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FICHAMENTO DO TEXTO: “DIREITO À PREGUIÇA” DE PAUL

LAFARGUE

INTRODUÇÃO
1º § - p.1. A burguesia no séc. XV e XVI tinha retomado a tradição pagã e glorificava a
carne e suas paixões (reprovados pelo cristianismo). Atualmente renega os
ensinamentos de seus pensadores e prega a abstinência a seus assalariados.

2º § - p.1. A moral capitalista toma como ideal reduzir o trabalhador (produtor) ao


mínimo mais restrito de necessidades, suprimir as suas alegrias e as suas
paixões e consumi-lo ao papel de máquina.
3º § - p.1. “(...) têm de proclamar, no rosto dos hipócritas de todas as morais, que a terra
deixará de ser o vale de lágrimas do trabalhador: que, na sociedade comunista
do futuro que fundaremos ‘pacificamente se possível, senão violentamente’, as
paixões do homem terão rédea curta (...)”.
Notas p.2. “A velha civilização e o cristianismo nascente corromperam os bárbaros do
velho mundo, tal como o cristianismo envelhecido e a moderna civilização
capitalista corrompem os selvagens do novo mundo.”.
I – DOGMA DESASTROSO
1º § - p.2. A loucura do amor ao trabalho se apossou das classes operárias onde reina a
civilização capitalista. Os padres, economistas, moralistas sacrossantificaram o
trabalho. Homens cegos quiseram ser mais sábios do que o seu Deus. “(...)
recuso admitir os sermões de sua moral religiosa, econômica, livre-pensadora,
face às terríveis conseqüências do trabalho na sociedade capitalista.”.

2º § - p.2. O trabalho é a causa de toda degenerescência intelectual. “Olhem para o nobre


selvagem, que os missionários do comércio e os comerciantes da religião ainda
corromperam com o cristianismo, com a sífilis e o dogma do trabalho, e olhem
em seguida para os nossos miseráveis criados de máquinas.”.

3º § - p.2. Para os espanhóis o trabalho é a pior das escravaturas. Os gregos tinham


desprezo pelo trabalho: só era permitido trabalho aos escravos, os homens
livres só conheciam os exercícios físicos e os jogos da inteligência. Os
filósofos da antigüidade ensinavam os desprezo ao trabalho; os poetas
cantavam a preguiça.
4º § - p.2. Cristo pregou a preguiça no sermão da montanha. “Contemplai o crescimento
dos lírios dos campos (...)”. Jeová deu o exemplo da preguiça ideal; depois de
seis dias de trabalho repousou para a eternidade.

5º § - p.2. Na sociedade os que amam o trabalho pelo trabalho: “Os camponeses


proprietários, os pequenos burgueses, uns curvados sobre as suas terras, os
outros detidos pelo hábito em suas lojas, mexem-se com a toupeira na sua
galeria subterrânea e numa se endireitam para olhar com vagar para a
natureza.”.
6º § - p.3. O proletariado traindo os seus instintos, esquecendo-se da sua missão histórica,
deixou-se perverter pelo dogma do trabalho. “Todas as misérias individuais e
sociais mereceram da sua paixão pelo trabalho.”. A respeito dos Bachkires:
“(...) o que mais lhes repugna são os trabalhos agrícolas; fazem tudo exceto
aceitar a profissão de agricultor.”.
II – BENÇÃOS DO TRABALHO
1º § - p.3. Segundo a plebe inglesa todos os indivíduos, na qualidade de ingleses, têm o
privilégio de serem mais livres e independentes do que qualquer outro país
europeu. “Os operários nunca deveriam considerar-se independentes dos seus
superiores.”. Quanto menos os operários imbuírem dessas idéias melhor para
eles próprios e para o Estado.
3º § - p.3 e “Quanto mais os meus povos trabalharem, menos vícios existirão.” (Napoleão
4. Osterode).
“Eu sou a autoridade [...] e estaria disposto a ordenar que no domingo, passado
a hora dos ofícios divinos, as lojas estivesses abertas e os operários fossem
para o seu trabalho.” (5 de maio de 1807 – íden.).
4º § - p.4. O autor de Essay on Trade propunha encarcerar os proletários em “casas de
terror onde se fariam trabalhar 14 horas por dia, de tal maneira que, subtraído o
tempo das refeições, ficariam 12 horas de trabalho completas”.
5º § - p.4. 12 horas era o ideal para os moralistas do séc. XVIII.
6º § e 7º § - O proletariado francês (após 1848) aceito como um princípio revolucionário a
p.4. lei que limitava o trabalho à 12h por dia.
8º § - p.4. “(...) impuseram-nos eles às suas famílias; entregaram, aos barões da indústria,
as suas mulheres e os seus filhos.”
→ Os mesmos proletários que reclamaram sobre as suas condições de trabalho
entregaram suas famílias e si mesmos para a indústria.
“Com as suas próprias mãos, demoliram o lar, com as suas próprias mãos,
secavam o leite de suas mulheres (...)”
→ Crianças e mulheres grávidas foram trabalhar 12 horas por dia.
9º § - p.4. “(...) não teriam podido inventar um vício mais embrutecedor para a
inteligência das crianças (...) do que o trabalho na atmosfera viciada da oficina
capitalista.”.
11º § - p.4. Filósofos, economistas burgueses e românticos entoaram cantos nauseabundos
em honra do deus Progresso, o filho mais velho do Trabalho.
13º § - p.5. “Em Mulhouse, há cinqüenta anos (em 1813, quando nascia a moderna
indústria mecânica), os operários eram todos filhos do solo, que habitavam a
cidade ou as aldeias próximas e possuíam quase todos uma casa e muitas vezes
um pequeno terreno.” (Lafargue citando o discurso pronunciado na Sociedade
Internacional de Estudos Práticos de Economia Social de Paris em Maio de
1863 e publicado em L’Economiste français da mesma época.)
14º § - p.5. 25 anos após a idade do ouro do trabalhador (1813), a oficina capitalista tinha
conquistado a região; arrancou os operários dos seus lares para torcer e
espremer melhor o trabalho que continham.
15º § - p.5. Citando Villermé, muitos trabalhadores tinham de instalar-se em aldeias
vizinhas longe do local onde trabalhavam (5 mil em 17 mil).
→ O trabalho começava as 5h da manhã e acabava às 5h da tarde (tanto no
inverno como no verão).
“Há entre eles uma multidão de mulheres pálidas, magras, caminhando de pés
descalços por cima da lama (...) e um número mais considerável de crianças
pequenas não menos sujas, não menos pálidas e macilentas, cobertos de
farrapos e todos engordurados de óleo dos teares que lhes cai em cima
enquanto trabalham.”
“(...) escondem debaixo do seu casaco ou como podem o bocado de pão que os
deve alimentar até a hora do seu regresso a casa.”
“Assim, `fadiga de um dia de trabalho excessivamente longo...resulta que à
noite cheguem as suas casas oprimidos pela necessidade de dormir e que no dia
seguinte saem antes de terem repousado completamente para se encontrarem
na oficina à hora da abertura.”
16º § - p.5. Villermé cita as instalações dos habitantes da cidade:
“(...) dormiam duas famílias cada uma a seu canto, sobre a palha colocada
sobre o tijolo e retida por duas tábuas(...)”
→ A miséria é tanta que metade das crianças atinge os vinte e um anos de
idade.
17º § - p.5 e Acerca do trabalho cita Villermé:
6. “Não é um trabalho, uma tarefa, é uma tortura e infligem-na a crianças de seis
a oito anos. [...] É esse longo suplício de todos os dias que mina sobre tudo os
operários nas fábricas de fiação de algodão.
18º § - p.6. A duração do trabalho nas outras regiões era bem menor, enquanto na França,
com os Direitos do Homem (Revolução de 89) o dia de trabalho era de 16
horas com 1 hora e meia para as refeições.
19º § - p.6. Os filantropos proclamavam benfeitores aqueles que enriqueciam na
ociosidade através da exploração do trabalho dos operários Introduzindo o
trabalho fabril se perde a liberdade
21º § - p.6. Segundo Cherbuliez:
“Os próprios trabalhadores, ao cooperarem na acumulação dos capitais
produtivos, contribuem para o acontecimento que, mais cedo ou mais tarde, os
deve privar de uma parte do seu salário.”
22º § - p.6. Dizem os economistas: “trabalhem para criarem o vosso bem estar”
Diz o reverendo de Townshend (em nome da bondade cristã): “Trabalhem,
trabalhem noite e dia! Ao trabalharem, fazem crescer a vossa miséria e a vossa
miséria dispensa-nos de vos impor o trabalho por força da lei.”
23º § - p.6. Lei da produção capitalista:
“Trabalhem, trabalhem, proletários, para aumentar a fortuna social e as vossas
misérias individuais, trabalhem, trabalhem, para que, tornando-vos mais
pobres, tenham mais razão para trabalhar e para serem miseráveis. Eis a lei
inexorável da produção capitalista.”
24º § - p.6 e Ao ouvirem os economistas os proletários, se entregaram como um todo para o
7. vício do trabalho e precipitam na sociedade uma crise de superprodução que
causa a sua miséria atual.
→ Os próprios trabalhadores que plantaram o trigo agora morrem de fome e
não podem comer.
→ As trabalhadoras que teceram os tecidos de algodão, agora passam frio e
não tem com o que se cobrir.
25º § - p.7. Com a crise os trabalhadores passando fome e sem trabalho, pedem trabalho
aos fabricantes dizendo que amam o trabalho:
“(...) dêem-nos trabalho, não é a fome mas a paixão do trabalho que nos
atormenta!”
→ Os trabalhadores vendem 12 e 14 horas pela metade do preço.

26º e 27º § - Com as crises do supertrabalho os fabricantes fazem empréstimos para


p.7. fornecer matéria-prima aos operários. Produzem em excesso sem refletir sobre
o mercado que se obstrui e que suas mercadorias nem chegam a ser vendidas.
Encurralados vendem as suas mercadorias a algum judeu por um preço
excessivamente baixo, quando os armazéns despejam-se e centenas de
mercadorias são destruídas.
“Nos séculos passados era um duelo de morte entre a França e a Inglaterra para
saber quem teria o privilégio de vender na América e nas colônias.”
28º § - p.7 e Os fabricantes financeiros vão então para outros caminhos exportar a maldição
8. do trabalho. Em compilações diplomáticas no Egito, a França, a Inglaterra e a
Alemanha estavam disputando entre si para saber quais os usuários seriam
pagos em primeiro lugar.
29º § - p.8. O proletariado deve declarar o Direito à Preguiça para acabar com a
exploração, ao invés dos Direitos do Homem.
“Mas para que ele venha a ter consciência da sua força, é preciso que o
proletariado coloque aos pés os preconceitos da moral cristã, econômica livre
pensadora...que ele se obrigue a trabalhar três horas por dia, a mandriar e a
andar no regabofe o resto do dia e da noite.”
30º § - p.8. Convencer o proletariado que o trabalho é o mais terrível flagelo que atacou a
humanidade é uma tarefa difícil. O trabalho só se tornará um condimento de
prazer da preguiça quando for regulamentado a no máximo 3 horas por dia.
III – O QUE SE SEGUE À SUPERPRODUÇÃO
1º § - p.9. Canto do poeta grego, Antiparos, para a invenção da máquina de moer cereais,
que traria tempos livres aos trabalhadores:
“Poupai o braço que faz girar a mó, ó moleiras, e dormi tranqüilamente! (...)”
2º § - p.9. Os tempos livres não vieram, e, a paixão ao trabalho transforma a máquina
libertadora em instrumento de sujeição dos homens livres.
3º § - p.9. A máquina produz uma quantidade bem maior de malhas do que as feitas pela
empregada.
“Cada minuto à máquina equivale, portanto, a cem horas de trabalho da
operária (...)”.
A máquina vai se aperfeiçoando e despachando o trabalho do homem, e o
mesmo tenta concorrer com a máquina ao em vez de prolongar o seu repouso.
“Ó concorrência absurda e mortal!”
4º § - p.9. Para que a concorrência do homem e da máquina tomasse livre curso, os
proletários aboliram as sábias leis que limitavam o trabalho dos artesãos das
antigas corporações; suprimiram os dias feriados.
5º § - p.9. Os autores desconhecidos contam suas narrativas entre as duas batalhas e as
devastações.
6º § - p.9. A classe operária se deixou dominar, e com a sua impetuosidade nativa, se
precipitou cegamente ao trabalho e para a abstinência. A classe capitalista
achou-se condenada à preguiça e ao superconsumo.
7º § - p.10. Com a abstinência da classe operária os burgueses se obrigam a dedicar-se ao
superconsumo dos produtos manufaturados desordenadamente.
8º § - p.10. As mulheres da alta sociedade andam o dia todo experimentando os vestidos
que as costureiras se matam para fazer.
9º § - p.10. O burguês teve de mudar os seus hábitos e se entregar a um luxo desenfreado
para continuar desempenhando a sua dupla função social de não produtor e de
superconsumidor.
10º § - p.10. Estatísticas que provam a colossal diminuição das forças produtivas de acordo
com o recenseamento de 1861.
11º § - p.10. Somando-se os números dos trabalhadores dos diferentes setores da indústria,
temos ambas as vezes um número inferior ao dos modernos escravos
domésticos. Esse é o resultado da magnífica exploração capitalista das
máquinas.
12º § - p.10. Deve-se acrescentar a essa classe doméstica a numerosa classe dos infelizes
exclusivamente dedicados à satisfação dos gostos dispendiosos e fúteis das
classes ricas.
13º § - p.10. Apesar das dificuldades a burguesia adaptou-se ao seu novo estilo de vida. Em
vista das miseráveis condições de trabalho dos proletários, mais ainda
aumentava a sua repulsa por qualquer imposição de trabalho e por qualquer
restrição dos prazeres.
14º § - p.10. Os proletários resolveram infligir o trabalho aos capitalistas. O proletariado
adotou a divisa de quem não trabalha não come.
15º § - p.10. Para desviar do infligimento dos proletários, os burgueses se rodearam de
policiais e de magistrados. É no sangue dos mineiros e dos operários
desarmados que os oficiais do exército belga ensangüentam as suas espadas e
ganham os seus galões.
“A classe operária desenvolveu para além do normal o ventre da burguesia
condenada ao consumo.”
16º § - p.10. O rebanho das bocas inúteis da burguesia não basta para consumir tudo o que
os operários produzem embrutecidos pelo dogma do trabalho.
17º § - p.11 O maior problema da produção capitalista já não é encontrar produtores e
e 12. multiplicar as suas forças, mas é de descobrir novos consumidores para a
venda do excesso de produção.
18º § - p.12. Os burgueses já não encontram com facilidade a matéria prima para satisfazer
a paixão desordenada que os operários têm pelo trabalho. Os produtos
fabricados são todos adulterados para facilitar o seu escoamento e continuar a
movimentar o mercado capitalista. As falsificações provam a habilidade dos
burgueses e a perversão dos operários pelo vício do trabalho.
19º § - p.12. Apesar da superprodução e das falsificações, os operários continuam clamando
por trabalho. Depois do supertrabalho sucede-se um repouso absoluto de dois
ou quatro meses, e sem trabalho não há a ração diária. Os operários devoram
em apenas seis meses o trabalho que é para o ano todo.
20º § - p.12. Embrutecidos pelo vício, os operários não conseguiram se elevar à inteligência
da prática da virtude da preguiça. Perante a Comissão de 1860, o Sr. Bourcart,
de Guebwiller, declara que o dia de trabalho deve ser reduzido de 12 para 11
horas e aos sábados o trabalhos deveriam ser suspensos às 14 horas, segundo
ele essa medida aumentou a produção.
21º § - p.12. Segundo o Sr. Leroy-Bealieu, a produção das semanas normais não é inferior
do que nas semanas em que ocorrem feriados.
22º § - p.12. O que o povo nunca teve a ousadia de fazer o governo aristocrático fez, proibiu
por lei trabalhar mais de 10 horas por dia, e mesmo assim, a Inglaterra
continua a ser a primeira nação industrial do mundo.
23º § - p.12. Os operários não compreendem que o vício pelo trabalho esgota as suas forças
antes da idade de se tornarem incapazes para realizar qualquer trabalho; matam
assim as suas faculdades para deixar de pé a loucura furiosa do trabalho.
24º § - p.12. Os operários repetem as lições dos economistas e trabalham cada vez mais
para aumentar a riqueza nacional.
25º § - p.12. “Para forçar os capitalistas a aperfeiçoarem as suas máquinas de madeira e
de ferro, é preciso elevar-se os salários e diminuir as horas de trabalho das
máquinas de carne e osso.”
26º § - p.12. Enquanto na França a lavra é tão penosa e os trabalhadores levam uma vida
“bovina”, no Oeste Americano, é um agradável passatempo ao ar livre e que se
pratica sentado.

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