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Rio de Janeiro
Dezembro de 2017
1) Com base na leitura do texto “Saussure on language and thought”, elabore a
seguinte afirmativa:
Por esse motivo, a ideia de transformação das línguas no curso do tempo e a preocupação em
se aprimorar o método comparativo e o seu repertório etimológico, para o autor, não chegou a
constituir uma ciência linguística de fato, afinal, não era claro qual era o seu objeto.
A teoria saussureana, dessa maneira, elegeu a noção de valor como base para a compreensão
dos fenômenos linguísticos. A fim de entendê-lo mais claramente, contudo, é importante
considerar as oposições entre langue e parole, forma e substância. Tais conceitos, cunhados por
Saussure e que delimitam muito claramente que o funcionamento da linguagem está calcado
em dimensões individual e social, são centrais em sua epistemologia, são derivados justamente
de suas reflexões acerca das inconsistências do método histórico-comparativo do século XIX.
A langue é um fato social, uma convenção que se manifesta de forma mais ou menos igual em
cada indivíduo. Assim, ela é a parte social da linguagem, de uma entidade abstrata
supraindividual, e o sujeito, por si só, não pode alterá-la. Ela é um sistema homogêneo de signos
linguísticos, uma estrutura investida na sociedade, que depende da existência de relações sociais
externas e ao mesmo tempo que impõe a cada indivíduo um saber psíquico de seu sistema para
o uso. Seus constituintes, os signos linguísticos, têm como característica principal uma face
dupla de significante – a imagem acústica – e significado – o seu conceito. Como uma folha de
papel, o signo linguístico jamais pode ser recortado de forma que se atinja somente significante
ou significado; caso se separem, o que se daria através de abstrações teóricas, aquilo que
representa o significante seria matéria de ocupação somente da fonologia, e o que representaria
o significado, objeto da psicologia. Dessa forma, entende-se, portanto que as suas duas partes
não existem uma sem a outra. O signo linguístico não se trata de uma mera representação do
mundo extralinguístico, mas de um constituir a realidade de tal maneira que o conceito não
consegue existir sem a imagem e vice-versa. Em contrapartida, a parole é um “(...) ato
individual de vontade e inteligência (...)” (SAUSSURE, [1916] 2006, p. 22), é o uso da língua
nas variadas combinações feitas pelo indivíduo a fim de alcançar seus objetivos na vida social.
Desta seara Saussure não se ocupa, não por negar a sua importância, mas por admitir que o
estudo da linguística deve se ater somente àquilo que é imanente à langue, e a parole já estaria
fora dela.
Essa visão da língua como um sistema econômico cuja estrutura funciona sob um conjunto
de regras que definem a unidade dos signos só pode ser concebida dentro da sincronia, isolando-
se o sistema da ação do tempo. Dessa forma, o que se entende então como diacronia nada mais
seria que uma sucessão de sincronias, e não um todo constituído de múltiplas partes que se
transformam. Assim, o argumento da linguística histórico-comparativa de que um determinado
fonema existe na língua portuguesa advindo de outro do latim, por exemplo, por transformações
ocorridas através do tempo, não procederia, pois, dentro da visão estruturalista e sistêmica de
Saussure, esses fonemas seriam distintos no que diz respeito ao seu papel no sistema, ao seu
valor, pois teriam existido em sistemas distintos - o da época presente e o da passada,
respectivamente.
É uma noção que considera um caráter normativo da língua literária e que preconiza
uma distinção entre língua poética e língua de comunicação. A língua poética é o depósito da
tradição poética numa estrutura específica em que elementos idênticos podem apresentar
funções distintas, dependendo das suas relações com o conjunto. Logo, deve-se estudar a
estrutura desse sistema da língua literária – o estudo do significante – para entendê-la, em
detrimento de um olhar para o significado.
Já a Glossemática teve como grande expoente o trabalho do linguista dinamarquês Louis
Hjelmslev. Hjelmslev fundou o Círculo Linguístico de Copenhague e trabalhou na
Universidade do Copenhague como professor titular de Linguística Comparada. Seu projeto
discursivo empenhou-se no desenvolvimento de uma teoria matemática da linguagem que
explicasse os fenômenos através do empirismo e da dedução. Em 1943 publicou seu livro
“Prolegômenos a uma teoria da linguagem” e lá apresentou suas ideias centrais. Muito criticado
pela rigidez do seu formalismo e pelo distanciamento de seu pensamento com a fluidez histórica
e cultural que incide sobre os fatos da língua, Hjelmslev foi um autor que levou o estruturalismo
saussureano ao seu extremo. Basicamente, o linguista fez uso do pensamento lógico para
caracterizar as relações por meio das quais as línguas se estruturam, a fim de antecipar as
possibilidades de realização dos sistemas. Diferentemente, Saussure pensou em relações de
oposição, no entanto, não pensou em como essas relações podiam se constituir.
Ao assumir o ponto de vista imanentista de Saussure, Hjelmslev constrói uma crítica à
abordagem psicológica e transcendentalista que buscava nas investigações alcançar “o
psiquismo do autor, o gênio de um povo ou a natureza psíquica do homem” (FIORIN, 2003,
p.21), ancorando-se na afirmativa do suíço de que a língua era forma e não substância. Para ele,
assim como para Saussure, deve-se pensar a linguagem de forma científica, de um patamar
homogêneo, como um fim em si mesmo que negue a tradição humanista que não admite
constâncias e generalizações nos fenômenos humanos, muito menos a sua procura. Esta visão,
como colocado por Fiorin em seu texto “O projeto hjelmsleviano e a semiótica francesa”
pressupõe uma liberdade ideal do sujeito, que ignora as considerações marxistas e freudianas
que tratam das coerções sociais e psíquicas que pressionam o sujeito em sua vida. Assim, surge
aqui o primeiro postulado da teoria de Hjelmslev, analogamente à liberdade individual e as
coerções sociais e psíquicas, que diz que a todo processo corresponde um sistema que o subjaz,
ou seja, os processos, assim como o sujeito, não gozam de uma liberdade ilimitada. Para o autor,
o processo tem um número limitado de elementos que se combinam e reaparecem; dessa
maneira, a teoria precisa procurar calcular e prever essas possibilidades de combinações, que
revelariam a constância subentendida das flutuações no uso social da linguagem.
A linguística hjelmsleviana tem como princípio o empirismo, que postula que a
descrição científica deve ser não contraditória, exaustiva e simples, nessa ordem, não sujeitando
a descrição do processo à indução usada na linguística corrente. Para Hjelmslev, o movimento
científico não deve sintetizar, como acontece na indução, mas analisar e generalizar, buscando,
portanto, trabalhar com a totalidade dos sistemas, a língua em si mesma, olhando para as
relações formais entre seus constituintes. No caso da Linguística, olhar-se-ia para o texto, e
tomar-se-ia os seus componentes como classes analisáveis. Essa seria a única forma de não se
olhar para a linguagem como um meio de conhecimento transcendente como faziam outras
áreas, mas como um fim em si mesmo, como a sua própria meta.
A sua teoria se comprometeu em buscar as constâncias que não tivessem relação com a
realidade extralinguística. Nesse sentido, a acepção que Hjelmslev deu ao termo “teoria” foi
diferente daquela usada para se referir à confirmação de hipóteses. Pensando sobre a relação
entre a teoria e o objeto de investigação, o linguista suíço entende “teoria” como a coexistência
de dois fatores importantes: o caráter de arbitrariedade e de adequação. Assim, uma teoria é
naturalmente arbitrária o que significa que “(...) ela não depende da experiência, não implica
nenhum postulado de existência, ou seja, constitui um sistema dedutivo puro (...)” (FIORIN,
2003, p.24), enquanto a adequação resolve o problema de quando ela não preenche as condições
necessárias para explicar determinados dados da experiência. Nesse caso, o que se deve fazer é
expandir a teoria para uma aplicação adequada a esses dados. Assim, Hjelmslev estabelece uma
teoria que, ao mesmo tempo que é arbitrária e adequada, define o seu objeto. Ela debruça-se
sobre textos, processos do sistema linguístico. Dessa maneira, observa-se que essa teoria irá
olhar não só para os sistemas linguísticos como para os processos também, em seu trabalho
empírico de cálculo de possibilidades.
O objeto da linguística deve circunscrever as relações que existem dentro dos sistemas.
Essas relações, segundo Hjelmslev, são de dependência formal, e não realista. Essas
dependências são funções e um objeto que tem uma função com outro objeto é um funtivo. A
existência do objeto examinado está condicionada às relações de dependência de suas partes,
cuja totalidade está em sua soma: “1) entre ela e outras partes coordenadas, 2) entre a totalidade
e as partes do grau seguinte, 3) entre o conjunto dos relacionamentos e das dependências”
([Hjelmslev 1975:28] in FIORIN, 2003, p.27). Assim, definições como “o substantivo é o termo
que nomeia seres”, além de não verificar uma relação, aponta para uma realidade
extralinguística, o que para Hjelmslev não seria cientificamente preciso. Ela pode ser
substituída por, por exemplo, “o substantivo é o termo determinado por um adjetivo”, ou
“precedido de um artigo”, ou seja, definições baseadas em relações formais internas e externas
sistemáticas e não na sua substância. Cada uma dessas relações acontece tanto no processo
(conjunções), quanto no sistema (disjunções) – a própria relação entre processo e sistema é uma
função, sendo que o processo, virtual, pressupõe o sistema, realizado, mas não o contrário –
limitadas a três a quantidade de dependências teoricamente possíveis: a dependência mútua
(interdependência), em que os termos se pressupõem mutuamente, a dependência unilateral
(determinações), em que um termo pressupõe o outro, mas não o contrário e, finalmente, as
relações de dependência “frouxa” (constelações), em que os termos não se pressupõe
mutuamente.
Hjelmslev considera a linguagem “um sistema de figuras que servem para formar
signos” (FIORIN, 2003, p. 34). Os signos independem da sua extensão e são elementos que
veiculam significação, mesmo que se trate de signos mínimos, como morfemas. Signos podem
ser analisados em diferentes níveis: do som, da sílaba, enquanto palavra ou na frase, o que
indica que certas grandezas, de um estágio para o outro, podem ou não ser submetidas à análise,
já que em cada nível o tipo de relação estabelecido no sistema é diferente. Além disso, percebe-
se que os signos possuem em sua formação elementos que não veiculam significação e,
portanto, não são expressões do signo. Em outras palavras, a grandeza se define sempre com
relação ao contexto e em cada nível de análise observa-se um objeto distinto. Assim, em face a
essas inadequações em termos de rigor analítico, observa-se a necessidade de se estabelecer o
que faz parte do plano da expressão e do plano do conteúdo, e se abandonar a análise de signos.
Pela sua finalidade a linguagem é de fato um sistema linguístico, porém, na sua estrutura interna
ela é um sistema de figuras que formam um número ilimitado de signos. Para ele, deve-se
repensar então a definição saussuriana de signo que, na visão hjelmsleviana, não conhecemos
ao certo, e partir analiticamente da função semiótica, que não foi trabalhada pelo linguista suíço,
situada entre os planos da expressão e do conteúdo que são articulados pela langue. Esses planos
podem se subdividir em forma e conteúdo como se pode observar no quadro abaixo:
O contexto vivenciado pelo linguista americano Leonard Bloomfield, o século 20 dos EUA,
caracteriza-se por uma praticidade e senso de urgência peculiares, na medida em que os
estudiosos da época se propuseram a descrever exaustivamente as línguas indígenas do
continente que eram, muitas vezes, orais e ágrafas em sua maioria, e caso desaparecessem,
não poderiam ser conhecidas. Por esse motivo, juntamente com Edward Sapir, Bloomfield
compunha a direção estruturalista da Linguística daqueles tempos, cujos interesses
sincrônicos predominavam sobre os diacrônicos. Em sua principal obra, “Language”, escrita
em 1933, texto de 28 capítulos e 600 páginas, Bloomfield reuniu suas rigorosas doutrinas
linguísticas num conjunto de postulados e instauraram a ciência estruturalista na América.
Fortemente influenciado pela psicologia behaviorista de Skinner, Bloomfield advogava por um
método que viabilizasse uma linguística estritamente mecanicista e comportamentista que se
opunha a quaisquer raciocínios mentalistas para explicar a linguagem, perspectiva essa que o
autor já se alinhara em 1914, mas mudara radicalmente num segundo momento.
Segundo este enfoque behaviourista, em que os princípios que regulam o comportamento
humano são os mesmos que regulam o dos animais, a linguagem existiria, no uso, sob uma
perspectiva materialista, num esquema de estímulo-reação-estímulo-reação (S-r-s-R), em que
“estímulos” e “reações” são eventos práticos. A existência da linguagem seria explicada pelas
exigências da divisão do trabalho e do funcionamento da sociedade humana; em outras
palavras, a sociedade só funciona e se realiza graças à linguagem. Assim, um estímulo externo
que precede o ato de falar provoca reações que vigoram na ordem da linguagem e provocam
uma reação. Ele exemplifica isso com a anedota de “Jack e Jill”, em que Jill vê uma maçã e
sente vontade de comê-la. Em vez de ir pegá-la, pede-a a Jack, o que seria uma reação
linguística substituta à reação não-linguística de subir na árvore. Aos atos de “sentir vontade
de comer” e “pedir” Bloomfield atribui explicações biológicas como “acontece dentro de seu
corpo determinadas reações” e “faz movimentos com a boca” respectivamente, e assim
resguarda a sua análise de categorias psicológicas. Jack, por motivos ligados a sua
subjetividade, e que portanto não são relevantes para uma descrição de estímulo-resposta,
apanha a maçã e oferece-a a Jill. Portanto, a linguagem é mediadora entre um estímulo
externo substitutivo e uma reação, ela “(...) permite a uma pessoa realizar uma certa reação
(R) quando é outra pessoa que experimenta o estímulo (S) (...)” (LEPSCHY, p.89). Neste
processo, a relação entre linguagem e sociedade é como, analogamente, à relação entre a
célula e o animal pluricelular, viabilizada pelo sistema nervoso. A distância entre os sujeitos é
preenchida pelas ondas sonoras, tal e qual o sistema nervoso, e constitui um todo que é um
“organismo celular”.
O que o sujeito fala é produto de um complexo mecanismo e não pode ser previsto, o que
leva a entender que um estímulo pode provocar variadas respostas, nenhuma delas ligada a
um fator que não seja fixado na biologia do corpo humano. O papel do ambiente no
desenvolvimento humano e na aprendizagem, nessa visão, é fundamental, excluindo-se tudo
aquilo que não faz referência ao contexto. Assim, aprendemos uma língua segundo hábitos
que adquirimos condicionados pelo ambiente em que crescemos. Nascemos com a
característica de produzir sons e os repetimos segundo a língua falada por nossos pares,
criando aí um hábito. Já condicionados, posteriormente, aprendemos a fazer associações
entre sons e coisas do mundo extralinguístico e somos capazes de emitir os sons mesmo longe
da presença desses objetos referenciados. Pela tentativa e erro é que vamos ajustando a
língua – incorporando acertos que são reforçados e abandonando erros. O ser humano, nesta
visão, é produto do seu meio linguístico. Esta perspectiva é a única, segundo o linguista, que
seria coerente com seu universo científico. Ele
O projeto, até alcançar a sua versão “minimalista”, passou por algumas fases. Noam
Chomsky, o principal expoente dessa perspectiva racionalista e cognitivista que representou a
segunda revolução paradigmática da Linguística – tendo sido Ferdinand de Saussure o primeiro
–, interessou-se pela competência, que é o conhecimento que o sujeito tem da língua. A
performance linguística, que é o uso linguístico que esse indivíduo faz em situações concretas,
por ser circunstancial, não reflete necessariamente a competência e implica desvios e hesitações
na fala. No entanto, é a partir da performance, independente dos erros que se cometa ao usar a
fala, que se adquire evidências para se desvelar as regras linguísticas subjacentes que o sujeito
aprendeu ao longo dos anos e que não precisou de instrução formal alguma para dominar.
Assim, nas investigações conduzidas pelos gerativistas, busca-se a gramática da língua que jaz
na mente humana, explicando-se os dados em vez de somente descrevê-los, sendo comum lidar
com questões referentes à aquisição da linguagem e afasias.
O seu momento inicial das investigações, na década de 60, propôs uma série de regras
que explicavam cada língua humana conhecida. Este modelo começou a se tornar
demasiadamente complexo, e extrapolava a premissa de que teorias deveriam apresentar um
equilíbrio entre a questão da adequação descritiva e explicativa. Além de muito variadas,
parecia exagerado pensar que as crianças deveriam aprender uma quantidade muito grande de
regras para adquirirem a linguagem. Assim, a teoria foi revista na década de 70, e sua nova
versão, a teoria padrão estendida, começava a mencionar leis mais gerais, o que se aproximava
da ideia de princípios, que se consolidou posteriormente com a teoria de Princípios e
Parâmetros, na década de 80. Nesse momento, mais maduro, a teoria oferecia um formato mais
simples que as versões anteriores, e conseguia explica explicar sinteticamente os
questionamentos do momento. Assim, cada língua particular se deriva de um estado inicial
comum e uniforme sob as condições limite impostas pela experiência. Elas saem de um estado
uniforme para um estado particular. Nesse raciocínio, rejeita-se a ideia da tradição de que uma
língua é um sistema complexo de regras e que cada regra é específica de um sistema particular.
Levando-se em conta a adequação explicativa, isso não pode estar certo. Na realidade, o que as
crianças têm representado é algo muito mais geral. As construções gramaticais são artefatos
taxonômicos resultantes de algo que é mais geral, e as regras são decompostas em princípios
gerais da faculdade da linguagem que interagem, tendo como resultado as propriedades das
expressões. As crianças já nascem com esses princípios na mente e têm a tarefa de mapear o
que é verbo, nome, e especificar as posições dessas classes, pois os sintagmas vão se montando
a partir de seus núcleos, formando verdadeiras árvores sintáticas. Isso é fixar parâmetros.
Dentro dessa perspectiva biolinguística pode-se pensar em como se dão problemas de afasia,
ou DEL, por exemplo, utilizando-se a árvore para se identificar em que lugar acontece o
problema, e pensar em como resolvê-lo. A teoria de Princípios e Parâmetros é uma resposta
unificadora para três coisas: a aquisição da linguagem – a criança fixa parâmetros –, a variação
linguística, pois as línguas variam de acordo com a posição dos parâmetros e, finalmente, é uma
resposta que dá conta da mudança linguística, que se dá por uma alteração do valor do
parâmetro.