa a percaber como ‘ameacadora uma ampla variedade de Circunstancias que objetivamente nao so perigosas e a responder a elas com niveis, ‘desproporcionais de ansiedade. ay ansiedat ry Preece ernie aii) fers Alteragoes, de Alteragées, de ‘Ograu em que momento & momento a ‘a pessoa torn momento, nas momento, na. (08 recursos © reocupacées e ativacao fisioligica a capacidade nos pensamentos: percebida. de entrentar os negatives. desatios. FIGURA 4.2 As inter-relacGes entre ativacao, trago de ansiedade © estado de ansiedade. também tém mais estado de ansiedade em situagdes de uma ameaga e ndo apresentar elevado estado de ansie- avaliagaoe altamente competitivas. Entretanto, essa re- lagio nao € perfeita, Uma atleta com trago de ansieda- de muito alto pode ter uma extraordindria experiéneia ‘em determinada situagao e, por isso, deixa de perceber dade correspondente. Da mesma forma, algumas pes- ‘soas com trago de ansiedade elevado aprendem habili- dades de enfrentamento que ajudam a reduzir o estado de ansiedade que experimentam em situagdes de ava- EmogGes e psicologia do esporte e do exercicio Embora ativagio e ansiedade sejam 0 foco deste capitulo, 6 importante observar que muitos psicdlogos do esporte e do exorcicio ‘comegaram a estudar varias emogdes em ailetas€ praticantes de exericios. No Capitulo 17 por exemplo, examinamos como @ ;participagéo em atividades iscas inluencia uma gama de emogdes dos partcipantes, como depressio, ansiedade e prazer; mais adiante neste capitulo, abordaremes como as emogbes associadas & alivagdo e & ansiedade tém relacdo com o desempenho allético, Pense a respeito. Vocé se frustra ao cometer um erro ou senie prazer dianie de um bom desempenho eo praticar seu sport preterdo. Também sente menos ansiedade apés 0 exerccio ou menos rece'cs por algum desafio a enftentar. EmOrbes fstio em todo o lugar em situagBes de exercicio e esporte. Um dos desafios enfrentados por psicdlogos do esporte ao estudar lemogdes @ sua Getniea0 ecerenclaGa0 de fenomenos relacionados, Como esiados de humor e sensagbes, Gil elms (2008) loam que emogses sao fondmenos complicados, “estados de sentimentos de curta duragao que ocorrem em resposta aos ‘eventos”vividos por alguém. Englobem componentes fisioligicns e psicoldgicos e tém desdobramentos mais como processo {que como evento episédica esiatco, Por outro lado, Jones (2012) propos que estados de humor sao mais permanentes, menos Intensos que uma emoco, em que a pessoa desconfiece as causas dos sentimentos. Apesar dessas distingbes, os limites entre ‘estado de humor e emo¢o costumam ser indstintos, em especial quando uma pessoa no conseqve diferenciar senfimentos desencadeados om resposta a eventos espectics (emogdes) eos A presentes como parte de um estado de humor subjacent ‘Omaior pesquisador nessa drea 0 psiediogo Fichard Lazarus (2000), dein emoco como "uma reagéo psicofsiolégica oganizada 2 relagdes constanies no ambiente, mais comumente, emora nem sempre, interpessoeis ou sociais; envolendo experéncias subjetivas, agbes ou impulsos obseridveis para a ago e alteragbes fisildgicas. Por fim, emogdes podem ser postvas (tal como ‘razer) enegaivas (como vergonha). Emocdes comuns incluem raiva, ansiedade, receo, cuba, vergonha, tristeza ivela,ciime, ‘alegtia orguno, avo, esperanga, amor, gralidao e compalxao (Lazarus, 2000).A medida que avancarmos esto vo voce avenderd « respeto de como muitas dessas emogées influenciam ou so influenciadas pela particpagao em ativdades esportivas ¢ fiscas lingo. Contudo, de maneira geral, conhecer 0 nivel de trago de ansiedade de uma pessoa costuma ser itil para prever como ela reagiré & competigao, & avaliagdo e a condigdes ameagadoras, Para complicar as coisas, sabemos, a partir de rela- tos e pesquisas (como de Butt, Weinberg e Horn, 2003) que a ansiedade pode oscilar ao longo de uma compe- tigdo. E.comum ouvirmos, por exemplo, que jogadores de futebol americano dizem ter muita ansiedade antes da competigdo, algo que se acomoda aps a primeira jogada. (Interessante € o fato de parecer que niveis de ansiedade somtica se reduzem rapidamente quando co- ‘mega um torneio, mas os niveis de ansiedade cognitiva alteram-se durante a competigao.) Outros jogadores de futebol relataram nao ter sentido ansiedade durante 0 jogo, seu nivel de ansiedade, entretanto, elevou-se de- ‘mais quando tiveram disputa por pénaltis, no final de Ativagdo, estresse e ansiedade 75 tum jogo. Medidas futuras precisam levantar dados 20 bre tais mudangas na ansiedade, ainda que seja dificil fazer isso durante um torneio. Uma estratégia possivel seria a medida retrospectiva das alteragdes na ansieda- de. Ha pesquisas indicando que os atletas sio bastante bons avaliadores de seus niveis de estado ansioso apos tum acontecimento (Hanin e Syrja, 1996). Por exemplo, pode ser solicitado a atletas, uma hora apés o final do Jogo, que relatem como se sentiram em momentos di- ferentes dele. Definindo estresse e entendendo 0 processo de estresse O estresse ¢ definido como “um desequilibrio substan- cial entre demanda (fisica e/ou psicolégica) c capacidade Competitive State Anxiety Inventary-2 {A soguir so apresentadas diversas afirmagts de atlotas ao descrevorom sous sontimentos antos de uma competi. Par hie siolégica FIGURA 4.40 U invertido que mostra a relagao entre ativagzo e desompenho, cicios ou atleta nao esta preparado psicologicamente ‘A medida que a ativagdo aumenta, melhora o desempe- rnho até um ponto ideal em que ocorre o melhor desem- penho. Aumentos adicionais na ativagao, entretanto, fa- zzem o desempenho declinar. Essa visio & representada por um U invertido que reflete o alto desempenho com O nivel ideal de ativagao e um desempenho mais baixo com ativagdes baixas ou muito altas. ‘A maioria dos atletas técnicos aceita as nogdes ge- rais da hipotese do U invertido. Afinal, a maior parte das pessoas ja experimentou baixa ativagdo, ativacao ideal e superativagio. Mas, a despeito da aceitagao da hipstese em geral e das evidéncias recentes que apoiam suas pre- visdes em tarefas relativamente simples (Landers Arent, 2010), ela tem sido alvo de criticas (Gould e Udry, 1994: Meellaliew et al., 2006). Os eriticos questionam, justificada- ‘mente, a forma da curva de ativagdo, perguntando se a ati- vvaedo ideal sempre ocorre no ponto médio do continuum deativagdo, e questionam a natureza da propria ativagdo. Basicamente, 0 U invertido levou-nos 0 mais longe pos- sivel, mas agora precisamos de explicagbes mais claras Como consequéneia, 0s psicdlogos do esporte comeca- ram a explorarnovas visdes, esperando entender de forma ‘mais especifica a relagdo ativagdo-desempenho. Zonas individualizadas de desempenho ideal ‘Yuri Hanin, um famoso psicdlogo russo do esporte, apre- sentou uma visdo alternativa que ele chama de modelo de zonas individualizadas de desempenho ideal (In- dividualized Zones of Optimal Functioning — IZOF). Hanin (1980, 1986, 1997) verificou que atletas de elite apresentam uma zona de estado de ansiedade ideal na qual ocorrem seus melhores desempenhos. Fora dessa ‘ona, ocorrem 9 piores dexempenhos A visto IZOF de Hanin difere da hipdtese do U in- vertido em dois pontos importantes, Primeito, o nivel Ativagio, estresse e ansiedade 81 ideal de estado de ansiedade nem sempre ocorre no pon to médio do continuum; na verdade, varia de um indi- viduo para outro, Ou seja, alguns atletas tém uma zona de desempenho ideal na extremidade inferior do conti- ‘num, alguns na porgao média e outros na extremidade superior (ver Figura 4.5). Segundo, o nivel ideal de es- tado de ansiedade nio é um tinico ponto, mas uma larga faixa. Portanto, técnicos e professores devem ajudar os Participantes a identificare atingir a zona ideal propria, especifica, de ansiedade. Todavia, apesar do apoio a0 modelo IZOF, ha criticas pela falta de explicagdes dos motivos pelos quais 05 niveis individuais de ansiedade podem ser ideais ou prejudiciais para 0 desempenho (Woodman e Hardy, 2001b). O modelo IZOF tem um bom apoio na literatura cien- tifica (Gould e Tuffey, 1996; Hanin, 2007). Além disso, Hanin (1997, 2000, 2007) ampliou a nogio de IZOF pa- ra akim da ansiedade, demonstrande como aa romnas de desempenho ideal usam as diversas emogdes e outros estados psicolégicos, como determinagaio, afabilidade e preguiga. Fle concluiu que, para que ocorra o melhor desempenho, 0s atletas precisam de niveis ideais in- dividualizados ndo apenas de estado de ansiedade, mas de varias outras emogdes. A visdo IZOF também defen- de a existéncia de emogdes positivas (confiante, exci- tado) e negativas (receoso, nervoso) que inerementam 0 desempenho, bem como emogdes positivas (calmo, a vontade) ¢ negativas (intenso, ineomodado) com uma influéneia disfuncional no desempenho. Trata-se de um desdobramento importante, porque admite que determi- nada emogdo (como a raiva) pode ter uma associagdo Positiva com o desempenho para uma pessoa e uma as- sociagdo negativa com o desempenho para outra, Uma implicagao importante para o treinamento no modelo IZOF € a de que 03 técnicos devem ajudar cada atleta a atingir a receita ideal de emogdes necessarias para seu melhor desempenho, PONTO-CHAVE A zona de funcionamento ideal de uma pessoa pode estar na extremidade inferior, intermediéria ou superior do continuum de estado de ansiedade, Teoria da ansiedade multidimensional A hipotese IZOF de Hanin nao examinou se os com- onentes do estado de ansiedade (ansiedade somatica © cognitiva) afetam o desempenho da mesma maneira. Geralmente se considera que esses components influen- ciam 9 desempenho de diferentes manciras: 08 a5ja, @ ativagdo fisiolégica (estado de ansiedade somatico) € a preocupagaio (estado de ansiedade cognitivo) afetam di- 82 _Fundamentos da psicologia do esporte e do exercicio Avantagem de jogar em casa: mito ou realidade ‘Uma forma do 05 espectadores infuenciarom o desomponho 6 oforecer apoio © encorajamento ao time da casa. De fato, em ‘muitos esportes, os times lutam durant toda a temporada pelos melhores resultados para que possam tor a vantagem de jogar ‘em casa durante a fase de deciséo. Os mes realmente vencem mais em casa do que fora dela? ‘As pesquisas mostram que a8 times realmente vencem mals em casa e quo a vantagem é bastante pequena no futebol ‘americano e no beisebol, mas bem grande no basquelebole ne héque. Vito que estes dois ulimos esportes eo praticados em locals fechados, em comparagéo com os esticios ao ar livre do beisebol ¢ do futebol americano, & possivel que a proximidade os torcedores com a agao e o nivel de ruldo que geram em esticios fechados aumentem a desempenho dos jogadores, O fux0 Continue de ago ne héquei eno basquetetol também pode faciltar 0 envohimento emoacional da mul, e, assim, desempenhar papel i olive w nu links avs jyadures.O autre Uy vel ue enmuvineniy reese wy aunty Uo Hive er uhsoS €@ explosoes emocionals. al como as vals aos dbitros ou aos treinadores adverséros. ‘Apesar das evidéncias em apoio & vantagem de gar em casa durante a temporada regular, outros resultados de pesquisas indicaram que tal vantagem pode se perder nos jogos eliminatoios e nas decisbes. Na verdade, o mando de campo pode até ‘mesmo se tonar uma desvantagem. Num estudo dos jogos decisvos (playofs) do beiseboljogados de 1924 a 1982, Baumeister € Steinhilber (1984) descobriram que em séries com pelo menos cinco jogos, a equipe da casa venceu 60% dos dois primes Jogos, mas apenas 40% dos dois utimos jogos. Enas 26 séries que chegaram a uma final ena decisto do sétimo jogo, o time da ‘casa venceu apenas 36% das vezes. Para testar a capacidade de generalizacdo desses resultados, uma andlise semelhante fi ‘ealizada no basquetebol protissional, Os times da casa venceram 70% dos quatro primeira jogos. Entetanto, durante o qulnto e © sexto jogos, a porcentagem de vitiria do time da casa fol de 46%, caindo para desanimadores 38% na decisdo do sétimo jogo. Portanto, a vantagem” de jogar em casa passou a ser uma desvantagem & medida que os jogos se tornavam mais crticos a pressao aumeniava. Foram oblldas eslalisicas do jogos pata Geterminar como @ o8 motivos disso Tanto no beisebal quanto no basquetebo, 0 desempenho do time vistante permaneceu razoavelmente constante durante todo o campeonato. Enretanto, ‘time da casa teve uma diminuicdo signifcativa no desempenho & medida que os jogos s@ tomnavam mais crtices, cometendo ‘ais eros no beisebol @ convertendo menos lances livres no basquelebol Basicamente, os times da casa ficavam paralsados ‘ob pressao, em vez de se sentrem motivados pelos torcedores. Os pesquisadores argumentam que o apoio dos trcedores pode Ctiar expectativas de sucesso, o que, por sua vez, pode aumentar a autoconsciéncia nos atletas, fazendo-os pensar demals em vez de simplesmente jogarem e atuarem de forma automdtica, 0 que é uma caraceristica de alletasaltamente qualficadcs. Isso Pode lovar equipes a ‘amaroiar’ na disputa do um titulo. Eniretanto, parece ter havido uma mudanga no sucesso dos times da casa no basquetebol nos itimas anos. Especiicamente, de 1984 a 1994, 0s times da casa venceram consecutivamente 18 sétimos e decisivos jogos dos plays da NBA. Além do que, 20 se concentrar exatament na sétim jogo das finais da NBA. o time da casa venceu 15 e perdeu somente ts. possivel que treinadores e atietas tenham se tornado mais conscientes de seu comportamento sob pressao em jogos decisvos, reduzindo @ autoconscidncia e debxando a emocdo dos torcedores de casa conduzi-los& vitéria. Prtanto, qual aconclusto quando se analise a pesquisa nesta drea em geal? Vantagem ou desvantagem do mando de campo? * Durante temporada normal, existe uma clara vantagem do mando de campo tanto para equipes profisionais como amadoras, «iso remonta hd quase 100 anos, ‘A vantagem de jogar em casa ocorre tanto para esportes em equipe como para esportes individuals e tanto para atletas do ‘sexo masculino como do feminino. *+ Os pesquisadores propdem que ha uma desvantagem durante os playoffs, mas as evidéncias que apoiam essa dela no esporte ‘sao mistas. Pesquisadores renomados de dinémica de grupo, Carron, Hausenblas e Eys (2005), concluram que ainda falta ‘consenso acerca da desvantagem dos jogos em casa em campeonalos. Observaram, porém., que pesauisas sobre atividades io esportvas apoiam a idela de uma equipe “amarelar na disputa de um titulo em consequénca da auloconsciéncia de ‘quem desempenha, + Allotas que chogam aos playoffs devem tr estratégs bom desenvolvidas para enfrentamento da ansiedade para evitar efeitos egativos na atengao que interferem no desempenho. a ty Ul ecemete ee Atieta C Fora da zona axe TT Ato ‘Nivel de estado de ansiedade FIGURA 4.5 Zonas individualizadas de desempenho ideal (IZOF), ferentemente os participantes. Seu coragio acelerado ou descompassado e sua mente reiterando previsdes nega- tivas, por exemplo, podem afeté-lo de formas distintas A teoria da ansiedade multidimensional prevé que 0 estado de ansiedade cognitivo (preocupagao) es- ta negativamente relacionado com desempenho. Ou se- ‘ja, aumentos do estado de ansiedade cognitivo levam a ddiminuigdo no desempenho. Mas essa teoria prevé que © estado de ansiedade somitico (que se manifesta fisio- logicamente) est relacionado ao desempenho em um U invertido e que os aumentos da ansiedade facilitam 0 desempenho até um nivel ideal, apds 0 qual mais ansie- dade faz o desempenho declinar. Embora alguns estudos tenham demonstrado que esses dois componentes da an- siedade podem prever diferentemente 0 desempenho, as previsdes exatas da teoria da ansiedade multidimensional nao receberam apoio consistente (Arent e Landers, 2003, Gould, Grecnteaf © Krane, 2002; Mellalicu, Hanton Fletcher, 2006). Uma razao para essa falta de apoio é 0 progndstico de que a ansiedade cognitiva sempre acar- reta um efeito prejudicial no desempenho, Conforme antes observado neste capitulo, o efeito da ansiedade cognitiva (e da somética) no desempenho parece estar determinado pela interpretacdo que o praticante de uma atividade dé a ansiedade e nao apenas pela quantidade ou o tipo de ansiedade (Jones e Swain, 1992). Assim, a teoria multidimensional da ansiedade tem pouco apoio quanto a previsdes de desempenho, sendo de pouca uti- lidade na orientagao da pratica Fenémeno da catastrofe A visto de catastrofe de Hardy trata de outra pea do quebra-cabega. De acordo com seu modelo, 0 desem- penho depende da interagao complexa entre ativagao © ansiedade cognitiva (1990; 1996). O modelo da catas- Ativagdo, estresse e ansiedade 83 trofe prevé que a ativagio fisiolégica esta relacionada ao desempenho na forma de um U invertido, mas ape- ras quando o atleta ndo est preocupado ou tem um leve estado de ansiedade cognitivo (ver Figura 4.6a), Entre- tanto, se aansiedade cognitiva for alta (isto é, se o atleta estiver preocupado), os aumentos na ativagao em algum ponto alcangardo um tipo de limiar imediatamente apés © ponto do nivel ideal de ativagao, ocorrendo, em segui- da, um répido declinio no desempenho ~ a “catistrofe” (Figura 4.65). Portanto, a ativagao fisiolégica (isto ¢, a ansiedade somatica) pode ter efeitos marcadamente di- ferentes sobre o desempenho, dependendo do tanto de intensidade da ansiedade cognitiva que a pessoa estiver experimentando. Além disso, em meio atantas preocupa- des, uma vez que a hiperativagao ea catastrofe tenham ocorrido, o desempenho deteriora-se significativamente Isso ¢ diferente do declinio uniforme previsto pela hi- pStese do U invertido, © a recuperasao leva mais tempo ‘O modelo da catistrofe prevé que, com baixa preocu- ago, os aumentos na ativagiio ou na ansiedade somatica esto relacionados com desempenho na forma de um U invertido. Com grande preocupago, o aumento da ativa- ¢0 melhora o desempenho até um limiar ideal, além do qual aativagdo adicional provoca um declinio “catastré- fico”, ou ripido e dramatico, no desempenho. Em situa- ges de baixa preocupacdo, a ativagdo esté relacionada a0 desempenho na forma tradicional de um U invertido. Entretanto, 0 desempenho como um todo nao é tdo ele- vado quanto na situagao de alta preocupagao. Concluin- do, sob condigdes de muita preocupacao, altos niveis de autoconfianga permitem que os praticantes de uma ati- vidade tolerem niveis mais elevados de ativagao antes de atingirem o ponto em que sofrem uma queda catas- tréfica de desempenho (Hanton, Neil e Mellalieu, 2008) ‘A Tigura 4.66 mostra que, sob condigaes de alta an- siedade cognitiva, a medida que a ativagao fisiologica Ato ‘Ato Baina ansiedade cognitva (preocupaco) ‘Ata ansiedade cognitva(preceupagéo) & g E E 3 3 Baixo Baixo Behe ‘Ativagaofisioligica Me Bake ‘Alivagaofisiologica ae FIGURA 4.6 Previsées da teoria da catéstrofe: (a) relagao ativacdo-desempenho sob baixo estado de ansiedade cognitivo: (b) ralagao ativagao-desempenho sob alto estado de ansiedade cognitivo. 84 Fundamentos da psicologia do esporte e do exercicio ‘aumenta, 0 desempenho também aumenta, até que um nivel ideal seja alcangado (marcado como parte a na curva). Entretanto, depois daquele ponto, ocorre uma queda catastrofica no desempenho; 0 atleta chega a um nivel de desempenho baixo (marcado como 6 na cur- va). Uma vez naquela parte da curva, o atleta precisara diminuir enormemente sua ativagao fisiolégica antes de ser capaz de recuperar os niveis de desempenho anterio- res, O modelo daccatéstrofe prevé, assim, que, apés uma queda catastréfica no desempenho, o atleta deve (a) re- laxar por completo fisicamente, (b) reestruturar-se cog- nitivamente, controlando ou eliminando preocupagdes e recuperando a confianga e o controle e (c) reativar-se ‘ou estimular-se de maneira controlada para novamen- te alcangar o nivel ideal de funcionamento. Essa ndo € uma tarefa facil, dai compreender-se a dificuldade de uma recuperacdo ripida apds uma redugdio catastréfica no desempenho. Finalmente, a Figura 4.6 mostra que o nivel de de sempenho absoluto de um atleta é, na realidade, mais alto sob condigdes de alta ansiedade cognitiva do que sob condighes de baixa ansiedade cognitiva, Isso mostra {que ansiedade cognitiva ou preocupagio nao & neces- sariamente ruim ou prejudicial para o desempenho. Na realidade, esse modelo prevé que vocé tera um melhor desempenho com alguma dose de preocupacao, desde que seu nivel de ativagdo fisiolégica nao seja excessi- ‘Vo (isto €, um pouco de tenso aumenta 0 empenho do atleta e concentra a atengao, dando ao individuo uma vvantagem sobre 0s outros competidores). O desempe- nnho deteriora-se apenas sob as condigdes combinadas de alta preocupagao alta ativagao fisiolégica, Embora haja algum apoio cientifico para 0 modelo da catistrofe, é dificil testi-lo cientificamente (Hardy, 1996; Woodman Hardy, 2001b) e, até © momento, as evidéncias sao inconclusivas (Mellalieu, Hanton € Fletcher, 2006). Contudo, pode-se extrair dele uma im- portante mensagem para.a pritica, ou seja, que um nivel de ativagao fisiolégica ideal ndo € suficiente para um desempenho excelente: & preciso também administrar ou controlar o estado de ansiedade cognitivo (preocupasao). Teoria da inversao Aaplicagao de Kerr da teoria da inversio (1985, 1997) argument que a forma como a ativago afeta o desem- penho depende basicamente de como um individuo in- terpreta o seu nivel de ativagao. Joe poderia interpretar alta ativagdo como uma excitagdo agradivel, enquanto Jan poderia interpreti-la como uma ansiedade desagra- dyel. Ela poderia ver a baixa ativagdo como relaxamen- to, enquanity Joe a considera ia enRauonlis, Acrediaese que os atletas sejam ensinados a fazer mudangas répi- das —“inversdes” — em suas interpretagdes de ativagdo. Um atleta pode perceber a ativagao como positiva em tum minuto e entao inverté-Ia, interpretando-a como ne- gativa no minuto seguinte. A teoria da inversdo prevé que, para um methor desempenho, os atletas devem in- terpretar suas ativagdes como uma excitagdo agradavel endo como uma ansiedade desagradavel. So duas as principais contribuigdes da teoria da inversio para que entendamos a relagio ativagio-de- sempenho, Primeiro, a teoria da inversdo enfatiza que a interpretagdo dada pela pessoa para a ativagio — e no apenas a quantidade de ativagaio que ela sente —¢ signi- ficativa; segundo, a teoria afirma que o praticante po- de mudar ou inverter suas interpretagdes positivas ou negativas da ativagao de um momento para outro. Es- sa teoria oferece uma alternativa interessante ds visdes anteriores da relagdo ativagio-desempenho, Contudo, poucas pessoas testaram as previsdes da teoria, de mo- do que nfo ae podem tirar conclusdes wélidas sobre ax previsbes cientificas PONTO-CHAVE A forma como o praticante de uma atividade interpreta a ativagdo pode influenciar 0 seu desempenho, Direcdo e intensidade da ansiedade Durante muitos anos, a maioria dos pesquisadores acre- ditou que a ansiedade tinha apenas efeitos negativos sobre o desempenho. Entretanto, o psicélogo inglés do esporte Graham Jones ¢ colaboradores (Jones, 1995; Jones, Hanton e Swain, 1994) demonstraram que a in- terpretagdio dada pelo individuo aos sintomas de ansie- dade ¢ importante para entender a relagio ansiedade- -desempenho. As pessoas podem entender os sintomas de ansiedade tanto como positives etteis para o desem- penho (facilitadores) como negativos prejudiciais para ‘odesempenho (debilitantes), Para entender totalmente a telagio ansiedade-desempenho € preciso examinar tan- to a intensidade da ansiedade da pessoa (0 quanto ela esti ansiosa) quanto a diregdio dessa ansiedade (sua in- terpretacao dessa ansiedade como sendo facilitadora ou debilitante para 0 desempenho). Jones e colaboradores sustentaram que perceber a ansiedade como facilitado- ra leva'a um desempenho superior, enquanto percebé-la como debilitante leva @ um desempenho insatisfatorio, Jones (1995) também desenvolveu um modelo de co- mo a ansiedade facilitadora ¢ a ansiedade debilitante ‘se manifestam (ver Figura 4.7). Especificamente, surge algum estressor no ambiente, tal como participar das corridaa na final do eampeonato de atlotiamo. © nivel de estresse que uma corredora experimentara depende de fatores individuais,tais como seu trago de ansieda- Ativagdo,estresse e ansiedade 85 Diferencas Individuals stressor Diferencas incviduais J 6p. ,trag0 de ansiedade, autoestima) 71 isto 6, expectativas postivas de: + capacidade de enfreniar + realzagio do objetivo, 4 Sintomas Interprotados {acilitadores Nico Isto 6, expectativas negativas de: * capacidade de entrentar + realzagao do objetivo 4 Sintomas Interprotados ebiltantes FIGURA 4.7 Modelo de Jones de ansiedade faclitadora e debiltante. ‘Adapaca de G. Jones, 1995, ‘Mor than just a game: Research developmen and issues in competitive ansicy in sport” Bish Joumal of Psychology 8: {49"478. Adapada, com permis, da Bish Peychologeal Sooty. © Te Brith Psyehalogeal Sosy. de ou sua autoestima, Mais importante, se 0 estado de ansiedade resultante sera percebido como facilitador ou debilitante depende de quanto controle a atleta perce- be. Se a corredora se sente no controle (p. ex., que po- de lidar com a ansiedade e que ¢ possivel fazer deter- rminado tempo na corrida), entdo o resultado serd uma ansiedade facilitadora. Entretanto, se ela achar que no conseguira correr em um tempo competitivo e que n3o podera lidar com a pressdo, ocorrerd ansiedade debili- tante. Portanto, a pereepeao de controle do atleta com relagdo a controle ¢ alcance de objetivos é crucial para determinar se o estado de ansiedade sera visto como fa- cilitador ou debititante (0s psicdlogos do esporte jd encontraram algum apoio para essa associagao entre comoa ansiedade ¢ percebida © o nivel de desempenho, Por exemplo: bons desempe- rnhos na trave foram associados a interpretagdo dos gi- nastas da ansiedade cognitiva como facilitadora (Jones, Swaine Hardy, 1993), De modo semelhante, nadadores de elite relataram que consideraram tanto a ansiedade cognitiva como a ansiedade somatica mais facilitadoras ‘e menos debilitantes do que os nadadores médios (Jones & Swain, 1992), Além disso, pesquisadores (Hanton € Jones, 1999a, b; Wadley: © Hanton, 2008) deseabriram que nadadores de elite conseguiam consistentemen- te manter uma interpretagao facilitadora da ansiedade, em especial pelo uso de habilidades psicolégicas como estabelecimento de metas, mentalizagdo e didlogo in- terior. Basicamente, individuos que desempenham no esporte podem ser treinados para um uso eficaz.de seus sintomas de ansiedade de forma produtiva e para 0 de- senvolvimento de um processo racional de aval relaglo a suas experiéncias durante a competigfio (Han- ton, Thomas e Mellalieu, 2009), Embora esses resultados sugiram que o uso de tée- nicas de relaxamento (ver o Capitulo 12) para reduzir a intensidade da ansiedade pode nem sempre ser ade- quado, os atletas tém que aprender um repertorio de habilidades psicologicas que os ajudem a interpretar os sintomas de ansiedade como facilitadores. Além disso, Nicholls e colaboradores (2012) sugerem que a interpre- tapdo da ansiedade como facilitadora pode nem sempre reforgar o desempenho por si s6; na verdade, segundo eles, a emogdo positiva de excitagao pode reforgar 0 desempenho. Enquanto a maioria dos estudos anterio- res mediu apenas o construto de ansiedade, esses pes- quisadores mediram a ansiedade e a excitagao em seu trabalho, Estudos futuros devem levantar dados sobre outras emogdes positivas (como excitagdo, Felicidade, coperange, orgulho) com a anaiedads © outraa emogSea negativas (como vergonha, tristeza, culpa, raiva) para determinar qual a que mais influencia 0 desempenho. 86 Fundamentos da psicologia do esporte e do exercicio Ainda importante de ser observado é que uma gama de variaveis pessoais e situacionais pode influenciar a resposta direcional (ver Hanton, Neil e Mellalieu, 2008, para uma revisio), Alguns desses fatores pessoais in- cluem trago de ansiedade, neurose, extroversio, moti- ‘vagao para a realizagdo, determinagao, autoconfianga, ‘sexo, estratégias de enfrentamento e habilidades psico- légicas. As varidveis situacionais que influenciam a in- terpretagdo da ansiedade incluem experiéneia competi- tiva, nivel de habilidade, aleance de metas, expectativas, tipo de esporte e desempenho. A variavel de diferenca individual que de forma mais consistente determinou se a ansiedade foi interpretada como facilitadora ou de- bilitante foi o nivel de habilidade. De modo especifico, esportistas de elite interpretam seus sintomas de ansie- dade como mais facilitadores relatam niveis mais altos de autoconfianga que 0s colegas que ndo so de elite. 1d estudos revelando quc easeo atletas de elite mantém uma perspectiva facilitadora, bem como niveis eleva dos de confianga, pela racionalizagao dos pensamentos esentimentos antes de competirem, fazendo uso combi- nado de habilidades psicolégicas como dislogo interior, mentalizagao e estabelecimento de metas (Hanton, Neil e Mellalieu, 2011). Resumindo, a forma como um atleta interpreta dire- ‘do da ansiedade (como facilitadora ou debilitante) tem feito importante na relagao entre ansiedade e desempe- nnho. Os atletas podem aprender habilidades psicol6gi- ‘cas que Ihes possibilitem interpretar a ansiedade como facilitadora, Assim, cabe aos técnicos tentar ajudar os atletas a encararem o aumento da excitagdio ¢ da ansie- dade como condigdes mais de excitagao do que de me- do, Devem ainda fazer o possivel para auxiliar os atletas adesenvolverem percepgdes de controle pelo fortaleci- mento da confianga. treino de habilidades psicolégicas. Frequéncia da ansiedade Comparada a diregao da ansiedade, a frequéneia foi alvo de pouca atengao na literatura da psicologia do esporte, Parece intuitivo que a frequéncia com que os. atletas apresentam sintomas de ansiedade (em espe- cial os interpretados como debilitantes) represente um componente importante da reagdo de ansiedade e de seu efeito no desempenho, Nessas linhas, Thomas, Hanton © Maynard (2007) demonstraram que a frequéncia dos sintomas cognitivos e somaticos de ansiedade aumen- tavam a medida que a competig&o se aproximava. De forma mais especifica, em outra pesquisa os mesmos pesquisadores descobriram que atletas que encaravam aansiedade como facilitadora tinham frequéncias mai bainas de ansiedade cognitiva ¢ mais clevadas de auto- confianga durante o periodo anterior a competi¢ao na ‘comparagdo com atletas que viam a.ansiedade como de bilitante (Thomas, Maynard e Hanton, 2004). De uma perspectiva de treinador, o ideal é reconhecer com que frequéncia um atleta tem sintomas de ansiedade e nao apenas sua intensidade, bem como a maneira de inter- preté-los. Por exemplo: um jogador de futebol pode ra- ramente ter sintomas de ansiedade, embora eles ocor- ram quando ele ¢ 0 escolhido para bater os pénaltis, Saber a frequéncia e em que situagdes um jogador tem ansiedade que possa ser debilitante ajuda os técnicos a escolherem determinados jogadores para atuarem em certas situagées, Importancia das concepgdes de ativagao-desempenho Cortamente, no hé falta do conceppdes de ativagto -desempenho — ha tantas que ¢ facil se confundir, Portan- to, vamos resumir 0 que elas nos ensinam para a pratica As teorias de zonas de desempenho ideal (IZOF), ansie- dade multidimensional, catistrofe, inverstio e diregdo € intensidade oferecem varias diretrizes (Hanton, Neil ¢ Mellalieu, 2011; Hardy, Jones e Gould, 1996; Mellalieu, Hanton e Fletcher, 2006, Woodman e Hardy, 2001) 1. Ativacdo é um fenémeno multifacetado que consiste em excitagdo fisiolégica e a interpretagio dada pelo atleta a essa excitagdo (p. ex., estado de ansiedade, cconfianga, ansiedade faclitadora). Devemos ajudar os participantes a encontrarem a mistura ideal dessas ‘emogdes para um methor desempenho. Além disso, essas combinagdes ideais de emogdes relacionadas a ativagdo sdo muito individuais e especificas & ta- rofa, Dois atletas que participam do mesmo evento podem nao ter o mesmo nivel ideal de ativagao, € 0 nivel ideal de ativago de uma pessoa para realizar exercicios nas barras seria bastante diferente do ni- vel de ativagao ideal para um levantador de pesos. 2. Ativagao e estado de ansiedade nao tém necessaria- mente um efeito negativo sobre o desempenho. Os, efeitos podem ser positivos e facilitadores ou nega- tivos e debilitantes, dependendo, em grande parte, de ‘como a pessoa interpreta as mudangas. Além disso, ‘aautoconfianga eas percepgdes aumentadas do con- tole sao fundamentais para se considerar positiva a facilitagdo da ativagao aumentada (preparagao psi- ‘coldgica) em oposigdo a uma consideragao negativa (derrota psicolégica), 3. Umnivel ideal de ativagao e de emogdes leva 20 pico do desempenho, mas niveis ideais de ativagio fisio- Iigica ¢ penaamentoa relacionados d ativago (preo ‘cupagdo) no sdo necessariamente a mesma coisal

Você também pode gostar