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Letras
LICENCIATURA EM
Português/Espanhol
TEORIAS DA LEITURA E
FORMAÇÃO DO LEITOR
Evanir Pavloski
Pavloski, Evanir
P338t Teorias da leitura e formação do leitor / Evanir Pavloski.
Ponta Grossa : UEPG/NUTEAD, 2012.
87 p. : il.
Licenciatura em Letras - Educação a distância.
1. Leitor – formação. 2. Leitiura. I. T
CDD: 808.068
A Coordenação
SUMÁRIO
■■ PALAVRAS DO PROFESSOR 7
■■ OBJETIVOS E EMENTA9
■■ PALAVRAS FINAIS 84
■■ REFERÊNCIAS85
■■ NOTA SOBRE O AUTOR 87
PALAVRAS DO PROFESSOR
Seja bem-vindo ao Curso de Letras, na modalidade Português/
Espanhol e, em especial, ao conteúdo de Teorias da Leitura e Formação
do Leitor.
A leitura representa não apenas um caminho para a aquisição de
conhecimento, aperfeiçoamento da linguagem e catarse, mas também
uma parte integrante da formação de indivíduos dotados de senso crítico,
princípios éticos e cidadania. Entretanto, dados estatísticos revelam
problemas crônicos no Brasil no que se refere à leitura de textos literários
ou não, como, por exemplo, deficiências no processo de alfabetização e o
analfabetismo funcional. Tais problemas podem ser enfrentados por meio
de uma consciência mais plena do processo da leitura como um todo:
suas dimensões, as inferências e as expectativas envolvidas na leitura
de diferentes gêneros textuais, a estrutura composicional que forma a
tessitura dos textos e as diferentes etapas que compõem o processo de
desenvolvimento da capacidade de leitura dos sujeitos.
Diante disso, esta disciplina foi organizada com o objetivo de
promover o estudo e a reflexão sobre o real panorama da leitura no
Brasil e os desafios que o cercam. Nesse sentido, privilegiou-se, em um
primeiro momento, a análise de dados estatísticos e de textos críticos
sobre a questão.
Em seguida, buscamos delinear os principais conceitos das
chamadas teorias da recepção, tendo em vista um aprofundamento crítico
da própria definição de leitura e das suas múltiplas faces. Contudo, o foco
principal da disciplina repousou sobre a interação com textos verbais e os
diversos elementos que permeiam a sua organização e que condicionam
a sua interação com o leitor.
Finalmente, reservamos uma unidade específica para o estudo das
especificidades do texto literário e da experiência estética na qual o leitor
mergulha ao percorrer as páginas de contos, fábulas, crônicas, poemas e
romances.
Dessa forma, buscamos evidenciar as especificidades estruturais e
dialógicas que perpassam o processo da leitura e apontar características
relevantes que podem contribuir para uma formação mais efetiva de
leitores mais competentes e mais conscientes.
Assim, esperamos que o diálogo silencioso com os textos aqui inseridos
ecoe para outras dimensões textuais e possibilite, eventualmente, a dissipação
de outros silêncios sustentados pelo desconhecimento e pela exclusão.
OBJETIVOS E EMENTA
Objetivos
■■ Promover a discussão sobre as causas históricas, sociais e educacionais dos
problemas de alfabetização e leitura de jovens e adultos no Brasil.
■■ Analisar, no horizonte das teorias da recepção, os problemas e desafios
enfrentados em sala de aula para a formação de leitores, tendo como corpus
de análise dados apresentados por autores e institutos interessados (INAF, IPM,
IPEA, etc.).
■■ Aprofundar os conhecimentos teóricos sobre os processos dialógicos
envolvidos na leitura de textos ficcionais ou não.
■■ Problematizar os limites da escrita literária e do cânone ocidental enquanto
elementos integrantes do processo de formação de leitores.
■■ Aprofundar o conhecimento teórico sobre as relações que se estabelecem
entre o leitor e a obra literária, as quais caracterizam um processo dialógico de
ordem histórica, cultural e interpessoal (comunicação diferida).
Ementa
Análise de dados estatísticos e textos críticos sobre o panorama da leitura no Brasil.
Estudo das teorias da leitura e do papel do leitor no processo de significação de
textos verbais e não verbais. Discussão sobre a produção, circulação e recepção
de obras literárias, tendo em vista o papel ativo dos leitores sobre essa dinâmica.
UNIDADE I
A leitura no Brasil – mitos
e fronteiras
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
■■ Analisar os aspectos histórico-sociais que contribuíram para um quadro
deficitário da leitura no Brasil.
■■ Distinguir os conceitos de analfabetismo e analfabetismo funcional
no contexto brasileiro, relacionando-os com índices estatísticos sobre a
alfabetização e a leitura no último século.
■■ Perceber as diferentes modalidades de leitura presentes nas sociedades
modernas e problematizar a noção de que o povo brasileiro simplesmente não lê.
ROTEIRO DE ESTUDOS
■■ SEÇÃO 1 - Antecedentes históricos da leitura no Brasil
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Teorias da leitura e formação do leitor
SEÇÃO 1
ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA LEITURA NO BRASIL
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Universidade Aberta do Brasil
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UNIDADE 1
Teorias da leitura e formação do leitor
filhos na Europa enquanto a vasta maioria dos indivíduos permanecia
iletrada. Tal configuração fez com que a formação educacional da
massa desprivilegiada se concentrasse sobre ensinamentos práticos que
possibilitassem o exercício de ofícios necessários na época (artesãos,
agricultores, etc.) e que não demandavam um ensino formal e mesmo
a alfabetização. O conhecimento e a cultura eram vistos, sob essa
perspectiva, como refinamentos distantes da realidade cotidiana e das
urgências da subsistência1.
A situação não se modificou substancialmente durante o período
imperial, mesmo com a abertura das primeiras faculdades no Brasil.
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UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil
QUADRO 13
Evolução do Índice
de Analfabetismo no Brasil
(1940-1977)
Ano Índice
1940 56,1%
1950 50,7%
1960 39,6%
1970 33,6%
1971 30,7%
1972 26,6%
1973 25,5%
1974 21,9%
1975 18,9%
1976 16,4%
1977 14,2%
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UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil
SEÇÃO 2
OS ANALFABETISMOS NO BRASIL DO SÉCULO XXI
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UNIDADE 1
Teorias da leitura e formação do leitor
Diante do quadro acima, é inegável a evolução nos índices de
alfabetização no país no curso de cem anos. Entretanto, é preciso
considerar que a queda dos percentuais do número de analfabetos está
diretamente relacionada ao crescimento populacional da nação, o qual
se mostra mais acelerado do que o decréscimo na taxa de analfabetismo.
Como afirma Jose Marcelino de Rezende Pinto:
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UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil
4 O IDH é uma grandeza comparativa que serve para medir o desenvolvimento dos países
22 pertencentes à ONU (Organização das Nações Unidas). O índice é composto por dados como o
UNIDADE 1 produto interno bruto, a renda per capita da população, a expectativa de vida e os níveis educacionais.
Teorias da leitura e formação do leitor
Assim, percebemos que o crescimento econômico do país, a
distribuição de renda e a qualidade de vida são parâmetros complementares
ao desenvolvimento humano de um país e que, apesar dos inegáveis
avanços, o Brasil ainda tem um pedregoso e longo caminho a ser seguido.
Tal conclusão é confirmada pelo resultado do censo demográfico
realizado em 2010. Nesta nova coleta de dados, os índices de analfabetismo
mostraram, uma vez mais, aparente redução. Em reportagem publicada
pelo jornal Folha de São Paulo em 16 de novembro de 2011, apontou-se
que o índice caiu de 13,6% em 2000 para 9,6% em 2010, o que representa
um declínio de quatro pontos percentuais.
Entretanto, no mesmo período, o país caiu mais de dez posições
no ranking de IDH publicado pela ONU em 2011. Atualmente, o Brasil
ocupa a 84ª posição, permanecendo atrás de países como Zimbábue, país
com PIB (Produto Interno Bruto) equivalente a 5% do produto brasileiro.
Finalmente, é importante recordar que os índices estatísticos são
construídos a partir de parâmetros e critérios específicos que definem o
próprio conceito de alfabetização. É justamente nesta faceta da questão
que a noção de analfabetismo funcional assume grande importância.
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UNIDADE 1
Teorias da leitura e formação do leitor
INAF aponta que 26% do país domina leitura e escrita
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SEÇÃO 3
O BRASILEIRO NÃO LÊ! (O QUÊ?)
Venda de Revistas
Venda de Revistas(milhões
(milhões dede exemplares)
exemplares)
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UNIDADE 1
Teorias da leitura e formação do leitor
Considerando a periodicidade dos textos publicados, os dados acima
demonstram que a leitura pode ser considerada como um hábito comum
de uma parcela significativa da população, independentemente de
possíveis juízos de valor sobre a qualidade ou a relevância dos conteúdos
das revistas.
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UNIDADE 1
Teorias da leitura e formação do leitor
entrevistado de ter lido ao menos um livro nos últimos três meses.
A pesquisa constatou que 95 milhões de pessoas, ou seja, 55%
da população são leitores, enquanto 77 milhões, 45% dos entrevistados,
foram classificados como não leitores.
O estudo apontou também que o brasileiro lê, em média, 4,7
livros por ano. Em algumas regiões o número é ainda maior, como é o
caso do Sul, onde foi apurado que
são lidos 5,5 livros por habitante
ao ano. No Sudeste o número foi
de 4,9, no Centro-Oeste 4,5, no
Nordeste 4,2 e no Norte 3,9. A
pesquisa confirmou também que
as mulheres leem mais que os
homens, 5,3 contra 4,1 livros por ano.
A primeira edição da pesquisa foi realizada em 2000 e 2001 em
44 municípios brasileiros. Na época, o estudo constatou que 49% da
população eram de indivíduos leitores.
Obviamente, é possível afirmar que o avanço quantitativo de leitores
no país foi tímido e que há ainda muito a ser feito. Todavia, os índices
apresentados acima, assim como os outros dados expostos anteriormente,
demonstram a superficialidade de alegações generalizadoras e fatalistas
como as de que “o brasileiro não lê ou não gosta de ler”.
Ao invés de tomarmos como base de análise um cenário ilusório de
completo desinteresse da população brasileira pela leitura, acreditamos
ser mais produtivo o estabelecimento de metas e projetos tendo em vista
um panorama mais realista da prática leitora no país. Nesse contexto,
os maiores desafios sejam, possivelmente, o de reduzir o número de
analfabetos funcionais, o de aumentar o número de leitores frequentes e
o de possibilitar àqueles indivíduos que já leem a competência e o acesso
a outros gêneros textuais. Para tanto, as teorias da leitura e da formação
de leitores parecem oferecer uma contribuição extremamente relevante.
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UNIDADE 1
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UNIDADE 1
Teorias da leitura e formação do leitor
02) Leia o texto abaixo e analise o posicionamento de Ulisses Tavares em
relação à leitura no Brasil. A partir do que foi estudado nesta unidade, discuta os
argumentos apresentados e se posicione sobre a visão expressa pelo autor.
Você é jovem? Mora no Brasil? Está lendo este artigo numa boa, sem soletrar
palavra por palavra? Já leu mais de um livro inteirinho este ano? E, finalmente,
entendeu tudo que estava escrito no livro? Respondeu sim a estas perguntinhas?
Ufa! Que bom, parabéns, posso, então, ir direto ao ponto:
Primeiro, você faz parte de uma elite.
Segundo, você está com a faca e o queijo para conquistar tudo que quiser na vida.
Terceiro, você precisa ler mais, muito mais.
Agora, antes que você pare de ler isto aqui por achar que estou gozando com
sua cara, relaxe que eu explico.
O Brasil faz parte de uma lista horrorosa dos 12 países com mais analfabetos
entre os 14 e os 21 anos. Pior que nós, apenas Paquistão, Indonésia, Nigéria e
Etiópia, que raramente aparecem em boas notícias nos jornais.
Ah, você já sabia disto por que lê jornais também?
Nesse caso, você é minoria superespecial mesmo: apenas 1 entre 100 mil
jovens brasileiros dá uma espiada em jornais regularmente.
E o restante faz o quê? Exatamente: assiste televisão (não o noticiário, claro),
ouve rádio (só os programas com músicas e brincadeirinhas para idiotas) ou fica
caçando mulher pelada na internet.
Ainda está lendo este texto, e compreendendo tim-tim por tim-tim?
Encha o peito de orgulho: você está fora de uma lista ainda mais nojenta que
aquela lá de cima.
A Unesco faz um teste que avalia alunos de 15 anos em 40 países sobre
compreensão da linguagem escrita. Um teste mamata: ler uma historinha de poucas
linhas e depois dizer o que entendeu. É bom lembrar que os testados têm no mínimo
oito anos de bumbum na carteira da sala de aula.
Na grande avaliação deste ano, adivinhe quem tirou o último lugar? Coisa chata
mesmo, bró: o adolescente brasileiro ficou com o troféu do mais burro do mundo.
Não disse que você era minoria das minorias?
Mas, sem querer pentelhar e já pentelhando, como diria o intelectual Chavez
da televisão: existem quilômetros de livros para você devorar depois que entrar na
facú, se quiser continuar fora da manada e não levar uma vida de gado. (...)
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UNIDADE 1
UNIDADE II
Teoria da Recepção –
diálogos com os textos
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
■■ Discutir os conceitos contemporâneos de leitura e a proeminência dos textos
verbais na contemporaneidade.
■■ Distinguir os conceitos de leitura de mundo e leitura de textos.
■■ Problematizar as leituras pré-concebidas de mundo que, por meio dos mais
diferentes discursos, moldam pensamentos, atitudes e comportamentos.
■■ Discorrer sobre as origens históricas das teorias da recepção e as influências
que permeiam os seus horizontes de estudo.
■■ Analisar os cinco processos que compõem o ato da leitura e, por meio de
exemplos, aprofundar as suas dinâmicas.
ROTEIRO DE ESTUDOS
■■ SEÇÃO 1 - Os caminhos da leitura e as veredas da teoria
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UNIDADE 2
Teorias da leitura e formação do leitor
SEÇÃO 1
OS CAMINHOS DA LEITURA E AS VEREDAS DA TEORIA
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UNIDADE 2
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UNIDADE 2
Teorias da leitura e formação do leitor
Assim, a escrita cristaliza a leitura de mundo por meio de sua própria
materialidade e restringe o seu potencial significativo a paradigmas
discursivos pré-estabelecidos socialmente.
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UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil
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UNIDADE 2
Teorias da leitura e formação do leitor
É durante os anos 1970 que os profissionais
da análise de textos começam a estudar
a leitura. A obra literária que, até então,
era entendida na sua relação com uma
época, uma vida, um inconsciente ou uma
escrita é repentinamente considerada em
relação àquele que, em última instância,
lhe fornece sua existência: o leitor. Os
teóricos percebem que as duas questões
mais importantes que eles se colocam – o
que é literatura? como estudar os textos?
– significam perguntar por que se lê um
livro. A melhor forma de entender a força e a perenidade de certas obras
não equivale, de fato, a se interrogar sobre o que os leitores encontram
nelas? O interesse pela leitura começa a se desenvolver no momento
em que as abordagens estruturalistas começam a sofrer certo cansaço.
(JOUVE, 2002, p. 11)
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UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil
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UNIDADE 2
Teorias da leitura e formação do leitor
Mas o que é estudar a leitura? Se o objeto da crítica é a obra, qual
é o das teorias da recepção? O desempenho do leitor? O texto que lhe
serve de suporte? A interação entre os dois? Mas será que a leitura se
reduz a uma troca bipolar? A relação com a obra não tem também a
ver com as práticas culturais, os modelos ideológicos, as invariantes
psicanalíticas? Levar em conta esses diversos parâmetros não nos traz
de volta ao campo tradicional dos estudos literários? Analisar a leitura
significa se interrogar sobre o modo de ler um texto, ou sobre o que
nele se lê (ou pode se ler). Ora, se a observação do “como” da leitura
confere às teorias da recepção certa especificidade, o problema de seu
“conteúdo” leva frequentemente a se questionar sobre o ou os sentidos
do texto. (JOUVE, 2002, p. 13-14)
SEÇÃO 2
AS DIMENSÕES DA LEITURA
- Processo neurofisiológico;
- Processo cognitivo;
- Processo afetivo;
- Processo argumentativo;
- Processo simbólico.
Processo neurofisiológico
“A leitura é antes de mais nada um ato concreto, observável, que
recorre a faculdades definidas do ser humano. Com efeito nenhuma leitura
é possível sem um funcionamento do aparelho visual e de diferentes
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Teorias da leitura e formação do leitor
Prosseguiu solenemente e galgou a plataforma de tiro. (...)
Então, percebendo Stephen Dedalus, inclinou-se para ele, traçando
no ar rápidas cruzes, com grugulhos guturais e meneios de cabrita.
Stephen Dedalus, enfarado e sonolento, apoiava os braços sobre o topo
do corrimão e olhava friamente a nieneante cara grugulhante que o
bendizia, equina de comprimento, e a cabeleira clara não tosada,
estriada e matizada como carvalho polido. (...) A fomida cara sombreada
e a soturna queixada oval lembravam um prelado, protetor das artes, da
Idade Média. (JOYCE, 1967, p. 03)
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Universidade Aberta do Brasil
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UNIDADE 2
Teorias da leitura e formação do leitor
Aluno com 09 anos cursando a 4ª série
Processo cognitivo
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Leitura de progressão:
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UNIDADE 2
Teorias da leitura e formação do leitor
É possível perceber que o texto, dado o seu caráter informativo e a
sua organização dentro dos moldes jornalísticos, privilegia uma leitura
que se orienta pela sucessão dos fatos descritos, ficando em segundo
plano qualquer elemento estético ou retórico que a reportagem apresente.
Leitura de compreensão:
MEUS PÉS
Ela, que vivera sempre perseguindo amores intensos, mesmo
agora que estava enferma, não conseguia conciliar o sono sossegado
sem sentir, no seu pescoço ou no peito, o braço de um homem.
Entretanto, quando seu estado se agravou, ela implorava:
-Segure meus pés! Não posso suportá-los tão tristes!
Processo afetivo
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UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil
revista para encontrar informações sobre seu ator favorito), ele se torna
mais evidente quando nos concentramos sobre a recepção de textos
ficcionais.
GÊMEOS
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UNIDADE 2
Teorias da leitura e formação do leitor
meses de gestação e a menina permanece viva. Os irmãos estão juntos
no ventre, dividindo o mesmo espaço, as mesmas cordas, o mesmo
degrau, o mesmo tecido. Não há como interromper a gestação do
primeiro sem influenciar na saúde da segunda. Não há como tirar
aquele que partiu para proteger a que ficou.
Vanessa continua alimentando os dois com a igualdade do
início da gravidez. Reconhece ambos como palpitações vivas, nervosas,
definitivas. Os ruídos que escuta são dois nomes. Tenta adivinhar quem
está chutando, quem está empurrando seu passo mais para adiante,
quem está socando as camadas da pele como vento espantando as
cortinas.
Lá dentro a irmã conversa com o irmão do jeito que pode; o
irmão conversa com a irmã do jeito que sonha. A mãe confia que os
dois sairão gritando, de mãos dadas, apesar da avaliação do médico
de que um deles não sobreviveu, apesar da onipotência do exame e
da descrença dos conhecidos. A mãe não perdeu a esperança porque
alterou o rumo dos móveis, duplicou a cama, apequenou o salário,
esticou os ossos do velho armário, teve trabalho, andou ao seu extremo,
preparou roupas, experimentou em si o amor de ler o que escreveu, o
amor de entender que o mistério é esperar que cada gomo seja suco
diferente nos dentes.
Ela acorda quando um deles berra por ajuda e fome na noite de
sua carne. E, insegura, não tem certeza de quem chama. Não tem mais
certeza da própria voz. Não diz nunca que um morreu, com medo do
que mora na sua boca. Ela reconhece por adivinhação e não precisa ver
para testemunhar.
Quanta coragem de Vanessa em segurar em seu útero os dois
berços: um, anoitecido, e o outro, amanhecido, sem favorecer ou mimar
um deles.
Quanta coragem em seus tornozelos inchados, suas mãos
rosadas e seu sobrepeso de telhado e chuvas.
Quanta coragem em rezar debaixo das cobertas, debaixo dos
zumbidos dos besouros, debaixo do formigueiro. A mãe Vanessa curva
seus ombros para que seus filhos não passem frio, como toda mãe se
derrama em raízes para subir o rosto lentamente.
Quanta coragem em assegurar o direito à vida aos gêmeos, para
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UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil
Processo argumentativo
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UNIDADE 2
Teorias da leitura e formação do leitor
dimensão argumentativa, certos julgamentos e idealizações em relação
a determinados gêneros textuais são, inevitavelmente, relativizados.
Assumindo o conceito amplo da semiótica, segundo o qual tudo o que
pode ser lido e interpretado pode ser considerado um texto, percebemos
que noções como as de imparcialidade e objetividade se caracterizam
como inalcançáveis diante da inerente argumentação de todo objeto
textual.
A fotografia, por exemplo, é entendida por muitos como uma captura
circunstancial e meramente estética da realidade. Indubitavelmente, essa
caracterização pode ser verdadeira quando atribuída a certa gama de
fotos, como aquelas que preenchem os álbuns de recordações. Entretanto,
se refletirmos sobre os textos produzidos por fotógrafos profissionais,
perceberemos que a mesma concepção não pode ser estendida a eles sem
uma enganosa simplificação. Tal atitude seria comparável à de atribuirmos
a um bilhete deixado sobre a mesa da sala o mesmo potencial estético de
um texto literário. A fotografia profissional ou artística é um recorte da
realidade produzido a partir de elementos pré-definidos por seu autor
(proximidade, incidência de luz, valorização do plano de fundo, etc.) e
que pode servir a propósitos argumentativos específicos. Observem os
exemplos a seguir que têm como tema comum o preconceito racial.
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UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil
Rebelde Desconhecido
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UNIDADE 2
Teorias da leitura e formação do leitor
Em relação aos textos jornalísticos, os conceitos de objetividade
e imparcialidade são também comumente adotados. Novamente,
entretanto, a exaltação de tais ideais se mostra equivocada, tendo em
vista a dimensão argumentativa dos textos e da leitura. Em verdade,
praticamente todos os elementos que compõem um periódico jornalístico
apresentam, em maior ou menor grau, um caráter argumentativo, o qual
pode se manifestar tanto por meio da linguagem quanto pela veiculação
de uma visão específica de mundo ou de uma análise do próprio mercado
editorial. Desde na manchete que é escolhida para ocupar a capa da
publicação até nas fotografias que acompanham as notícias, é possível
apreender uma leitura prévia de mundo. Em outras palavras, a decisão de
qual reportagem é a mais relevante a ser destacada ou qual atrairá mais
leitores representa também uma argumentação sobre a realidade e sobre
o interesse dos consumidores.
No caso das revistas, o atual direcionamento temático já indica
uma reflexão sobre os diferentes públicos leitores e sobre a pertinência dos
assuntos tratados para a maior parcela possível de consumidores desses
grupos. Não obstante, as revistas de variedades, semelhantemente aos
jornais, também delineiam pontos de vista específicos e moldam, mesmo
que de forma velada, uma dimensão argumentativa.
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UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil
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UNIDADE 2
Teorias da leitura e formação do leitor
O trecho citado representa a chegada de quatro cavaleiros medievais
que, tendo morrido nas cruzadas pela libertação de Jerusalém, chegam
a um braço de mar que separa o mundo dos vivos e dos mortos. A canção
que essas personagens entoam é a principal mensagem moral do texto
de Gil Vicente: os atos na vida terrena provocam consequências para a
vida imortal após a morte, ou seja, ao longo da existência, os indivíduos
constroem os seus próprios caminhos para a salvação ou para a danação.
Em contrapartida, as últimas linhas do romance Bartleby, de
Herman Melville, se mostram mais herméticas à compreensão dos
leitores.
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UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil
Processo simbólico
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UNIDADE 2
Teorias da leitura e formação do leitor
Dessa forma, a teorização plena das possibilidades de significação
simbólica a serem extraídas de um texto se revela impraticável. Contudo,
a organização do próprio texto permite listar, de maneira especulativa,
as prováveis significações construídas por leitores diferentes. Tomemos
como exemplo uma notícia ficcional que seria retirada de um jornal de
grande circulação em uma capital do país e os processos simbólicos
desenvolvidos por leitores hipotéticos.
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UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil
Primeiro Mandamento
Para bem viver na Terra dos Papagaios
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UNIDADE 2
Teorias da leitura e formação do leitor
ao mesmo tempo em que a singulariza, não expande infinitamente o
horizonte de significação das obras? Na próxima unidade, focalizaremos
especificamente a recepção dos textos literários e os aspectos formais que
permitem leituras plurais, mas não qualquer leitura.
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UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil
02) Tendo em vista o que foi estudado nesta unidade, analise a passagem
retirada de uma entrevista com a pesquisadora da leitura Eliana Yunes. De que forma
a linguagem veiculada pela mídia de uma forma geral pode alterar ou influenciar
comportamentos? A entrevistada enfatiza claramente a importância de que a leitura
permaneça independentemente da forma. A que tipo de leitura Yunes se refere?
(Fonte: Livro, leitura, literatura... Eliana - Entrevista realizada com Eliana Yunes.
Revista do SESC-Rio, ano 1, n° 5, novembro de 2008)
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UNIDADE 2
Teorias da leitura e formação do leitor
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UNIDADE 2
UNIDADE III
Estética da Recepção –
diálogos com os
textos literários
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
■■ Analisar as diferentes definições de literatura defendidas por autores e
teóricos ao longo dos séculos.
■■ Aprofundar o conceito de literatura sustentado pelas teorias da recepção.
■■ Estudar os aspectos formais e interacionais que singularizam a escrita e a
leitura literária.
■■ Distinguir as múltiplas entidades, tanto abstratas quanto empíricas, que
participam do ato da leitura.
ROTEIRO DE ESTUDOS
■■ SEÇÃO 1 - O que é literatura? As perspectivas de autores, teóricos e receptores
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UNIDADE 3
Teorias da leitura e formação do leitor
SEÇÃO 1
O QUE É LITERATURA? AS PERSPECTIVAS DE
AUTORES, TEÓRICOS E RECEPTORES
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UNIDADE 3
Universidade Aberta do Brasil
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UNIDADE 3
Teorias da leitura e formação do leitor
passagem abaixo, retirada da obra Teoria da literatura: uma introdução,
de autoria do teórico e crítico britânico Terry Eagleton.
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UNIDADE 3
Universidade Aberta do Brasil
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UNIDADE 3
Teorias da leitura e formação do leitor
Entre outras coisas, teria sido uma surpresa para George Orwell saber
que seus ensaios devem ser lidos como se os tópicos por ele examinados
fossem menos importantes do que a maneira pela qual os examinou.
Em grande parte daquilo que é classificado como literatura, o valor
verídico e a relevância prática do que é dito é considerado importante
para o efeito geral. [...]
Assim, a definição de literatura fica dependendo da maneira pela
qual alguém resolve ler, e não da natureza daquilo que é lido. Há certos
tipos de escritos – poemas, peças de teatro, romances – que, de forma
claramente evidente, pretendem ser “não pragmáticos” nesse sentido,
mas isso não nos garante que serão realmente lidos dessa maneira.
Eu poderia muito bem ler a descrição que Gibbon[1] faz do império
romano não por achar que ela será uma fonte fidedigna de informações
sobre a Roma antiga, mas porque gosto do estilo de prosa de Gibbon
ou porque me agradam as imagens da corrupção humana, qualquer
que seja sua fonte histórica. Dessa forma, será que minha leitura dos
ensaios de Orwell como literatura só será possível se eu generalizar o
que ele diz sobre a guerra civil espanhola, interpretando-os como um
tipo de observação cósmica sobre a vida humana?
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UNIDADE 3
Universidade Aberta do Brasil
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UNIDADE 3
Teorias da leitura e formação do leitor
problematizar os prós, os contras ou os desdobramentos dessa tendência
contemporânea. Não obstante, enfatizamos que tal configuração atual
reflete os pressupostos teóricos dos estudiosos da recepção e integra o
ponto de vista dos leitores na questão sobre a essência da literatura.
Todavia, que outros aspectos contribuem ou interferem para o
dialogismo entre leitores e obras consideradas pelos próprios receptores
como literárias? Uma vez reconhecido o status literário de um texto, que
outros elementos também devem ser considerados? São justamente essas
reflexões que procuraremos aprofundar na próxima seção.
SEÇÃO 2
AS ESPECIFICIDADES DO DIÁLOGO LITERÁRIO
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UNIDADE 3
Universidade Aberta do Brasil
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UNIDADE 3
Teorias da leitura e formação do leitor
A norma básica para se lidar com uma obra de ficção é a seguinte:
o leitor precisa aceitar tacitamente um acordo ficcional, que Coleridge
chamou de ‘suspensão de descrença’. O leitor tem de saber que o que
está sendo narrado é uma história imaginária, mas nem por isso deve
pensar que o escritor está contando mentiras. De acordo com John
Searle, o autor simplesmente finge dizer a verdade [...]
Quando entramos no bosque da ficção, temos de assinar um
acordo ficcional com o autor e estar dispostos a aceitar, por exemplo,
que um lobo fala [...]
A obra de ficção nos encerra nas fronteiras de seu mundo e, de
uma forma ou de outra, nos faz levá-la a sério.
A ilusão do ficcional
A complementaridade entre
os universos experimental
e ficcional
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A subversão
organizadora da
realidade
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linha, daquilo que o rodeava, a sentir ao mesmo tempo que sua cabeça
descansava comodamente no veludo do alto respaldo, que os cigarros
continuavam ao alcance da mão, que além dos janelões dançava o ar do
entardecer sob os carvalhos. Palavra por palavra, absorvido pela trágica
desunião dos heróis, deixando-se levar pelas imagens que se formavam
e adquiriam cor e movimento, foi testemunha do último encontro na
cabana do mato. Primeiro entrava a mulher, receosa; agora chegava
o amante, a cara ferida pelo chicotaço de um galho. Ela estancava
admiravelmente o sangue com seus beijos, mas ele recusava as carícias,
não viera para repetir as cerimônias de uma paixão secreta, protegida
por um mundo de folhas secas e caminhos furtivos, o punhal ficava
morno junto a seu peito, e debaixo batia a liberdade escondida. Um
diálogo envolvente corria pelas páginas como um riacho de serpentes,
e sentia-se que tudo estava decidido desde o começo. Mesmo essas
carícias que envolviam o corpo do amante, como que desejando retê-lo
e dissuadi-lo, desenhavam desagradavelmente a figura de outro corpo
que era necessário destruir. Nada fora esquecido: impedimentos, azares,
possíveis erros. A partir dessa hora, cada instante tinha seu emprego
minuciosamente atribuído. O reexame cruel mal se interrompia para
que a mão de um acariciasse a face do outro. Começava a anoitecer.
Já sem olhar, ligados firmemente à tarefa que os aguardava,
separaram-se na porta da cabana. Ela devia continuar pelo caminho
que ia ao Norte. Do caminho oposto, ele se voltou um instante para
vê-la correr com o cabelo solto. Correu por sua vez, esquivando-se de
árvores e cercas, até distinguir na rósea bruma do crepúsculo a alameda
que o levaria à casa. Os cachorros não deviam latir e não latiram. O
capataz não estaria àquela hora, e não estava. Pelo sangue galopando
em seus ouvidos chegavam-lhe as palavras da mulher: primeiro uma
sala azul, depois uma varanda, uma escadaria atapetada. No alto, duas
portas. Ninguém no primeiro quarto, ninguém no segundo. A porta do
salão, e então o punhal na mão, a luz dos janelões, o alto respaldo de
uma poltrona de veludo verde, a cabeça do homem na poltrona lendo
um romance.
(CORTÁZAR, 1971)
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Teorias da leitura e formação do leitor
SEÇÃO 3
AS FACES DO DIÁLOGO LITERÁRIO
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pela obra literária e, por outro, como imagem do receptor ideal, capaz
de concretizar o sentido total da obra numa leitura ativa. [...]
Na perspectiva pragmática de Eco, o leitor modelo é definido como
“um conjunto de condições de sucesso ou de felicidade, estabelecidas
textualmente, que devem ser satisfeitas para que um texto seja
plenamente atualizado no seu conteúdo potencial. Temos, novamente,
uma figura de leitor instituída pelo texto: o receptor, ativo e produtivo,
que o melhor deciframento da narrativa implica. O leitor modelo, em
outros termos, é o leitor ideal que responderia corretamente (isto é, de
acordo com a vontade do autor) a todas as solicitações - explícitas e
implícitas – de um dado texto. [...]
Os leitores implícito, abstrato e modelo, além de suas diferenças,
comprovam o mesmo princípio: a inscrição objetiva do destinatário
no próprio corpo do texto. Simples imagens de leitor postuladas pela
narrativa ou receptores ativos que colaboram no desenvolvimento da
história, esses leitores se baseiam na ideia de que, estruturalmente,
existe em qualquer texto um papel proposto para o leitor. (JOUVE,
2002, p. 43, 44, 45, 46-47)
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Dom Casmurro
(Machado de Assis - 1899)
Pois sejamos felizes de uma vez, antes que o leitor pegue em si,
morto de esperar, e vá espairecer a outra parte; casemo-nos.
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Teorias da leitura e formação do leitor
Por meio dessa manipulação autoral e narrativa, Poe relativiza não
apenas as relações, muitas vezes, estabelecidas arbitrariamente entre
autor, narrador e estratégias narrativas, mas as próprias concepções de
escrita imaginativa e relato autobiográfico.
À guisa de conclusão, acreditamos ter evidenciado a existência de
múltiplas entidades que, com características e objetivos próprios, povoam
o ato da leitura. Nesse sentido, a presença de tantas vozes, tanto empíricas
quanto abstratas, reforça, inegavelmente, o caráter dialógico da leitura,
aspecto que procuramos enfatizar desde o início da nossa discussão.
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01) Leia o conto abaixo de autoria de Jorge Luis Borges, considerando que
se trata de um texto que explora o tema da figuração artística da realidade. De que
maneira(s) o texto problematiza não apenas a representação do real, mas também
as concepções realistas radicais? Qual a importância da falsa referência bibliográfica
inserida no final do conto? Como a presença desse dado pode influenciar o leitor-
modelo? A inclusão dessa referência pode ser vista como um elemento argumentativo
do texto? Qual seria esse argumento?
(Suárez Miranda: Viajes de Varones Prudentes, livro quarto, cap. XLV, Lérida, 1658)
(BORGES, 1999, p. 247)
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Teorias da leitura e formação do leitor
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PALAVRAS FINAIS
Como vimos anteriormente, o teórico e escritor Umberto Eco se
apropria da metáfora do bosque, utilizada primeiramente por Jorge Luis
Borges, para analisar os textos narrativos. Entretanto, tal associação
figurativa poderia ser utilizada para se referir a todo texto verbal ou não
verbal, independentemente do gênero ao qual ele pertence.
Diante de um texto, buscamos, inicialmente, uma entrada pela qual
ingressaremos em seus meandros e trilharemos os seus caminhos possíveis.
Para alguns que ainda vivem sob a sombra da ignorância e do analfabetismo,
o bosque se revela hermético e hostil, fazendo com que muitos descrevam
suas trajetórias à margem dele. Para outros, o analfabetismo funcional torna
os passos inseguros e hesitantes, ocasionando, muitas vezes, a fuga para
veredas mais descampadas ou a escolha de uma rota fixada previamente por
terceiros.
Durante muito tempo, o bosque se manteve como propriedade
alheia e rigidamente mapeada, na qual o leitor, apartado de sua consciência
intrusa, vagava por trilhas teoricamente abertas pelos especialistas teóricos
da vegetação textual. Contudo, outras luzes passaram a incidir por entre a
espessa cúpula de ramos formalistas e estruturalistas, descortinando outras
direções e outras saídas.
Aos poucos, o leitor enveredou por rotas antes proibidas e, com
crescente liberdade, apropriou-se do bosque e dos seus caminhos. Isso não
significa que o caminhante possa assumir, irrestritamente, o rumo que bem
desejar. É possível seguir para a direita ou para a esquerda de uma árvore.
Mas não é possível atravessá-la. Todo bosque tem as suas próprias normas e
suas próprias diretrizes.
Mas o leitor não está sozinho nesta caminhada. A própria concepção
processual da leitura envolve, necessariamente, a participação de outras
entidades que, reais ou abstratas, acompanham o leitor e dialogam com
ele. Como enfatiza o escritor estado-unidense Paul Auster: “a literatura é
essencialmente solidão. Escreve-se em solidão, lê-se em solidão e, apesar de
tudo, o ato de leitura permite uma comunicação entre dois seres humanos”.
Tendo encerrado a nossa caminhada e o nosso diálogo no curto
bosque aqui organizado, esperamos ter oferecido a nossa contribuição para
que você possa, a partir de agora, transitar por outras searas, dialogar com
outros companheiros e encontrar a sua própria forma de caminhar.
Evanir Pavloski
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Teorias da leitura e formação do leitor
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Martin Claret, 2002.
BORGES, Jorge Luis. Obras completas – Volume II. São Paulo: Globo,
1999.
CORTÁZAR, Julio. Final do jogo. Trad. Remy Gorja Filho. Rio de Janeiro:
Ed. Expressão e Cultura, 1971.
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REFERÊNCIAS
Universidade Aberta do Brasil
VICENTE, Gil. O auto da barca do inferno. São Paulo: Martin Claret, 2004.
YUNES, Eliana (org.) Pensar a leitura: complexidade. São Paulo: Loyola, 2002.
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REFERÊNCIAS
Teorias da leitura e formação do leitor
NOTA SOBRE O AUTOR
Evanir PAVLOSKI
Graduado em Letras-Inglês pela Universidade Federal do Paraná.
Mestre e Doutor em Estudos Literários pela Universidade Federal do
Paraná. Atualmente, é professor efetivo na Universidade Estadual de
Ponta Grossa, onde leciona as disciplinas de Língua Inglesa e Literatura
em Língua Inglesa.
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