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REVISTA BRASILEIRA DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO / B RAZILIAN JOURNAL OF BEHAVIOR ANALYSIS, 2005, VOL.1 NO.

2, 231-252

DISCRIMINAÇÃO SIMPLES E COMPORTAMENTO CONCEITUAL DE POSIÇÃO:


INFLUÊNCIA DE DIFERENTES TIPOS DE TREINO1

SIMPLE DISCRIMINATION AND CONCEPTUAL BEHAVIOR BASED ON LOCATION:


INFLUENCE OF DIFFERENT TYPES OF TRAINING

RAQUEL MARIA DE MELO, P ATRÍCIA SEREJO DE JESUS & E LENICE S. HANNA


UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, BRASIL

RESUMO
Comportamento conceitual envolve o estabelecimento de classes de estímulos com discriminação interclasses
e generalização intraclasse. Esta pesquisa verificou a relação entre o tipo de modificação dos estímulos nos treinos
discriminativos e a aquisição de discriminações e de comportamento conceitual de posição. Quinze crianças de 4-
6 anos realizaram tarefas de discriminação simples de posição. Três condições experimentais com treino discriminativo
diferente (modificação gradual – MG, múltiplos exemplares – ME e sem modificação - SM dos estímulos utilizados
no treino) foram realizadas com todas as crianças. Os participantes deveriam selecionar, em cada condição, o
estímulo cujo elemento relacional se localizava dentro, em cima ou à esquerda do elemento de referência. Os treinos
foram intercalados com um teste de comportamento conceitual que apresentava estímulos treinados e novos que se
diferenciavam apenas com relação à dimensão crítica. Resultados do treino mostraram altos escores nas três condições
e menos erros com o Treino MG. Nos testes de comportamento conceitual, desempenhos acima do acaso foram
obtidos apenas após o Treino SM. A modificação gradual de estímulos e a utilização de múltiplos exemplares
reduziram os erros nos treinos e facilitaram o estabelecimento de discriminações entre estímulos treinados. O treino
discriminativo SM com diversas tentativas com os pares de estímulos finais, que diferem apenas na dimensão
relevante, produziu comportamento conceitual. Combinar os procedimentos parece, portanto, necessário para
acelerar a aquisição das discriminações, prevenir subprodutos dos erros e para gerar controle de estímulos pelas
dimensões relevantes.
Palavras-chave: aprendizagem sem erro, modelagem de controle de estímulos, múltiplos exemplares, tentativa-
e-erro, discriminação de posição, pré-escolares.

ABSTRACT
Conceptual behavior encompasses formation of stimulus classes with discrimination between classes and
generalization within class. This research verified the relationship between the type of stimulus modification
during discrimination training and the acquisition of position discrimination and related conceptual behavior.
Fifteen 4-6 year-old children were exposed to simple position discrimination tasks. Three experimental conditions
(gradual change – MG; multiple exemplars – ME; and no change - SM, of S+ and S- stimuli) were programmed
for all participants. Participants should select in one condition the stimulus which had a relational element placed
inside, over or on the left of a reference element. Training of a different position was interspersed with tests of
conceptual behavior which presented for selection trained and new stimuli which differed only in respect to the
critical dimension. In general, the percentage of correct responses during the training was high for all conditions
with fewer errors in MG. During conceptual behavior tests, however, percentages of correct responses were above
chance level only after the SM discriminative training. Procedures MG and ME reduced errors and facilitated the
establishment of discriminations between training stimuli which differed in more than one dimension. SM
procedure, with several trials presenting stimuli with critical difference, produced conceptual behavior. Results
suggest that the combination of varying stimulus along the training and repeated trials with stimuli differing only

1 Este trabalho consiste em parte dos requisitos para a obtenção do título de doutor da primeira autora no Instituto de Psicologia da Universidade de
Brasília. Trabalho financiado pelo CNPq (Proc. -nº 468059) e FINATEC (Proc. nº 5233). Endereço para correspondência: Raquel Maria de Melo -
Departamento de Processos Psicológicos Básicos/Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília - Campus Universitário Darci Ribeiro; Brasília/DF; CEP:
70.910-900 - Telefone: (61) 307-2625 R-514 - FAX: (61) 273-0203 - e-mail: rmelo@unb.br ou hanna@unb.br

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COMPORTAMENTO CONCEITUAL DE POSIÇÃO

in the relevant dimension are necessary to speed the acquisition of discriminations, to prevent by-products of
errors and to produce stimulus control by critical dimension.
Key words: errorless learning, stimulus control shaping, multiple exemplars, trial-and-error, position
discrimination, kindergarten.

Na Análise do Comportamento, identi- para a tecnologia de ensino e produziu mu-


ficar diferenças, ou responder diferencialmen- danças em antigas concepções que enfatizavam
te a estímulos diferentes ou a seus diferentes que as falhas em aprender são inerentes ao
aspectos é denominado de discriminação. O aprendiz ou ao processo de aprendizagem (e.g.,
procedimento padrão para ensinar uma discri- Keller & Schoenfeld, 1950/1974; Spence,
minação simples envolve uma contingência de 1937). Desempenhos mais precisos e rápida
três termos: a ocorrência de uma resposta na aquisição de discriminações são freqüentemente
presença de um estímulo (S+) é seguida por observados com procedimentos de MCE, o que
determinadas conseqüências, mas não na pre- reduz os efeitos indesejáveis dos erros. Tais con-
sença de outros estímulos (S-). Tal procedimen- tribuições foram de grande valia, sobretudo para
to de reforçamento diferencial, denominado de indivíduos com atrasos no desenvolvimento e
tentativa-e-erro ou ensaio-e-erro, pode gerar dificuldades de aprendizagem, apesar desse
muitos erros, os quais têm sido relacionados conhecimento ser ainda pouco divulgado no
com subprodutos emocionais e alterações em Brasil, em contextos aplicados (e.g., Iñesta,
comportamentos já aprendidos (e.g., Stoddard, 1972/1980; Sidman & Stoddard, 1967;
de Rose & McIlvane, 1986; Terrace,1963). Stoddard et al., 1986).
Errar, nesta perspectiva é o responder na pre- Uma análise da literatura mostra a pre-
sença dos estímulos que não estão dominância de estudos que comparam o de-
correlacionados com reforçamento, ou seja, um sempenho em treinos com MCE com aqueles
controle de estímulo deficiente. obtidos em um procedimento de tentativa-e-
Discriminações podem ser ensinadas por erro (e.g., Gollin & Savoy, 1968; Griffiths &
procedimentos alternativos que mudam gradu- Griffiths, 1976; Lancioni, Hoogeveen, Smeets,
almente uma ou mais dimensões dos estímu- Boelens & Leonard, 1989; Strand, 1989;
los antecedentes (S+ e/ou S-). Como, em ge- Schilmoeller, Schilmoeller, Etzel, & LeBlanc,
ral, as discriminações são adquiridas com ne- 1979; Terrace, 1963). Entretanto, as contin-
nhum ou um número mínimo de erros estes gências programadas nestes procedimentos di-
procedimentos têm sido denominados de dis- ferem em vários aspectos.
criminação sem erro, esvanecimento/esmaecimento Nos procedimentos de MCE são
(e.g., Terrace, 1963) ou de modelagem de con- efetuadas modificações graduais em dimensões
trole de estímulo (MCE), de acordo com uma dos estímulos inicias (e.g., cor, tamanho, for-
proposta de definição mais ampla (McIlvane ma, brilho), podendo ocorrer no S+, no S- ou
& Dube, 1992). no S+ e no S-. Ao longo das etapas sucessivas
O desenvolvimento de procedimentos do treino é reduzida a diferença entre os estí-
que minimizam erros representou um avanço mulos iniciais e da discriminação final. Desta

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R. M. DE MELO ET AL.

forma, o reforçamento diferencial é programa- resultados dos procedimentos de MCE e ME


do para respostas a estímulos que variam ao permitiu avaliar a importância de mudanças
longo de um contínuo de mudanças em algu- graduais sobre a aquisição das discriminações,
ma de suas dimensões físicas. A exposição aos enquanto que a comparação dos resultados dos
estímulos finais pode se restringir a uma ten- primeiros com o último permitiu avaliar a im-
tativa (Gollin & Savoy, 1968; Schilmoeller et portância do reforçamento diferencial com ex-
al., 1979) ou a um bloco de tentativas quando posição repetida aos estímulos finais.
é utilizado um critério de aprendizagem para A avaliação e a comparação de procedi-
finalização do treino (e.g., Doran & Holland, mentos de ensino de discriminações são feitas,
1979; Griffiths & Griffiths, 1976). No proce- em geral, a partir de medidas comportamentais
dimento de tentativa-e-erro as respostas são di- obtidas no treino discriminativo (e.g., número
ferencialmente reforçadas apenas na presença de tentativas para atingir o critério, porcenta-
dos estímulos finais (S+ e S-), sendo omitida a gem de acerto em bloco final). Neste estudo,
fase de mudança gradual. Procedimentos de medidas comportamentais do treino foram
MCE são, portanto, mais complexos do que os comparadas. Entretanto, como ressaltado por
de tentativa-e-erro e não totalmente diferen- Pierce e Epling (1995), o procedimento de
tes. Por outro lado, as mudanças em aspectos tentativa-e-erro pode produzir resultados me-
dos estímulos ao longo das etapas de mudança lhores quando as contingências de reforçamento
gradual podem estabelecer controle são alteradas, como em testes subseqüentes com
comportamental por dimensões irrelevantes dos estímulos novos, o que tem sido caracterizado
estímulos. Avaliar os fatores que, em cada uma como uma medida de transferência ou um tes-
das fases, influenciam a aprendizagem pode ser te de generalização. A comparação das medi-
uma contribuição teórica importante, com das obtidas em testes de generalização foi con-
grande potencial de aplicação. siderada importante, neste estudo, para avaliar
O presente estudo comparou três pro- a aprendizagem de comportamento conceitual
cedimentos distintos para ensinar discrimina- após diferentes treinos discriminativos.
ções de posição (em cima, dentro e esquerda) a De acordo com Keller e Schoenfeld
crianças pré-escolares. No primeiro, composto (1950/1974), comportamento conceitual im-
por 12 pares de estímulos diferentes, mudava- plica em discriminação interclasses e generali-
se gradualmente a forma e a cor dos S+ e S- em zação intraclasse de estímulos. Mais recente-
etapas sucessivas do treino (MCE). No segun- mente, na Análise do Comportamento o ter-
do, 12 pares de estímulos com formas e cores mo “conceito” tem sido definido a partir de
diferentes foram utilizados (múltiplos exem- classes de estímulos (e.g., de Rose, 1996;
plares – ME). O terceiro procedimento, cha- Zentall, Galizio & Critchfield, 2002). Rela-
mado de tentativa-e-erro, utilizou apenas o par ções de posições (e.g., dentro, em cima, esquer-
de estímulos finais em um número de tentati- da) são, segundo a classificação de Zentall et
vas igual ao dos outros dois procedimentos. Nos al. (2002), conceitos relacionais: classes de estí-
três casos, o treino era finalizado quando o par- mulos que compartilham propriedades abstra-
ticipante escolhia o estímulo correto na última tas, relações entre os elementos de estímulos
tentativa programada. A comparação entre os compostos ou entre os estímulos, que contro-

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COMPORTAMENTO CONCEITUAL DE POSIÇÃO

lam desempenhos de apontar ou nomear. A correta e instruções). Após cada treino era rea-
definição de Keller e Schoenfeld (1950/1974), lizado um teste de generalização constituído
no entanto, apresenta a vantagem de explicitar por tentativas com os estímulos novos e de trei-
os desempenhos envolvidos no comportamen- no. Desempenho inferior a 80% de acerto no
to conceitual, discriminar e generalizar, e im- teste era seguido por um treino com um par
plica na verificação do desempenho em situa- de estímulos diferente. Os autores relataram
ções de treino e novas. Ao longo deste artigo o desempenhos melhores, tanto nos treinos
termo comportamento conceitual será preferi- como nos testes, do grupo exposto a MCE,
do a classes de estímulos, entendendo-se que em comparação com os desempenhos obser-
em diversos contextos eles têm sido utilizados vados nos demais treinos. Note, entretanto,
como sinônimos. que as tentativas com mudança gradual da
Portanto, para se afirmar que um com- intensidade do estímulo (esmaecimento) eram
portamento conceitual foi adquirido em um seguidas por um bloco com seis tentativas com
treino discriminativo seria necessário de- os estímulos finais. O término do treino ocor-
monstrar a manutenção das discriminações ria quando cinco respostas corretas ocorriam
em tarefas de teste e verificar alta precisão nesse bloco de tentativas. Esta última etapa
do desempenho com conjuntos de estímulos do treino adiciona o procedimento de tenta-
novos que apresentam a(s) dimensão(ões) tiva-e-erro ao de MCE.
crítica(s). Essa avaliação de desempenho foi Laarhoven, Johnson, Repp, Karsh & Lenz
realizada neste estudo e será chamada de teste (2003) mostraram que o efeito nos treinos e
de generalização ou de aquisição de compor- testes de generalização de procedimentos que
tamento conceitual. utilizam múltiplos exemplares depende da for-
A análise da literatura mostra que a ma como a apresentação dos estímulos é pro-
metodologia dos estudos que investigam e com- gramada ao longo do treino (com variação en-
param diferentes treinos discriminativos rara- tre as tentativas ou dentro de cada tentativa).
mente inclui a realização de testes de generali- Nos treinos com MCE e com apenas
zação, embora alguns façam menção à apren- reforçamento diferencial, desempenhos mais
dizagem de conceitos (e.g., Schwartz, Firestone precisos foram obtidos por estes autores quan-
& Terry, 1971; Etzel, 1997). Poucos estudos, do pares de S+ e S- distintos eram apresenta-
descritos a seguir, investigaram o efeito de di- dos entre as tentativas. Nos testes de generali-
ferentes treinos discriminativos sobre o desem- zação, resultados melhores foram observados
penho em testes de generalização. quando exemplares múltiplos de S+ ou de S-
Aeschleman e Higgins (1982) realizaram eram apresentados em uma mesma tentativa.
treinos repetidos de MCE com pares de estí- A utilização de mais opções de estímulos de
mulos distintos intercalados com testes de ge- escolha por tentativa pode ter reduzido o con-
neralização. Grupos de crianças pré-escolares, trole pela localização dos estímulos, diminu-
com retardo mental, foram expostos a um dos indo, assim, a probabilidade de controle por
seguintes procedimentos: MCE de intensida- dimensões irrelevantes.
de, tentativa-e-erro ou treino discriminativo Considerando a escassez de estudos so-
com dica atrasada (indicação da comparação bre a relação entre treinos com MCE e forma-

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ção de classes de estímulos/aprendizagem de (quatro meninas e nove meninos) freqüenta-


conceitos, o presente estudo destina-se a am- vam uma escola de atendimento infantil diá-
pliar o conhecimento sobre variáveis rio destinada a filhos de mães trabalhadoras
metodológicas que influenciam a aquisição de de baixa renda, e duas (um menino e uma
discriminações de posição e de comportamen- menina) eram procedentes de uma institui-
to conceitual. Para tanto, variou-se intra-sujei- ção de apoio a crianças e adolescentes caren-
to o procedimento de treino de discriminações, tes (Abrigo). A participação das crianças foi
avaliando a extensão do controle de estímulos voluntária e condicionada ao consentimento
estabelecido em teste de comportamento informado dos responsáveis pela instituição,
conceitual após cada treino. Foram realizados escola e/ou pelos pais.
três treinos com cada procedimento: MCE,
tentativa-e-erro com múltiplos exemplares e Local, material e equipamentos
com um único par de estímulos. As sessões foram realizadas em salas des-
Um objetivo adicional deste estudo con- tinadas para a coleta de dados, na escola ou
sistiu em verificar se a formação das classes de instituição, e equipadas com mesas, cadeiras e
estímulos a partir da tarefa de discriminação computadores Macintosh: um Perfoma 630CD
simples se transferiria para uma tarefa de dis- e um iMac G4, com monitores de 14", tecla-
criminação condicional. Se a resposta de apon- do e mouse. Um programa comercial (Jogo do
tar o S+ nos treinos resultava em uma mesma Blinky Bill, Revista CD-Rom nº 17), destina-
conseqüência (reforçadores sociais e estímulos do a crianças pré-escolares, foi utilizado para o
visuais) e as respostas ao S- estavam relacio- ensino de habilidades básicas no uso do com-
nadas com conseqüências diferentes putador. As contingências experimentais foram
(escurecimento da tela e apresentação de programadas a partir do software MTS (Match
uma nova tentativa) foi perguntado se rela- to Sample Program) desenvolvido por William
ções condicionais poderiam ser observadas Dube e Eric Hiris (Dube, 1991).
entre os S+ e entre os S-, sendo que a res- Uma das mesas foi utilizada para o com-
posta de apontar estaria sobre o controle da putador e a segunda para a exposição de pe-
relação de posição comum entre o estímulo quenos brinquedos e guloseimas que poderi-
modelo e uma das comparações. Tais rela- am ser trocadas por fichas (notas em miniatura
ções condicionais poderiam ser evidências de de R$ 1,00 obtidas pela troca de potes cheios
formação de duas classes de estímulos, a dos de bolas de gude).
correlacionados com o reforçamento (S+) e a
dos não correlacionados (S-). Estímulos
Foram utilizados diferentes estímulos vi-
MÉTODO suais, confeccionados no programa gráfico
Canvas (para Macintosh), dispostos individu-
Participantes almente em uma moldura quadrada (5 cm x 5
Participaram do estudo 15 crianças pré- cm): quatro estímulos unitários e 526 estímu-
escolares, com idades entre quatro anos e sete los compostos (ou 263 pares S+ - S-). Os estí-
meses e cinco anos e sete meses: Treze crianças mulos compostos foram constituídos por um

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COMPORTAMENTO CONCEITUAL DE POSIÇÃO

elemento de referência e um elemento Procedimento


relacional (conforme terminologia utilizada por Grupos de cinco participantes foram
Dixon, Spradlin, Girardeau & Etzel, 1974). expostos a três Condições Experimentais, sen-
O elemento de referência se posicionava no do que cada uma era composta por três treinos
centro do quadrado e o elemento relacional, (A, B e C) de discriminação simples com o
que era sempre menor do que o de referência, mesmo procedimento mas estímulos diferen-
ocupava uma dentre seis posições (dentro, fora, tes, intercalados por um Teste de Comporta-
em cima, embaixo, esquerda ou direita) em mento Conceitual (TCC A, B e C) e um Teste
relação ao elemento do centro. Exceto para a de Discriminação Condicional (TDC). Entre
posição dentro, os estímulos que compunham as Condições Experimentais foi variado o tipo
as etapas iniciais de modificação gradual (pos- de procedimento de treino, sendo balanceada
teriormente descritas) apresentavam os elemen- a ordem de exposição entre os participantes.
tos de referência e relacional unidos enquanto Para reduzir os efeitos de história de treino en-
que nos estímulos das etapas finais eles esta- tre as condições, em cada condição uma nova
vam separados. relação de posição era ensinada com um den-
Os estímulos eram dispostos em duas ou tre três possíveis procedimentos: (a) modela-
três localizações na tela do monitor, organiza- gem de controle de estímulos com mudança
da em uma matriz 3x3, dentre cinco possibili- da forma e cor (MG - Mudança Gradual dos
dades. As janelas laterais esquerda e direita da estímulos); (b) Múltiplos Exemplares (ME –
linha central foram utilizadas para a apresen- Vários Exemplares com características diferen-
tação dos estímulos que continham as relações tes, mas mantendo-se a dimensão crítica); e (c)
de posição em cima e embaixo, enquanto que Tentativa e Erro (SM - Sem Modificação, sem-
nas janelas superior e inferior da coluna cen- pre o par de estímulos final).
tral eram apresentados os estímulos com as re- Na primeira Condição Experimental, a
lações dentro, fora, esquerda e direta. Na jane- escolha do estímulo composto que continha o
la central da tela somente eram apresentados elemento relacional dentro do referente era re-
estímulos durante a realização de tarefas de forçada; na segunda condição, a seleção do ele-
discriminação condicional. mento relacional acima do referente, e na ter-

Tabela 1: Condições Experimentais e ordem de exposição para cada grupo de cinco crianças.

* A letra entre parênteses indica o sexo: (f) - feminino e (m) - masculino.

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ceira, do elemento relacional à esquerda do ele- tas de escolha de um dos estímulos em posi-
mento de referência. A Tabela 1 apresenta a ções diferentes da tela, e familiarizá-la com
ordem de exposição às Condições Experimen- conseqüências para acertos e erros e com o sis-
tais que cada grupo de cinco crianças. tema de fichas utilizado durante as diversas
As sessões individuais eram realizadas no etapas do estudo.
período vespertino, quatro vezes por semana O pré-treino era constituído por duas
com cada criança, e duravam de 3 a 9 min. sessões com tarefas de discriminação simples
Durante os treinos, todas as respostas corretas alternadas com duas sessões de discriminação
eram seguidas por fichas, apresentação de es- condicional. Pares distintos de S+ - S-, forma-
trelas na tela do computador concomitante com dos por estímulos familiares unitários e colori-
uma seqüência de sons e elogio por parte do dos, eram apresentados nos diferentes pré-trei-
experimentador (e.g., Muito bem! Isto mesmo! nos. Em cada pré-treino o par de estímulos era
ou Ótimo!). Respostas incorretas resultavam em treinado por no mínimo dois blocos de 16 ten-
um tom breve do tipo “buzz” e na tativas, sendo necessário 100% de acerto no
reapresentação da última tentativa correta (pro- último bloco para finalização da sessão.
cedimento de correção). Pré-testes. Os pré-testes destinavam-se a:
Nas sessões de teste, as crianças eram in- (a) selecionar crianças para participar do estu-
formadas de que não seriam apresentados es- do que não apresentassem preferência na esco-
trelas e elogios, mas que elas poderiam obter lha entre os estímulos em tarefas de discrimina-
fichas caso tentassem acertar. Eram omitidas ção simples e condicional (desempenho entre
quaisquer informações sobre o desempenho da 40 e 60% de acerto); e (b) estabelecer a linha
criança e para todas as respostas (corretas ou de base dos desempenhos nestas tarefas.
incorretas) o experimentador fornecia três bo- Cada pré-teste de Discriminação Simples
las de gude. (DS) e Condicional (DC) era formado por três
Nas tarefas de discriminação simples os blocos de 12 tentativas, com pares de estímulos
estímulos eram dispostos em um fundo de tela compostos que diferiam quanto à posição do ele-
branco e nas de discriminação condicional o mento relacional: (1) dentro/fora; (2) em cima/
fundo de tela era azul. Em todas as sessões foi embaixo; e (3) esquerda/direita. Em um mes-
programado um intervalo entre tentativas de mo bloco eram apresentados três pares de estí-
3s de apresentação de uma tela em branco. As mulos que seriam posteriormente utilizados nos
escolhas em cada tentativa e a duração da ses- treinos e três pares que somente seriam apresen-
são foram registradas automaticamente. tados nos testes. Para os pré-testes DC, em me-
Pré-treinos de discriminação simples e con- tade das tentativas o estímulo modelo e a com-
dicional. Após o treino de mouse, foram reali- paração correta eram idênticos quanto à forma e
zadas tarefas funcionalmente semelhantes à posição do elemento relacional, e nas demais,
àquelas que seriam utilizadas nas sessões de o estímulo modelo e a comparação correta dife-
treino e teste do experimento, mas com estí- riam quanto à forma, mas apresentavam a mes-
mulos diferentes. As tarefas de pré-treino des- ma posição do elemento relacional.
tinavam-se a ensinar a criança a observar os Os pré-testes DS e DC eram realizados
estímulos apresentados na tela, emitir respos- em uma mesma sessão, sendo separados por

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COMPORTAMENTO CONCEITUAL DE POSIÇÃO

um pequeno intervalo necessário para o nos finalizavam quando uma resposta correta
experimentador fazer a alteração no progra- ocorria na última tentativa programada (26),
ma informatizado e informar a mudança da na qual eram apresentados os S+ e S- finais, em
tarefa à criança. qualquer dos três procedimentos.
Treinos Discriminativos. Nos três proce- Para os Treinos A, B e C das três Condi-
dimentos de treino foram programadas 26 ten- ções Experimentais era mantido constante o
tativas. Na primeira tentativa era apresentado procedimento de treino, variando-se apenas os
apenas o S+. Uma única resposta sobre o S+ pares S+/S-, mas com a mesma relação de posi-
era seguida de reforço e a próxima tentativa ção entre seus elementos. Os S+ e S- finais apre-
iniciava-se após um intervalo entre tentativas sentavam a mesma forma, tamanho e cor, dife-
de 3 s. Respostas em outras posições da tela rindo somente na posição do elemento
não resultavam em conseqüências. Na segun- relacional (veja Tabela 2).
da tentativa eram apresentados simultanea- As características dos estímulos utilizados
mente o S+ e o S-, sendo que a posição do S+ nas três condições experimentais foram dife-
era a mesma da Tentativa 1. A resposta de es- rentes e serão descritas a seguir.
colha do S+ era reforçada, sendo em seguida a) Treino com Modificação Gradual: Nos
apresentado o intervalo entre tentativas e a pró- Treinos A, B e C da Condição com Mudança
xima tentativa. Respostas no S- resultavam na Gradual (MG), a forma dos estímulos S+ e S-
apresentação de um breve “buzz” seguido pelo foi gradualmente modificada até a sua forma
intervalo entre tentativas de 3 s e pela final, sendo utilizados 13 diferentes S+ e S-
reapresentação da tentativa anterior. A posição em cada treino, incluindo os estímulos finais.
dos estímulos variava entre as tentativas, po- A modificação gradual dos estímulos foi en-
dendo ocorrer no máximo duas tentativas con- tendida como semelhança na forma entre o es-
secutivas com o S+ na mesma janela. Os trei- tímulo de uma tentativa e da tentativa subse-

Tabela 2
Estímulos S+ e S- apresentados nos Treinos A, B e C da Condição MG para a posição dentro.

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R. M. DE MELO ET AL.

qüente. O número de estímulos foi definido tes S- eram apresentados juntamente com o S+
com base em estudo piloto, observando o de- inicial. Quando o S- alcançava sua forma final
sempenho de duas crianças que não participa- (forma 13, tentativa 14), este era mantido em
ram deste estudo. Em todos os exemplares de tentativas subseqüentes enquanto o S+ era
S+ e S- (exceto o último) a cor do elemento modificado. Na 26ª tentativa do treino, S+ e
relacional era diferente da cor do elemento de S- eram apresentados na forma final.
referência. A Figura 1 mostra os S+ e S- utiliza- b) Treino com Múltiplos Exemplares: Nos
dos em cada tentativa do Treino C para a posi- treinos de múltiplos exemplares (ME), a for-
ção Dentro, como exemplo. Nas duas primei- ma dos estímulos S+ e S- era modificada de
ras linhas estão os S- e nas duas últimas os S+. maneira não gradual ao longo das tentativas.
Os números acima dos estímulos indicam as Foram confeccionados 13 diferentes S+ e S-
tentativas nas quais foram apresentados. com formas assistematicamente variadas, mas
que apresentavam a mesma relação de posição
entre os elementos de referência e relacional.
Em todos os exemplares de S+ e S- (exceto o
último) a cor do elemento relacional era dife-
rente da cor do elemento de referência. A Fi-
gura 2 mostra os S+ e S- utilizados em cada
tentativa do Treino C da posição dentro, como
exemplo. Nas duas primeiras linhas estão os S-
e nas duas últimas os S+. Os números acima
dos estímulos indicam as tentativas nas quais
foram apresentados.
Figura 1: Estímulos S+ e S- apresentados no Treino C da Condição MG para
a posição dentro.

Em todos os treinos as formas iniciais do


S+ e do S- eram figuras familiares (S+ / S-: fil-
tro/caracol - Treino A/Dentro; guarda-chuva/
bandeira - Treino B/Dentro, urso/helicóptero
- Treino C/Dentro), e apresentavam os elemen-
tos de referência e relacional em cores distin-
tas. Ao longo da seqüência de modificação de
forma e cor o S+ e o S- passavam a comparti-
lhar mais características, sendo que os estímu-
los finais diferiam apenas quanto à posição do Figura 2: Estímulos S+ e S- apresentados no Treino C da Condição ME para
a posição dentro.
elemento relacional.
Na primeira tentativa de cada treino, era No Treino A, os S+ - S- eram sempre for-
apresentado apenas o S+ inicial e a tarefa do mas arbitrárias, e nos Treinos B e C, S+ e S-
participante consistia em clicar sobre o estí- eram figuras familiares. A fim de garantir mai-
mulo. A partir da segunda tentativa, diferen- or semelhança com a condição de mudança gra-

239
COMPORTAMENTO CONCEITUAL DE POSIÇÃO

dual, a diferença entre S+ e S- nas seis formas sentado em duas tentativas. Cada um dos
iniciais eram maiores do que nas sete últimas. três pares de estímulos novos foi apresenta-
A apresentação e a ordem de mudança dos S+ do duas vezes por bloco em qualquer um dos
e S- seguiu a mesma seqüência anteriormente testes. A Tabela 3 ilustra os pares de estímu-
descrita para a condição MG. los novos apresentados nos Testes A, B e C
c) Treino Sem Modificação: Na Condição para a posição dentro.
de treino Sem Modificação (SM), o S+ e o S- Cada TCC era encerrado após exposição,
finais (Tabela 2) eram apresentados ao longo no mínimo, a dois blocos, quando: (a) a por-
de todo o treino, seguindo a mesma estrutura centagem de acerto no último bloco era menor
das 26 tentativas apresentada anteriormente ou igual à do bloco anterior, ou (b) a porcenta-
para as condições MG e ME. Na primeira ten- gem de acerto atingisse 100.
tativa apenas o S+ era apresentado. Na segun-
da o S- era introduzido mas o S+ permanecia Tabela 3
na mesma posição. Nas 24 tentativas subse- Estímulos S+ e S- novos apresentados nos
qüentes a posição dos estímulos era definida Testes de Comportamento Conceitual (TCC)
de forma semi-aleatória. Esse treino também A, B e C para a posição dentro.
era finalizado quando o participante acertava a
26ª tentativa programada.
Testes de Comportamento Conceitual
(TCC). Destinavam-se a avaliar a formação de
classes de estímulos que compartilhavam a
mesma posição do elemento relacional, mas di-
feriam quanto à cor e forma. Estes testes apre-
sentavam o formato de uma tarefa de discrimi-
nação simples, mas sem reforçamento para res-
postas corretas. Testes de Discriminação Condicional
Nos TCCs eram apresentados os estí- (TDC). Para cada Condição Experimental, após
mulos utilizados nos treinos previamente re- o terceiro TCC (C), o controle condicional pela
alizados e três pares de estímulos novos or- relação de posição treinada foi avaliado em uma
ganizados em blocos de 12 tentativas e em tarefa de escolha de acordo com o modelo. Em
ordem aleatória. Em cada bloco, foi iguala- metade das tentativas eram apresentados estí-
do o número de tentativas em que estímulos mulos modelos com a posição treinada como
de treino e novos eram apresentados. No S+ (dentro, em cima ou esquerda) e na outra
TCC A, realizado após o Treino A, o par S+ - metade com a posição dos S- (fora, embaixo ou
S- treinado foi apresentado em seis tentati- direita). Em todas as tentativas, o estímulo
vas; no TCC B, realizado após os Treinos A e modelo apresentava a mesma relação de posi-
B, os dois pares previamente treinados fo- ção que um dos estímulos de comparação, mas
ram apresentados em três tentativas cada; e diferia quanto à forma e cor, enquanto que os
no TCC C, realizado após os Treinos A, B e estímulos de comparação positivo e negativo
C, cada um dos três pares treinados foi apre- se diferenciavam apenas na posição ocupada

240
R. M. DE MELO ET AL.

pelo elemento relacional. Foram testadas rela- ram maiores porcentagens de respostas corre-
ções condicionais com os estímulos de treino tas (média), menor desvio padrão e menor
(Tabela 2) e com novos (um par de cada TCC). amplitude. Nas condições ME e SM, entre-
Em cada TDC, os participantes foram expos- tanto, os escores também foram altos e seme-
tos a, no mínimo, dois blocos de 48 tentativas. lhantes entre as crianças. A diferença entre as
Este teste finalizava quando era atingido o cri- médias das porcentagens de respostas corre-
tério de 100% de acerto em um bloco de ten- tas foi significativa (p=0,04) apenas para o
tativas ou se a porcentagem de respostas corre- Treino A das Condições MG e SM, ou seja,
tas no último bloco fosse menor do que a do escores significativamente mais altos foram ob-
bloco anterior. servados no primeiro Treino MG do que no
primeiro Treino SM.
RESULTADOS Tabela 4
Porcentagem de respostas corretas (média de
Nas análises apresentadas a seguir os re- todas as crianças), amplitude (MIN e MAX) e
sultados dos treinos e testes nas três Condições desvio padrão (SD) nos treinos de cada condi-
Experimentais são comparados. Em geral, re- ção experimental.
sultados individuais são apresentados. Entre-
tanto, nos casos em que os resultados do grupo
ou nos três treinos são similares, médias são
apresentadas.
A análise de variância (ANOVA) de me-
didas repetidas e o teste Tukey não mostraram
diferenças significativas (p<0,05) entre as po- Em geral, uma única exposição à seqüên-
sições treinadas para as comparações das medi- cia de 26 tentativas programadas foi suficien-
das de porcentagem de respostas corretas no te para finalizar o treino em todas as três con-
treino, tentativas para atingir o critério e por- dições. Um maior número de tentativas ocor-
centagem de repostas corretas nos testes TCC reu no Treino A para as Condições SM (sete
e TDC. As análises apresentadas a seguir crianças) e/ou ME (seis crianças). Diferente-
desconsideraram, portanto, as posições treina- mente, na Condição MG apenas uma criança
das e testadas. necessitou de um número maior do que 26
Os três procedimentos de treino resul- tentativas (MAX).
taram em altas porcentagens de respostas cor- A Figura 3 mostra o número médio de
retas, poucos erros e, em geral, o número de erros e desvio padrão (traços verticais) nos Trei-
tentativas para atingir o critério foi próximo ao nos A, B e C de cada condição experimental
valor mínimo (26 tentativas). A porcentagem para os três grupos de participantes. Cada gru-
média de respostas corretas no treino, a ampli- po era composto por cinco participantes que
tude de variação (mínima e máxima) e o desvio foram expostos às condições em uma ordem
padrão em cada Condição Experimental, para específica. Para cada grupo, o número de erros
todos os participantes, são apresentadas na Ta- foi maior nas Condições ME e SM do que na
bela 4. No Treino MG as crianças apresenta- Condição MG, principalmente no Treino A.

241
COMPORTAMENTO CONCEITUAL DE POSIÇÃO

Para a Condição SM os erros diminuíram após para o Grupo 3). Na condição ME, a distri-
o primeiro treino discriminativo (nos Treinos buição de erros foi semelhante a da Condição
B e C) até níveis similares aos da Condição MG. MG, embora mais erros fossem cometidos du-
rante a Condição ME (exceto para o Grupo 1).
Na Condição SM, em que os S+ e S- finais es-
tavam presentes durante todas as tentativas de
treino, um maior número de erros ocorreu nas
tentativas iniciais e ao longo das tentativas pro-
gramadas os erros decresceram, sendo observa-
do, para os três grupos, um número mínimo
de erros nas tentativas finais de treino. Dife-
rentemente, nas Condições MG e ME foi ob-
servada uma quantidade maior de erros nas ten-
tativas finais (22-25) e mais erros na última
tentativa do que na Condição SM.

Figura 3: Número médio de erros em cada treino das Condições MG, ME e


SM. Para cada grupo de crianças a ordem de exposição aos diferentes treinos
foi diferente.

Para todos os participantes a distribuição


de erros ao longo das tentativas de treino pro-
gramadas, mostrada na Figura 4, diferiu entre
as Condições Experimentais. Os erros tende-
ram a ocorrer com uma baixa freqüência na
Condição MG, especialmente na etapa de
mudança do S-. Os títulos da figura indicam
as tentativas onde mudanças ocorriam no S+
ou no S-, exceto para a Condição SM que apre-
sentavam os estímulos finais em todas as ten- Figura 4: Distribuição de erros nas tentativas programadas das Condições
MG, ME, e SM para cada grupo de crianças. Os títulos indicam as tentativas
tativas (dados incluídos para possibilitar com- onde mudanças ocorriam no S+ ou no S-, exceto para a Condição SM que
paração com as demais condições). Ao longo apresentava os estímulos finais em todas as tentativas.

da etapa de mudança do S+, quando as dife- Os resultados dos três Testes de Comporta-
renças entre este e o S- foram reduzidas, a quan- mento Conceitual de cada condição por partici-
tidade de erros aumentou. Os maiores valores pante são apresentados na Figura 5. Um teste
foram atingidos nas últimas tentativas progra- (TCC) era realizado após cada treino e consistia
madas, quando o S+ e o S- eram mais similares na apresentação de estímulos treinados (forma
em relação a cor e forma (este efeito foi menor final) e de estímulos não treinados. Na Figura 6

242
R. M. DE MELO ET AL.

são apresentadas as médias dos três testes de cada para cada criança são apresentados na Figura
condição (TCCs A, B e C) para cada participan- 6. Apenas um TDC foi realizado em cada Con-
te, com o desvio padrão representado pela linha dição Experimental. A parte cinza de cada bar-
vertical em cada barra. Todas as crianças mostra- ra representa a proporção de respostas corretas
ram porcentagens de respostas corretas maiores nas tentativas em que o modelo era um exem-
nos testes da Condição SM (desempenho superi- plar da posição reforçada (modelo S+: dentro,
or a 80 % de acerto, exceto para DAR, LAR e em cima ou esquerda) e a parte superior, parti-
JEF) do que das Condições MG e ME, indepen- lhada, representa a proporção de escolhas cor-
dente da ordem de exposição às condições expe- retas nas tentativas com o estímulo modelo não
rimentais e de qual posição foi treinada. As con- correlacionado com o reforço previamente (S-:
dições MG e ME produziram desempenhos no dentro, embaixo e direita). A maioria das cri-
TCC semelhantes aos do pré-teste (aproximada- anças apresentou desempenhos nos TDCs em
mente 50%). A análise de variância mostrou que torno do nível do acaso (50%) para todas as
estas diferenças entre as condições foram signifi- condições. Foram exceções VIN e JEF na Con-
cativas para todos os três testes (p=0,00), quando dição MG, TEL em ME e JEF em SM que
analisados separadamente. Apenas dois partici- apresentaram altas porcentagens de acerto.
pantes apresentaram altos escores em todas as con- Entretanto, para muitas crianças o padrão de
dições (TEL e LES) e outros três (DAR, HAG e seleção na Condição SM diferiu daquele mos-
TAM) em duas Condições Experimentais. trado nas Condições MG e ME. Na Condição
Os desempenhos nos Testes de Discrimi- SM, as crianças sistematicamente escolhiam o
nação Condicional (TDC) das três condições estímulo de comparação que apresentava a po-

Figura 5: Porcentagem de acerto nos Testes de Aprendizagem de Comportamento Conceitual (TCC A, B e C), nas Condições MG, ME e SM para cada
participante.

243
COMPORTAMENTO CONCEITUAL DE POSIÇÃO

sição correlacionada com reforço no treino, in- zagem de discriminações simples de posição;
dependentemente do modelo apresentado (S+ (b) na qualidade e quantidade do comporta-
ou S-). Tal padrão de escolha resultou em su- mento conceitual produzido; e (c) na emer-
cesso na maioria das tentativas com modelo S+ gência de relações condicionais entre estímu-
e em desempenhos incorretos nas tentativas los S+ (correlacionados com reforçamento) e
com modelo S-, o que pode ser observado pela S- (correlacionados com ausência de
alta proporção de respostas corretas quando o reforçamento), nas diferentes Condições Ex-
modelo era um S+. Considerando que no TDC perimentais.
foi programada uma quantidade igual de ten- Em geral, os resultados mostraram que:
tativas com modelos S+ e S-, seria esperado (a) o treino MG produziu aquisições de discri-
50% de respostas corretas caso este padrão ti- minações com menos erros e mais rápidas; (b)
vesse sido desenvolvido. Este padrão (ou pró- após o primeiro treino SM, a aquisição foi tam-
ximo a ele) foi observado em dez dos partici- bém rápida e com poucos erros; e (c) apenas o
pantes (66,6%) na Condição SM. Resultados treino SM favoreceu a formação de classes de
similares foram obtidos apenas para duas cri- estímulos e o controle pela posição com estí-
anças na Condição MG (HAG e LES) e para mulos treinados e novos, ou seja, o comporta-
nenhuma criança na Condição ME. mento conceitual. A validade interna dos re-
sultados foi demonstrada com replicações intra,
inter-participantes e com diferentes discrimi-
nações de posição (dentro-fora, em cima-em-
baixo e esquerda-direita).

Desempenhos nos treinos


Observou-se desempenho mais preci-
so e um menor número de tentativas para
atingir o critério na condição MG em rela-
ção à condição SM, nos primeiros treinos
de cada condição. Essas diferenças confir-
mam relatos da literatura que mostram
melhores desempenhos em treinos
Figura 6: Porcentagem de acerto no Teste de Discriminação Condicional discriminativos com procedimentos de mu-
(TDC) das condições MG, ME e SM para cada participante.
dança gradual do que com o procedimento
de tentativa-e-erro (e.g., Everett, 1977;
DISCUSSÃO Griffiths & Griffiths, 1976; Richmond &
Bell, 1986). Logo, os dados desta pesquisa
No presente estudo foi manipulado a estendem os resultados de estudos anterio-
forma de modificar os estímulos nos treinos res para: tarefas de discriminação simples
discriminativos utilizando-se um delinea- de posição apresentadas no computador;
mento intra-sujeito para investigar diferen- crianças pré-escolares com desenvolvimen-
ças: (a) na precisão e velocidade da aprendi- to normal e delineamento intra-sujeito.

244
R. M. DE MELO ET AL.

Ocorreu um número relativamente bai- tenderam a aumentar nas etapas finais de mu-
xo de erros e de tentativas para atingir o crité- dança, quando as diferenças entre os estímulos
rio, independentemente do procedimento de foram reduzidas. Este resultado confirma o efei-
treino. De acordo com a literatura, este resul- to esperado em relação ao grau de semelhança
tado não era esperado para a Condição SM, entre os S+ e S- nas etapas finais dos treinos e é
onde os estímulos apresentados diferiam ape- coerente com os dados obtidos por Doran e
nas quanto à posição do elemento relacional Holland (1979). Estes autores observaram que
(e.g., Gollin & Savoy, 1968; Schilmoeller et nos treinos de discriminação de tamanho com
al., 1979; Sidman & Stoddard, 1967). O cui- MCE de intensidade, os erros eram mais fre-
dado metodológico para controlar, entre as con- qüentes nas etapas finais de mudança gradual
dições, fatores indesejáveis, variando-se apenas em que eram apresentados S+ e S- com a me-
o tipo de mudança dos estímulos (gradual vs. nor diferença de tamanho, ou seja, mais seme-
não gradual) e o número de estímulos (mu- lhantes. Erros nas etapas finais do treino com
dança/vários x sem mudança), pode explicar estímulos que diferiam quase que unicamente
parcialmente esses resultados. Os treinos MG, na dimensão relevante sugerem que nas etapas
ME e SM eram iguais em relação aos seguintes iniciais o controle estabelecido não incluiu as
aspectos: (a) a apresentação do S+ sozinho na dimensões críticas do estímulo, impossibilitan-
tentativa inicial; b) a manutenção da janela de do a transferência de controle nas etapas finais.
resposta do S+ na segunda tentativa em relação Na Condição ME, o padrão de distribui-
à primeira; c) o número de tentativas de treino; ção dos erros foi semelhante ao da Condição
(d) o procedimento de correção que repetia a MG, mas a quantidade de erros nos treinos foi,
tentativa anterior quando a escolha era incorre- em geral, maior do que nesta condição. O pa-
ta; e (e) o critério de finalização da sessão. A drão semelhante pode estar relacionado com a
primeira tentativa com escolha forçada, a apre- maior semelhança entre os dois procedimentos
sentação do S+ na mesma janela na segunda ten- de treino que utilizaram 12 S+ e 12 S-, modifi-
tativa e o procedimento corretivo podem ter cando primeiro os S+ e em seguida os S-, o que
contribuído para produzir desempenhos altos produzia pares de estímulos bastante díspares
nos três procedimentos de treino. Esses resulta- até as etapas finais dos treinos. Além disso, em
dos sugerem que outros aspectos dos procedi- ambos os procedimentos, os estímulos finais,
mentos, além das mudanças graduais, foram que diferiam apenas na posição do elemento
responsáveis pela redução de erros. relacional, estavam presentes somente na últi-
Os padrões diferentes de erro mostram, ma tentativa programada (26ª). O menor nú-
entretanto, que os processos de aquisição fo- mero de erros no Treino MG, por outro lado,
ram diferenciados com os diferentes treinos parece ser resultante de mudanças menos
discriminativos. Na Condição SM os partici- abruptas nas dimensões do estímulo ao longo
pantes começaram errando bastante, mas o do treino.
número de respostas em S- decresceu ao longo Apesar da Condição MG ter resultado em
das tentativas. Já na Condição MG uma quan- menos erros e aquisição mais rápida, as altas
tidade mínima de erros ou nenhum erro ocor- porcentagens de acerto obtidas nos Treinos SM
reu nas etapas iniciais dos treinos e os erros (especialmente após o primeiro treino de cada

245
COMPORTAMENTO CONCEITUAL DE POSIÇÃO

condição) mostram que a modificação gradual tanto, nos testes que avaliaram o desenvolvi-
de estímulos não foi uma condição necessária mento de comportamento conceitual de posi-
para a aprendizagem de discriminações sim- ção os resultados foram diferentes, mostrando
ples para os participantes deste estudo, o que é que aprendizagens diferentes ocorreram nas
coerente com o resultado obtido por Stoddard, diferentes condições experimentais. Os desem-
Serna e McIlvane (1994). Os autores mostra- penhos nos testes com estímulos treinados e
ram que algumas crianças de 2-3 anos com novos (TCC) sugerem que somente ocorreu
desenvolvimento normal respondiam correta- aprendizagem de comportamento conceitual na
mente aos estímulos finais, testados ao longo Condição SM, na qual foram observadas altas
do treino, de uma discriminação círculo-elipse, porcentagens de acerto (acima do nível do aca-
a partir da primeira ou segunda tentativa. Esta so - 50%) e maiores do que nas Condições MG
é uma evidência adicional com crianças com e ME. Na Condição SM as crianças seleciona-
desenvolvimento normal que mostra que dis- ram nos testes os estímulos de treino e novos
criminações de posição podem ser adquiridas de acordo com a dimensão crítica (a relação de
com poucas tentativas, sem necessidade de ex- posição treinada). Tal desempenho sugere a
posição a um processo de mudança gradual dos formação de classes de estímulos que tinham
estímulos iniciais. como característica comum à posição do ele-
A tendência observada em relação a de- mento relacional nesta condição e generaliza-
sempenhos mais precisos nos dois últimos trei- ção intraclasse de cada posição.
nos com um mesmo tipo de modificação de es- Um fator que pode ter contribuído para
tímulo (Treinos B e C) em comparação com o a obtenção de resultados mais precisos e siste-
primeiro, principalmente para a Condição SM, máticos no teste da Condição SM diz respeito
pode ser considerada uma evidência de disposi- à diferença no número de exposições aos estí-
ção para aprender ou learning set (Harlow, 1949, mulos S+ e S- finais. Como os estímulos finais
citado em Mazur,1994). Diz-se que foi adqui- se distinguiam apenas pela posição do elemen-
rida uma disposição para aprender ou que o in- to relacional em relação ao de referência, a
divíduo aprendeu a aprender, quando após ex- maior quantidade de exposição a este par esta-
posição repetida a vários problemas de um mes- va associada com uma freqüência maior de
mo tipo de discriminação, o desempenho se tor- reforçamento na presença do S+. Nos treinos
na mais preciso chegando a ocorrer apenas uma SM, era necessário que a criança respondesse
resposta incorreta diante da apresentação de ao S+ pelo menos 26 vezes, sendo que somente
novos pares S+ - S-. No presente estudo, foi a posição do elemento relacional diferenciava
observado que para muitas crianças a história de esse estímulo do S-. Nas Condições MG e ME
exposição repetida a um mesmo tipo de treino apenas uma reposta ao S+ final era reforçada
produziu desempenhos mais precisos em trei- antes da finalização dos treinos. Apesar de esse
nos subseqüentes com outros exemplares. critério ter sido suficiente para indicar a aqui-
sição das discriminações entre os estímulos de
Desempenhos nos testes treino, ele não resultou em aquisição do con-
Durante os treinos todas as crianças dis- trole abstrato pela posição, generalização intra-
criminaram os estímulos apresentados. Entre- classes de estímulos ou comportamento

246
R. M. DE MELO ET AL.

conceitual, como sugerem os resultados dos entanto, o presente estudo não confirmou es-
TCCs. Parece, portanto, que procedimentos que tes resultados. Os escores superiores no TCC
reduzem a disparidade entre os estímulos ao após treino SM, tanto em tentativas com estí-
longo do treino, seja mudando os estímulos de mulos de treino como novos, sugerem que o
forma gradual ou utilizando múltiplos exem- número de estímulos treinados não é suficien-
plares, quando utilizados em situação aplicada te para explicar a aquisição de abstração ou com-
de ensino, devem incluir blocos de tentativas portamento conceitual. O baixo número de
com os estímulos finais e utilizar critério de erros nos Treinos B e C sem modificação de
aprendizagem baseado no desempenho nes- estímulos é uma evidência adicional que forta-
sas tentativas. Nas Condições MG e ME des- lece a idéia de que o treino com apenas um par
se estudo, o critério de finalização do treino de estímulos (Treino A) foi, em muitos casos,
consistia na apresentação de uma única res- suficiente para estabelecer o controle pela di-
posta correta na tentativa com os estímulos mensão definida como relevante pelo
finais que seguia a seqüência de mudanças do experimentador.
S+ e do S-. Esse critério foi adotado para ca- Se a variável crucial fosse o número de
racterizar as diferenças entre os procedimen- pares de estímulos utilizados nos treinos, es-
tos utilizados, pois inclusão de um bloco de perar-se-ia que as Condições MG e ME tives-
tentativas com os estímulos finais nas condi- sem produzido desempenhos mais precisos nos
ções MG e ME significaria inserir o treino SM testes de comportamento conceitual. Para to-
nessas condições, o que dificultaria a inter- das as crianças, os resultados mais precisos com
pretação dos resultados. as três posições foram observados na condição
Nos estudos sobre comportamento em que apenas um par de estímulos foi utiliza-
conceitual ou abstração é comum a utilização do (Condição SM). Portanto, a utilização de
de diversos estímulos, sugerindo que o núme- vários exemplares de estímulos pode não ser
ro de estímulos treinados é uma variável rele- uma condição necessária nem suficiente para
vante para o estabelecimento da abstração. O garantir comportamento conceitual. O treino
tamanho da classe de estímulos, diante da qual que inicialmente possui múltiplas dimensões
uma determinada resposta é emitida, tem sido de S+ e S- diferentes (forma, largura, cor e re-
considerado como um parâmetro que diferen- lação de posição entre os seus elementos, no
cia a discriminação e o comportamento presente estudo) facilita a discriminação inici-
conceitual (Mazur, 1994; Millenson, 1967/ al e reduz as chances de erros e seus
1985). Em geral, estes estudos mostram que o subprodutos, como tem sido amplamente re-
controle de estímulo adquirido nos treinos se latado na literatura (Sidman, 1985; Stoddard,
estende para novos estímulos que apresentam De Rose & McIlvane, 1986; Terrace, 1963) e
as dimensões correlacionadas com reforço (e.g. foi replicado no presente estudo com vários
Herrnstein & Loveland, 1964; Watanabe, participantes e diferentes tarefas de discrimi-
Sakamoto & Wakita, 1995). Etzel (1997) com- nação. Entretanto, parece ser crucial para o
para o procedimento de MCE com os procedi- comportamento conceitual a exposição a ten-
mentos de ensino de conceitos, considerando tativas repetidas de apresentação de estímulos
que várias discriminações são ensinadas. No S+ e S- que se diferenciam apenas em relação a

247
COMPORTAMENTO CONCEITUAL DE POSIÇÃO

dimensão crítica. Esta situação torna a topo- pares de estímulos, e, portanto, a diversos trei-
grafia do controle de estímulo coerente com a nos discriminativos, semelhante aos procedi-
definida pelo experimentador ou professor mentos de treino de comportamento conceitual
(Dube & McIlvane, 1996; McIlvane & Dube, (e.g., Fields, Matneja, Varelas, Belanich, Fitzer,
1992; McIlvane, Serna, Dube & Stromer, & Shamoun, 2002; Griffee & Dougher, 2002).
2000). Este resultado está de acordo com os Os resultados do presente estudo não confir-
obtidos por Birnie-Selwyn e Guerin (1997) mam essa hipótese e mostram a necessidade de
que verificaram maior porcentagem de acerto condições adicionais para favorecer a generali-
nos treinos em que eram utilizadas palavras com zação. Laarhoven, Johnson, Repp, Karsh &
múltiplas diferenças (e.g., skin, much e walk), Lenz (2003) sugeriram que a utilização de trei-
mas melhores desempenhos em tarefas de tes- no com exemplares múltiplos faz com que as
te de construção de palavras realizados após trei- diferenças entre os estímulos positivos e nega-
nos com palavras com diferenças críticas ( e.g., tivos fiquem mais salientes, podendo favorecer
snow, slow e snap), mostrando também maior a generalização. Entretanto, esses autores mos-
controle por dimensões críticas dos estímulos traram também que o efeito do procedimento
quando o treino continha estímulos S+ e S- de múltiplos exemplares nos treinos e testes de
mais similares. generalização depende de outras variáveis, no
Questionamentos sobre os resultados caso, da forma como a apresentação dos estí-
obtidos podem ser feitos ao uso de estímulos mulos é programada ao longo do treino (vari-
diferentes nos treinos MG e ME. Definir cri- ando entre as tentativas ou dentro de cada ten-
térios precisos para caracterizar mudanças gra- tativa). Os resultados do presente estudo alia-
duais na forma do estímulo e diferenciá-las das dos aos de Laarhaven et al. (2003) são contri-
não graduais é ainda difícil e suscetível à críti- buições importantes para a descrição das con-
ca. Para tanto, o presente estudo está sendo dições necessárias para que a generalização ocor-
replicado modificando apenas a cor e manten- ra após o treino discriminativo.
do-se constante a forma. Na Condição MG a Além da verificação do controle
cor dos estímulos está sendo variada ao longo conceitual, o presente estudo realizou testes das
do treino modificando-se numericamente os relações condicionais a fim de avaliar se o con-
parâmetros RGB (Red, Green, Blue), enquan- trole pela relação de posição estabelecido em
to que na Condição ME a ordem de apresenta- tarefas de discriminação simples se mantinha
ção dos mesmos estímulos ao longo do treino no contexto de um procedimento de escolha
está sendo definida de forma semi-aleatória. Os de acordo com o modelo. Novamente, a Con-
resultados preliminares (Melo, Hanna, Jesus, dição SM mostrou resultados diferentes das
Andreozzi e Araujo, 2003) replicam os relata- demais condições. Apenas na Condição SM foi
dos no presente estudo, fortalecendo as afir- verificado, para a maioria das crianças, contro-
mações sobre os resultados aqui apresentados. le condicional pela relação da posição treinada
A hipótese inicial desse estudo era de que (S+). Somente uma criança (JEF) apresentou
os Treinos MG e ME produziriam escores al- controle condicional pela relação da posição não
tos nos testes de generalização, porque nesses correlacionada com reforço (S-). Nas outras
procedimentos ocorre a exposição a diversos condições, foram observados desempenhos pró-

248
R. M. DE MELO ET AL.

ximos ao acaso e distribuídos igualmente nas nos MG e SM poderia resultar em um proce-


tentativas com modelo S+ e S-. Para a condição dimento mais efetivo para a aprendizagem de
SM, em geral, as crianças tenderam a acertar comportamento conceitual. A mudança gradu-
todas ou quase todas as tentativas em que o al dos estímulos reduziria o número de erros
modelo era um S+ e a errar as tentativas com ao longo do treino e o acréscimo de um bloco
modelo S-, pois continuavam respondendo no de tentativas com o par S+ - S- final, após a
S+. Este resultado sistemático e replicado pela etapa de modificação, poderia garantir respon-
maioria das crianças, nas diversas posições e der diferencial sob controle da dimensão críti-
independente da ordem de exposição às con- ca da discriminação treinada.
dições experimentais, mais uma vez evidencia Os resultados obtidos nos treinos e testes
que apenas o treino SM desenvolveu o contro- sugerem que a utilização de um par de estímu-
le pela dimensão posição. los que diferem apenas em relação à dimensão
Uma possível explicação para o desempe- crítica foi relevante para o estabelecimento de
nho no TDC da condição SM é que provavel- controle pela dimensão posição. Entretanto,
mente as crianças responderam neste teste como considerando a importância desses resultados
se estivessem em uma situação de discrimina- para o ensino, juntamente com o fato de que
ção simples. A apresentação das comparações, esses achados contrariam em parte resultados
após a resposta de clicar sobre o modelo, era anteriores sobre a superioridade de procedi-
uma oportunidade para a resposta de escolher mentos com mudança gradual (e.g., Everett,
um dentre dois estímulos, semelhante ao que 1977; Griffiths & Griffiths, 1976), a generali-
a criança fazia na tarefa de discriminação sim- dade desse estudo precisa ser avaliada. Em ge-
ples. Mesmo com a presença do estímulo mode- ral, crianças com atraso no desenvolvimento
lo, muitas crianças escolhiam o S+ exclusivamen- têm se beneficiado com procedimentos de
te ou na maioria das vezes independentemente mudança gradual. No presente estudo os re-
do modelo apresentado. Este efeito foi sistemáti- sultados foram obtidos com crianças de 4-6
co para as crianças MAX, JES, HAG, HIG, TAM, anos, com desenvolvimento normal e tarefas de
LES, GIL, MAR, VIN, e VAN (conforme Figura discriminações de posição. Embora o treino SM
6), apesar da pronta resposta de observação quando tenha se mostrado mais efetivo para estabele-
o modelo apresentado era o S-. A realização dos cer classes de estímulos e generalização
pré-treinos de discriminação condicional no iní- intraclasse baseadas na posição, é importante
cio do experimento e a utilização de contextos mencionar que foram observados mais erros no
diferenciados para tarefas de discriminações sim- primeiro treino SM (Treino A) em compara-
ples e condicional (fundo de tela branco ou azul, ção com a Condição MG, o que pode compro-
respectivamente) não foram suficientes para que meter a sua aplicação em situações acadêmicas
as crianças respondessem no TDC em confor- e, em especial, para crianças com dificuldade
midade com o modelo. Estudos adicionais se- de aprendizagem. A utilização de treinos com
rão necessários para compreender melhor esse apenas reforçamento diferencial deve ser anali-
fenômeno. sada com cautela, uma vez que os erros estão
Considerando os resultados obtidos, é associados com a ocorrência de comportamen-
possível sugerir que a combinação entre os trei- tos emocionais durante os treinos, controle por

249
COMPORTAMENTO CONCEITUAL DE POSIÇÃO

dimensões irrelevantes, e alterações em com- cologia: Teoria e Pesquisa, 9, 283-303.


portamentos previamente adquiridos (e.g., Dixon, L. S., Spradlin, J. E., Girardeau, F. L., & Etzel,
Sidman, 1995; Stoddard, McIlvane & de Rose, B. C. (1974). Development of a programmed
1987; Terrace, 1963). stimulus series for training in-front discrimination.
O delineamento utilizado neste estudo Acta Symbolica, 5(4), 1-21.
representa um avanço metodológico na litera- Doran, J., & Holland, J. G. (1979). Control by stimulus
tura sobre controle de estímulos que features during fading. Journal of the Experimental
freqüentemente utiliza delineamento de gru- Analysis of Behavior, 31(2), 177-187.
po, pois permitiu a comparação do desempe- Dube, W. V. (1991). Computer software for stimulus
nho de uma mesma criança em treinos control research with Macintosh computers. Expe-
discriminativos distintos, com o objetivo de rimental Analysis of Human Behavior Bulletin, 9,
identificar o papel da forma de modificar os 28-30.
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