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A dominação na República Velha:

uma análise sobre os fundamentos


políticos do sistema oligárquico e os
impactos da Revolução de 1930
Sidnei Ferreira de Vares*

Resumo Introdução
O presente artigo discute o funciona- O presente artigo tem por objetivo
mento e a derrocada da máquina polí- analisar, ainda que superficialmente e
tica oligárquica vigente até 1930, bem sem a pretensão de fornecer novas infor-
como as transformações decorrentes mações sobre o tema, as bases do sistema
do movimento que conduziu Getúlio oligárquico que vigorou no Brasil durante
Vargas à presidência, tendo como fio a chamada República Velha, período com-
condutor a questão da participação po- preendido entre 1889 e 1930. Resultado de
pular nos destinos políticos do país. complexas articulações políticas, o referido
sistema permitiu às elites agroexportado-
Palavras-chave: Federalismo. Revo-
ras que comandavam o país naquele ins-
lução de 1930. Sistema oligárquico.
tante se perpetuar no poder durante qua-

*
Professor dos cursos de História e Filosofia do
Unifai e do curso de Pedagogia da UniSant’anna.
Doutorando em Sociologia da Educação pela
USP.

Recebido em: 21/06/2011 - Aprovado em: 24/11/2011

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tro décadas de nossa história. Por meio do segundo momento, trataremos das formas
controle da máquina eleitoral nos estados de dominação impostas pelas oligarquias
e nos municípios, viabilizado, de um lado, tanto nos estados quanto nos municípios.
pelo federalismo adotado pela Constitui- A última parte se restringe à análise da
ção de 1891 e, de outro, pelo pacto políti- crise do sistema oligárquico na década de
co entre os estados de maior expressão, 1920 e do processo que culminou na cha-
o governo impedia que vozes dissidentes mada “Revolução de 30”.
ganhassem projeção e quebrassem o ritmo
político e econômico imposto ao país. Em-
A Constituição de 1891: o
bora ancorado nos pressupostos básicos
do liberalismo clássico, na prática, o sis- liberalismo excludente
tema oligárquico representou a exclusão
Ao analisar as constituições brasi-
política da maioria da população, especial-
leiras, Ângela Maria de Castro Gomes ar-
mente nas regiões mais atrasadas onde o
gumenta que a convocação da Assembleia
nível de informação do povo era restrito e
Nacional Constituinte representa o acon-
a violência empregada pelos mandatários
tecimento máximo na vida política de um
locais constante. Todavia, no decorrer das
país, à medida que constitui uma transi-
décadas de 1910 e 1920, o Brasil passaria
ção da ordem política. Esse momento es-
por profundas e aceleradas transforma-
pecial na vida de um povo se caracteriza
ções, colocando a estrutura política e eco-
pela possibilidade do debate público, haja
nômica da República Velha em xeque. Os
vista que a constituinte cria uma atmos-
movimentos contestatórios que eclodem
fera de “abertura e participação políticas,
nos grandes centros urbanos e também no
permitindo o aparecimento de um espaço
interior prenunciam as mudanças que se
de politização difícil de se bloquear ou con-
aproximam. O impasse em torno das oli-
trolar completamente em função da inten-
garquias de São Paulo e Minas Gerais nas
sidade e publicidade dos debates que sus-
eleições de 1930 decretou o fim da domi-
cita e alimenta” (GOMES, 1986, p. 9-11).
nação imposta por esses grupos. Em que
Entretanto, alerta a autora, a participação
medida a derrocada da oligárquica paulis-
política – que pode variar de um conteúdo
ta representou o fim da exclusão política,
elitista a um conteúdo de apelo fortemente
vigente durante a Primeira República, é
popular –, depende do nível de mobilização
uma questão que precisa ser analisada.
e organização dos diversos setores sociais
Com o fito de facilitar nossa empresa, di-
que formam o corpo político, ou seja, da
vidimos esse trabalho em algumas partes.
maneira como cada um desses grupos atua
Em primeiro lugar, analisaremos a Cons-
na fase de eleição e trabalho da Assem-
tituição de 1891, procurando entender
bleia Constituinte.
de que forma seus artigos resguardaram
Percorrendo a história da chamada
os interesses das elites agroexportadoras
“República Velha” e mais especificamen-
quando de sua ascensão ao poder. Num
te a primeira Constituição republicana,

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percebe-se, a partir das ideias expostas, A recém-inaugurada república cami-
que essa possibilitou, de um lado, a con- nhava para
solidação do regime político instaurado o aperfeiçoamento de mecanismos que
pouco antes e, de outro, a hegemonia das garantissem a simultaneidade entre a
oligarquias estaduais na condução dos ru- ampliação formal da participação políti-
ca – em face ao novo contingente eleito-
mos políticos do país pelo menos até 1930,
ral, uma vez eliminada a escravidão – e
excluindo do cenário político a maior parte a exclusão real dos setores subalternos,
da população brasileira. aos quais não interessava incorporar à
As disputas ideológicas que marca- cidadania (LINHARES, 2000, p. 316).
ram os primeiros meses do regime repu- A descentralização política adotada
blicano, travadas principalmente entre pelos constituintes foi crucial para a as-
militares e civis, cujos projetos políticos di- censão da classe agroexportadora ao co-
vergiam,1 se consumaram favoravelmente mando do país e, não por acaso, grande
a estes com a promulgação da carta consti- parte daqueles que se dedicam ao estudo
tucional em 1891. desse período consideram a carta consti-
Espelhados na Constituição dos Es- tucional de 1891 o ponto de partida para
tados Unidos, os constituintes brasileiros, explicar a dominação exercida pelas elites
reunidos desde 1890, simplesmente trans- agrárias estaduais durante a maior parte
plantam o modelo constitucional ame- da república velha.2
ricano para o Brasil, sem considerações
Com a consagração do sistema federalis-
maiores sobre as diferenças políticas, eco-
ta, a República brasileira viria a conhe-
nômicas ou mesmo culturais entre os dois cer um longo período de comando pela
países. ação e pelos interesses da política dos
Procurando adequar os princípios fe- estados. Descartada a ameaça do flo-
rianismo e sua versão popular, na qual
derativos contidos na carta constitucional
o regime tenderia a adotar uma direção
norte-americana, pouco se discutiu sobre unitária e fortemente centralizada na fi-
as particularidades da realidade brasilei- gura presidencial, foi possível o governo
ra. Problemas como a concentração de ren- descentralizado dos múltiplos apetites
da e a má distribuição das terras ficaram oligárquicos. Aliás, essa perspectiva fa-
vorável aos grupos locais encontrava-se
praticamente ausentes dos debates que presente nos termos da Constituição de
antecederam o texto final da Constituição. 1891 (PENNA, 1999, p. 88-89).
Ao desprezarem essas questões, os
O federalismo deu aos estados e aos
constituintes acabaram por endossar os in-
municípios ampla autonomia, consagran-
teresses dos grupos economicamente favo-
do o individualismo político e econômico.
recidos, não só reforçando certa estrutura
Em decorrência disso, os estados passam
social verticalizada, vigente desde o perí-
a ter liberdade para legislar, contrair em-
odo colonial, mas também legitimando as
préstimos no exterior, organizar sua pró-
desigualdades resultantes dessa estrutura.
pria força militar, criar impostos interes-

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taduais e impostos de exportação, além de Houve mesmo um retrocesso na legisla-
organizar eleições estaduais e municipais. ção: a Constituição republicana de 1891
retirou do Estado a obrigação de oferecer
Trata-se de uma transformação subs-
educação primária, constante da Consti-
tancial se consideramos a estrutura polí- tuição de 1824. Predominava então um
tica anterior. Pode-se mesmo falar num liberalismo ortodoxo, já superado em ou-
rompimento “com o sistema de relação di- tros países. A Constituição republicana
proibia ao governo federal interferir na
reta entre os detentores do poder local e o
regulamentação do trabalho. Tal interfe-
centro de poder nacional prevalecente no rência era considerada violação da liber-
Brasil Império” (RESENDE, 2006, p. 95), dade do exercício profissional (CARVA-
haja vista que no regime anterior todas as LHO, 2008, p. 62).
decisões políticas passam pelo poder cen- Na prática, o elitismo do sistema elei-
tral, personificado na figura do imperador, toral do império persistiu, ainda que modifi-
enquanto que, depois de 1889 – mais espe- cado, tendo em vista que a relação entre pro-
cificamente de 1891 –, as elites locais pas- priedade e liberdade continuou praticamente
sam a usufruir um poder decisório jamais intacta durante toda a República Velha.
experimentado na história do país.3
Apesar de estar bem “modernizada”
A defesa das liberdades individuais, em relação à Constituição monárquica,
incutida em seus artigos, impediu que te- passados os primeiros anos de euforia
mas de interesse geral e que a própria ci- constitucional e republicana, seus defei-
tos se foram evidenciando e, por não se
dadania tivessem centralidade na agenda
adaptarem à realidade nacional, só era
política republicana. As discussões em tor- cumprida quando atendia aos interesses
no dos problemas sociais e da participação imediatos do Governo (BASBAUM, 1976,
política são praticamente abandonadas p. 184 - grifo do autor).
em detrimento dos interesses de peque- Se a Constituição de 1891 “consa-
nos grupos políticos. Em outras palavras, grou” a cidadania, estendida à população,
o povo viu-se alijado da participação nos inclusive aos ex-escravos, não é menos ver-
processos decisórios, caracterizando o que dade que as elites – exceto um diminuto
alguns autores denominam de “liberalis- número de membros pertencentes à ala
mo oligárquico”. “jacobina” do Partido Republicano – pro-
Mesmo substituindo a “democracia curaram conter a participação popular.4
censitária” do regime anterior, caracteri- A liberdade de culto e de expressão,
zada pela participação política restrita, assim como o direito de associação e de
haja vista que somente eleitores com ren- propriedade, previstos em seus artigos,
da suficiente podiam votar, a Constitui- não foram o bastante para atender às ne-
ção republicana de 1891 não representou cessidades da maioria. O próprio direito
grandes avanços quando comparada ao de voto, o mais importante direito político
dentro de uma república, ficou prejudicado
sistema eleitoral substituído.
diante exclusão dos analfabetos, uma vez
que a maior parte da população não sabia
ler e escrever.5

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Assim, o alargamento dos direitos po- Com efeito, concordamos com Maria
líticos por meio do voto não se converteu Efigênia Resende quando afirma que da
numa participação efetiva da população combinação entre federalismo e individua-
já que as vias de acesso ao debate foram lismo emerge uma república preocupada
bloqueadas pelos grupos dominantes, que com a manutenção da ordem, mesmo que
se aproveitaram da miséria material e in- a força tivesse que ser usada para tal fim,
telectual da massa para, por meios de ade- descrente em relação à soberania popular
quações políticas, transformar a constitui- e convencida da missão reservada às eli-
ção republicana num instrumento legal de tes: a de condutoras do destino da nação
exclusão. (Cf. RESENDE, 2006, p. 104).
A decomposição da ordem senhorial-
escravocrata que se instituiu ao longo
do processo de abolição gradual tem im-
As oligarquias estaduais: a
plicações profundas na visão das elites dominação das elites agrárias
sobre a população livre, entendida como
aquela parte da população que consegue A Constituição de 1891 contemplou a
preencher os requisitos mínimos para se
negação da cidadania na medida em que
classificar como eleitores. Para as elites,
essa “massa de votantes” não passa de as ideias liberais nela contidas permitiram
uma turbamulta ignorante e dependen- aos civis, instalados no poder desde 1894
te. Dessa perspectiva, o espectro dos com Prudentes de Morais, manobrar a
ex-libertos votando torna-se para elas
seu favor a massa de eleitores por meio de
um presságio de caos social (RESENDE,
2006, p. 100 - grifo do autor. complexas articulações políticas, fundadas
na realidade dos municípios e asseguradas
Essa forma de liberalismo, típico do pelas oligarquias estaduais. Não por aca-
período compreendido entre 1889 e 1930, so, o período compreendido entre 1889 e
expressa os paradoxos da recém-proclama- 1930 ficou conhecido como “república dos
da República e expõe, de maneira decisiva, coronéis”.
a contradição entre a noção de cidadania, Embora, como sugere Boris Fausto
da qual a participação política é uma im- (2003), não seja correto afirmar, como co-
plicação lógica, e o sistema político exclu- mumente se tem feito, que os interesses
dente que caracterizou a República Velha. das oligarquias agroexportadoras repre-
Como bem expõe José Murilo de Carvalho: sentassem integralmente os interesses da
Nossa República, passado o momento nação no decorrer da Primeira República,
inicial de esperança de expansão demo- o que supõe um Estado sem qualquer au-
crática, consolidou-se sobre um mínimo
de participação eleitoral, sobre a exclu-
tonomia,6 não se pode negar que parte da
são do envolvimento popular no governo. influência política exercida por esses gru-
Consolidou-se sobre a vitória da ideolo- pos resultou dos termos em que a referida
gia liberal pré-democrática, darwinista, Constituição foi elaborada, já que o centra-
reforçadora do poder oligárquico (CAR-
lismo inerente ao regime monárquico, vi-
VALHO, 1987, p. 161).
gente até a manhã do dia 15 de novembro

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de 1889, fora substituído por um modelo entre lideranças municipais e estaduais.
federalista que deu aos Estados um grau A “política dos estados”, como Campos Sa-
de independência infinitamente maior do les designava o pacto entre as oligarquias
que previa a Constituição de 1824. Essa estaduais, ou “política dos governadores”,
descentralização permitiu às oligarquias como ficou comumente conhecida, consoli-
ligadas à agroexportação, principalmente dou a doutrina do municipalismo no cená-
a cafeeira, realizar uma série de articula- rio nacional e tornou o clientelismo a for-
ções visando estabilizar o cenário político, ma mais expressiva de atividade política
marcado por divergências infindas nos pri- pelo menos até 1930.
meiros anos republicanos. Apoiados pelas oligarquias estaduais,
Do ponto de vista político, o período da os chefes políticos municipais, conhecidos
chamada República Velha caracterizou- como “coronéis”,7 garantiam, por meio da
se pelo predomínio inconteste dos grupos influência pessoal ou pelo uso de violên-
agrários, sob a hegemonia dos cafeicul-
cia, a vitória de candidatos favoráveis aos
tores paulistas. Artífices do regime re-
publicano em sua crítica à centralização interesses do governo, recebendo em tro-
monárquica acabariam por implementar, ca apoio financeiro, político ou até mesmo
na prática, um regime político coerente militar quando tinham a supremacia local
com seus desígnios, consubstanciado na ameaçada por grupos políticos rivais. Esse
federação e baseado na maximização do
escambo político só foi possível graças às
poder das oligarquias estaduais, viabili-
zada a partir do coronelismo (MENDON- condições marginais a que estavam rele-
ÇA, 2000, p. 316). gados os tradicionais chefes locais. A de-
cadência financeira de algumas regiões
Ancorado nos dispositivos da Consti-
distantes dos grandes centros decisórios,
tuição republicana, Campos Sales, que as-
como São Paulo e Rio de Janeiro, facilitou
sume a Presidência em 1898, substituindo
a aproximação entre os líderes estaduais
a Prudente de Morais, procura desde o pri-
e os mandatários regionais, interligando
meiro instante harmonizar o Poder Exe-
esse poder local a uma rede nacional de do-
cutivo e o Poder Legislativo e estabelecer
minação. Considerando os limites de aces-
compromissos recíprocos entre o executivo
so às massas rurais dispersas pelo interior
federal e os executivos estaduais, dando
decorrente do desenvolvimento incipiente
fim às disputas políticas entre os estados
da radiodifusão, resta ao poder estadual se
ou entre lideranças estaduais e regionais.
aliar aos chefes regionais, dando-lhes um
Conhecedor da realidade brasileira, o ex-
voto de confiança na intermediação entre
periente político paulista sabia que os mu-
eleitores e governo (MENDONÇA, 2000,
nicípios teriam papel fundamental para a
p. 317-318).
estabilidade política dos estados e do pró-
Do ponto de vista político, o coronelis-
prio governo federal. Em seu discurso de
8
mo foi essencial às pretensões do governo
posse já mencionava essa importância, an-
e consequentemente das elites agroexpor-
tevendo os passos que seriam dados pouco
tadoras que dele participavam, possibili-
depois no sentido de consolidar a aliança

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tando, por meio de ações fraudulentas, a propriedade e a presença efetiva do coronel
reprodução de resultados eleitorais favorá- na fazenda inibiam posições mais ousadas
veis, abortando traumatismos entre gru- por parte dos trabalhadores. Na medida
pos rivais, tão comuns nos anos iniciais do em que a propriedade é espaço privado, ou
regime republicano. Como diz José Murilo seja, de pertencimento do coronel, a auto-
de Carvalho, ridade deste se apresenta como indiscu-
Nesse paraíso das oligarquias, as práti- tível. Claro que não estamos negando re-
cas eleitorais fraudulentas não podiam sistências por parte dos trabalhadores aos
desaparecer. Elas foram aperfeiçoadas. desmandos cometidos. Como demonstra
Nenhum coronel aceitava perder as
Maria de Lourdes Mônaco Janotti, alguns
eleições. Os eleitores continuavam a ser
coagidos, comprados, enganados, ou sim- casos de abuso ganharam notoriedade,
plesmente excluídos. Os historiadores do como o que envolveu uma família de imi-
período concordam em afirmar que não grantes italianos e Diogo Eugênio Sales,
haviam eleições limpas. O voto podia ser irmão de Campos Sales, embate que ficou
fraudado na hora de ser lançado na urna,
conhecido como o Caso Longaretti (Cf. JA-
na hora de ser apurado, ou na hora do
reconhecimento do eleito (CARVALHO, NOTTI, 1999, p. 30-52). Como aponta Ota-
2008, p. 41). vio Ianni (2005, p. 132-135), a consciência
política entre o proletariado rural resultou
Tendo em vista que durante toda a
de um processo lento e gradual que só ocor-
república velha a maior parte da popula-
reram graças às transformações no âmbito
ção brasileira estava localizada no campo,
produtivo.
seguindo, como argumentavam alguns
Conforme previsão constitucional,
homens ilustres da época – quase todos li-
somente eleitores brasileiros e alfabeti-
gados à tradição agrária –, as inclinações
zados podiam votar, sendo esse o artifício
rurais do país, as práticas coronelistas pu-
que permitiu o controle do eleitorado no
deram se desenvolver sem maiores contes-
campo. A simples assinatura ou mesmo o
tações, em razão da baixa instrução da po-
desenho do próprio nome eram suficientes
pulação rural e da violência desencadeada
para validar o voto desse eleitor, que mui-
pelos coronéis contra as vozes dissidentes
tas vezes tinha ao seu lado a companhia
que porventura pudessem se insurgir. Mes-
de um capanga do coronel lhe indicando de
mo considerando o número significativo de
maneira pouco delicada em quem votar. O
imigrantes chegados ao Brasil no início do
fato do voto não ser secreto aumentava o
século XX, em tese mais politizados que os
número de casos de violência contra o elei-
brasileiros, eram poucos aqueles que ti-
torado. Conhecido como “voto de cabresto”,
nham consciência política desenvolvida, já
em virtude da truculência a qual os eleito-
que a maior parte desses imigrantes eram
res eram submetidos na escolha do candi-
oriundos do campo em seus países de ori-
dato. Essa prática foi bastante usual em
gem (Cf. BATALHA, 2006, p. 165-167).
algumas regiões do país, especialmente
A própria estrutura social facilitou
nas regiões mais afastadas, o que se confi-
o controle do trabalhador rural. A grande

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gurou como fator responsável por garantir ce o estado de Minas Gerais. A “política
nos municípios a hegemonia dos represen- do café-com-leite”, como foi denominado
tantes das oligarquias estaduais. o tácito acordo entre os dois estados, ga-
Contando com o apoio das elites es- rantiu a hegemonia dessas oligarquias no
taduais, o coronel atua com bastante ener- cenário nacional, sendo poucas as vezes na
gia em seu reduto eleitoral, também cha- história da República Velha que paulistas
mado de “curral”, embora seu poder não e mineiros se viram ameaçados frente aos
seja inconteste, haja vista que as disputas estados de menor expressão.
com outros coronéis rivais não eram inco- Foi em São Paulo e Minas que o corone-
muns,9 conquistada a confiança dos grupos lismo, como sistema político, atingiu a
estaduais, era quase impossível derrotá-lo. perfeição e contribuiu para o domínio que
os dois estados exerceram sobre a fede-
A vitória do coronel no município era a vi-
ração. Os coronéis articulavam-se com os
tória da oligarquia estadual que ele repre- governadores, que ser articulavam com o
sentava. presidente da República, quase sempre
A consolidação do “sistema oligárqui- oriundo de um dos dois estados (CARVA-
co”, levado a cabo por Campos Sales, deu LHO, 2008, p. 56).
ao regime republicano uma relativa tran- A habilidade política de Campos Sa-
quilidade. A solidarização entre as esferas les e as brechas presentes na primeira
federal e estadual possibilitou ao grupo Constituição republicana foram os fatores
governista controlar as sucessões eleito- que possibilitaram a arquitetura e conso-
rais, correndo poucos riscos por parte de lidação do sistema oligárquico. Em suma,
grupos insatisfeitos (LESSA, 1987). concordamos com a análise feita por Leo-
Já que o presidente estava constitucio- nardo Trevisan:
nalmente impedido de se suceder a si
a república brasileira, gerada entre o
mesmo, era fatal que houvesse grande
ventre oligárquico, manchada pela escra-
agitação política, de quatro em quatro
vidão, conhece, em seu primeiro período,
anos (a duração do período presidencial),
a tentativa do imobilismo, a desesperada
à medida que a liderança situacionista
tentativa de freio à roda da História, a
procurava acordo entre os líderes das
tentativa mesquinha e egoísta dos donos
principais máquinas políticas estaduais
do poder, de manter o país agrário, rural,
para a indicação de um sucessor. Uma
conivente a seus interesses (TREVISAN,
vez acertada a indicação, contudo, isso já
1982, p. 65).
equivalia à eleição, de vez que os gover-
nos estaduais tinham poder para dirigir Dessa feita, o coronelismo não se tor-
as eleições e não hesitavam em manipu- nou, conforme argumenta Carvalho (2008,
lar os resultados para enquadrá-los nos
seus arranjos pré-eleitorais (SKIDMO-
p. 56), “apenas um obstáculo ao livre exer-
RE, 2003, p. 21-22). cício dos direitos políticos. Ou melhor, ele
impedia a participação política, porque ne-
Desse complexo e intenso joguete po-
gava os direitos civis”. As grandes trans-
lítico, o estado de São Paulo foi o primeiro
formações do ponto de vista desses direi-
grande beneficiário, tendo como cúmpli-
tos só foram processadas a partir de 1937,

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durante o Estado Novo, e se concluirão A estabilidade proporcionada pelo
depois de 1945, embora o golpe militar de acordo político entre os dois estados, co-
1964 tenha sido um retrocesso aos avanços nhecido como política do “café-com-leite”,
conquistados. nunca foi completa. Como procurou de-
monstrar Cláudia Viscardi (2001), era du-
rante os períodos de sucessão presidencial
A política dos governadores e
que as fragilidades inerentes a esse acordo
a crise dos anos 20 ficavam mais visíveis. Nem sempre o nome
do candidato indicado para representar as
Parte significativa da literatura es-
oligarquias desses estados era obtido con-
pecializada (FAUSTO, 1997; MENDON-
sensualmente. O fato de a economia bra-
ÇA, 2000; FERREIRA; SÁ PINTO, 2006)
sileira se concentrar na região sudeste e
aponta a década de 1920 como um perío-
depender da exportação de produtos agrí-
do de intensas transformações. Uma das
colas, principalmente da exportação do
quais, talvez a mais importante, teria sido
café, dominada pelos paulistas, acirrava
o processo político que, tendo em seu bojo
ainda mais a rivalidade de algumas frações
o questionamento à primazia dos cafeicul-
da burguesia nacional que se encontravam
tores na condução do país, acarretou o fim
fora desse círculo de dominação. Especial-
da República Velha em 1930.
mente os estados de menor expressão po-
Embora a política dos governadores
lítica, denominados estados de “segunda
tenha possibilitado às oligarquias de São
grandeza”, criavam sérias dificuldades às
Paulo e Minas Gerais se revezarem no
indicações de mineiros e paulistas duran-
poder, esse sistema de dominação começa
te os processos de sucessão presidencial,
apresentar sinais de desgaste nos idos de
opondo-se por vezes com veemência.
1920.
Nesse sentido, o ano 1922 é emble-
Os anos de 1920 poderiam ser considera- mático. Tratou-se de um ano eleitoral,
dos os “anos dourados” da República Ve-
lha, um período marcado por tentativas marcado por intensos embates em torno da
de modernização econômica, pela urbani- sucessão do então presidente Epitácio Pes-
zação, pela efervescência social, política e soa. O nome do mineiro Artur Bernardes,
cultural, pela gestação de definições ideo-
integrante do Partido Republicano Minei-
lógicas. Uma década que, além de encer-
rar a velha República, punha um ponto ro, ganhou projeção e acabou se tornando o
final tardio no século 19 brasileiro. Nesse nome oficial do governo. Entretanto, essa
período, com exceção do grupo cafeicultor escolha não era consensual, mesmo entre
que se beneficiava do poder, todo o país
alguns grupos que apoiavam o governo.
ansiava por mudanças, e a movimenta-
ção vivida pela sociedade apontava para Entretanto, foram principalmente
uma expansão do horizonte econômi- os estados do Rio Grande do Sul, Bahia,
co e da participação política de grupos Pernambuco e Rio de Janeiro que se opu-
emergentes até então tolhidos pelas li-
mitações impostas pela República Velha seram mais incisivamente a essa escolha.
(VIANNA, 2007, p. 27 - grifo do autor). Ao decidir lançar um candidato próprio, a

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“reação republicana”, conduzida pelos es- foram problemas que os cafeicultores não
tados contrários à candidatura de Artur puderam contornar com tanta facilidade.
Bernardes, expôs com nitidez as contradi- Mesmo assim, as políticas de crédi-
ções e fragilidades do sistema oligárquico to ou a intervenção do estado na compra
(FAUSTO, 1997). Embora Nilo Peçanha, e estocagem do café excedente não pude-
nome indicado pelos estados dissintes, não ram afugentar a crise que estava por se
representasse de fato uma ruptura com o aproximar nos anos de 1928/29. Quando
sistema oligárquico, na medida em que era Artur Bernardes deixa o governo em 1926,
produto desse mesmo sistema, sua candi- assumindo o paulista Washington Luís, a
datura demonstrava o desejo de reorgani- situação dos cafeicultores era bastante de-
zação desse sistema por parte das oligar- licada.
quias menores (FERREIRA; SÁ PINTO, O país passava por transformações
2006, p. 396). substanciais adequando-se aos ditames do
A reação republicana foi o primeiro capitalismo mundial. A economia brasilei-
de uma série de eventos que afetaram di- ra dava sinais de que havia um processo
retamente o governo de Artur Bernardes renovador em curso colocando em xeque
e o sistema excludente que ele represen- aquela estrutura anacrônica representada
tava. Todavia foi o movimento tenentista pela grande propriedade rural e pela ex-
iniciado também em 1922 (FORJAZ, 1988; portação (BASBAUM, 1976; PRADO JÚ-
BORGES, 1992) o responsável pelos maio- NIOR, 2007).
res aborrecimentos enfrentados pelo pre-
sidente mineiro. Caracterizado por seu
A agonia da República Velha: o
conteúdo contestatório, o movimento te-
nentista nasce e morre tendo como objetivo governo de Washington Luís
a deposição de Bernardes e a moralização
Embora o governo de Washington
da política nacional. A tomada da cidade
Luís tenha ocorrido num clima de relati-
de São Paulo em 1924 e a marcha da co-
va estabilidade, quando comparado ao de
luna Prestes/Costa em 1925 demonstram
seu predecessor, o período compreendido
a projeção que os tenentes alcançaram no
entre 1926 e 1930 foi também marcado por
país e, embora não tenham obtido êxito em
intensas dificuldades. Sua ascensão reno-
seu intento, deixaram avarias bastante
vou as esperanças do país e o clima de en-
graves na imagem do sistema oligárquico.
tusiasmo logo tomou conta da população.
Se não bastassem os fatos menciona-
Mais carismático do que Artur Bernardes,
dos, não podemos perder de vista a crise
o presidente paulista emanava confiança e
financeira que assolou o setor agroexpor-
transmitia, pelo menos nos primeiros me-
tador brasileiro, especialmente a produção
ses de governo, alguma tranquilidade ao
de café. A supersafra e a queda do preço da
setor agroexportador por ele representado
saca do produto no mercado internacional
(BELLO, 1983, p. 263).

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Essa tranquilidade, no entanto, foi Defendendo a reforma eleitoral e
perdendo força no decorrer de seu governo a moralização dos costumes políticos, a
e até mesmo algumas frações do PRP não Aliança Liberal procurou cooptar as fra-
pouparam Washington Luís das críticas, ções descontentes da elite e especialmente
acusando-o de abandonar a classe dos ca- os setores médios urbanos. Todavia, até o
feicultores. maior otimista entre os aliancistas admi-
Parte dessas críticas tinha sua ori- tia a impossibilidade de uma derrota do
gem na crise que afetava o preço do café no governo nas eleições. O fato de poder con-
mercado internacional. O aumento da pro- tar com a máquina política, fazia do gover-
dução e a concorrência imposta por outros no um oponente imbatível. Realmente, as
países levavam a que o preço do café brasi- expectativas se confirmaram nas eleições
leiro despencasse, situação que se agravou realizadas em março de 1930, com a vitó-
ainda mais em 1928, quando o país obteve ria de Júlio Prestes.
uma safra recorde. O caos completar-se-ia Ao longo da curta história republica-
em 1929 com a quebra da bolsa de Nova na, era comum o grupo derrotado acusar
Iorque, cujo impacto fez-se sentir em todo a situação de fraudar o resultado das elei-
mundo. ções, fato que nunca ultrapassou os limites
Em 1930, ano de sucessão presiden- das palavras, porém dessa vez seria dife-
cial, Washington Luís surpreendeu ao rente.
indicar o nome do também paulista Júlio Alguns nomes, como os de Lindolfo
Prestes como seu substituto, rompendo o Collor e Oswaldo Aranha, ligados à cha-
acordo político com o estado de Minas Ge- mada “geração de 1907”, da qual também
rais. A indicação de Júlio Prestes inter- fazia parte Getúlio Vargas, insurgem-se
rompia o revezamento entre paulistas e contra o governo. Assim, passadas as elei-
mineiros e colocava fim à chamada “políti- ções, começaram as articulações políticas
ca do café-com-leite”. junto às oligarquias estaduais que compu-
Essa cisão, que se processaria dentro nham a Aliança Liberal.
do próprio grupo dominante, abriu espa- Inconformados com a derrota, os dis-
ço para vozes que haviam sido sufocadas sidentes procuram atrair a atenção dos te-
num passado não muito distante. Sen- nentes para uma causa mais do que justa:
tindo-se traídos, os mineiros se unem ao a reformulação do jogo político nacional.
Rio Grande de Sul e à Paraíba, lançando Se alguns líderes estaduais ainda se mos-
Getúlio Vargas e João Pessoa, respecti- travam cautelosos em relação a uma ofen-
vamente, à presidência e vice-presidência. siva, com o passar dos meses teriam todos
Essa coligação política, chamada “Aliança os motivos para se lançar num movimento
Liberal”, ainda recebeu o apoio do Partido armado contra o governo.
Democrático de São Paulo, criado em 1926 O estopim da conspiração ocorreu em
a partir de uma dissidência com o PRP. 26 de julho de 1930, quando João Pessoa,
candidato nas eleições pela Aliança Libe-

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ral, foi assassinado em Recife. As razões ta as divergentes interpretações a respeito
do crime cometido pelo advogado João do processo que culminou com a queda de
Dantas teriam sido passionais, fato que foi Washington Luís.
explorado pela imprensa aliancista, que Para entendermos onde reside essa
procurou fazer de João Pessoa um mártir dificuldade, temos de percorrer, neces-
do movimento conspiratório. sariamente, as teses referenciais sobre
Os meses que se seguiram foram de o tema. À medida que a Revolução de 30
extrema tensão e a solução armada ine- representou o deslocamento da tradicional
vitável, tendo em vista que a via de en- oligarquia paulista do epicentro do poder,
tendimento pacífico entre situação e opo- algumas teses procuram dar conta dos im-
sição parecia ter se esgotado. E de fato o pactos produzidos por esse momento.
confronto ocorreu. No dia 3 de outubro os Nesse sentido, a partir do modelo
estados de Minas Gerais e Rio Grande do exposto por Sonia Regina de Mendonça
Sul, seguidos por alguns estados nordesti- (2000), podemos elencar três grandes cor-
nos, deflagram o processo de luta armada rentes explicativas. A primeira diz respei-
contra o governo, marchando nos dias se- to ao caráter burguês do movimento revo-
guintes contra a capital Rio de Janeiro. lucionário promovido pela Aliança Liberal.
Acreditando ser possível resistir à Segundo esta interpretação, a Revolução
ofensiva, o presidente em exercício des- de 30 significou a ascensão da burguesia
carta a ideia de renúncia. Mas os riscos industrial em substituição à anacrônica
de uma guerra civil acabaram por esva- e conservadora elite agroexportadora. Os
ziar o apoio de alguns militares ligados ao maiores representantes dessa linha de in-
governo. Diante de insistentes apelos, o terpretação são Nelson Werneck Sodré e
presidente Washington Luís deixa a presi- Virgilio Santa Rosa. Apesar de algumas
dência no dia 24 daquele mês: era o fim da diferenças, os autores entendem outubro
República Velha. de 1930 como o momento de consolidação
da burguesia brasileira.
A historiografia e a Contrapondo-se a essa tese, Boris
Fausto e Francisco Weffort dão ao referi-
“Revolução de 1930” do fato outro significado. Ambos criticam a
A chamada “Revolução de 1930” até ideia de que a Revolução de 30 foi uma re-
hoje é um dos temas mais estudados na volução burguesa, resultado da luta entre
história republicana. De fato, os episódios dois grupos antagônicos, um ligado às prá-
ocorridos em outubro de 1930 colocaram ticas industriais e outro às atividades agrí-
fim à República Velha, iniciando uma nova colas, e afirmam que esta não passou de
etapa da história brasileira. No entanto, uma reorganização intraoligárquica, cujo
até que ponto essas transformações signi- objetivo era expandir a econômica, visando
ficaram o fim da dominação política é uma ao mercado interno e não ao externo.
questão difícil de responder, tendo em vis-

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De qualquer modo, a revolução teria metralmente às teses dualistas de Sodré e
gerado um “vazio de poder”, já que nenhu- Santa Rosa, enquanto os trabalhos de Dec-
ma das frações dissidentes mostrou força ca e Tronca analisam os processos políticos
suficiente para conduzir sozinha o país. nos anos 1920 a partir da organização ope-
Todavia, surge um “estado de compromis- rária em torno do PCB.
so” entre essas diferentes frações, que teve Nenhuma das versões apresentadas
como resultado o fortalecimento do poder encerra uma verdade absoluta. Tratam-
do chefe do Executivo, dando início a um se, como afirmamos, de versões sobre um
processo de modernização conservadora, mesmo fato e que, por isso, podem acar-
que alcançaria seu ponto alto com o Esta- retar, de um lado, minimizações, apresen-
do Novo.10 tando uma visão parcial ou reduzida sobre
Rompendo com os modelos explicati- os eventos ocorridos e, de outro, exageros,
vos tradicionais, Ítalo Tronca e Edgar de tendendo a valorizar determinados aspec-
Decca questionam a ideia de revolução tos em detrimento de outros. Embora esses
burguesa em 1930. Para os autores, ha- modelos explicativos apresentem fragili-
veria, sim, um processo revolucionário em dades e possam ser criticados ao tratarem
marcha que teria se dado nos idos de 1920, parcialmente daquele momento histórico,
cujo condutor teria sido o Partido Comu- ainda hoje são invocados por aqueles que
nista do Brasil. O momento decisivo desse desejam compreender o que se convencio-
processo ocorreu no ano de 1928, quando nou chamar de Revolução de 1930.
o Bloco Operário Camponês – braço po-
lítico do PCB – viu-se preso às regras do
Do federalismo ao
jogo democrático-burguês, sendo sufocado
pelas classes dominantes. A fundação do centralismo: a exclusão
Centro das Indústrias do Estado de São popular
Paulo (Ciesp) nesse ano representaria o
contragolpe das elites em relação ao cresci- Parece ponto comum entre os estu-
mento do movimento operário. Portanto, a diosos da Primeira República que o siste-
verdadeira revolução, que acabou aborta- ma de dominação política erigido a partir
da, não ocorreu em 1930, como afirmam as do governo de Campos Sales foi responsá-
interpretações anteriores, mas em 1928, vel por excluir grande parte dos cidadãos
brasileiros das decisões políticas. Se os
quando o movimento operário organizado
princípios do liberalismo serviram de base
em torno do PCB se viu impotente diante
para a Constituição de 1891, na prática
da repressão burguesa.
essa liberdade não se consumou. A visão
Como pudemos verificar, tratam-se
elitista sustentada pelos grupos rurais que
de interpretações distintas e, por vezes,
governavam o país reduziu a cidadania a
antagônicas sobre os acontecimentos pro-
um jogo de cartas marcadas do qual os úni-
cessados nos anos 1930. As teses defen- cos beneficiários eram as elites.
didas por Fausto e Weffort opõem-se dia-

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A vida relativamente longa desse sis- práticas políticas do regime anterior. En-
tema de dominação se explica, de um lado, tretanto, essas e outras transformações
pelas manipulações eleitorais tanto nos não foram tranquilas, nem imediatas. Se
municípios quanto na esfera estadual e, de havia grupos interessados em mudar as
outro, pela violência empregada contra a estruturas políticas e jurídicas no pós-30,
população, que pouco ou nada podia fazer. o inverso também era verdadeiro.
O atraso de algumas regiões do país e a Não por acaso os primeiros anos de
precária formação dos cidadãos republica- Vargas à frente do governo foram marca-
nos corroborava para a disseminação e a dos por grandes embates políticos e ideoló-
impunidade dessas práticas. gicos entre facções que procuravam entoar
De certo modo, os acontecimentos de seu ritmo aos rumos do país. Pelo menos
1930 colocaram fim a essa estrutura, já três correntes procuravam influir direta-
que os grupos, que desencadearam o mo- mente no destino na nação: os tenentes,
vimento armado, responsável por derru- que defendiam um estado forte e centra-
bar o presidente Washington Luís, tinham lizado; as classes médias urbanas, que re-
plena convicção de que a consumação do presentavam os ideais liberais; as velhas
processo revolucionário passaria pela re- elites agrárias, cujas pressões se davam
forma das instituições republicanas; caso no sentido da manutenção das velhas prá-
contrário, correriam risco de ver em pouco ticas políticas que marcaram a Primeira
tempo um retorno das lideranças políticas República.
que haviam sido derrubadas.11 Apesar des- Se, num primeiro momento, os te-
sas transformações, podemos afirmar que nentes tiveram melhor desempenho, pa-
a derrocada da República oligárquica em rece inegável que as ideias constitucionais
1930 significou o fim da exclusão política preconizadas pelas classes médias foram
que caracterizou esse período? as que vigoraram na Constituição de 1934.
Fica claro que o fim do regime oligár- Mas ainda que o liberalismo constitucio-
quico abriu a possibilidade de novos rumos nal tivesse prevalecido, sob o ponto de
ao país. Depois de 1930 o cenário brasi- vista da participação política a “Revolu-
leiro, especialmente no que concerne ao ção de 1930”, não significou uma ruptura
plano político e jurídico, modificou-se bas- com o modelo da velha República. Tanto a
tante. As reformas eleitorais, que seriam derrota dos cafeicultores paulistas em ou-
processadas durante o Governo Provisório, tubro de 1930 quanto as transformações
incluindo o estabelecimento do voto secre- processadas após a ascensão de Vargas ao
to, feriam mortalmente os fundamentos poder, não resultaram na ampliação da ci-
básicos do Estado oligárquico da Repúbli- dadania. Como propõe Marly de Almeida
ca Velha, atendendo à reivindicação das Gomes Vianna:
camadas médias urbanas que haviam se Por tudo isso, a “crise da República Ve-
expandido nas últimas décadas. lha” teve uma solução parcial e contra-
O exercício do voto secreto refletia ditória: reformas e remanejamentos po-
um processo de moralização da política líticos limitados, soluções contraditórias
nacional e rompia de vez com as antigas e sempre de cúpula, cuja expressão foi

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a Revolução de 30. As transformações los diversos projetos políticos apresentados
posteriores ao movimento foram lentas, pelos grupos que derrubaram a República
parciais e incompletas, porque sempre
Velha. Diante dessas divergentes propos-
encaminhadas pelos grupos dominantes
(VIANNA, 2007, p. 28 - grifo do autor. tas, contudo, as tendências autoritárias
logo se mostraram vigorosas. O federalis-
De fato, depois do fim do velho sis- mo político, que já vinha sendo questiona-
tema de dominação oligárquico, o povo do desde o regime anterior, foi colocado à
continuou alijado dos processos políticos, prova nos últimos anos da década de 1920,
embora também não se possa negar que sendo considerado ineficaz para solucionar
a natureza dessa dominação elitista te- os problemas sociais e econômicos do Bra-
nha passado por transformações cada vez sil, especialmente no que concerne à sua
mais centralizadoras cujo ápice foi o na- modernização.
cional-estatismo, representado pelo golpe O papel do Estado passa a ser revisto
de 1937. Os eventos ulteriores ao fim do e as ideias centralizadoras passam a po-
sistema oligárquico demonstram um pro- voar com uma frequência arrebatadora a
cesso de fortalecimento do poder executivo mente de alguns dos arquitetos da Revo-
e um retorno ao centralismo político que lução de 30. Principalmente os tenentes e
pouco modificou a vida das pessoas. Em os grupos que abasteciam o mercado inter-
que pese às modificações promovidas pela no partilham da ideia de um Estado forte
Constituição de 1934, como o voto secreto e condutor. O que se observa a partir da
e o voto feminino, seus resultados foram década de 1930 é a gradual e incessante
diminutos, se consideramos o pouco tempo centralização das decisões políticas, que
em que a nova carta ficou vigente. teve como auge o golpe de 1937 (Cf. CAPE-
Se as formas de controle sobre a so- LATO, 2007, p. 110-116).
ciedade civil se modificaram em virtude A década de 1930, portanto, demarca
da crescente urbanização, em essência, a um continuísmo em relação a alguns dos
política excludente não desapareceu, ape- problemas que caracterizaram a Repúbli-
nas mudou de formato. Mesmo com a pro- ca cafeeira, ainda que parte desses proble-
mulgação da Constituição de 1934, a mas- mas tenha transmutado e ganhado outro
sa populacional, tanto na cidade quanto formato. Sobre essa década, Vany Pacheco
no campo, pouco percebeu o alargamento Borges comenta:
de seus direitos políticos, principalmente Assim, muitas das questões e dos proble-
depois de 1937, com o advento do Estado mas estruturais aparecem ainda como
os mesmos e por vezes as mesmas solu-
Novo, quando o Estado, personificado na
ções são apontadas, o que de certa forma
figura de Getúlio Vargas, corta as vias de também propiciaria uma visão de conti-
diálogo com a sociedade civil. nuidade: a questão da República, do fim
Como afirma Maria Helena Capela- do Liberalismo, que aos poucos se trans-
muta na questão da democracia-não-de-
to no que se refere aos rumos políticos do
mocracia, da ditadura militar e do des-
país, a “Revolução” em 1930 abriu uma prestígio da política, a questão nacional,
gama de possibilidades representadas pe- a questão da federação, do regionalismo,

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a industrialização, a reforma agrária, a De qualquer modo, a população ex-
busca de um caráter (depois identidade cluída durante a República Velha pros-
nacional). Todas essas questões e proble-
seguiu excluída do jogo político. Mesmo a
mas, nos anos 30, parecem se agrupar em
torno da idéia de uma ruptura revolucio- Constituição de 1934 não foi capaz de ali-
nária (BORGES, 2007, p. 160). viar a exclusão que recaía sobre a popula-
ção brasileira, haja vista ter sido abortada
pela Constituição autoritária de 1937.
Considerações finais
A chamada República Velha, inau- The domination in the old republic:
gurada em 1889, sustenta-se até 1930 em an analysis on the political
torno de uma lógica da dominação que sin- foundationsof the oligarchic system
tetizou truculência, eleições fraudulentas and its impact on the 1930 revolution
e exclusão política da população.
Baseada na força, a “política dos go- Abstract
vernadores” oportunizou às elites agroex-
portadoras, principalmente as ligadas ao This paper discusses the oligarchy po-
café, conduzir os rumos do país durante o litical machinery, its working method
referido período. and defeat up to 1930, as well as the
Embora alguns movimentos sociais changes arising from the movement
tenham eclodido como resposta a essa ló- that led Getulio Vargas to the presi-
gica da dominação, nenhum deles se mos- dency. This analysis is based on the
trou forte o suficiente para colocar em risco popular participation in the political
a engrenagem política vigente a partir de destinies of the country.
Campos Sales. Prova disso é que a Revolu-
ção de 1930 resultou da união entre mili- Keywords: Federalism. Oligarchy sys-
tares, representados pelo grupo dos tenen- tem. The Revolution of 1930.
tes, e as oligarquias que se encontravam
fora do eixo da “política do café-com-leite”. Notas
O fim do pacto entre paulistas e mi-
neiros, devido à indicação de Júlio Prestes
1
Como bem demonstra José Murilo de Carvalho
em sua obra A formação das almas: o imaginá-
às eleições de 1930, acelerado pela morte rio da República no Brasil, militares e civis ti-
de João Pessoa, abriu espaço para uma re- nham projetos políticos bastante diferentes para
organização do poder no país, embora par- a República que surgira. Enquanto os militares,
cujo projeto positivista era conhecido, enfatizam
te significativa dos estudiosos do período a necessidade de um regime centralizado e de
afirme que depois do término da repúbli- um Estado fortalecido, os civis, embevecidos de
ca do café se teve um “vazio de poder”, do liberalismo, defendem um regime político mais
flexível e descentralizado.
qual Getúlio Vargas soube se aproveitar 2
Cumpre falar que as tendências federalistas já
com grande habilidade para encampar um estavam presentes no país desde o período co-
lonial. Todavia, o Império teria de conviver in-
projeto pessoal que culminou no Estado
tensamente com estas, especialmente durante o
Novo. Segundo Reinado, quando o centralismo político

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em vigor passa a ser alvo de críticas por parte 7
Como esclarece Edgar Carone, o termo “coro-
de províncias ascendentes, como São Paulo, cuja nel” tem sua origem na patente da antiga Guar-
convivência muitas vezes difícil com o presiden- da Nacional, que podia ser concedida ou adqui-
te de estado, nomeado diretamente pelo impe- rida por fazendeiros e industriais influentes de
rador, e os altos impostos pagos à coroa, nem uma dada localidade. Constituía um símbolo de
sempre revertidos em vantagens políticas, re- privilégio e hierarquia social. Embora a Guarda
forçavam ainda mais a convicção dos grupos que Nacional tenha desaparecido, o termo sobrevi-
se opunham ao regime monárquico em torno de veu ao advento republicano para designar au-
federalismo. Em alguns casos, essas ideias fede- toridade dos chefes políticos locais (CARONE,
ralistas, radicalizadas, se converteram em ideias 1975, p. 252).
separatistas (CARONE, 1976, p. 251-252). 8
Como procuram demonstrar Duglas Teixei-
3
Segundo Caio Prado Júnior, a autonomia dos ra Monteiro (2006) e Maria Efigênia Resende
estados, prevista pela Constituição republicana, (2006), as práticas coronelísticas não podem ser
foi em grande parte responsável pelo crescimen- reduzidas ao mandonismo local. Mais do que
to dos empréstimos no período que vai de 1891 uma manifestação do mandonismo, o coronelis-
a 1930. Tanto os estados quanto os municípios mo desponta como um fenômeno mais amplo e
utilizaram-se frequentemente desse mecanismo complexo, resultado direto da estrutura política
ao longo dos anos, contribuindo, assim, para o que se desenvolve na república velha.
crescimento da dívida externa brasileira, embo- 9
Sobre essa questão, o trabalho de Edgar Carone
ra não se possa negar a validade do capital es- (1975) constitui uma fonte preciosa em infor-
trangeiro na expansão das atividades agrícolas mações, à medida que o autor demonstra que
destinadas à exportação e todos os melhoramen- as relações entre coronéis numa mesma região
tos inerentes à infraestrutura durante a Repú- nem sempre eram tranquilas.
blica Velha (SANTOS, 2007, p. 83-88). 10
Ao analisar a chamada “Revolução de 1930” e o
4
Aliás, como aponta José Murilo de Carvalho que teria sido sua “contrarrevolução” em 1932,
(2008, p. 7-13), essa concepção da cidadania no Vany Pacheco Borges (1992, p. 17-18) afirma
Brasil durante a Primeira República deve ser que a noção de “processo histórico” é questio-
vista com alguma ressalva. Num trabalho in- nável, à medida que pressupõe uma certa lógica
titulado Cidadania no Brasil, o referido autor dos acontecimentos. Para a autora, a ideia de
procura demonstrar que o conceito de cidadania que a “desordem” posterior a outubro de 1930
é amplo e complexo, abarcando alguns direitos foi superada com o advento do Estado Novo,
sem os quais seria impossível definir o cidadão. tido como única direção possível dentro dessa
Ancorado no trabalho de Marshall, afirma Car- “lógica natural” dos fatos, não passa de uma vi-
valho que a cidadania plena só pode ser alcança- são determinista, incapaz de dar conta de toda
da quando os direitos civis, direitos políticos e a complexidade dos fatos históricos anteriores e
direitos sociais forem alcançados. posteriores à chamada “Revolução de 30”.
5
Ao analisar o perfil do eleitorado no Rio de Ja- 11
Aliás, esta foi durante os dois primeiros anos do
neiro, principal cidade do país naquele momen- Governo Provisório a maior reivindicação dos
to, José Murilo de Carvalho, em sua obra Os tenentes que, através do Clube 3 de Outubro,
bestializados: o Rio de Janeiro e a república que procuravam convencer Vargas sobre os riscos
não foi, demonstra que nas primeiras eleições inerentes à constitucionalização preconizada
presidenciais em 1894, apenas 7% dos eleitores pelos grupos civis tradicionais, tendo em vista
potenciais votaram nesse ano, o equivalente a que as máquinas eleitorais ativas durante a Re-
1,3% da população do país (Cf. CARAVALHO, pública Velha permaneceram intactas no pós-
1987, p. 84-85). 30. Dessa forma, a abertura política significaria,
6
Segundo o autor, o Estado não é mero repre- segundo afirmavam os tenentes, um retorno das
sentante de classes ou grupos, pois representa, elites tradicionais ao cenário político.
em algum grau, a si mesmo (Cf. FAUSTO, 1997,
p. 19).

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