Você está na página 1de 11
ACUSTICAE VIBRAGOES no. 48, dezembro de 2016 93 Desempenho actstico em um edificio residencial: classificagao superior pela NBR 15575 Klippel Filho, S."; Labres, H. 8.*; Pires, J. R.*; Bolina, F. L.*; Oliveira; M. F** ‘itt Instituto Tecnolégico em Desempenho ¢ Construgao Civil - itt Performance, UNISINOS, Sio Leopoldo, RS, sergioklip@unisinos.br; hlabres@unisinos.br; josianerp@unisinos.br; fabrivioll@unisinos.br; mariaon@unisinos.br *Mestrado Profissional em Arquitetura e Urbanismo - MPAArqUtb, UNISINOS, Sio Leopoldo, RS. Resumo No mercado da construgao civil brasileira, evidencia-se um aumento na utilizagdo de materiais inovadores, mais leves, baratos e praticos, visando o aumento de produtividade, entretanto, o resultado final pode apresentar perdas de desempenho aciistico. Isto, atrelado ao aumento crescente da verticalizagdo das dreas urbanas e intensificagdo dos niveis sonoros vem gerando problemas no que diz respeito ao conforto dos usuirios. Neste contexto, a ABNT NBR 15575:2013 visa estabelecer métodos de verificagdo e de classificago de sistemas construtives que formam uma edificagio habitacional. Este trabalho tem por objetivo apresentar avaliagdes de desempenho aciistico de diferentes sistemas de vedagdes verticais ¢ sistemas de piso, entre unidades habitacionais de uma edificacdo existente. Apesar da no obrigatoriedade, neste empreendimento, situado no municipio de Novo Hamburgo/RS, optou-se pela utilizacdo de sistemas construtivos que atendessem ao desempenho superior da ABNT NBR 15575:2013 em todos seus requisitos compreendidos, incluindo o desempenho actistico, Os ensaios para verificagao do desempenho dos sistemas foram feitos em campo, seguindo os métodos de ensaio prescritos pelo conjunto de normas ISO 16283:2014. A escolha do sistema a ser empregado levou em consideragdo © custo das matérias primas, mio de obra disponivel, além do desempenho aciistico obtido. Pal 1, INTRODUGAO, A partir da década de 1970 novos materiais e métodos construtivos foram criados no mercado da construgdo nacional, a fim de aumentar a produtividade, por meio de uma maior racionali € industrializagio dos processos, acarretando, em muitos casos, em prejuizos futuros causados pela falta de avaliagio ede rigor tecnolégico no desenvolvimento acelerado desses novos materiais, Desta forma, a necessidade pela implantagdo de sisteméticas de avaliagdo dos sistemas construtivos inovadores foi se tomando cada vez maior, demandando 0 desenvolvimento de um ramo tecnolégico a fim de efetuar o controle e verificar o desempenho de tais sistemas (GONGALVES et al., 2003; MITIDIERI FILHO; HELENE, 1998). REVISTADA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ACUSTICA (SOBRAC) rras-chave: aciistica de edificios, desempenho tico, ensaios em campo, Para essas verificagSes, foi publicada, com base em um trabalho desenvolvido pela Caixa Econémica Federal desde o ano 2000, a NBR 15575 (ABNT, 2013a), destinada. a determinagdo de requisitos e classificagao do desempenho em todos os sistemas construtivos presentes em edificagdes habitacionais. Essa situagio gerou uma mudanga no mercado da construgao civil. O desempenho, com suas exigéncias e requisitos, deve ser adotado pelos projetistas desde as fases da concepgio © de elaborag3o do programa de necessidades, mudando as metodologias até entio empregadas, necessitando, por parte dos projetistas, uma —atualizagio.— do desenvolvimento de suas fungdes (KERN et al, 2014; OLIVEIRA; MITIDIERT FILHO, 2012; SILVA et al., 2014). Desta forma, a avaliagio do desempenho aciistico dos sistemas construtivos 194 Deserpati elas enum adic ender daatenra spare belaNBR 1557S AGUSTIN ViBRAGOES no, 48, dezembro de 2016 fundamental, pois a poluigdo sonora se faz cada vez mais presente, © em maior intensidade, com grande potencial de geragao de problemas de satide, fisicos e psicoldgicos, além do incémodo causado aos usuarios expostos a ruidos mesmo no interior das habitagdes (HANSEN, 2005; MASCHKE; NIEMANN, 2007). Eximir os ruidos externos as edificagdes em ambientes urbanos é, muitas vezes, inviivel, visto a quantidade e a complexidade das fontes emissoras, como, por exemplo, veiculos que passam em fiente & fachada de uma edifica evidenciando a necessidade de tratamento ¢ avaliagdo do comportamento dos sistemas construtivos de nossas edificagdes frente a transmissio sonora. Isto implica na necessidade de maior cuidado na especificagao dos materiais ¢ dos sistemas que compdem a envoltéria dos edificios. (MATEUS, 2012; PAIXAO, 2002; OLIVEIRA; MITID! I FILHO, 2012). Assim como 0 ruido aéreo entre unidades no interior de uma edificagdo, 0 ruido causado pelo caminhamento ou queda de objetos, também ¢ alvo recorrente de reclamagdes em edificios habitacionais. Diferentemente dos sons aéreos, os ruidos causados por impacto podem se propagar por uma extensio considerivel na estrutura da edificagao, causando, desta forma, uma maior dificuldade para a escolha de sistemas eficientes, visto seu impacto global na estrutura. Essa situagdo apresenta um certo grau de complexidade em funcdo da rigidez existente nas ligagdes e/ou jungdes entre os diversos elementos construtivos (PEREIRA et al. 2014; PATRICIO, 2010). Assumindo esta problemética, remete-se aos requisitos de desempenho indicados pela norma NBR 15575 (ABNT, 2013a), que fornece a metodologia de avaliagdo e de classificagdo dos sistemas construtivos em cariter_multidisciplinar, abrangendo, dentre outras Areas, 0 desempenho acistico. A norma apresenta a classificago de _ sistemas construtivos em fungao do uso do ambiente propriamente dito, e dos ambientes adjacentes, ]STAOA SOCEDADE BAASLERADE ACUSTICA (SOBRAC) com possibilidade de trés diferentes niveis: minimo (M), intermedisrio (1) ¢ superior (S). Sendo assim, 0 objetivo deste trabalho é apresentar 0 desempenho em campo de diferentes sistemas de vedagdo vertical e de pisos, testados em um edificio residencial, com a finalidade de obtengio do nivel de desempenho actistico superior segundo a NBR 15575. 2. METODO Neste estudo, por critérios da empresa incorporadora, a edificago em questio deveria cumprir com os requisites de desempenho superior para todos os itens dispostos na norma, dentre eles, a avaliagdo do desempenho aciistico do sistema de vedagao vertical interno (SVVI), sistema de vedagao vertical externo (SVVE) e do sistema de piso. O empreendimento situa-se na cidade de Novo Hamburgo/RS, sendo que 0 _projeto arquiteténico original no contemplava plenamente os critérios de classificagio superior de desempenho acistico. Desta forma, as propostas para qualificagdo do isolamento sonoro no poderiam incluir alteragSes nas areas e demais dimensdes dos elementos construtives para no gerar mudangas no projeto jé aprovado, Os requisitos para atendimento do nivel de desempenho superior para ensaios em campo sio expressos de acordo com o tipo de sistema construtivo a ser analisado, Para as fachadas, ou SVVEs, a primeira informagdo necessaria ¢ a classe de ruido do local de implantagao da habitagdo. Nesse sentido, a NBR 15575 ndo oferece parmetros quantitativos para a classificagao, somente as caracteristicas que relacionam aspectos subjetivos, conforme pode ser observado na Tabela 1 © critério utilizado neste estudo partiu da exclusio das situagSes que caracterizam as Classes Te III, pois 0 local nao fica proximo a pistas de aeroportos, trajetérias de aeronaves, circulagdo de veiculos motores pesados, nem estagdes ou linhas de trem, que poderiam caracterizar a Classe de Ruido II]. Também foi AGUSTIN VIRAGOES no, 48, dezembro de 2016 Wipe ha 8 Ltrs HSPs. JR Bora FL Oat Oneenperh citar um asco esennal dniinae wow pAENOR 137S QB considerado que, devido ao uso residencial da 4rea de implantagdo, o que acarreta movimento de automéveis, ndo poderia ser considerado como Classe de ruido I. Portanto, 0 opgao foi admitir a Classe de Ruido TI para o empreendimento deste estudo. Tabela 1: Classificagdo de desempenho avistico de SVVE para ensaios em campo CR Locelizagio dahabitagio PT ND Habitagdo localizada distamte 1 defontes deruido intenso de > 25 1 ‘quaisquer naturezas, 30 s 2250 M abitago Tocalizada em éreas sujltasasituagdesderuido Ml no enquadréveis nas classes 1 =50 ' ell 235 s Habitagio sujcitaaraido = 2300 M Intenso de meios de transporte MM ede outrasnaturszas, desde = 35 1 que esteja de acordo coma legisla. 40 5 Nowa minimo; I= intermediirio; S~ superior. Fonte: ABNT, 20136, Na Tabela 2 apresentada uma sintese dos critérios quantitativos utilizados para. a classificagdo e escolha dos sistemas construtivos no empreendimento deste estudo, conforme os requisitos da NBR 15575. Ressalta-se que os valores correspondentes aos sistemas verticais SVVE © SVVI_ estio relacionados ao som aéreo, para o qual a quantidade expressa de forma direta 0 isolamento do sistema construtivo. Para os sistemas de piso, é utilizado um descritor que relaciona uma quantidade de som medida no cémodo adjacente inferior ao piso excitado por uma fonte de impacto mecanico e, portanto, a quantidade expressa de forma inversa. a capacidade de isolamento do sistema construtivo. Por isso, para os sistemas verticais de vedagdo, é apresentado um valor minimo, ¢ para os sistemas de piso, o critério trata de um valor maximo para a classificagio de desempenho acistico superior. ]STAOA SOCEDADE BAASLERADE ACUSTICA (SOBRAC) Tabela 2: Resultados para a classificagao superior de desempenho actistico 5 Critério de Sistema construtive escola SWE D’zautw > 35 dB Fonts: ABNT 2013e; 20100, A diferenga padronizada de nivel dos SVVEs foi determinada em dois dormitérios da mesma unidade habitacional. A determinagio da diferenga padronizada de nivel dos sistemas de vedacdo vertical foi realizada através de medigdes em uma parede de geminagao que divide um dormitério ¢ a sala de unidades habitacionais distintas. J4 0 nivel de pressdo sonora de impacto padronizado foi medido em sistemas de piso com uma laje de concreto armado maciga de 12 em de espessura na sala de uma das unidades. A Figura 1 ilustra a disposigio dos trés cémodos dentro das unidades, bem como, apresenta a localizagao dos sistemas de vedaco vertical analisados, a geometria dos trés cémodos em questio. Figura 1: Locago dos sistemas na planta tipo das unidades habitacionais, Fonte; adaptado de Wulf et al, 2014. Os procedimentos de ensaio adotados foram os prescritos pela ISO 16283-1 (ISO, 2014) para os ensaios de SVVI, pela ISO 16283-2 (ISO, 2015) para os ensaios de ruido de impacto ¢ pela ISO 16283-3 (ISO, 2016) para os ensaios em fachadas. As caracteristicas dos cémodos cumpriam com os requisitos impostos pelas mesmas, possibilitando a execugdo do método de ensaio padrio, obedecendo a quantidade de 196 Deserpat elses enum adc ender daatenra spare SelaNBR 1557S AGUSTIN ViBRAGOES no, 48, dezembro de 2016 posigdes de fonte emissora e receptora necessarias. Todas as medigdes foram realizadas com equipamentos calibrados, em bandas de tergo de oitava, nas frequéncias centrais de 100 a 3150 Hz. O tempo de reverberagio foi medido a partir do método interrompido com trés decaimentos por posigéio. Os equipamentos utilizados sio do fabricante Bruel & Kjaer, sendo estes: analisador sonore 2270, fonte sonora Omnipower 4292-L, calibrador sonoro 4231, maquina de impactos 3207 e amplificador de poténcia 2734, Os pardmetros _medidos, ¢ posteriormente analisados, so fungdo da medigo do nivel de pressio sonora no cémodo emissor e receptor, para os ensaios de rufdo aéreo, e fungao do nivel de pressio sonora de impacto padrio, para os ensaios de ruido de impacto, todos cottigidos ao ruido de fundo, caso necessatio, € ainda, sdo fungo do tempo de reverberagio do cémodo receptor. Com as_medig efetuadas, a ISO 16283-1 © a ISO 16283-3 fornecem a Equagdo 1 para a determinagdo da diferenga padronizada de nivel, tanto para sistemas interno como para sistemas externos. Em complemento, a ISO 16283-2 indica a Equagdo 2 para o célculo do nivel de pressio sonora de impacto padronizado, possibilitando a elaboragio dos grificos frente as bandas de frequéncias analisadas. mur = L1—L2 + 10log @ Fq.1 Onde: LI nivel de pressio sonora no_cémodo emissor, ou no exterior, a 2 metros da fachada, em 4B; L2 nivel de pressdo sonora no cémodo receptor em dB; T tempo de reverberagio do cémodo receptor em s; € To tempo de reverberagio referéncia (0,5 5). . Lign = L2—10log @ Eq.2 Onde: L2 nivel de pressdo sonora de impacto no cémodo receptor em dB; T tempo de reverberagdo REVISTADA SOCIEDADE BRASILEIRADE ACUSTICA (SOBRAC) do cémodo receptor em s; © To tempo de reverberagao referéncia (0,5) A pattir das medigées, © dos célculos dos pardmetros para todas as bandas de frequéncia, a norma ISO 717-1 (ISO, 2013), para os ensaios de ruido aéreo, ¢ a ISO 717-2 (ISO, 2013), para os ensaios de ruido de impacto, prescrevem metodologias de comparagio dos valores calculados perante valores de referéncia, possibilitando o célculo dos valores ponderados para os dois parimetros, e posterior classificagao conforme a NBR 15575 (ABNT, 2013). 2.1 Ensaios nos SVVEs © desempenho dos SVVEs foi determinado para dois dormitérios da mesma unidade habitacional. Esta andlise foi necesséria, pois ambos possuem area de piso diferentes, bem como, as dimensées das aberturas também apresentam diferengas entre si. O dormitério 1, com a fachada F1, apresenta maior area de piso e de abertura, no entanto, a rea total da fachada & menor, se comparada 4 fachada F2 do dormitério 2. As paredes externas sio compostas por alvenaria de blocos ceramicos com fbk de 7 MPa, sendo os blocos nas dimensdes de 19 x 19 x 29 cm, com revestimento em argamassa com espessura de 3 cm em cada face © as demais especificagdes de cada SVVE podem ser analisadas conforme as informagies da ‘Vabela 3, Em ambos, as aberturas sio de PVC, com vidros duplos e caixa de persiana integrada, com a diferenga de que 0 caixilho do sistema FI possui um painel fixo com vidro duplo laminado. Os ensaios foram realizados com as persianas abertas, ou scja, com os vidros expostos ¢ a persiana enrolada dentro da caixa integrada, AGUSTIN ViBRAGOES Wipers, Staves HSPs. 1 Bor FL Oba: fo 48, dezemibro de 2016 Oneenpero seta rum asicaescensal dsaienae owe pauNOR 1337S QT Tabela 3: Sistemas de vedagdes verticais externas - SVVE Kreado Areada Area da dentificagdo Detalhe Deserigao cémodo —fachada _abertura (a (x) Gr) TEsquadria de correr de duas Tolhas ‘em PVC, com dimensbes de — 184x165,4 em, com vidros duplos H monoliticos de 4 mm e 6 mm, com 10 mm de camada de ar, com persiana em PVC e painelfixo com vvidro duplo incolor de 3+3.¢ 4 mm com cimara de ar de 10 mm Esquadria de correr de duas folhas ‘em PVC, com dimensbes de 184x123 em, com vidros duplos 7 10 mm de camada de ar, com persiana em PVC 15,83 860 3,04 construgéo definidas por norma e pelos fabricantes, possuindo uma drea de amostra de Foram ensaiados cinco sistemas de vedagao 12,65 m®. As composigdes, e as nomenclaturas vertical intemos distintos, executados em adotadas neste trabalho esto apresentadas na periodos diferentes, seguindo as prescrigdes de Tabela 4. 2.2 Ensaios nos SVVIs ‘Tabela 4: Sistemas de vedagées verticais internas - SVVI r Massa IdentiticagSo Detalhe Descrigto eee Total (kg/m?) Drywall de duplaexiratara independente, revestida com duas placas de goss0 Al acartonado standard de 12,5 mm em 16 3 amas as faces, com 1 de vidro de 10 em Parede dupla de bloco de conereto celular 7 autoclavado de 7,5 om, revestida em os 0 argamassa convencional de 2 em em ambas as faces, com Id de vidro de 5 em Parede simples de bloco eerimico cestrutural de 19 em com alvéolos A3 preenchidos com areia, revestida em 28 465 argamassa convencional em 3 mem. ambas as faces Parede dupla de bloco ceramivo de vedagdo de 9 em com alvéolos Ad preenchidos com areia, revestida em. 2 430 argamassa convencional de 2 em em ambas as faces, com ld de vidro de 5 em ISTADA SOCIEDADE BRASILEIRADE ACUSTICA (SOBRAC) 19g Deserpat eles eum adc ender daatenra spare belaNBR 1557S AGUSTIN ViBRAGOES no, 48, dezembro de 2016 Parede simples de bloco ceramico ‘estrutural de 19 em com alvéolos AS preenchidos com areia, revestida em argamassa convencional em 1,5 em¢ 2s 420 placas de gesso acartonado standard de 12,5 mm coladas em ambas as faces As propostas de SVVIs partiram dos prineipios fundamentais de isolamento actistico em sistemas construtivos, para os quais se considera que 0 aumento na massa superficial e/ou o uso de sistemas com funcionamento do tipo massa-mola-massa constituem as solu mais eficientes para redugdo da transmissio sonora. Para tanto, as propostas com blocos cerimicos incluiram o preenchimento dos alyéolos com areia, tendo como fundamento os ensaios realizados pelo fornecedor dos blocos, presentes em scu manual de desempenho (PAULUZZI, 2015). Essa solugdo foi incluida nos ensaios apés a conferéncia do projeto estrutural e a resposta de que no haveria comprometimento da estrutura do edificio, 2.3 Ensaios nos sistemas de piso Com relagdo aos sistemas de piso, foram utilizadas quatro composigdes distintas de pisos flutuantes, que seguem o principio de amortecimento do impacto. mecanico para redugdo da irradiagao das vibragdes. Os pisos flutuantes também tém sua eficiéneia amparada no sistema massa-mola-massa, para os quais a massa da base esté relacionada com a rigidez da laje, a “mola” da camada intermediaria com a capacidade de amortecimento da base eldstica, © a massa superior com a rigidez e massa propriamente dita do contrapiso (NUNES; PATRICIO 2016). Para este estudo, foram testados contrapisos conyencionais de argamassa ¢ contrapisos com a adigio de agregados leves. Esse iiltimo, fundamentou-se em pesquisa realizada anteriormente (TUTIKIAN et al., 2012), com ‘© uso de EVA na composigao de contrapisos para o isolamento dos sons de impacto. As camadas resilientes foram constituidas de dois tipos de materiais poliméricos: placas de EVA € manta de 1d de PET. Os pisos flutuantes foram executados sobre a laje da sala da mesma unidade, com forro de gesso com plenum de 30 em, tendo suas caracteristicas nomenclaturas adotadas conforme a Tabela 5. ‘Tabela 5: Sistemas de pisos analisados Identificago Detalhe Deserigao. RI Manta em EVA de 7 mm sob contrapiso argamassado com adi¢do EVA, de duas gramulometrias, fina e média, em 50 mm ¢ material absorvente no negative do sistema de forro R2 Manta em EVA de 7 mm sob contrapiso argamassado com adigdo EVA, de granulometria fina, em 50 mm e ‘material absorvente no negativo do sistema de forro ‘Manta em li de PET de 10 mm sob contrapiso argamassado convencional de 40 mm e material absorvente no negativo do sistema de forro ISTADA SOCIEDADE BRASILEIRADE ACUSTICA (SOBRAC) ACUSTICA€ ViaRAGOES no, 48, dezembro de 2016 ip Fa 8 Lae HS. Dererosrte sists om un edtaorenercal onions wiptarieuNan ers 9 RA ‘Manta em li de PET de 10 mm sob contrapiso aargamassado convencional de 60 mm e material absorvente no negativo do sistema de forro 3. RESULTADOS E DISCUSSAO 3.1 SVVEs Os SVVEs —analisados _apresentaram comportamentos semelhantes, com diferenga de 1 dB nos valores da D’2nat-v. Os resultados por bandas de tergo de oitava podem ser verificados no grafico da Figura 2, no qual pode-se perceber que a principal diferenga ocorreu nas bandas de frequéncias entre 1250 ¢ 2000 Hz. O sistema FI apresenta 36% de sua area comprometida com a abertura, o que representa o dobro de rea se comprado ao sistema F2. No entanto, essa situago ndo comprometeu o desempenho actistico do sistema, pois a qualidade do caixilho € 0 isolamento sonoro dos vidros, asseguraram a qualidade geral requerida para 0 conjunto do fechamento. Cabe ressaltar que os ensaios foram realizados com as persianas abertas. Essa situagdo, segundo estudos em —laboratério de Schvarstzhaupt et al. (2014), representa a situago de maior fragilidade do isolamento aciistico para esse tipo de caixilho, com diferengas que podem variar de 6 a 9 dB em relagdo 4 mesma janela com a persiana fechada. beam (de) 300° 125” 160 200” 250. 315400 S00 630800 1000 3250” 1600 2000 2500" 9350 —aA Damn 39.60, Fama 388 Frequanca (He) Figura 2: Resultados dos SVVEs 3.2 SVVIs Os resultados obtidos através dos ensaios nos SVVIs esto expressos por meio da Figura 3, na qual se evidencia que trés dos sistemas (Al, A3 e Ad) possuem um espectro de redugdo de REVISTADA SOCIEDADE BRASILEIRADE ACUSTICA (SOBRAC) transmissdo sonora similar, além de serem os Tinicos que cumprem com nivel superior frente aos requisitos da NBR 15575 (ABNT, 2013b). Pode-se verificar, ainda, dos sistemas que ndo atendem ao nivel de desempenho superior, que o sistema A2 sofre um aumento 4100, Demreatis aces coin asilcresdertel daestearso spre SelaNBR 1557S AGUSTIN ViBRAGOES no, 48, dezembro de 2016 de transmissio sonora muito acentuado nas bandas das médias frequéncias, mais precisamente entre 250 e 630 Hz, que ocorreu, provavelmente, pela falta de massa e de rigidez dos blocos de conereto celular autoclavado. O outro sistema que no cumpriu com o desempenho desejado, o sistema AS, possui uma perda de isolamento nas bandas de frequéncias acima de 1250 Hz, que pode ter sido causada pela distancia excessiva entre pontos de fixagiio da cola nas placas de gesso acartonado, formando, consequentemente, vazios com baixo amortecimento frente 4s ondas sonoras. Dentre os sistemas que atenderam ao critério de desempenho superior, & possivel verificar que o sistema Al possui um comportamento de spectro muito semelhante aos outros dois sistemas, com uma perda de transmissio sonora inferior nas bandas das médias frequéncias, acarretando na redugdo de 1 dB na diferenga padronizada de nivel ponderada, mas que ainda é suficiente para o cumprimento do desempenho superior. Ressaltando, ainda, que o sistema AJ tem sua capacidade de redugdo sonora advinda da no continuidade de sua estrutura intema, com rompimento da transmissio das vibragées estruturais entre as faces, enquanto que, os sistemas A3 e A4, tém suas capacidades de redugdo sonora provenientes de sua maior massa e rigidez, se opondo as vibragies e ressonincias mas bandas de frequéncia analisadas, oma S& 34 Fane) Figura 3.3 Sistemas de pisos Analisando os resultados dos ensaios de ruido de impacto, conforme o grafico da Figura 4, pode-se verificar que os sistemas compostos por argamassa com adigio de EVA e manta de EVA de7 mm, RI ¢ R2, nao obtiveram mesmo comportamento frente as bandas de frequéncias analisadas, quando comparadas is outras composigdes. Essa situagao, evidencia 0 nivel de desempenho inferior ao desejado, para © qual, somente o sistema R2, nas bandas de ]STAOA SOCKDADE BAASLERADE ACUSTICA (SOBRAC) : Resultados dos SVVIs 100 ¢ 3150 Hz, se equivale ao nivel de pressio sonora de impacto dos sistemas R3 ¢ R4. Os sistemas R3 ¢ R4, foram os tinicos que obtiveram desempenho superior, com espectro relativamente semelhante até a banda de frequéncia de 400Hz, diferindo nas médias altas frequéncias. Os melhores resultados de isolamento ao ruido de impacto tém relagao direta com 0 aumento ACUSTICA€ ViaRAGOES no, 48, dezembro de 2016 ip Fis 8; Lares MSP. 1A Bor FL Oat. serosa extn om un edrcensreal donors upeter baa NOR TESTS 101 da rigidez da placa de contrapiso que recebe a excitagdo mecénica primaria e inradia as vibragdes para as camadas _subjacentes. Comparativamente, essa situagdo ¢ observada na maior eficiéncia do contrapiso convencional em relagdo ao contrapiso com agregados leves ¢, também, no aumento de 20 mm na espessura dos contrapisos dos sistemas com desempenho superior (R3 ¢ R4). = regen Figura 4: Resultados dos sistemas de pisos ao som de impacto 4, CONCLUSAO Mediante 0 aumento da preocupagao com 0 desempenho das edificagdes habitacionais, bem como a publicagdo da NBR 15575, tornando obrigatorios os requisitos ¢ critérios a serem cumpridos, se fez necesséria uma avaliagiio mais detalhada dos materiais ¢ sistemas construtivos empregados até entao na construgao civil. Nesse sentido, devem ser fomentadas as iniciativas que visem a modificagdo na concepgio dos edificios no mercado nacional, para os quais os projetos devem especificar sistemas que estejam em concordancia com os requisitos de desempenho aplicdveis as situagdes em que as edificagdes possam estar inseridas. Em muitos casos, os sistemas convencionais utilizados até entio ndo cumpriam com os requisitos analisados neste trabalho, necessitando a implementagio de diferentes materiais nas REVISTADA SOCIEDADE BRASILEIRADE ACUSTICA (SOBRAC) composigdes, a fim de desenvolver sistemas que atendessem os niveis de desempenho almejados. As andlises dos sistemas de vedagio vertical extemos consideraram dois fechamentos com mesma composigio de alvenaria de blocos ceramicos. A principal diferenga entre os SVVEs foi a proporgio de drea de abertura, que nao comprometeu os resultados em fungdo da qualidade do conjunto de caixilhos ¢ vidros utilizados. Os sistemas de vedagio vertical analisados neste trabalho sio compostos de materiais facilmente encontrados no mercado nacional, tendo sua composigdo escolhida em fungdo da disponibilidade de materiais, mio de obra adequada, custo e seu retomo no nivel superior de desempenho actstico. As composigdes utilizaram materiais vastamente conhecidos, como blocs cerimicos © 402. Damani aces ei i endenl dateara spare SelaNBR 1557S no, 48, dezembro de 2016 revestimento argamassado, assim como, placas de gesso acartonado para sistemas de drywall, muito utilizadas em edificagdes comerciais. Além destes, foram também ensaiados sistemas com blocos celulares autoclavados, que sio, ainda, relativamente novos no mercado. Para os sistemas de piso, foram utilizadas composigdes de pisos flutuantes através de testes com materiais poliméricos resilientes na forma de camadas elasticas (EVA e de Ia de PET). Os contrapisos utilizados foram do tipo convencional ¢ com a adigio de agregados leves de EVA, sendo que, os sistemas de piso com desempenho aciistico superior foram os compostos com contrapiso convencional. Destaca-se que, neste estudo, todos os sistemas de pisos testados possufam teto de gesso no pavimento abaixo, o que contribui para a eficiéncia geral do sistema, Tanto para os requisitos de desempenko a sons aéreos por parte dos sistemas de vedagio vertical, quanto pelas requisigdes em relagio aos sons de impacto nos sistemas de piso em questo, pode-se indicar que os materiais usualmente —utilizados —_disponiveis corriqueiramente no mercado sio inimeros, necessitando a implementagdo de diferentes composigdes, a fim de melhorar o sistema como um todo, buscando atender aos requisitos e niveis de desempenho aplicaveis. Dentre os cinco sistemas de vedagdo vertical, trés obtiveram desempenho superior nos ensaios em campo, e dentre os quatro sistemas de revestimento de piso, somente dois apresentaram o desempenho desejado, Com as opgdes de sistemas que atenderam ao desempenho superior, a escolha dos sistemas a serem utilizados na edificagdo levou em considerago os aspectos construtivos que estes impactariam, bem como a viabilidade técnica de uso de materiais, mio de obra e aspectos relacionados aos custos. Para os sistemas de vedagio vertical intemnos, 0 sistema escolhido foi o A3, que apesar de sua REVISTA DA SOCEDADE BRASILERADE ACUSTICA (SOBRAC) massa superficial elevada, causando um acréscimo nas cargas na estrutura da edificagdo, apresentava facilidade na obtengao dos insumos, mio de obra, ¢ utilizagio de materiais com valor atrativo, Nos sistemas de revestimento de piso, dentre os que obtiveram desempenho superior, 0 escolhido foi o sistema R3, que possui menor espessura de contrapiso argamassado, diminuindo as cargas na edificagao ¢ reduzindo © volume total de materiais a serem utilizados, No presente estudo, as avaliagdes foram realizadas a partir de resultados de ensaios efetuados em campo. Nessa situagdo, 0 rigor adotado na execugio da obra pode definir diferengas significativas de _desempenho aciistico entre sistemas construtivos com as mesmas especificagdes e caracteristicas. Por isso, os ensaios em campo so extremamente importantes para a caracterizago do desempenho aciistico de edificios ja executados, mas seus resultados nao devem ser considerados como padrio para outras obras. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a Athiva Brasil EmpreendimentosImobilidrios pela possibilidade de realizagdo do estudo aqui apresentado. REFERENCIAS ABNT ~ Associapio Brasileira de Normas ‘Técnicas, NBR 1557S-1, Esificios Habitacionais ~ Desempenho, Parte I Requistos Gerais, Rio de Janeiro: ABNT, 2013a, NBR 15575-4, Fuificos Habitacionsis - Desempenho. Parte 4: Requisitos para os sistemas de vedagGes verticals intemas e extemas - SVVIE. Rio de Janeiro: ABNT, 2013b. [NBR 18575-3. Edificios Habitacionais — Desempenho. Parie 3: Requisitos para os sistemas de pisos, Rio de Jancio: ABNT, 2013¢. GONGALVES, 0.; JOHN, V. My PICCHI, F, As SATO, N MN, Norms téenicas para avaliagdo de sistemas construtivos jnovadores para habitagSes - Colegio Habitare vol. 3. In: Normalizasio e Certficasio na Construgio Habitacional, Porto Alegre: ANTAC, 2003, pp. 42- 53 AGUSTIN VIRAGOES no. 48, dezembro de 2016 ipa 8 Lares HS Pee. RBar FL Oba: BF Oneenpern cnr um asa eseenal danse wow paNBR 1337S. 103; HANSEN, C. Noise Control - From concept to application Londres: Taylor & Francis, 2005, 180 — Intemational Orgenization for Standardization, ISO 6243-1. Acoustics - Field measurement of sound insulation in buildings and of building elements. Part I: Airborne sound insulation, Genebra: ISO, 2014, 180 16283-2. Acoustics - Field measurement of sound ivalation in buildings and of building elements - Part 2 Impact sound insulation. Genebra: ISO, 2015, ISO 16283-3. Acoustics - Field measurement of sound Tsulation in buildings and of building elements - Part 3 Facade sound insulation. Genebra ISO, 2016, KERN, A.P; SILVA, A; KAZMIERCZAK, C. $. 0 processo de implantagio de normas de desempenho na constnusio: um comparativo entre a Espanha (CTE) ¢ Brasil (NBR 1557512013). Gestdo e Teenologia de Projetos. So Paulo, v. 9, m1, p. 89-101, janijun, 2014. DOT 10.11606/gtp.v9il.89989 MASCHKE, C.; NIEMANN, H. Health effects of annoyance induced by neighbor noise. Noise Control Engineering Journal. 2007, Vol 55, 0.3, pp. 348-356. OI 10,3397/1.2741308, MATEUS, D. Actstica de edificios e controle de ruido. Coimbra: Faculdade de ciacias tecnologia - Universidade de Coimbra, 2012, MITIDIERI FILHO, C.V.; HELENE, PRL. Avaliagdo de ddesempenho de componentes e elementos construtivos snovadores destinados a habitagBes: proposigées especiticas & avaliagdo do desempenho estrutural. So Paulo: EPUSP, 1998. 38. Boletim Técnico da Escola Politgenica da’ USP, Departamento de Engenharia de Construgdo Civil BIVPCCI208, NUNES, M. F, 03 PATRICIO, J V. Different input parameters in modelling for predicting impact noise of noa- homogenous floors, In: 22 ICA. Buenos Aires: Asociacién de Acistcos Argentinos, 2016, OLIVEIRA, L. A.; MITIDIERI FILHO, C. V. 0 Projeto de cdificios habitacionais considerando a Norma Brasileira de Desempenho: anilise aplicada para as vedasdes verticas, Gestio © Tecnologia de Projetos. 2012. Vol.7, n° 1, pp. 90-100, DOI 10.4237/gtp.v1il.208, PAIXAO, D. X. Caracterizagdo do isolamento acistico de uma parede de alvenaria, utlzando Anilise Estatistica de Energia (SEA). 2002. 182 p. ‘Tese de Doutorado ~ PPGEMIUESC, Florianépolis, PATRICIO, J. V. Actstien nos editicio Dashiter, 2010. PEREIRA, A; GODINHO, L; MATEUS, D,; RAMIS, 1: BRANCO, F. G. Assessment of a simplified experimental procedure to evaluate impact sound reduction of floor coverings, Applied Acoustics. mai 2014, Vol. 79, pp. 92-108, DOI 10.1016) apacoust.2013.12.014. SCHVARSTZHAUPT, C, Cs TUTIKIAN, B. F NUNES, M F. ©. Andlise comparative do desempenho acistico de sistemas de fachada com esquadrias de PVC com persiana € diferentes tipos de vidros em enssios de laboratério, Ambiente Construido, Dezembro, 2014, Vol, 14, n° 4, pp. 135-145. DOI 10.1590/S1678-86212014000400010. Lisboa: Verlag SILVA, A. T; KERN, A. P; PICCOLI, Rs GONZALEZ, M. REVISTADA SOCIEDADE BRASILEIRADE ACUSTICA (SOBRAC) ‘A. S, Novas exigéncias decorrentes de programas de cetificagdo ambiental de prédios e de normas de desempenho ‘ba construgio. Arquitetura Revista, 2014. Vol. 10, n°2, pp. 105-114. DOT 10.4013/arq.2014,102.06, TUTIKIAN, B. F; NUNES, M. F. 0; LEAL, L. Ci MARQUETTO, L. Impact sound insulation of lightweight concrete floor with EVA waste. Building Acoustis. Junho, 2012. Vol.19, n°2, pp. 75-88. DOI 10.126011351- 010X.19.2.75. Wolff, B.; Frapiccini, M. J. Ns Geshaed, C.; Spindler, R. Projeto arquitetOnico do. Residencial Chronos. Novo Hamburg, 2014

Você também pode gostar